Você deve aprender múltiplos idiomas ao mesmo tempo?
Olá, quem fala é Steve Kaufmann e hoje eu vou falar sobre aprender múltiplos idiomas ao mesmo tempo. Esta é resposta a uma pergunta feita por Pelle, da Suécia, espectador do meu canal no Youtube. Se eu me lembro bem, ele está estudando russo, não tem muito tempo, mas também quer estudar alemão e queria saber o que eu achava disso. Ele me perguntou se eu recomendaria ou não.
Eu recebo essa pergunta com frequência, ‘o que eu acho de …’. Eu tenho algumas opiniões sobre o assunto.
Primeiro de tudo, se uma pessoa está aprendendo um idioma e quer aprender outro, ou até mesmo um terceiro idioma, é algo que eu entendo completamente e aprovo. Uma vez que descobrimos o prazer de aprender um idioma, de descobrir o idioma, mesmo antes de conseguirmos o falar com prazer, o prazer de explorar um mundo de cultura diferente, historia diferente, diferentes meios de expressar as coisas, são muito, muito recompensadores, encantadores e prazerosos. Por isso queremos explorar outro idioma.
É verdade que uma vez que dominamos ou nos tornamos relativamente bons em nos comunicar em um idioma, nos sentimos mais confiantes e mais propensos a aprender um terceiro, quarto e quinto idioma. De fato, eu acho que na Europa á comum que as pessoas falem dois, três ou quatro idiomas, pois existem muitos idiomas diferentes na Europa em uma área relativamente limitada. É bem menos comum na América do Norte.Se tomarmos o Canadá como exemplo, as crianças estudam francês na escola, mas acabam não falando francês, mas mesmo aprender um idioma é uma grande conquista. Muitas pessoas que eu encontro em Vancouver dizem: “nossa, Steve, você fala todos esses idiomas? Eu ia adorar falar francês ou espanhol, ou algum outro”. Claro, eles não se esforçam muito ou tentam, mas acabam desistindo. Então, na América do Norte nós temos todos os tipos de pessoas, os que não falam nem um idioma estrangeiro, mas na Europa, falar vários idiomas é bem comum.
Eu não acho que seja preciso ter habilidades especiais para aprender múltiplos idiomas. O que eu quero dizer é que algumas pessoas podem aprender melhor do que outras, mas todos podem aprender. Algumas pessoas podem pronunciar melhor, outras ter vocabulário maior, diferentes pessoas têm interesses diferentes, mas todos são capazes de conseguir e a sensação é muito recompensadora, então eu encorajo a todos.
Eu costumo dizer que a maneira que o francês é ensinado aqui no Canadá não faz sentido, pois estamos ensinando às crianças como dizer coisas básicas em francês, com a esperança de estarem corretas, quando, de fato, as crianças sabem que provavelmente nunca precisarão usar francês e, certamente não naqueles cenários específicos que são ensinados nas escolas. Eu sinto que ensino de línguas nas nossas escolas deveria ser mais uma questão de descoberta, aprender a entender, construir vocabulário, explorar novas línguas, até mesmo mais de uma língua.
Explorar idiomas, mesmo que passivamente para poder entendê-lo e entender sobre outros países, aprender sobre os países através da língua deles, aprender sobre a história e cultura, tudo isso é demais, múltiplos idiomas, demais. Esta é a primeira parte da minha resposta.
A segunda parte da resposta é mesmo que eu saiba que existem poliglotas – e eu já vi vídeos deles – que conseguem estudar, dois, três, quatro, cinco idiomas ao mesmo tempo, eu não consigo. Isso sugere que existem algumas pessoas que conseguem e outras que não conseguem. Eu não deveria dizer que não consigo, mas que eu prefiro não fazê-lo. Algumas pessoas gostam de fazer, mas outras não gostam. Prefiro concentrar em uma língua, pois eu acho muito interessante assim. Isso me prende. Fico comprometido. Não consigo me cansar dela.
Eu sei, por experiência própria, que quanto mais intenso, mais eu me concentro, eu consigo melhores resultados. Em outras palavras, eu passei 5 anos estudando russo, uma hora por dia. Eu passei 9 meses estudando chinês, sete horas por dia. Me saí melhor com chinês.Quanto mais intenso for a experiência, mais você vai aprender, você irá encontrar as mesmas palavras com mais frequência, seu cérebro se habituará a elas mais facilmente. É meio que a intensidade que ajuda o cérebro a absorver o novo idioma, então eu prefiro sempre me concentrar mais em um idioma.
Eu também gosto de explorar, então no LingQ eu dou uma olhada em coisas em holandês e descubro que consigo decifrar algumas lições tanto em holandês quanto em polonês, que é um pouco parecido com checo. Então eu exploro um pouco, mas não gasto muito tempo porque aprender uma língua da bastante trabalho. É uma coisa para se explorar. Eu já dei uma olhada em árabe, turco, tudo no LingQ, mas eu sei que se eu fosse me comprometer a aprender todas essas línguas, eu teria muito trabalho, como um emprego de tempo integral.
Não dá pra ter dois empregos de tempo integral. Então se estou me empenhando em tempo integral em checo, eu me dedicarei apenas a ele. Eu devo passar 20% do tempo com idiomas que eu já conheço, então com checo, ocasionalmente eu ouço coisas em russo, para manter ele fresco na minha mente. Quando eu resolvi aprender português, apesar de eu já falar espanhol e o vocabulário ser 85-95% igual, não foi tão fácil quanto eu achava. Foi difícil e eu até comprei um livro, por exemplo, Como palavras em espanhol são convertidas para português. Bem, não é questão de ler uma lista e as palavras em espanhol se tornarão palavras em português. Antes mesmo de terminar a lista, você já as esqueceu.
É preciso criar um hábito no cérebro e, para criar este hábito, quanto maior a intensidade da exposição, o exercício, para mim, mais cedo você terá controle sobre aquele idioma, mesmo para idiomas relativamente parecidos como o espanhol e o português, sem falar nos idiomas mais difíceis ou que não tem muita semelhança, como russo e alemão. O que você pode fazer é focar em um idioma por seis meses, talvez 80%, e usar os outros 20% para explorar outro idioma. Depois você pode inverter e dedicar 80% do tempo no idioma dois, digamos, alemão, no caso do nosso amigo da Suécia, e apenas 20% em russo, e depois inverter se você quiser.
No meu caso com o idioma checo, eu acabei indo para a República Checa e passei cinco dias em Praga, falando de 7 a 8 horas de checo por dia e eu fiquei muito feliz com o que eu alcancei. Então eu disse: tudo bem, agora vou me dedicar ao coreano. Então eu estudei coreano por 4 ou 5 meses, não tão intensamente. Então eu tive uma viagem de negócios para a Romênia, e eu passei 2 meses estudando romeno e alcancei um nível que eu podia me comunicar e falar sobre uma variedade de assuntos, inclusive entender noticiários e por aí em diante. Tenha em mente que romeno é 70% similar ao vocabulário do idioma italiano.Quando eu estava lá conversando com todos aqueles romenos, tinha um cara checo e eu queria conversar com ele em checo. Eu não consegui falar nem uma palavra, nada, sumiu. Mesmo que meu romeno não chegue nem perto do checo, eu estive tão focado no idioma romeno que eu esqueci o idioma checo. Mas isso não teria acontecido com idiomas que eu tenho mais domínio, como japonês, alemão ou russo, mas parar checo, que não esta em um nível que está fortemente ancorado no meu cérebro, eu não consegui falar nem uma palavra.
Como eu vou para a República Checa e Eslováquia passar o natal e ano novo com meu filho e a família dele, que mora na Inglaterra, eu voltei a estudar checo. Bem, meu romeno desapareceu. Não sei falar mais nada em romeno. Eu entendo, até consigo ler. Não demoraria mais do que um ou dois dias pra relembrar. O que eu quero dizer é que existe um benefício real em focar com muita intensidade.
Você sempre pode retomar seus idiomas. Eu faço isso regularmente, você volta à eles. Se você estivesse falando com Pelle, se fosse para passar 6 meses ou 1 ano estudando russo, o que é um trabalho de tempo integral, você poderia passar meses estudando alemão e usaria 20% do tempo apenas para manter o idioma russo fresco na memória.
Eu nunca me preocupo se eu esqueci alguma coisa em coreano, romeno ou checo, pois eu sei que em um dia ou dois eu consigo recuperar, ou até menos. No calor do momento, se você disser que fala um idioma, se dedique a ele. Eu consigo fazer isso com a maioria dos idiomas, mas não consigo com checo, romeno, coreano e assim por diante.
Então, para resumir, de qualquer forma eu acho que estudar mais de um idioma é uma boa coisa. Acho que o ensino de idiomas nas escolas deveriam ser mais como exploração, descoberta de mais idiomas e culturas através da língua e coisas assim, ao invés de fazer as pessoas falarem corretamente. Obviamente, onde o idioma é necessário para o trabalho, o que é comum com inglês, não é a estratégia correta. Deve-se focar em permitir que as pessoas se comuniquem.
Então, sim, estudar múltiplos idiomas é bom. No momento, o que eu gosto de fazer quando estudo idiomas é me concentrar em uma de cada vez, mas isso é o que eu gosto. Eu sei que existem excelentes poliglotas que possuem diferentes abordagens, cujos conselhos são diferentes dos meus.
Para aprender idiomas como eu, visite LingQ. Além disso, leia mais coisas no meu blog, e se inscreva no meu canal do YouTube para ver vídeos e muito mais!