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PODCAST Português (*Generated Transcript*), A HISTÓRIA DO JAPÃO

A HISTÓRIA DO JAPÃO

Como uma nação que passou boa parte de sua história com guerras violentas pelo poder,

se tornou uma das maiores potências do nosso tempo.

E como um povo que passou séculos tendo pouco contato com nações ocidentais,

conseguiu se tornar tão influente no mundo de hoje.

Olá, meus queridos amigos, tudo bem com vocês?

Eu sou Felipe Castanhari e hoje estou aqui para contar toda a história do Japão.

Sim, teremos samurais, imperadores, shoguns, ninjas...

Tudo isso faz parte da riquíssima história do Japão.

Mas uma pergunta fica acima de tudo isso.

Como o povo japonês construiu a sua identidade?

Aí não adianta apenas olhar para samurais ou para a Segunda Guerra.

É preciso observar a história inteira do Japão

para entender como as tribos isoladas que começaram a povoar essas ilhas

milhares de anos atrás, se transformaram no povo que conhecemos hoje.

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Mas vamos lá.

Nossa história começa num lugar que pode parecer estranho.

Embaixo da Terra.

Afinal, é impossível contar a história do povo japonês sem pensar na geografia do Japão.

Uma terra que milhões de anos atrás pertencia à Ásia continental.

Isso mesmo.

O Japão nem sempre foi uma ilha.

Essa região do planeta fica perto do ponto de contato de quatro placas tectônicas.

Que são enormes blocos de rocha que sustentam os continentes e oceanos.

Essas placas se movem modificando a superfície do planeta.

E foi isso que rolou na Ásia.

Um processo que durou milhões de anos fez a região do Japão ficar isolada pelo mar.

O resultado foi um arquipélago com mais de 6 mil ilhas.

Sendo que as maiores são Hokkaido, Honshu, Shikoku e Kyushu.

Além de contar com as que formam a região de Okinawa.

Essas ilhas ficam numa região conhecida como o Círculo de Fogo do Pacífico.

Com muitos terremotos e vulcões.

Um desses vulcões é o famoso Monte Fuji.

O ponto mais alto do Japão com mais de 3.700 metros de altitude.

Um vulcão vulcânico proporcionado em um local espetacular e natural.

O Fuji-san é adorado pela sua beleza simétrica e pela sua saúde.

A história do Japão é dividida em eras e períodos.

E começa quando os primeiros humanos pisaram nessas ilhas.

Na verdade não se sabe exatamente quando os primeiros humanos chegaram ao Japão.

Mas indícios arqueológicos como machados de pedras polidas.

Mostram que cerca de 30 mil anos atrás já existiam pessoas por ali.

Vivendo com os seus próprios próprios nomes.

E se você quiser saber mais sobre isso.

Nesse momento em que cerca de 30 mil anos atrás já existiam pessoas por ali.

Vivendo principalmente da coleta de frutas e claro da caça e pesca.

Esse povo começou a crescer e progredir por volta de 13 mil anos antes de Cristo.

Se as aldeias já formavam uma espécie de cultura.

Por volta de 5 mil antes de Cristo.

Muitas aldeias tinham se unido com outras formando agrupamentos bem maiores.

Algumas dessas aldeias ficavam nas montanhas.

Vivendo basicamente de caça.

E o outro era o litoral com a galera comendo mariscos que encontravam nas praias.

Agora pense em tudo que vocês sabem sobre povos antigos.

Depois de conseguir casa e comida.

Qual é a primeira coisa que esses caras pensavam?

Religião é claro!

Aliás foi nessa época que surgiram pequenas estatuetas de barro chamadas Dogu.

Já foram encontrados milhares de Dogus no Japão.

Mas ainda não sabemos ao certo se eles representavam divindades ou pessoas reais.

Aliás uma curiosidade muito legal para quem gosta do jogo Zelda Breath of the Wild.

O diretor de arte disse que esse período da história do Japão.

Serviu de inspiração para o Sheikah Slate, as Shrines e todos os objetos e estruturas do jogo.

Como os terríveis e implacáveis Guardiões.

Passei muito mal nos Guardiões.

Porém tudo começa a mudar quando surgem novas aldeias nas partes oeste das ilhas.

E quando você olha mais de perto via que essas aldeias eram bem parecidas com as que existiam na Coreia.

Sim, novas pessoas chegaram ao Japão trazendo tecnologias diferentes.

Como o manuseio de metais e uma novidade muito importante o cultivo do arroz.

Foi nessa época que começou efetivamente a agricultura japonesa.

E a população do arquipélago aumentou muito chegando a mais de um milhão de habitantes.

Só que como algumas pessoas possuíam terras e grãos em maior quantidade que outras.

Surgiram classes dominantes.

E o que aconteceu com essas classes?

E o que aconteceu com essas classes?

E o que aconteceu com essas classes?

E o que aconteceu com essas classes?

Então negativo, uma nova era surgiu no país.

Dos novos nuns mais maios na icação das aldeias.

Juntam-se com animais m可thuns.

E com a construção da aldeia os rinos começou a esperar

aking Schulen dieje

e novos séculos fizeramProgressos em sucessão.

O Yukata no Japão

e depois utilziou o Yukatukai

pela sua satisfação com a região de Kuru- thick park.

A disputa pelo poder.

Boa parte da história japonesa é quase um game of thrones

com guerras, alianças, traições

e todo mundo querendo mandar no arquipélago.

Isso começa já nesse período

com as guerras mais antigas que se tem notícia no Japão.

O grande vencedor destes primeiros conflitos entre reinos diferentes

teria sido Jinmu.

Ao conquistar a vitória nessas guerras

ele se tornou o primeiro imperador do Japão.

Assumindo o trono em 11 de fevereiro de 660 a.C.

Justamente por isso o dia 11 de fevereiro

é até hoje celebrado como o dia da fundação nacional do Japão.

Porém a história de Jinmu permanece cercada de lendas.

A própria mitologia japonesa aponta que ele seria descendente direto

de ninguém menos que Amaterasu.

A deusa do sol.

Na verdade os arqueólogos nunca encontraram provas

de que algum dos 28 primeiros imperadores

tinha sequer existido de verdade.

Isso só muda no 29º imperador chamado Kimei

que assumiu o trono no ano de 539.

E aqui não estamos falando só de religião

mas principalmente de política.

Se os imperadores são descendentes dos deuses

é sinal de que eles também são divindades.

É um negócio muito parecido com os faraós do Egito.

Se o líder de um reino é um deus

fica muito mais fácil manter o povo sob controle

fazendo tudo o que esse cara quer.

É nesse período que alguns especialistas dizem

ter surgido o Império Yamato.

O que se acredita é que nos séculos 4 e 5

os Yamato eram apenas o grupo mais importante

de uma enorme aliança de clãs.

Mas o tempo passou e no século 6

esse clã Yamato já mandava em tudo

estabelecendo a única dinastia imperial que reinou no Japão.

Lembra que a dinastia é uma série de reis e rainhas

de uma mesma família que se sucedem no governo?

Então todos os outros imperadores que vamos ver daqui pra frente

descendem do clã Yamato.

Essa é a monarquia com a linhagem mais antiga que existe no mundo.

Ah, uma coisa importante é que a palavra clã

vai começar a aparecer muito nesse vídeo.

Mas como surgiram esses clãs?

Bem, eles eram formados por famílias diferentes

que se uniam normalmente por casamentos.

Todo clã tinha uma família com mais poder

e o patriarca dessa família era o líder do clã inteiro.

Por exemplo, imagine que os membros de uma família importante de guerreiros

se casam com pessoas de famílias de ferreiros e de arqueiros

que têm menos poder.

Todas essas famílias vão formar um clã

e o patriarca da família mais poderosa desse grupo

é quem determina como o clã inteiro vai agir

a respeito de qualquer assunto.

Nessa época, rolou a disseminação do xintoísmo.

Na verdade, o xintoísmo só passou a ser visto como uma religião mesmo

no final do século XVIII,

porque ele surgiu com práticas cerimoniais

que mudavam de um lugar para o outro.

Mas o importante é saber que essas cerimônias

que se desenvolveram a partir de rituais feitos na Antiguidade japonesa

giravam ao redor da adoração dos Kami,

entidades sobrenaturais que residem em todos os lugares.

A Antiguidade japonesa

Nessa época, o Japão tinha contato basicamente com outros dois territórios,

as dinastias chinesas e os reinos coreanos.

Vamos falar primeiro da Coreia.

Nessa época, ela era dividida em três grandes reinos

e uma confederação de reinos menores chamada Gaia,

com todos disputando o poder.

Os japoneses tinham bons relacionamentos com um desses reinos,

chamados Paikichi,

e esse contato fez o Budismo aparecer no Japão no meio do século VI.

O Budismo é uma religião que nasceu na Índia

e se espalhou para o Sul da Ásia e o Extremo Oriente.

Claro que é muito difícil explicar o Budismo de uma forma rápida,

mas ele prega que o caminho para superar o sofrimento

é derrotando os desejos e vícios,

compreendendo o caminho de Buda com a pessoa buscando a paz interior

e aprimorando suas virtudes.

O Budismo também contribuiu bastante para a criação

de um dos elementos mais ricos da cultura japonesa,

o folclore.

Na verdade, histórias sobre deuses e demônios,

animais com poderes sobrenaturais e até mesmo dragões

já existiam no Japão desde os primeiros dias do Shintoísmo,

formando um dos folclores mais ricos do mundo.

Mas o Budismo trouxe novos elementos para isso.

Um bom exemplo está na figura do macaco,

que marca presença em várias lendas japonesas.

As primeiras histórias japonesas sobre macacos

foram inspiradas em poesias indianas e em antigos textos chineses.

Porém, com o passar do tempo,

elas foram se modificando para refletir os sonhos,

medos e aspirações do povo japonês.

É impossível entender o povo japonês sem olhar para seu folclore.

Ao longo dos séculos,

essas lendas e mitos fizeram mais do que encantar pessoas

ou assustar crianças.

Elas ajudaram a construir a identidade do povo japonês,

moldando sua forma de pensar o mundo.

Outra doutrina que começou a aparecer no Japão nessa época

foi o Confucionismo, que surgiu na China.

E a importância do Confucionismo é enorme,

porque ele prega que o caminho para a ordem é a harmonia social

com respeito à hierarquia e burocracia,

e que passa a ter muita influência nas leis criadas no Japão a partir daí.

No começo rolou uma certa resistência de alguns clãs para aceitar o budismo,

mas ele foi ganhando espaço especialmente por motivos políticos.

Primeiro porque a corte imperial se ligou que as práticas budistas

fariam o Japão ser visto pelos seus vizinhos como um império mais civilizado.

Segundo, o budismo aumentaria o próprio poder do governo.

Se todos os japoneses começassem a praticar o budismo,

existiria uma filosofia unindo o povo.

E se o governo fosse associado a essa filosofia,

sua influência ficaria maior.

Sim, a corte imperial era muito espertinha.

Aí precisamos falar do clã Soga,

que tinha muita influência com a família imperial.

Usando o budismo, eles do clã Soga aumentaram ainda mais o seu poder.

Tinha uma hora que quem mandava de verdade no Japão não era mais o imperador,

e sim o clã Soga e um príncipe chamado Shotoku, que era aliado dos caras.

Aliás, dizem que esse príncipe Shotoku tem a honra de ter batizado o Japão.

Na história antiga, o nome mais conhecido do Japão era seu nome chinês,

Wa, que significa gente pequena.

Isso mudou apenas quando o príncipe Shotoku mandou uma carta para o imperador chinês

se referindo ao Japão como a terra onde o sol se levanta.

E falando da China como a terra onde o sol se põe.

Como o sol nasce no leste e o Japão está a leste da China,

para os chineses o sol sempre nasce na direção de onde está o Japão.

Da mesma forma, para quem está no Japão, o sol se põe a oeste, ou seja, na direção da China.

Assim, o Japão ganhou o nome de Nippon, ou a terra do sol nascente.

Essa é uma das versões mais conhecidas da possível origem desse termo.

Já o nome ocidental Japão foi um pouco diferente.

Os povos da Indonésia e da Malásia chamavam o Japão de palavras como Jipang ou Jepun,

que eles tinham pegado e emprestado de alguns dialetos antigos chineses.

Aí esses nomes foram adotados pelos portugueses e mudaram com o tempo.

Mais para o meio do vídeo você vai entender onde os portugueses entram no Japão.

Mas voltando ao nosso amigo, o príncipe Shotoku,

ele foi fundamental para a disseminação do budismo no Japão,

mandando construir mais de 400 templos no arquipelo.

Mas quando ele morre no ano de 622,

começam a acontecer diversas conspirações para tentar acabar com a influência do clã Soga.

Numa dessas tramóias, o líder do clã Soga é assassinado.

Com isso, quem passa a dar as cartas é o clã Fujiwara,

que ajuda a criar diversas reformas nas leis japonesas.

Essas mudanças foram reunidas numa série de leis chamadas de Reforma Taika.

E realmente muita coisa mudou.

Começando pelas terras cultiváveis que passaram a pertencer ao governo,

que podia distribuí-las ao povo.

O mesmo acontecia com as armas que ficavam armazenadas em depósitos do governo.

E agora você deve estar achando estranho, né?

Porque até agora eu falei muito pouco sobre a capital japonesa, né?

O lance é que a capital mudava de lugar o tempo inteiro,

porque eles achavam que quando um imperador morria ali, aquele local ficava em buro.

Isso só acabou com a Imperatriz Geimei,

que no ano de 710 estabeleceu a cidade de Heijô como capital fixa.

Essa cidade ainda existe e é conhecida como Nara.

Por ser a capital, Nara se tornou um verdadeiro polo comercial e cultural.

Mas fora da cidade, a maior parte do povo japonês mal tinha o que comer.

Para piorar, entre os anos de 735 e 737,

uma epidemia de varíola se espalhou pelo país,

matando cerca de 30% da população japonesa.

Sim, é isso mesmo.

Um terço da população japonesa morreu em dois anos.

Mas Nara não continuou como capital do império durante muito tempo.

E no ano de 794, o governo se estabeleceu na cidade de Heian-kyô,

que a partir daí seria a capital japonesa por mais de mil anos.

Sim, Heian-kyô é o nome antigo da famosa cidade de Kyoto.

Este é um bom momento para falarmos da arquitetura japonesa,

que também é uma herança cultural da China.

Porém, essa origem chinesa não impediu que a arquitetura japonesa ganhasse personalidade própria.

Um dos motivos disso é que uma das grandes preocupações dos japoneses

era planejar cuidadosamente como cada construção

poderia se integrar com harmonia ao ambiente onde era construída.

Isso valia especialmente para os templos.

Além disso, a própria geografia ajudou a moldar a arquitetura japonesa.

A maior parte dos edifícios era de madeira e as paredes internas das casas eram de papel de arroz.

Isso não se deve apenas ao fato de que o Japão tinha árvores e arroz em abundância,

mas também pelo fato de que esses materiais leves

eram mais adequados a uma terra que sempre sofreu com terremotos.

Ao olhar para um prédio japonês, saiba que você não está enxergando apenas uma construção,

e sim um dos traços mais marcantes da história japonesa.

A capacidade de aprender com outras civilizações

e transformar este conhecimento em algo único e tipicamente japonês.

É muito importante entender a questão estética nessa época,

porque isso fazia a cabeça dos nobres, já que eles associavam a beleza e elegância

ao fato da pessoa ter ou não valor.

Então, homens e mulheres da corte se enfeitavam o tempo inteiro

e aprendiam regras de etiqueta para terem cada vez mais valor naquela sociedade.

O lance é que os caras pensavam nisso o dia inteiro,

então ficaram cada vez mais desconectados do resto do país.

Enquanto isso rolava, a galera que não era da corte, como eu e você,

passava o dia tentando arrumar um punhado de arroz para não morrer de fome.

E isso ficava cada vez mais difícil.

Lembra que as terras férteis japonesas eram do governo?

Isso mudou no século X, e as terras usadas para plantar arroz passaram a ser particulares.

E aí é aquela história de sempre que acontece no mundo inteiro.

Os clãs mais poderosos tinham cada vez mais terras,

e quem não tinha nada ficou com menos ainda.

Agora, muitas vezes um clã rico era dono de muitas terras,

mas não tinha controle nenhum sobre essas propriedades

que ficavam longe demais da sua base de poder.

A saída então era deixar essas terras nas mãos de nobres menores

que administravam o lugar e eram chamados de daimyo.

Esses nobres que administravam as províncias dos clãs foram se tornando mais e mais poderosos.

E aí, com o país todo fragmentado, começou a surgir uma coisa

que vocês estão esperando desde o começo do vídeo,

que são uns guerreiros com umas espadas diferentes.

A CIDADE DE GUERREIROS

Esses caras começaram a surgir da seguinte forma.

Uma das obrigações daqueles nobres menores que cuidavam das terras era defender a propriedade.

Então, eles recrutavam guerreiros ali mesmo na província que administravam.

Com isso, o Japão começou a ter exércitos regionais

que iam crescendo conforme alguns desses nobres faziam alianças com outros.

Enquanto isso, as disputas pelo poder na corte aumentavam a cada dia,

especialmente entre três famílias, os Fujiwara, os Taira e os Minamoto.

Aí, em 1153, essa briga deles virou guerra entre esses três clãs.

De um lado, os Fujiwara. Do outro lado, os Taira e os Minamoto.

E o resultado é que os Fujiwara, que mandavam no país desde o século VII, foram totalmente destruídos.

Agora, olha a bagunça. Os Taira e os Minamoto não eram exatamente amigos.

E três anos depois, um entrou em guerra contra o outro com a vitória dos Taira.

Mas os Taira só pensavam em poder, não estavam absolutamente nem aí para o Japão.

E galera, os Minamoto não tinham acabado não.

Eles estavam quietos no canto deles, recuperando as forças.

Os Minamoto atacaram os Taira de surpresa, assumindo o controle da corte.

Eles avançam em direção ao inimigo e testam as forças do grande exército dos Taira.

E o Japão nunca mais foi o mesmo.

A partir daí, os militares passaram a ocupar cargos de destaque no governo.

Sim, eu estou falando dos membros daqueles antigos exércitos regionais

que se tornaram uma elite militar japonesa com mais poder que a aristocracia.

Eles eram conhecidos como Bushi, que é a palavra para guerreiro.

Mas também são conhecidos por outro nome.

Samurais!

A partir do século XII, o arquipélago japonês ganhou uma das suas figuras mais famosas.

Os samurais!

Esses caras não eram simples guerreiros ou soldados, mas sim uma elite militar.

E a questão era hereditária, porque um samurai obrigatoriamente tinha que ser filho de um samurai.

Caso você tenha se perguntado um dia, a palavra samurai pode ser traduzida por aquele que serve.

E ela descreve muito bem esses guerreiros que agiam sempre pautados pela lealdade ao seu mestre,

normalmente um proprietário de terras.

Agora, claro que essa lealdade dos samurais não era definitiva.

Existem muitos casos de samurais que passavam a seguir outro daimiô,

especialmente quando começaram a identificar fraqueza no mestre anterior.

Um líder sem carisma ou coragem dificilmente conseguia manter os samurais ao seu lado por muito tempo.

Existiram também os famosos honins, que eram os samurais sem mestre.

Os honins vagavam pelo Japão, normalmente aceitando trabalhos e emprego.

E eram muito temidos, porque como eles não tinham mestre, não ficavam mais presos ao código de honra dos samurais.

Aliás, uma curiosidade, o nome honin significa homem-onda,

porque ele se refere a um samurai que não tem destino como as ondas do mar.

Esse não ter destino nem tanto é por ele vagar, mas também por ele ter uma vida de verdade.

Esse não ter destino nem tanto é por ele vagar pelo Japão, porque alguns ficavam no mesmo território,

mas sim por eles não terem um propósito fixo, que é a lealdade ao mestre.

Os samurais eram guerreiros responsáveis pela proteção de terras e muitas vezes do próprio Japão.

E mesmo com essa importante função, ainda se dedicavam à poesia, artes e filosofia.

É muito fácil reconhecer um samurai, porque eles estavam sempre com duas espadas penduradas no seu obi,

que é o cinturão que prende o kimono, na altura da cintura.

Mas eu ainda vou falar mais desses caras por aqui, mesmo porque chance para isso não vai faltar,

já que os samurais vão começar a andar pelo Japão inteiro a partir de agora.

Sempre que eu falar de militares ou soldados, eu estou falando de samurais,

que se tornaram uma das figuras mais marcantes do Japão feudal.

O FEUDALISMO

Como assim Japão feudal?

Feudalismo não foi um lance que rolou na Europa, lá na Idade Média?

Exatamente! Parabéns por prestar atenção nas aulas de História.

O feudalismo foi um modelo político e econômico em que um senhor feudal,

que tinha grandes porções de terra, cedia parte dessas terras para trabalhadores em troca de lealdade dos caras.

Esse modelo ou variações disso rolaram na Europa durante boa parte da Idade Média,

especialmente entre os séculos XI e XIII.

E no Japão dessa época, a coisa foi parecida, especialmente na questão de distribuição de terras.

Mas diferente da Europa, que era formada por vários reinos diferentes,

cada um com o seu senhor, no Japão esse esquema era tudo coordenado pelo governo central.

E nesse caso, estamos falando do famoso SHOGUN.

O SHOGUN

A prova de que o poder no Japão estava nas mãos dos samurais aconteceu em 1192,

quando o imperador nomeou o chefe do clã Minamoto, o Yoritomo Minamoto, como SHOGUN.

Ou seja, o chefe de tudo.

Esse título tinha sido criado com o nome de SEITAI SHOGUN,

que significa o grande general conquistador de bárbaros.

Já tinha sido usado por alguns militares.

Mas ele era apenas isso mesmo, um título militar.

A partir daqui, a palavra SHOGUN virou sinônimo de poder político,

porque quem ocupava esse cargo era literalmente a pessoa que mandaria no Japão.

E a relação entre o SHOGUN e o imperador é literalmente uma via de mão dupla.

Por um lado, é o SHOGUN que manda no Japão.

Por outro lado, uma pessoa só pode ter esse cargo se for nomeada pelo imperador.

Agora, o Minamoto queria a distância de todas aquelas intrigas da corte imperial,

então passou a governar da cidade de Kamakura.

E essa escolha não foi por acaso.

A cidade de Kamakura, que é a primeira cidade samurai da história,

era cercada por montanhas que funcionavam como muralhas naturais

e com uma saída para o mar, que o SHOGUN deixava protegida com navios de guerra.

Então ela era praticamente impenetrável.

Se você fosse SHOGUN, com certeza iria querer morar ali.

Mas a coisa começou a complicar, porque esse primeiro SHOGUN foi alvo de conspirações

e algumas delas o colocaram contra membros da sua própria família.

Aí, quando ele morreu, em 1199, não tinha sobrado ninguém na sua família com poder suficiente para herdar o cargo.

Sabe qual a saída que encontraram?

Criaram um regente, ou seja, um cara que ficava nos bastidores determinando o que o SHOGUN tinha que fazer.

O imperador não mandava nada porque quem mandava era o SHOGUN,

mas o SHOGUN não mandava em nada porque quem mandava era o regente.

Mas que confusão!

Só que aí aconteceu algo que ninguém esperava.

Todos os samurais tiveram que pegarem armas!

Não por causa de mais uma guerra civil, e sim porque o Japão foi invadido.

Vamos olhar um pouco para a Ásia.

Enquanto o Japão passava por todos aqueles conflitos que deram origem ao Shogunato,

um cara chamado Temujin começou a unir as tribos mongóis e criou um dos maiores impérios de todos os tempos.

Sim, esse cara é o famoso Gengis Khan.

Ele era o primeiro em se tornar um império de mongóis.

E ele foi o primeiro em se tornar um império de mongóis.

Depois que ele morreu, um de seus filhos e os netos do Gengis Khan estão controlando os serviços.

Com todos esses dois aqui no meio do rio, do ninho e de poucasìnhu tá em volta.

Mas tudo que se deve a isso,boy, é esperar que arise um dia de paz.

E agora, você já sabe a verdade.

Um barbarião brutal que matou milhões.

Depois que ele morreu, um de seus filhos e os netos do Gengis Khan passaram a comandar os domínios conquistados pelo império.

Um desses netos se chamava Kublai Khan, que conquistou a Coreia, a China e decidiu que a galera do Japão deveria começar a pagar um tributo para ele.

Como o governo japonês mandou avisar que não ia pagar nada, o Khan decidiu mostrar quem é que mandava ali.

Por isso, em 1274, barcos transportando milhares de soldados mongóis surgiram no litoral da ilha de Tsushima.

Essa é a história do jogo Ghost of Tsushima, do Playstation.

Se você tem Playstation, cara, joga esse jogo que ele é fantástico.

Nós somos 80 samurais contra um exército, lutando para a invasão.

Hoje, eu morro por minha população.

Tsushima foi conquistada em poucos dias.

Primeiro, porque o exército mongó era gigante.

Segundo, os japoneses foram surpreendidos com a forma com que os mongóis lutavam, usando escudos e bombas feitas com uma estranha substância negra chamada pólvora.

Outra coisa que atrapalhou demais os japoneses era, acredite se quiser, o barulho.

Lembra aquela copa do mundo da África que ninguém conseguia jogar direito por causa do barulho das vovozelas?

Era a mesma coisa.

Os mongóis usavam cornetas, tambores, gongos.

Era tanto barulho...

...que os samurais e seus cavalos ficavam desorientados.

Depois disso, os mongóis conquistaram a ilha de Iki e desembarcaram na ilha de Kyushu.

Nessa batalha, as coisas já estavam mais equilibradas, com 3 mil samurais defendendo a ilha.

No final, o conflito não teve vencedores e à noite, os mongóis recuaram para os barcos.

E aí, durante a noite, aconteceu algo que ninguém esperava.

Um tufão violento surgiu do nada e destruiu os barcos mongóis.

Milhares de invasores se afogaram, acabando com os planos do Khan.

O Khan não ficou nada feliz com isso, mas sabia que o Japão teve sorte, sendo salvo pela força da natureza.

Então, ele começou a preparar uma nova invasão, que rolou em 1281.

Galera, foi quase um repeteco da primeira vez.

Mas, numa escala maior e com mais conflitos, os mongóis tacaram o terror em Tsushima

e Iki e avançaram pelo arquipélago, chegando novamente até a baía de Hakata, na ilha de Kyushu.

Mas, dessa vez, os japoneses estavam mais preparados e tinham construído até um muro enorme de pedra

para defender o lugar. Então, os mongóis tiveram que recuar.

Mas nada disso mudava o fato de que a vitória dos invasores parecia ser questão de tempo,

porque seus exércitos eram enormes e muito bem equipados.

E aí, sabe o que rolou?

É, eu sei, vocês vão achar que eu estou de sacanagem.

Eu também pensaria isso.

Sim, outro tufão.

A natureza ajudou mais uma vez e destruiu os barcos mongóis de novo.

Olha aí a prova definitiva de que os airbenders existem.

Os generais invasores fugiram nos barcos que sobraram, deixando para trás milhares de soldados.

Sem comida ou equipamentos, esses caras foram massacrados pelos japoneses.

O placar final foi Tufões japoneses 2, mongóis 0.

Será que isso é verdade mesmo?

Esse lance de duas invasões serem derrotadas por causa de dois tufões na arma.

Olha, por mais que essa história seja legal demais, tudo indica que nada aconteceu exatamente dessa forma.

As histórias que falam desses tufões foram escritas por gente que sequer estava perto dos lugares onde os mongóis desembarcaram.

Já os relatos de gente que participou da batalha não fala de tufão nenhum.

No máximo de uma tempestade normal durante a primeira invasão.

Mas de onde teria vindo então essa história?

Uma teoria diz que sacerdotes de diversos santuários teriam falado que os tufões eram provas de que os deuses tinham salvado o Japão.

O que faria esses templos caírem nas graças do imperador e do Shogunato?

Mas se não teve tufão, então como os japoneses resistiram a essas invasões?

A história tem algumas explicações mais concretas para isso.

Primeiro, os japoneses lutavam em terrenos que eles conheciam.

E era péssimo para os exércitos mongóis que nem esperavam tanta resistência e tinha dificuldade para lutar em praias e vales estreitos entre montanhas.

E as próprias forças mongóis estavam longe de serem unidas.

Porque como eles incorporavam povos conquistados ao exército, muita gente só estava ali lutando porque era obrigada.

Mas o ponto mais importante mesmo são os samurais que adaptaram todo o seu estilo de combate para resistir à invasão.

Aliás, é aí que surge a figura clássica do samurai com a sua espada.

E essa história é muito legal.

Até esse momento, a maior parte dos samurais era especialista em arco e flechas.

Mas aí eles perceberam que poderiam resistir à invasão levando a guerra para dentro dos navios mongóis porque os invasores não conseguiam lutar em espaços apertados.

Então foi aí que os samurais começaram a usar uma espada como arma primária.

Graças a isso, muitos soldados mongóis morreram nos barcos sem nem colocar os pés no Japão.

E os arcos e flechas foram para os camponeses que ajudaram a combater os invasores formando uma linha de infantaria que também fazia uso de lanças para derrotar as cavalarias mongóis.

Mas sabe o que é mais legal?

Esses supostos tufões que teriam salvado o Japão existindo de verdade ou não passaram a ser chamados de Ventos Divinos.

Que em japonês é uma palavra bastante conhecida.

Kamikazes.

Essa palavra ainda vai aparecer por aqui.

Mesmo com a vitória, a invasão gerou uma enorme crise política no Japão.

Os samurais que enfrentaram e expulsaram os mongóis da ilha nunca receberam nenhum tipo de recompensa por isso.

Algo que eles achavam que seria justo.

Foi tipo, ah beleza, vocês fizeram de tudo para proteger o Japão, parabéns, vamos tocar a vida agora, né?

É claro que eles ficaram totalmente insatisfeitos com o Shogunato.

Em 1318, quem subiu ao trono foi o Imperador Godaigo, que decidiu que era hora do poder voltar para a família imperial declarando guerra ao Shogunato.

A galera do Shogun, claro, resolveu peitar o cara.

O problema é que um dos principais generais do Shogunato, chamado Takauchi Ashikaga,

era descendente de uma ramificação dos Minamoto, ou seja, ele tinha direito a ocupar o cargo de Shogun.

Juntando isso com o fato de que ele também estava de saco cheio com a forma com que o Shogunato estava tocando o Japão,

começou a pensar que, se eu me juntar a esse imperador, eu consigo criar um exército bem grande.

Não deu outra, ele mudou de lado e se aliou à família imperial.

Essa traição literalmente decretou a queda do Shogunato e deu a vitória ao Imperador em 1333.

Espera aí, Castelo, você não disse que a cidade de Kamakura era praticamente uma fortaleza natural?

Como esse cara fez seu exército derrubar o Shogunato?

Existe uma lenda que diz que isso aconteceu com um samurai que passou semanas tentando tomar a cidade sem sucesso.

Aí uma noite ele ofereceu sua espada aos deuses dragões do mar.

No dia seguinte, as marés tinham baixado e levado os navios de guerra para longe,

deixando uma entrada para os seus soldados que invadiram a cidade marchando sobre o solo marítimo seco.

Sim, sim, isso é uma lenda, mas tudo indica que Kamakura caiu desse jeito mesmo,

com os navios de guerra desaparecendo, porque quando a maré baixou, a área retrocedeu por quilômetros,

pois isso é uma característica dessa região.

Então não foram os dragões do mar, mas sim a própria geografia que fez Kamakura e o Shogunato caírem.

Em 1333, o Imperador Godaigo entrou em Kyoto com o general Ashikaga ao seu lado

e o poder voltou para a mão do Imperador num lance conhecido como Restauração Kenmu.

Sabe quanto tempo durou essa nova política japonesa?

Décadas? Séculos? Não, três anos.

Isso porque o Imperador Godaigo foi, digamos assim, meio tolinho.

Ele começou a falar que era ele quem iria mandar no Japão, que não ia ter Shogun nenhum,

que os militares não ia pitar mais nada.

Claro que os samurais não curtiram nada disso.

Resultado, dez minutos depois disso, o Imperador foi deposto e quem assumiu o trono foi um membro da família imperial,

que não era bobo e nomeou o Ashikaga como Shogun em 1338.

Mas esse Imperador Godaigo era teimoso, galera.

Ele fugiu para o sul do Japão e montou um governo paralelo, literalmente rachando o país.

Agora tinha uma corte do sul com o Imperador e uma corte do norte com o outro Imperador e um Shogun.

E quem começou a se dar mal com isso foi o pessoal do norte, onde as províncias eram controladas pelos aliados do Shogun.

Esses senhores feudais, chamados daimyo, tinham cada vez mais poder nas suas terras.

Então não curtiam muito essa ideia de obedecer um Shogun? Isso não tá legal não.

Então o Shogunato tinha que lidar com o governo rival no sul e o perigo constante de guerra civil entre seus aliados.

Isso só mudou quando um cara chamado Yoshimitsu Ashikaga se tornou Shogun.

Além de manter suas províncias sobre controle, ele finalmente unificou as duas facções do clã imperial,

fazendo a corte japonesa voltar a ser uma só.

Ou seja, o Shogun e o Yoshimitsu literalmente salvou o dia.

Mas depois que o Yoshimitsu morreu em 1408, o Shogunato começou a perder de novo o apoio dos daimyos.

E dessa vez a coisa foi ficando cada vez mais tensa, até explodir de vez em 1464,

quando a escolha de quem seria o próximo Shogun causou uma guerra dentro da própria família Ashikaga.

E aí claro que os daimyos do Japão inteiro perceberam que a cadeira de Shogun seria de quem tivesse mais prestígio.

Assim começaram a rolar diversas batalhas pelo Japão com esses senhores feudais e seus exércitos enormes

atacando uns aos outros para aumentar o seu poder.

Foi literalmente todo mundo contra todo mundo durante décadas.

E no meio desse caos começou a aparecer uma das figuras mais famosas do Japão.

Os ninjas mestres da espionagem.

Os historiadores apontam que os ninjas conhecidos como Shinobi eram recrutados nas classes mais baixas.

Ou seja, eram mercenários que agiam por dinheiro.

E esqueça aquela figura famosa do ninja com roupas pretas e cometendo exclusivamente assassinatos.

Os ninjas até cometiam esse tipo de crime, mas na verdade eles eram tropas especiais de samurais.

Especializados mesmo em espionagem e infiltração.

Então tinha samurai, ninja, camponês, guerreiro, monge guerreiro, todo mundo matando todo mundo.

E aí olha o que aconteceu.

Em 1543 um pequeno barco chinês se perdeu e chegou às praias do Japão

E no meio da tripulação tinham três mercadores com uma aparência que os japoneses nunca tinham visto.

Peraí, esses caras eram portugueses?

Isso mesmo meu gajo, portugueses.

Lembre-se que tudo isso rolou no século 16, durante as grandes navegações.

Os portugueses eram mestres em exploração marinha e dois anos depois disso já tinham estabelecido rotas comerciais entre o Japão e a Europa.

Logo depois disso, os portugueses se tornaram os principais mercadores.

E um ano depois outros europeus como espanhóis e holandeses começaram a chegar nas ilhas japonesas.

Uma das coisas que mais chamou a atenção dos ocidentais eram as roupas dos japoneses.

Completamente diferentes das vestimentas ocidentais.

E essas roupas não eram usadas ao acaso.

Elas seguiam um código complexo.

E suas cores e estampas serviam para mostrar o estado civil, a idade e até mesmo a importância de cada pessoa.

Mas aqui temos uma história engraçada.

Quando os primeiros ocidentais perguntaram qual era o nome daquelas roupas, os japoneses responderam kimono, que é a palavra pela qual elas ainda são conhecidas no mundo todo.

O problema é que kimono significa, literalmente, coisa de vestir.

Então, basicamente o que aconteceu é que os europeus perguntaram o nome da roupa e os japoneses responderam, ué chama roupa.

E o nome pegou.

A presença portuguesa mudou demais o Japão.

Isso foi desde as armas de fogo, que os samurais não conheciam, até a questão da religião com a chegada dos primeiros jesuítas.

Aliás, os jesuítas ganharam tanto poder no Japão que conseguiram influenciar até mesmo as decisões de daimyo poderosos.

Isso tudo rolou durante aquela guerra generalizada, com todo mundo se matando.

E quem soube usar muito bem a presença dos portugueses foi um daimyo chamado Nobunaga Oda.

Esse sujeito não tinha o menor pudor em armar seus exércitos com mosquetes ou de usar jesuítas para promover a discórdia entre os seus adversários budistas?

Conforme foi ganhando mais terras e aliados, o Nobunaga se tornou um dos daimyos mais poderosos do Japão.

E em 1568, marchou até a capital, obrigando o imperador a nomear Yoshiaki Ashikaga como Shogun.

Com isso, o Shogunato Ashikaga ganhou força de novo, não é verdade?

Não. Nobunaga Oda e o Shogun eram aliados?

Oficialmente sim, mas o Nobunaga não tinha o menor interesse de ficar fazendo o que o Shogun queria e continuou conquistando novas províncias.

Não demorou muito e o Shogun se ligou que o Nobunaga ainda ia criar problemas, então formou uma aliança entre os daimyos que eram inimigos do cara.

Só que esses planos do Shogun foram por água abaixo e isso acabou não dando em nada.

Mas claro que o Nobunaga não ia deixar isso barato, né?

Ele imediatamente invadiu o Kioto e expulsou o Shogun do cargo, encerrando de vez o Shogunato Ashikaga.

Bem, aí ele virou o Shogun, certo?

Não. O Nobunaga era um cara diferente e não queria nem saber desse cargo.

Além do fato de que ele não era da linhagem dos Shoguns.

Ele continuou atacando seus rivais até o ponto em que os poucos daimyos que ainda eram contra ele não pareciam ser mais uma ameaça.

Assim, depois de décadas de guerras e batalhas por todos os lados, o Japão parecia prestes a se unir novamente sob o controle do Nobunaga.

Não é à toa que ele é considerado o primeiro grande unificador do Japão.

Mas na verdade, o Nobunaga morreu antes de conseguir unir o país.

Em 1582, ele foi traído por um dos seus generais e vendo que seria derrotado, tomou a atitude drástica de tirar sua própria vida.

Quem conhece um pouco de história do Japão sabe que esse ritual era muito comum entre os samurais.

Eles faziam isso quando agiam de forma desonrada ou como no caso do Nobunaga, para não ser feito prisioneiro depois de uma derrota.

Aqui no ocidente, esse ritual é conhecido como Harakiri, que é o nome mais comum.

Mas o nome formal desse ritual japonês é Seppuku.

O samurai cortava a própria barriga com sua espada para demonstrar a pureza de sua alma que eles acreditavam que ficava na região do estômago.

Depois desse corte, uma pessoa de confiança cortava sua cabeça para selar de vez a sua morte.

No caso do Nobunaga, dizem que o samurai que cortou sua cabeça era chamado de Yasuki.

Esse cara era um dos principais aliados do Nobunaga e inclusive fazia parte de um pequeno grupo de pessoas que tinha a honra de poder juntar com o líder japonês.

O que vai deixar muita gente chocada é que o Yasuki era africano e sua história é uma das curiosidades mais legais do tempo dos samurais.

Não se sabe ao certo em qual país da África o Yasuki nasceu.

Ele chegou ao Japão junto com um jesuíta italiano e imediatamente se tornou uma sensação no arquipélago.

Nesta época, a altura média dos japoneses era inferior a 1,60m e eles nunca tinham visto uma pessoa africana ainda por cima com quase 1,90m de altura.

O seu tamanho e a cor de sua pele chamaram a atenção de Nobunaga que percebeu que Yasuki seria uma excelente adição para seu grupo.

Com o tempo, Nobunaga até mesmo concedeu privilégios de samurai para Yasuki, como o direito de andar armado.

Para ser reconhecido como samurai, era preciso pertencer a uma linhagem de samurais.

Mas algumas vezes, pessoas que não tinham essa origem conseguiam ter os mesmos direitos dos guerreiros japoneses.

O Yasuki foi um dos primeiros estrangeiros a receber esta honra.

Depois da morte de Nobunaga, não se sabe ao certo qual foi o destino do Yasuki.

Dizem que ele foi morar numa mansão jesuíta e tem até um anime que explora essa ideia, disponível inclusive na Netflix.

Uma nota triste é que Hollywood queria fazer um filme sobre esse cara que seria estrelado pelo Chadwick Boseman, nosso eterno Pantera Negra que infelizmente nos deixou em 2020.

Mas voltando para o nosso vídeo, com a morte de Nobunaga, começou a briga para ver quem seria o herdeiro do clã Oda.

E aí um dos generais do Nobunaga chamado Hideyoshi, mexeu uns pauzinhos para que o neto do Nobunaga, que ainda era uma criança, fosse reconhecido como herdeiro.

Aí ele colocou o garoto debaixo de sua asa e na prática se tornou o chefe do clã.

O Hideyoshi continuou o trabalho do Nobunaga, conquistando cada vez mais províncias e hoje ele é conhecido como o segundo grande unificador do Japão.

Mas depois de unir o país, o Hideyoshi decidiu aproveitar o embalo e conquistar nada mais nada menos que a China, que na época era controlada pela famosa dinastia Ming.

Ele pediu que a Coreia desse passagem para que seus exércitos começassem a invasão, mas como os coreanos não queriam isso,

o Japão simplesmente invadiu a Coreia em 1592.

Em três meses eles conquistaram Seul, que hoje é a capital da Coreia do Sul, e chegaram até Pyongyang, que agora é a capital da Coreia do Norte.

A situação só mudou quando a China mandou seu exército para ajudar os coreanos, o que deixou a guerra meio empatada.

E aí rolaram as negociações de paz.

Os japoneses começaram a fazer um monte de exigências para os chineses e depois de quatro anos de papo não tinha rolado acordo nenhum.

O Hideyoshi cansou de conversar e invadiu a Coreia de novo, mas dessa vez os coreanos e chineses estavam bem mais preparados e a invasão não deu em nada.

E quando o Hideyoshi morreu em 1598, o Japão ficou em alerta.

Mas será que todas aquelas guerras pelo poder iam começar de novo?

Bom, teoricamente sim, mas o que aconteceu?

Será que todas aquelas guerras pelo poder iam começar de novo?

Bom, teoricamente não.

O Hideyoshi tinha sido esperto e montado um conselho com seus cinco principais aliados para comandar o Japão,

até que seu herdeiro, que era apenas uma criança, tivesse idade para governar o império.

Mas você já pegou a manha de como as coisas funcionavam, né?

Um ano depois, as entregas políticas dentro do conselho já corriam soltas, especialmente por causa do comportamento de um de seus membros,

Ieyasu Tokugawa.

A História do Tokugawa

Tokugawa era um cara que tinha ao seu lado um serviço bom de ninjas, com destaque para um sujeito chamado Hattori Hanzo,

um dos ninjas mais famosos da história, que era totalmente leal ao seu mestre.

O Tokugawa começou a se aliar com clãs que não eram particularmente fãs da família Hideyoshi.

O Japão rachou novamente.

De um lado, o Tokugawa, que tinha se aliado com a maior parte das províncias do leste.

Do outro, os outros membros do conselho, liderados por um cara chamado Mitsunari Ishida, que tinha influência nas províncias do oeste.

Foram meses de tensão e conspirações, até que ficou claro que a coisa só seria resolvida no campo de batalha.

E em 21 de outubro de 1600, rolou a Batalha de Sikigahara, um dos maiores e mais importantes conflitos da história do Japão feudal.

O exército do oeste foi derrotado e vários dos seus comandantes foram executados.

Seu principal líder, Ishida, foi decapitado e sua cabeça exibida em Kyoto como uma espécie de aviso.

E é bom prestar atenção nesse aviso, tá? Porque a mensagem era clara.

A partir de agora, quem manda no Japão é Tokugawa, o terceiro grande unificador do Japão.

Vamos olhar um pouco o campo onde rolou a Batalha de Sikigahara.

Logo depois do conflito, esse lugar que hoje fica na prefeitura de Gifu, estava coberto de corpos de guerreiros e um monte de feridos se arrastando pra lá e pra cá.

Um desses feridos se chamava Takezo Shimen, que tinha lutado pelo exército do oeste.

Depois da derrota, ele se recuperou dos ferimentos e passou a vagar pelo Japão, se tornando um dos guerreiros mais respeitados da história, usando o nome de Miyamoto Musashi.

E assim começa o livro Musashi, escrito pelo ator Eiji Yoshikawa, que se tornou um fenômeno de vendas mundial e que eu recomendo muito. É sensacional, eu já li e recomendo.

Por mais que a história do Musashi nesse livro seja romanceada, ele é sim uma figura real e muito famosa do Japão dessa época.

O Musashi era um Onin, ou seja, um samurai sem mestre.

E mais do que mandar bem demais com a espada, ele também era filósofo e escreveu um tratado chamado O Livro dos Cinco Anéis, uma das obras fundamentais sobre a estratégia militar japonesa.

Mas sua fama vem mesmo dos combates contra outros samurais.

O primeiro duelo do Musashi aconteceu quando ele tinha apenas 13 anos.

Daí em diante, foi empilhando uma vitória atrás da outra, até se tornar recordista absoluto, vencendo mais de 60 duelos.

Muito disso se deve à forma como ele usava suas espadas.

Os samurais usavam duas espadas diferentes.

A principal era a katana, mas eles também usavam a wakizashi, uma espada menor, que funcionava como arma auxiliar.

Porém, o Musashi mudou isso, criando uma técnica em que as duas espadas eram usadas ao mesmo tempo como armas principais.

Não!

Então se você curte histórias de samurais, fica a dica do livro Musashi, que mostra muito sobre a época do Japão e os samurais.

Essa é uma das obras mais famosas do Japão, então vale muito a pena.

Quem prefere mangá, pode ler a série Vagabond, que é baseada no livro.

Diferente do que rolou com Nobunaga e Hideyoshi, o Tokugawa assumiu o cargo de shogun.

Dois anos depois ele abdicou e seu filho assumiu o cargo, mas quem continuou mandando mesmo foi ele.

Isso foi uma tacada de mestre do Tokugawa para garantir que sua linhagem continuaria no poder.

Assim, quando ele morresse, seu filho seria um shogun já bem estabelecido e ninguém iria tentar roubar o cargo.

Agora, vamos ser sinceros.

Dificilmente teria qualquer tipo de briga pelo cargo, porque o Tokugawa controlava o país com mão de ferro.

Tokugawa morreu em 1616 e nenhum lord ou general cresceu o olho para a cadeira do shogun e o país continuou tocando a vida.

O mesmo aconteceu nos anos seguintes. O Japão se tornou politicamente estável.

Nessa época, os samurais eram de longe a classe mais importante da sociedade.

Mas como o país vivia uma era tranquila, eles se tornaram quase que burocratas, fazendo tarefas administrativas do governo.

Você ia lá no Pupa Tempo, tinha um samurai te atendendo. Era meio assim que funcionava.

Agora, claro que os samurais não curtiam essa ideia de passar o dia inteiro ali, como se fosse um escritório.

Por isso, sempre que eles podiam entrar em ação, mergulhavam de cabeça nisso.

Esse é o caso dos 47 Honins, uma história muito famosa dessa época.

Um senhor feudal cometeu uma pequena ofensa e foi obrigado a cometer seppuku.

47 samurais, que eram leais, juraram se vingar do oficial do governo, que tinha sido responsável por essa decisão.

E passaram dois anos esperando por uma oportunidade para finalmente atacar e fatiar o cara.

Eles ainda colocaram a cabeça do sujeito no túmulo do seu antigo mestre, para não deixar nenhuma dúvida sobre o motivo do ataque.

Todos os 47 foram condenados à morte e cometeram seppuku coletivo.

Ou seja, esses samurais mataram e morreram pelo seu mestre e são vistos até hoje como exemplos da honra e da lealdade dos guerreiros japoneses.

Mas voltando para o Japão, o objetivo do Shogun era controlar cada aspecto do Japão.

Isso podia funcionar com os senhores feudais e camponeses, mas não dava tão certo assim com estrangeiros,

por causa do idioma e pelo fato dos europeus não entenderem direito os costumes japoneses.

E tinha um grupo de europeus que era ainda especialmente preocupante.

Os católicos.

O Shogun sabia que as nações católicas adoravam formar impérios com a ajuda da igreja.

E ele não curtia nada a ideia de que a religião católica era liderada por um papa que se metia em política toda hora.

Para o Shogun, isso era uma ameaça.

Por isso, em 1614, todos os missionários católicos foram expulsos do Japão.

Uma das consequências diretas disso é que em 1640, para receber o seu primeiro império,

praticamente não existiam mais europeus no Japão.

O Shogun queria manter a sociedade japonesa como era.

E isso fez algumas pessoas acreditarem que a cristianidade era subversiva

e que estava afetando o modelo social do Japão.

A exceção eram os holandeses que podiam fazer comércio em uma pequena ilha.

Essa relação com os holandeses é bem importante nesse final do Japão feudal.

No começo, eles realmente ficavam apenas nessa ilha.

Mas logo foram conquistando uma boa relação com o Shogunato e passaram a fazer visitas ao castelo do Shogun em Edo.

Nessas visitas, eles levavam presentes e apresentavam inovações científicas e tecnologias que estavam rolando no ocidente.

Justamente por isso, alguns samurais começaram a se tornar cientistas e os daimiôs eram tratados por médicos holandeses.

Esse movimento é chamado de Rangaku.

Ran vinha de Roranda, que era como os japoneses chamavam a Holanda, e Gaku, que significa aprendizado.

Na verdade, o Shogunato não era contra a presença de europeus.

Mas tinham muito cuidado com quaisquer estrangeiros que queriam comercializar com eles,

como chineses e coreanos, que também tinham pouco acesso.

Os japoneses não podiam deixar o país e aqueles que se arriscavam a fazer isso eram proibidos de voltar para casa.

Aos poucos, o Japão se tornou uma nação isolada, sem praticamente nenhum contato com outras civilizações.

O centro de todo esse território fechado em si mesmo, claro, era a enorme cidade de Edo.

Osaka e Kyoto também eram cidades enormes.

E os habitantes dessas cidades passavam longe de arte rebuscada, viu?

Eles curtiam mesmo coisas mais divertidas, como livros de romances e comédia e espetáculos de Kabuki,

que é uma forma de teatro popular japonês.

E nesse cenário não podemos deixar de falar das geishas.

Ao contrário do que muita gente imagina, elas não eram cortesãs nem prostitutas,

e sim artistas com habilidades de dança e canto.

Aliás, alguns desses artistas inclusive eram homens.

Mas sim, existem geishas que começaram a oferecer serviços sexuais

quando se apresentavam em quartos reservados, né?

Quando tinham interesse no cliente.

Havia uma diferença distinta entre os geishas e os cortesãs.

Os geishas eram entretenidores profissionais.

Eles tinham a música, cantavam, tocavam instrumentos e dançavam.

Enquanto os cortesãs entreteniam os clientes com conversas e gratificações sexuais.

Agora, aquela história de que o Japão se tornou um país totalmente fechado.

As outras nações não queriam saber disso, especialmente as ocidentais.

Como esses países começaram a expandir sua influência pela Ásia e Pacífico

a partir do fim do século XVII, faziam de tudo para ter algum contato com o Japão.

Mas o Shogunato não queria nem saber disso.

Tudo começou a mudar em 1853, quando um oficial da Marinha Americana

aportou em Edo acompanhado de diversos navios de guerra

e deixando claro que ou o Japão era um dos principais navios de guerra,

ou o Japão abria os seus portões para outros países, ou o bicho ia pegar.

O assunto foi muito debatido, mas o Shogunato acabou aceitando.

Aí meus amigos, começaram a aparecer navios ingleses, russos, franceses, pronto.

Todo mundo queria falar com os japoneses.

O problema é que a população japonesa via os estrangeiros como uma ameaça

muito por causa da influência do governo e sua política de fechar o país.

Aí, quando um monte de gringos começou a aparecer, o povo começou a pensar

que o Shogunato, que já andava meio desgastado, não tinha capacidade

de ser o grande protetor militar do país.

Aí pronto, começaram as conspirações.

Os nobres que eram contra o Shogunato aproveitaram que o trono também tinha

um novo imperador e convenceram o cara de que esse papo de Shogun não tinha mais futuro.

Com toda essa pressão política, o Shogun entregou o cargo.

Assim, o poder voltou para o imperador e depois de cerca de 700 anos,

o domínio dos Shoguns sobre o Japão chegou ao fim.

De uma vez por todas.

Uma coisa importante de dizer aqui é que o Japão não entrou na Era Moderna

por vontade própria.

Na verdade, o país foi literalmente puxado para a Era Moderna por outras nações.

E aí a gente entra num período muito importante na nossa história

que foi praticamente uma ponte entre a Era dos Samurais

e o começo daquele Japão que a gente conhece hoje.

E bem no meio disso, a gente mergulha de cabeça naquilo que eu falei lá no comecinho do vídeo,

que é a busca da identidade do povo japonês.

Em praticamente todos os momentos que a gente viu, os japoneses viviam isolados

e sem muito contato com outras culturas.

Construindo sua identidade e sua forma de pensar.

Mas a partir de agora, isso seria colocado à prova.

Porque o Japão teria que descobrir qual era o seu papel no mundo.

Encontrando maneiras de criar uma nação forte e respeitada pelas outras.

E olha, isso não foi nada fácil.

Como vocês viram, depois do fim do Shogunato, o poder voltou para a mão do imperador

num período chamado de Restauração Meiji.

Então, o imperador ficou com a tarefa de literalmente reconstruir e modernizar

todo o sistema político do Japão.

E se você acha que isso já era uma tarefa difícil,

lembre-se que esse imperador chamado Mutsuhito tinha apenas 15 anos de idade.

Quem ajudou muito nessa tarefa foram justamente os líderes samurais

que ajudaram a derrubar o Shogunato.

E a primeira grande tarefa era mostrar ao povo que, mesmo com todas essas mudanças,

o governo era estável e o país não iria mergulhar numa guerra civil.

Agora, política estável não quer dizer que não rolariam mudanças.

E uma das primeiras envolvia a própria capital.

No tempo do Tokugawa, o poder estava dividido entre Kioto e Edo.

Agora, o país precisava de uma única capital.

E a escolhida foi Edo, que passou a se chamar Tóquio, que significa Capital do Leste.

Outra mudança aconteceu com a distribuição de tênis.

Eram as guerras que voltaram a pertencer ao governo

e o país foi reorganizado em prefeituras, o sistema de administração que existe até hoje.

Mas a transformação mais profunda mesmo foi o fim daquele sistema de classes engessado.

Isso teve duas consequências.

A primeira é que as pessoas podiam trabalhar na área que elas quisessem.

A segunda, ainda mais radical, é que isso literalmente decretou o fim dos samurais.

Os samurais que eu tanto gosto.

Desde o fim do Shogunato, os samurais não tinham muito mais o que fazer.

Essa é a verdade.

Aí em 1873, surgiu uma lei que dizia que todo homem podia ser convocado para o exército.

Então a própria existência dos samurais ficou sem propósito.

E eles foram obrigados a abandonar suas armas, recebendo uma indenização do governo como compensação.

Aliás, quem é fã de Samurai X?

Você que é fã de Samurai X vai lembrar que o personagem principal, Kenshin Himura,

vive no começo da Era Menji e é parado o tempo inteiro pela polícia porque estava andando com suas espadas.

Ah, uma curiosidade rápida.

Kenshin foi inspirado em um dos maiores assassinos da história do Japão, chamado Kawakami Gensai.

Mas de volta ao lance das espadas que eu estava falando.

Em 1876, o governo criou uma lei que proibia as pessoas de andarem com armas na rua.

As exceções eram os antigos senhores feudais, militares e oficiais da lei.

Ou seja, a partir daí, na prática, qualquer samurai que decidisse dar um rolê pela cidade com suas espadas

teria suas armas confiscadas.

Só que a gente está falando de guerreiros que tinham mandado no país durante séculos

e que nunca aceitariam isso de boa.

Assim, aos poucos, alguns começaram a se reunir na cidade de Kagoshima,

sob a liderança de um antigo samurai que tinha apoiado o imperador,

mas acabou brigando com o novo governo e ficou puto com essa história de restauração imperial.

Em 1877, o governo mandou navios recolherem as munições estocadas em Kagoshima.

Os samurais que estavam na região atacaram as embarcações e a partir daí os combates começaram a crescer.

Esses conflitos duraram meses até o Exército Nacional derrotar os últimos samurais

que eram contra toda essa modernização, rompendo um dos elos mais fortes do Japão com seu passado.

Mas o aspecto mais difícil dessa modernização toda foi cultural.

Muitas filosofias e teorias científicas ocidentais que chegavam ao Japão

iam contra tudo aquilo que o Japão tinha.

Um exemplo eram as ideias de liberdade individual.

Imagine um povo que passou séculos sem sequer poder mudar de profissão tentando assimilar todos esses conceitos.

Aí o governo percebeu que tinha um problema nas mãos.

Se por um lado os caras sabiam que seria impossível construir uma nação forte com um povo submisto e sem iniciativa,

por outro lado tinham medo de que um povo forte demais poderia se colocar contra o poder de uma sociedade.

Ou mesmo de que um povo forte demais poderia se colocar contra o governo.

A saída que o governo encontrou foi algo muito em moda na segunda metade do século 19.

O nacionalismo.

Como eu já expliquei em outros vídeos aqui no canal, nacionalismo é diferente de patriotismo.

O patriotismo diz que você tem que amar o seu país.

Já o nacionalismo, explicando de forma bem rápida, passa pelo sentimento de união de um povo ou de uma cultura

e normalmente desemboca na ideia de que aquele povo é superior a todos os outros.

Assim, o governo começou a criar uma filosofia de que servir ao imperador significava ser um bom japonês.

Algo que não podia jamais ser compartilhado com pessoas de outros povos que eram inferiores.

Isso realmente deu um propósito e um norte para o povo japonês, mas como vocês vão ver daqui a pouco,

teve consequências bem negativas.

Agora, de todas as ideias que chegaram ao Japão nessa época, a mais perigosa para o governo era a democracia.

Afinal, esse conceito poderia enfraquecer o poder do imperador,

mas ao mesmo tempo o governo sabia que as potências de um país eram muito diferentes.

A HISTÓRIA DO JAPÃO THE HISTORY OF JAPAN LA HISTORIA DE JAPÓN JAPANS HISTORIA

Como uma nação que passou boa parte de sua história com guerras violentas pelo poder,

se tornou uma das maiores potências do nosso tempo.

E como um povo que passou séculos tendo pouco contato com nações ocidentais,

conseguiu se tornar tão influente no mundo de hoje.

Olá, meus queridos amigos, tudo bem com vocês?

Eu sou Felipe Castanhari e hoje estou aqui para contar toda a história do Japão.

Sim, teremos samurais, imperadores, shoguns, ninjas...

Tudo isso faz parte da riquíssima história do Japão.

Mas uma pergunta fica acima de tudo isso.

Como o povo japonês construiu a sua identidade?

Aí não adianta apenas olhar para samurais ou para a Segunda Guerra.

É preciso observar a história inteira do Japão

para entender como as tribos isoladas que começaram a povoar essas ilhas

milhares de anos atrás, se transformaram no povo que conhecemos hoje.

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Mas vamos lá.

Nossa história começa num lugar que pode parecer estranho.

Embaixo da Terra.

Afinal, é impossível contar a história do povo japonês sem pensar na geografia do Japão.

Uma terra que milhões de anos atrás pertencia à Ásia continental.

Isso mesmo.

O Japão nem sempre foi uma ilha.

Essa região do planeta fica perto do ponto de contato de quatro placas tectônicas.

Que são enormes blocos de rocha que sustentam os continentes e oceanos.

Essas placas se movem modificando a superfície do planeta.

E foi isso que rolou na Ásia.

Um processo que durou milhões de anos fez a região do Japão ficar isolada pelo mar.

O resultado foi um arquipélago com mais de 6 mil ilhas.

Sendo que as maiores são Hokkaido, Honshu, Shikoku e Kyushu.

Além de contar com as que formam a região de Okinawa.

Essas ilhas ficam numa região conhecida como o Círculo de Fogo do Pacífico.

Com muitos terremotos e vulcões.

Um desses vulcões é o famoso Monte Fuji.

O ponto mais alto do Japão com mais de 3.700 metros de altitude.

Um vulcão vulcânico proporcionado em um local espetacular e natural.

O Fuji-san é adorado pela sua beleza simétrica e pela sua saúde.

A história do Japão é dividida em eras e períodos.

E começa quando os primeiros humanos pisaram nessas ilhas.

Na verdade não se sabe exatamente quando os primeiros humanos chegaram ao Japão.

Mas indícios arqueológicos como machados de pedras polidas.

Mostram que cerca de 30 mil anos atrás já existiam pessoas por ali.

Vivendo com os seus próprios próprios nomes.

E se você quiser saber mais sobre isso.

Nesse momento em que cerca de 30 mil anos atrás já existiam pessoas por ali.

Vivendo principalmente da coleta de frutas e claro da caça e pesca.

Esse povo começou a crescer e progredir por volta de 13 mil anos antes de Cristo.

Se as aldeias já formavam uma espécie de cultura.

Por volta de 5 mil antes de Cristo.

Muitas aldeias tinham se unido com outras formando agrupamentos bem maiores.

Algumas dessas aldeias ficavam nas montanhas.

Vivendo basicamente de caça.

E o outro era o litoral com a galera comendo mariscos que encontravam nas praias.

Agora pense em tudo que vocês sabem sobre povos antigos.

Depois de conseguir casa e comida.

Qual é a primeira coisa que esses caras pensavam?

Religião é claro!

Aliás foi nessa época que surgiram pequenas estatuetas de barro chamadas Dogu.

Já foram encontrados milhares de Dogus no Japão.

Mas ainda não sabemos ao certo se eles representavam divindades ou pessoas reais.

Aliás uma curiosidade muito legal para quem gosta do jogo Zelda Breath of the Wild.

O diretor de arte disse que esse período da história do Japão.

Serviu de inspiração para o Sheikah Slate, as Shrines e todos os objetos e estruturas do jogo.

Como os terríveis e implacáveis Guardiões.

Passei muito mal nos Guardiões.

Porém tudo começa a mudar quando surgem novas aldeias nas partes oeste das ilhas.

E quando você olha mais de perto via que essas aldeias eram bem parecidas com as que existiam na Coreia.

Sim, novas pessoas chegaram ao Japão trazendo tecnologias diferentes.

Como o manuseio de metais e uma novidade muito importante o cultivo do arroz.

Foi nessa época que começou efetivamente a agricultura japonesa.

E a população do arquipélago aumentou muito chegando a mais de um milhão de habitantes.

Só que como algumas pessoas possuíam terras e grãos em maior quantidade que outras.

Surgiram classes dominantes.

E o que aconteceu com essas classes?

E o que aconteceu com essas classes?

E o que aconteceu com essas classes?

E o que aconteceu com essas classes?

Então negativo, uma nova era surgiu no país.

Dos novos nuns mais maios na icação das aldeias.

Juntam-se com animais m可thuns.

E com a construção da aldeia os rinos começou a esperar

aking Schulen dieje

e novos séculos fizeramProgressos em sucessão.

O Yukata no Japão

e depois utilziou o Yukatukai

pela sua satisfação com a região de Kuru- thick park.

A disputa pelo poder.

Boa parte da história japonesa é quase um game of thrones

com guerras, alianças, traições

e todo mundo querendo mandar no arquipélago.

Isso começa já nesse período

com as guerras mais antigas que se tem notícia no Japão.

O grande vencedor destes primeiros conflitos entre reinos diferentes

teria sido Jinmu.

Ao conquistar a vitória nessas guerras

ele se tornou o primeiro imperador do Japão.

Assumindo o trono em 11 de fevereiro de 660 a.C.

Justamente por isso o dia 11 de fevereiro

é até hoje celebrado como o dia da fundação nacional do Japão.

Porém a história de Jinmu permanece cercada de lendas.

A própria mitologia japonesa aponta que ele seria descendente direto

de ninguém menos que Amaterasu.

A deusa do sol.

Na verdade os arqueólogos nunca encontraram provas

de que algum dos 28 primeiros imperadores

tinha sequer existido de verdade.

Isso só muda no 29º imperador chamado Kimei

que assumiu o trono no ano de 539.

E aqui não estamos falando só de religião

mas principalmente de política.

Se os imperadores são descendentes dos deuses

é sinal de que eles também são divindades.

É um negócio muito parecido com os faraós do Egito.

Se o líder de um reino é um deus

fica muito mais fácil manter o povo sob controle

fazendo tudo o que esse cara quer.

É nesse período que alguns especialistas dizem

ter surgido o Império Yamato.

O que se acredita é que nos séculos 4 e 5

os Yamato eram apenas o grupo mais importante

de uma enorme aliança de clãs.

Mas o tempo passou e no século 6

esse clã Yamato já mandava em tudo

estabelecendo a única dinastia imperial que reinou no Japão.

Lembra que a dinastia é uma série de reis e rainhas

de uma mesma família que se sucedem no governo?

Então todos os outros imperadores que vamos ver daqui pra frente

descendem do clã Yamato.

Essa é a monarquia com a linhagem mais antiga que existe no mundo.

Ah, uma coisa importante é que a palavra clã

vai começar a aparecer muito nesse vídeo.

Mas como surgiram esses clãs?

Bem, eles eram formados por famílias diferentes

que se uniam normalmente por casamentos.

Todo clã tinha uma família com mais poder

e o patriarca dessa família era o líder do clã inteiro.

Por exemplo, imagine que os membros de uma família importante de guerreiros

se casam com pessoas de famílias de ferreiros e de arqueiros

que têm menos poder.

Todas essas famílias vão formar um clã

e o patriarca da família mais poderosa desse grupo

é quem determina como o clã inteiro vai agir

a respeito de qualquer assunto.

Nessa época, rolou a disseminação do xintoísmo.

Na verdade, o xintoísmo só passou a ser visto como uma religião mesmo

no final do século XVIII,

porque ele surgiu com práticas cerimoniais

que mudavam de um lugar para o outro.

Mas o importante é saber que essas cerimônias

que se desenvolveram a partir de rituais feitos na Antiguidade japonesa

giravam ao redor da adoração dos Kami,

entidades sobrenaturais que residem em todos os lugares.

A Antiguidade japonesa

Nessa época, o Japão tinha contato basicamente com outros dois territórios,

as dinastias chinesas e os reinos coreanos.

Vamos falar primeiro da Coreia.

Nessa época, ela era dividida em três grandes reinos

e uma confederação de reinos menores chamada Gaia,

com todos disputando o poder.

Os japoneses tinham bons relacionamentos com um desses reinos,

chamados Paikichi,

e esse contato fez o Budismo aparecer no Japão no meio do século VI.

O Budismo é uma religião que nasceu na Índia

e se espalhou para o Sul da Ásia e o Extremo Oriente.

Claro que é muito difícil explicar o Budismo de uma forma rápida,

mas ele prega que o caminho para superar o sofrimento

é derrotando os desejos e vícios,

compreendendo o caminho de Buda com a pessoa buscando a paz interior

e aprimorando suas virtudes.

O Budismo também contribuiu bastante para a criação

de um dos elementos mais ricos da cultura japonesa,

o folclore.

Na verdade, histórias sobre deuses e demônios,

animais com poderes sobrenaturais e até mesmo dragões

já existiam no Japão desde os primeiros dias do Shintoísmo,

formando um dos folclores mais ricos do mundo.

Mas o Budismo trouxe novos elementos para isso.

Um bom exemplo está na figura do macaco,

que marca presença em várias lendas japonesas.

As primeiras histórias japonesas sobre macacos

foram inspiradas em poesias indianas e em antigos textos chineses.

Porém, com o passar do tempo,

elas foram se modificando para refletir os sonhos,

medos e aspirações do povo japonês.

É impossível entender o povo japonês sem olhar para seu folclore.

Ao longo dos séculos,

essas lendas e mitos fizeram mais do que encantar pessoas

ou assustar crianças.

Elas ajudaram a construir a identidade do povo japonês,

moldando sua forma de pensar o mundo.

Outra doutrina que começou a aparecer no Japão nessa época

foi o Confucionismo, que surgiu na China.

E a importância do Confucionismo é enorme,

porque ele prega que o caminho para a ordem é a harmonia social

com respeito à hierarquia e burocracia,

e que passa a ter muita influência nas leis criadas no Japão a partir daí.

No começo rolou uma certa resistência de alguns clãs para aceitar o budismo,

mas ele foi ganhando espaço especialmente por motivos políticos.

Primeiro porque a corte imperial se ligou que as práticas budistas

fariam o Japão ser visto pelos seus vizinhos como um império mais civilizado.

Segundo, o budismo aumentaria o próprio poder do governo.

Se todos os japoneses começassem a praticar o budismo,

existiria uma filosofia unindo o povo.

E se o governo fosse associado a essa filosofia,

sua influência ficaria maior.

Sim, a corte imperial era muito espertinha.

Aí precisamos falar do clã Soga,

que tinha muita influência com a família imperial.

Usando o budismo, eles do clã Soga aumentaram ainda mais o seu poder.

Tinha uma hora que quem mandava de verdade no Japão não era mais o imperador,

e sim o clã Soga e um príncipe chamado Shotoku, que era aliado dos caras.

Aliás, dizem que esse príncipe Shotoku tem a honra de ter batizado o Japão.

Na história antiga, o nome mais conhecido do Japão era seu nome chinês,

Wa, que significa gente pequena.

Isso mudou apenas quando o príncipe Shotoku mandou uma carta para o imperador chinês

se referindo ao Japão como a terra onde o sol se levanta.

E falando da China como a terra onde o sol se põe.

Como o sol nasce no leste e o Japão está a leste da China,

para os chineses o sol sempre nasce na direção de onde está o Japão.

Da mesma forma, para quem está no Japão, o sol se põe a oeste, ou seja, na direção da China.

Assim, o Japão ganhou o nome de Nippon, ou a terra do sol nascente.

Essa é uma das versões mais conhecidas da possível origem desse termo.

Já o nome ocidental Japão foi um pouco diferente.

Os povos da Indonésia e da Malásia chamavam o Japão de palavras como Jipang ou Jepun,

que eles tinham pegado e emprestado de alguns dialetos antigos chineses.

Aí esses nomes foram adotados pelos portugueses e mudaram com o tempo.

Mais para o meio do vídeo você vai entender onde os portugueses entram no Japão.

Mas voltando ao nosso amigo, o príncipe Shotoku,

ele foi fundamental para a disseminação do budismo no Japão,

mandando construir mais de 400 templos no arquipelo.

Mas quando ele morre no ano de 622,

começam a acontecer diversas conspirações para tentar acabar com a influência do clã Soga.

Numa dessas tramóias, o líder do clã Soga é assassinado.

Com isso, quem passa a dar as cartas é o clã Fujiwara,

que ajuda a criar diversas reformas nas leis japonesas.

Essas mudanças foram reunidas numa série de leis chamadas de Reforma Taika.

E realmente muita coisa mudou.

Começando pelas terras cultiváveis que passaram a pertencer ao governo,

que podia distribuí-las ao povo.

O mesmo acontecia com as armas que ficavam armazenadas em depósitos do governo.

E agora você deve estar achando estranho, né?

Porque até agora eu falei muito pouco sobre a capital japonesa, né?

O lance é que a capital mudava de lugar o tempo inteiro,

porque eles achavam que quando um imperador morria ali, aquele local ficava em buro.

Isso só acabou com a Imperatriz Geimei,

que no ano de 710 estabeleceu a cidade de Heijô como capital fixa.

Essa cidade ainda existe e é conhecida como Nara.

Por ser a capital, Nara se tornou um verdadeiro polo comercial e cultural.

Mas fora da cidade, a maior parte do povo japonês mal tinha o que comer.

Para piorar, entre os anos de 735 e 737,

uma epidemia de varíola se espalhou pelo país,

matando cerca de 30% da população japonesa.

Sim, é isso mesmo.

Um terço da população japonesa morreu em dois anos.

Mas Nara não continuou como capital do império durante muito tempo.

E no ano de 794, o governo se estabeleceu na cidade de Heian-kyô,

que a partir daí seria a capital japonesa por mais de mil anos.

Sim, Heian-kyô é o nome antigo da famosa cidade de Kyoto.

Este é um bom momento para falarmos da arquitetura japonesa,

que também é uma herança cultural da China.

Porém, essa origem chinesa não impediu que a arquitetura japonesa ganhasse personalidade própria.

Um dos motivos disso é que uma das grandes preocupações dos japoneses

era planejar cuidadosamente como cada construção

poderia se integrar com harmonia ao ambiente onde era construída.

Isso valia especialmente para os templos.

Além disso, a própria geografia ajudou a moldar a arquitetura japonesa.

A maior parte dos edifícios era de madeira e as paredes internas das casas eram de papel de arroz.

Isso não se deve apenas ao fato de que o Japão tinha árvores e arroz em abundância,

mas também pelo fato de que esses materiais leves

eram mais adequados a uma terra que sempre sofreu com terremotos.

Ao olhar para um prédio japonês, saiba que você não está enxergando apenas uma construção,

e sim um dos traços mais marcantes da história japonesa.

A capacidade de aprender com outras civilizações

e transformar este conhecimento em algo único e tipicamente japonês.

É muito importante entender a questão estética nessa época,

porque isso fazia a cabeça dos nobres, já que eles associavam a beleza e elegância

ao fato da pessoa ter ou não valor.

Então, homens e mulheres da corte se enfeitavam o tempo inteiro

e aprendiam regras de etiqueta para terem cada vez mais valor naquela sociedade.

O lance é que os caras pensavam nisso o dia inteiro,

então ficaram cada vez mais desconectados do resto do país.

Enquanto isso rolava, a galera que não era da corte, como eu e você,

passava o dia tentando arrumar um punhado de arroz para não morrer de fome.

E isso ficava cada vez mais difícil.

Lembra que as terras férteis japonesas eram do governo?

Isso mudou no século X, e as terras usadas para plantar arroz passaram a ser particulares.

E aí é aquela história de sempre que acontece no mundo inteiro.

Os clãs mais poderosos tinham cada vez mais terras,

e quem não tinha nada ficou com menos ainda.

Agora, muitas vezes um clã rico era dono de muitas terras,

mas não tinha controle nenhum sobre essas propriedades

que ficavam longe demais da sua base de poder.

A saída então era deixar essas terras nas mãos de nobres menores

que administravam o lugar e eram chamados de daimyo.

Esses nobres que administravam as províncias dos clãs foram se tornando mais e mais poderosos.

E aí, com o país todo fragmentado, começou a surgir uma coisa

que vocês estão esperando desde o começo do vídeo,

que são uns guerreiros com umas espadas diferentes.

A CIDADE DE GUERREIROS

Esses caras começaram a surgir da seguinte forma.

Uma das obrigações daqueles nobres menores que cuidavam das terras era defender a propriedade.

Então, eles recrutavam guerreiros ali mesmo na província que administravam.

Com isso, o Japão começou a ter exércitos regionais

que iam crescendo conforme alguns desses nobres faziam alianças com outros.

Enquanto isso, as disputas pelo poder na corte aumentavam a cada dia,

especialmente entre três famílias, os Fujiwara, os Taira e os Minamoto.

Aí, em 1153, essa briga deles virou guerra entre esses três clãs.

De um lado, os Fujiwara. Do outro lado, os Taira e os Minamoto.

E o resultado é que os Fujiwara, que mandavam no país desde o século VII, foram totalmente destruídos.

Agora, olha a bagunça. Os Taira e os Minamoto não eram exatamente amigos.

E três anos depois, um entrou em guerra contra o outro com a vitória dos Taira.

Mas os Taira só pensavam em poder, não estavam absolutamente nem aí para o Japão.

E galera, os Minamoto não tinham acabado não.

Eles estavam quietos no canto deles, recuperando as forças.

Os Minamoto atacaram os Taira de surpresa, assumindo o controle da corte.

Eles avançam em direção ao inimigo e testam as forças do grande exército dos Taira.

E o Japão nunca mais foi o mesmo.

A partir daí, os militares passaram a ocupar cargos de destaque no governo.

Sim, eu estou falando dos membros daqueles antigos exércitos regionais

que se tornaram uma elite militar japonesa com mais poder que a aristocracia.

Eles eram conhecidos como Bushi, que é a palavra para guerreiro.

Mas também são conhecidos por outro nome.

Samurais!

A partir do século XII, o arquipélago japonês ganhou uma das suas figuras mais famosas.

Os samurais!

Esses caras não eram simples guerreiros ou soldados, mas sim uma elite militar.

E a questão era hereditária, porque um samurai obrigatoriamente tinha que ser filho de um samurai.

Caso você tenha se perguntado um dia, a palavra samurai pode ser traduzida por aquele que serve.

E ela descreve muito bem esses guerreiros que agiam sempre pautados pela lealdade ao seu mestre,

normalmente um proprietário de terras.

Agora, claro que essa lealdade dos samurais não era definitiva.

Existem muitos casos de samurais que passavam a seguir outro daimiô,

especialmente quando começaram a identificar fraqueza no mestre anterior.

Um líder sem carisma ou coragem dificilmente conseguia manter os samurais ao seu lado por muito tempo.

Existiram também os famosos honins, que eram os samurais sem mestre.

Os honins vagavam pelo Japão, normalmente aceitando trabalhos e emprego.

E eram muito temidos, porque como eles não tinham mestre, não ficavam mais presos ao código de honra dos samurais.

Aliás, uma curiosidade, o nome honin significa homem-onda,

porque ele se refere a um samurai que não tem destino como as ondas do mar.

Esse não ter destino nem tanto é por ele vagar, mas também por ele ter uma vida de verdade.

Esse não ter destino nem tanto é por ele vagar pelo Japão, porque alguns ficavam no mesmo território,

mas sim por eles não terem um propósito fixo, que é a lealdade ao mestre.

Os samurais eram guerreiros responsáveis pela proteção de terras e muitas vezes do próprio Japão.

E mesmo com essa importante função, ainda se dedicavam à poesia, artes e filosofia.

É muito fácil reconhecer um samurai, porque eles estavam sempre com duas espadas penduradas no seu obi,

que é o cinturão que prende o kimono, na altura da cintura.

Mas eu ainda vou falar mais desses caras por aqui, mesmo porque chance para isso não vai faltar,

já que os samurais vão começar a andar pelo Japão inteiro a partir de agora.

Sempre que eu falar de militares ou soldados, eu estou falando de samurais,

que se tornaram uma das figuras mais marcantes do Japão feudal.

O FEUDALISMO

Como assim Japão feudal?

Feudalismo não foi um lance que rolou na Europa, lá na Idade Média?

Exatamente! Parabéns por prestar atenção nas aulas de História.

O feudalismo foi um modelo político e econômico em que um senhor feudal,

que tinha grandes porções de terra, cedia parte dessas terras para trabalhadores em troca de lealdade dos caras.

Esse modelo ou variações disso rolaram na Europa durante boa parte da Idade Média,

especialmente entre os séculos XI e XIII.

E no Japão dessa época, a coisa foi parecida, especialmente na questão de distribuição de terras.

Mas diferente da Europa, que era formada por vários reinos diferentes,

cada um com o seu senhor, no Japão esse esquema era tudo coordenado pelo governo central.

E nesse caso, estamos falando do famoso SHOGUN.

O SHOGUN

A prova de que o poder no Japão estava nas mãos dos samurais aconteceu em 1192,

quando o imperador nomeou o chefe do clã Minamoto, o Yoritomo Minamoto, como SHOGUN.

Ou seja, o chefe de tudo.

Esse título tinha sido criado com o nome de SEITAI SHOGUN,

que significa o grande general conquistador de bárbaros.

Já tinha sido usado por alguns militares.

Mas ele era apenas isso mesmo, um título militar.

A partir daqui, a palavra SHOGUN virou sinônimo de poder político,

porque quem ocupava esse cargo era literalmente a pessoa que mandaria no Japão.

E a relação entre o SHOGUN e o imperador é literalmente uma via de mão dupla.

Por um lado, é o SHOGUN que manda no Japão.

Por outro lado, uma pessoa só pode ter esse cargo se for nomeada pelo imperador.

Agora, o Minamoto queria a distância de todas aquelas intrigas da corte imperial,

então passou a governar da cidade de Kamakura.

E essa escolha não foi por acaso.

A cidade de Kamakura, que é a primeira cidade samurai da história,

era cercada por montanhas que funcionavam como muralhas naturais

e com uma saída para o mar, que o SHOGUN deixava protegida com navios de guerra.

Então ela era praticamente impenetrável.

Se você fosse SHOGUN, com certeza iria querer morar ali.

Mas a coisa começou a complicar, porque esse primeiro SHOGUN foi alvo de conspirações

e algumas delas o colocaram contra membros da sua própria família.

Aí, quando ele morreu, em 1199, não tinha sobrado ninguém na sua família com poder suficiente para herdar o cargo.

Sabe qual a saída que encontraram?

Criaram um regente, ou seja, um cara que ficava nos bastidores determinando o que o SHOGUN tinha que fazer.

O imperador não mandava nada porque quem mandava era o SHOGUN,

mas o SHOGUN não mandava em nada porque quem mandava era o regente.

Mas que confusão!

Só que aí aconteceu algo que ninguém esperava.

Todos os samurais tiveram que pegarem armas!

Não por causa de mais uma guerra civil, e sim porque o Japão foi invadido.

Vamos olhar um pouco para a Ásia.

Enquanto o Japão passava por todos aqueles conflitos que deram origem ao Shogunato,

um cara chamado Temujin começou a unir as tribos mongóis e criou um dos maiores impérios de todos os tempos.

Sim, esse cara é o famoso Gengis Khan.

Ele era o primeiro em se tornar um império de mongóis.

E ele foi o primeiro em se tornar um império de mongóis.

Depois que ele morreu, um de seus filhos e os netos do Gengis Khan estão controlando os serviços.

Com todos esses dois aqui no meio do rio, do ninho e de poucasìnhu tá em volta.

Mas tudo que se deve a isso,boy, é esperar que arise um dia de paz.

E agora, você já sabe a verdade.

Um barbarião brutal que matou milhões.

Depois que ele morreu, um de seus filhos e os netos do Gengis Khan passaram a comandar os domínios conquistados pelo império.

Um desses netos se chamava Kublai Khan, que conquistou a Coreia, a China e decidiu que a galera do Japão deveria começar a pagar um tributo para ele.

Como o governo japonês mandou avisar que não ia pagar nada, o Khan decidiu mostrar quem é que mandava ali.

Por isso, em 1274, barcos transportando milhares de soldados mongóis surgiram no litoral da ilha de Tsushima.

Essa é a história do jogo Ghost of Tsushima, do Playstation.

Se você tem Playstation, cara, joga esse jogo que ele é fantástico.

Nós somos 80 samurais contra um exército, lutando para a invasão.

Hoje, eu morro por minha população.

Tsushima foi conquistada em poucos dias.

Primeiro, porque o exército mongó era gigante.

Segundo, os japoneses foram surpreendidos com a forma com que os mongóis lutavam, usando escudos e bombas feitas com uma estranha substância negra chamada pólvora.

Outra coisa que atrapalhou demais os japoneses era, acredite se quiser, o barulho.

Lembra aquela copa do mundo da África que ninguém conseguia jogar direito por causa do barulho das vovozelas?

Era a mesma coisa.

Os mongóis usavam cornetas, tambores, gongos.

Era tanto barulho...

...que os samurais e seus cavalos ficavam desorientados.

Depois disso, os mongóis conquistaram a ilha de Iki e desembarcaram na ilha de Kyushu.

Nessa batalha, as coisas já estavam mais equilibradas, com 3 mil samurais defendendo a ilha.

No final, o conflito não teve vencedores e à noite, os mongóis recuaram para os barcos.

E aí, durante a noite, aconteceu algo que ninguém esperava.

Um tufão violento surgiu do nada e destruiu os barcos mongóis.

Milhares de invasores se afogaram, acabando com os planos do Khan.

O Khan não ficou nada feliz com isso, mas sabia que o Japão teve sorte, sendo salvo pela força da natureza.

Então, ele começou a preparar uma nova invasão, que rolou em 1281.

Galera, foi quase um repeteco da primeira vez.

Mas, numa escala maior e com mais conflitos, os mongóis tacaram o terror em Tsushima

e Iki e avançaram pelo arquipélago, chegando novamente até a baía de Hakata, na ilha de Kyushu.

Mas, dessa vez, os japoneses estavam mais preparados e tinham construído até um muro enorme de pedra

para defender o lugar. Então, os mongóis tiveram que recuar.

Mas nada disso mudava o fato de que a vitória dos invasores parecia ser questão de tempo,

porque seus exércitos eram enormes e muito bem equipados.

E aí, sabe o que rolou?

É, eu sei, vocês vão achar que eu estou de sacanagem.

Eu também pensaria isso.

Sim, outro tufão.

A natureza ajudou mais uma vez e destruiu os barcos mongóis de novo.

Olha aí a prova definitiva de que os airbenders existem.

Os generais invasores fugiram nos barcos que sobraram, deixando para trás milhares de soldados.

Sem comida ou equipamentos, esses caras foram massacrados pelos japoneses.

O placar final foi Tufões japoneses 2, mongóis 0.

Será que isso é verdade mesmo?

Esse lance de duas invasões serem derrotadas por causa de dois tufões na arma.

Olha, por mais que essa história seja legal demais, tudo indica que nada aconteceu exatamente dessa forma.

As histórias que falam desses tufões foram escritas por gente que sequer estava perto dos lugares onde os mongóis desembarcaram.

Já os relatos de gente que participou da batalha não fala de tufão nenhum.

No máximo de uma tempestade normal durante a primeira invasão.

Mas de onde teria vindo então essa história?

Uma teoria diz que sacerdotes de diversos santuários teriam falado que os tufões eram provas de que os deuses tinham salvado o Japão.

O que faria esses templos caírem nas graças do imperador e do Shogunato?

Mas se não teve tufão, então como os japoneses resistiram a essas invasões?

A história tem algumas explicações mais concretas para isso.

Primeiro, os japoneses lutavam em terrenos que eles conheciam.

E era péssimo para os exércitos mongóis que nem esperavam tanta resistência e tinha dificuldade para lutar em praias e vales estreitos entre montanhas.

E as próprias forças mongóis estavam longe de serem unidas.

Porque como eles incorporavam povos conquistados ao exército, muita gente só estava ali lutando porque era obrigada.

Mas o ponto mais importante mesmo são os samurais que adaptaram todo o seu estilo de combate para resistir à invasão.

Aliás, é aí que surge a figura clássica do samurai com a sua espada.

E essa história é muito legal.

Até esse momento, a maior parte dos samurais era especialista em arco e flechas.

Mas aí eles perceberam que poderiam resistir à invasão levando a guerra para dentro dos navios mongóis porque os invasores não conseguiam lutar em espaços apertados.

Então foi aí que os samurais começaram a usar uma espada como arma primária.

Graças a isso, muitos soldados mongóis morreram nos barcos sem nem colocar os pés no Japão.

E os arcos e flechas foram para os camponeses que ajudaram a combater os invasores formando uma linha de infantaria que também fazia uso de lanças para derrotar as cavalarias mongóis.

Mas sabe o que é mais legal?

Esses supostos tufões que teriam salvado o Japão existindo de verdade ou não passaram a ser chamados de Ventos Divinos.

Que em japonês é uma palavra bastante conhecida.

Kamikazes.

Essa palavra ainda vai aparecer por aqui.

Mesmo com a vitória, a invasão gerou uma enorme crise política no Japão.

Os samurais que enfrentaram e expulsaram os mongóis da ilha nunca receberam nenhum tipo de recompensa por isso.

Algo que eles achavam que seria justo.

Foi tipo, ah beleza, vocês fizeram de tudo para proteger o Japão, parabéns, vamos tocar a vida agora, né?

É claro que eles ficaram totalmente insatisfeitos com o Shogunato.

Em 1318, quem subiu ao trono foi o Imperador Godaigo, que decidiu que era hora do poder voltar para a família imperial declarando guerra ao Shogunato.

A galera do Shogun, claro, resolveu peitar o cara.

O problema é que um dos principais generais do Shogunato, chamado Takauchi Ashikaga,

era descendente de uma ramificação dos Minamoto, ou seja, ele tinha direito a ocupar o cargo de Shogun.

Juntando isso com o fato de que ele também estava de saco cheio com a forma com que o Shogunato estava tocando o Japão,

começou a pensar que, se eu me juntar a esse imperador, eu consigo criar um exército bem grande.

Não deu outra, ele mudou de lado e se aliou à família imperial.

Essa traição literalmente decretou a queda do Shogunato e deu a vitória ao Imperador em 1333.

Espera aí, Castelo, você não disse que a cidade de Kamakura era praticamente uma fortaleza natural?

Como esse cara fez seu exército derrubar o Shogunato?

Existe uma lenda que diz que isso aconteceu com um samurai que passou semanas tentando tomar a cidade sem sucesso.

Aí uma noite ele ofereceu sua espada aos deuses dragões do mar.

No dia seguinte, as marés tinham baixado e levado os navios de guerra para longe,

deixando uma entrada para os seus soldados que invadiram a cidade marchando sobre o solo marítimo seco.

Sim, sim, isso é uma lenda, mas tudo indica que Kamakura caiu desse jeito mesmo,

com os navios de guerra desaparecendo, porque quando a maré baixou, a área retrocedeu por quilômetros,

pois isso é uma característica dessa região.

Então não foram os dragões do mar, mas sim a própria geografia que fez Kamakura e o Shogunato caírem.

Em 1333, o Imperador Godaigo entrou em Kyoto com o general Ashikaga ao seu lado

e o poder voltou para a mão do Imperador num lance conhecido como Restauração Kenmu.

Sabe quanto tempo durou essa nova política japonesa?

Décadas? Séculos? Não, três anos.

Isso porque o Imperador Godaigo foi, digamos assim, meio tolinho.

Ele começou a falar que era ele quem iria mandar no Japão, que não ia ter Shogun nenhum,

que os militares não ia pitar mais nada.

Claro que os samurais não curtiram nada disso.

Resultado, dez minutos depois disso, o Imperador foi deposto e quem assumiu o trono foi um membro da família imperial,

que não era bobo e nomeou o Ashikaga como Shogun em 1338.

Mas esse Imperador Godaigo era teimoso, galera.

Ele fugiu para o sul do Japão e montou um governo paralelo, literalmente rachando o país.

Agora tinha uma corte do sul com o Imperador e uma corte do norte com o outro Imperador e um Shogun.

E quem começou a se dar mal com isso foi o pessoal do norte, onde as províncias eram controladas pelos aliados do Shogun.

Esses senhores feudais, chamados daimyo, tinham cada vez mais poder nas suas terras.

Então não curtiam muito essa ideia de obedecer um Shogun? Isso não tá legal não.

Então o Shogunato tinha que lidar com o governo rival no sul e o perigo constante de guerra civil entre seus aliados.

Isso só mudou quando um cara chamado Yoshimitsu Ashikaga se tornou Shogun.

Além de manter suas províncias sobre controle, ele finalmente unificou as duas facções do clã imperial,

fazendo a corte japonesa voltar a ser uma só.

Ou seja, o Shogun e o Yoshimitsu literalmente salvou o dia.

Mas depois que o Yoshimitsu morreu em 1408, o Shogunato começou a perder de novo o apoio dos daimyos.

E dessa vez a coisa foi ficando cada vez mais tensa, até explodir de vez em 1464,

quando a escolha de quem seria o próximo Shogun causou uma guerra dentro da própria família Ashikaga.

E aí claro que os daimyos do Japão inteiro perceberam que a cadeira de Shogun seria de quem tivesse mais prestígio.

Assim começaram a rolar diversas batalhas pelo Japão com esses senhores feudais e seus exércitos enormes

atacando uns aos outros para aumentar o seu poder.

Foi literalmente todo mundo contra todo mundo durante décadas.

E no meio desse caos começou a aparecer uma das figuras mais famosas do Japão.

Os ninjas mestres da espionagem.

Os historiadores apontam que os ninjas conhecidos como Shinobi eram recrutados nas classes mais baixas.

Ou seja, eram mercenários que agiam por dinheiro.

E esqueça aquela figura famosa do ninja com roupas pretas e cometendo exclusivamente assassinatos.

Os ninjas até cometiam esse tipo de crime, mas na verdade eles eram tropas especiais de samurais.

Especializados mesmo em espionagem e infiltração.

Então tinha samurai, ninja, camponês, guerreiro, monge guerreiro, todo mundo matando todo mundo.

E aí olha o que aconteceu.

Em 1543 um pequeno barco chinês se perdeu e chegou às praias do Japão

E no meio da tripulação tinham três mercadores com uma aparência que os japoneses nunca tinham visto.

Peraí, esses caras eram portugueses?

Isso mesmo meu gajo, portugueses.

Lembre-se que tudo isso rolou no século 16, durante as grandes navegações.

Os portugueses eram mestres em exploração marinha e dois anos depois disso já tinham estabelecido rotas comerciais entre o Japão e a Europa.

Logo depois disso, os portugueses se tornaram os principais mercadores.

E um ano depois outros europeus como espanhóis e holandeses começaram a chegar nas ilhas japonesas.

Uma das coisas que mais chamou a atenção dos ocidentais eram as roupas dos japoneses.

Completamente diferentes das vestimentas ocidentais.

E essas roupas não eram usadas ao acaso.

Elas seguiam um código complexo.

E suas cores e estampas serviam para mostrar o estado civil, a idade e até mesmo a importância de cada pessoa.

Mas aqui temos uma história engraçada.

Quando os primeiros ocidentais perguntaram qual era o nome daquelas roupas, os japoneses responderam kimono, que é a palavra pela qual elas ainda são conhecidas no mundo todo.

O problema é que kimono significa, literalmente, coisa de vestir.

Então, basicamente o que aconteceu é que os europeus perguntaram o nome da roupa e os japoneses responderam, ué chama roupa.

E o nome pegou.

A presença portuguesa mudou demais o Japão.

Isso foi desde as armas de fogo, que os samurais não conheciam, até a questão da religião com a chegada dos primeiros jesuítas.

Aliás, os jesuítas ganharam tanto poder no Japão que conseguiram influenciar até mesmo as decisões de daimyo poderosos.

Isso tudo rolou durante aquela guerra generalizada, com todo mundo se matando.

E quem soube usar muito bem a presença dos portugueses foi um daimyo chamado Nobunaga Oda.

Esse sujeito não tinha o menor pudor em armar seus exércitos com mosquetes ou de usar jesuítas para promover a discórdia entre os seus adversários budistas?

Conforme foi ganhando mais terras e aliados, o Nobunaga se tornou um dos daimyos mais poderosos do Japão.

E em 1568, marchou até a capital, obrigando o imperador a nomear Yoshiaki Ashikaga como Shogun.

Com isso, o Shogunato Ashikaga ganhou força de novo, não é verdade?

Não. Nobunaga Oda e o Shogun eram aliados?

Oficialmente sim, mas o Nobunaga não tinha o menor interesse de ficar fazendo o que o Shogun queria e continuou conquistando novas províncias.

Não demorou muito e o Shogun se ligou que o Nobunaga ainda ia criar problemas, então formou uma aliança entre os daimyos que eram inimigos do cara.

Só que esses planos do Shogun foram por água abaixo e isso acabou não dando em nada.

Mas claro que o Nobunaga não ia deixar isso barato, né?

Ele imediatamente invadiu o Kioto e expulsou o Shogun do cargo, encerrando de vez o Shogunato Ashikaga.

Bem, aí ele virou o Shogun, certo?

Não. O Nobunaga era um cara diferente e não queria nem saber desse cargo.

Além do fato de que ele não era da linhagem dos Shoguns.

Ele continuou atacando seus rivais até o ponto em que os poucos daimyos que ainda eram contra ele não pareciam ser mais uma ameaça.

Assim, depois de décadas de guerras e batalhas por todos os lados, o Japão parecia prestes a se unir novamente sob o controle do Nobunaga.

Não é à toa que ele é considerado o primeiro grande unificador do Japão.

Mas na verdade, o Nobunaga morreu antes de conseguir unir o país.

Em 1582, ele foi traído por um dos seus generais e vendo que seria derrotado, tomou a atitude drástica de tirar sua própria vida.

Quem conhece um pouco de história do Japão sabe que esse ritual era muito comum entre os samurais.

Eles faziam isso quando agiam de forma desonrada ou como no caso do Nobunaga, para não ser feito prisioneiro depois de uma derrota.

Aqui no ocidente, esse ritual é conhecido como Harakiri, que é o nome mais comum.

Mas o nome formal desse ritual japonês é Seppuku.

O samurai cortava a própria barriga com sua espada para demonstrar a pureza de sua alma que eles acreditavam que ficava na região do estômago.

Depois desse corte, uma pessoa de confiança cortava sua cabeça para selar de vez a sua morte.

No caso do Nobunaga, dizem que o samurai que cortou sua cabeça era chamado de Yasuki.

Esse cara era um dos principais aliados do Nobunaga e inclusive fazia parte de um pequeno grupo de pessoas que tinha a honra de poder juntar com o líder japonês.

O que vai deixar muita gente chocada é que o Yasuki era africano e sua história é uma das curiosidades mais legais do tempo dos samurais.

Não se sabe ao certo em qual país da África o Yasuki nasceu.

Ele chegou ao Japão junto com um jesuíta italiano e imediatamente se tornou uma sensação no arquipélago.

Nesta época, a altura média dos japoneses era inferior a 1,60m e eles nunca tinham visto uma pessoa africana ainda por cima com quase 1,90m de altura.

O seu tamanho e a cor de sua pele chamaram a atenção de Nobunaga que percebeu que Yasuki seria uma excelente adição para seu grupo.

Com o tempo, Nobunaga até mesmo concedeu privilégios de samurai para Yasuki, como o direito de andar armado.

Para ser reconhecido como samurai, era preciso pertencer a uma linhagem de samurais.

Mas algumas vezes, pessoas que não tinham essa origem conseguiam ter os mesmos direitos dos guerreiros japoneses.

O Yasuki foi um dos primeiros estrangeiros a receber esta honra.

Depois da morte de Nobunaga, não se sabe ao certo qual foi o destino do Yasuki.

Dizem que ele foi morar numa mansão jesuíta e tem até um anime que explora essa ideia, disponível inclusive na Netflix.

Uma nota triste é que Hollywood queria fazer um filme sobre esse cara que seria estrelado pelo Chadwick Boseman, nosso eterno Pantera Negra que infelizmente nos deixou em 2020.

Mas voltando para o nosso vídeo, com a morte de Nobunaga, começou a briga para ver quem seria o herdeiro do clã Oda.

E aí um dos generais do Nobunaga chamado Hideyoshi, mexeu uns pauzinhos para que o neto do Nobunaga, que ainda era uma criança, fosse reconhecido como herdeiro.

Aí ele colocou o garoto debaixo de sua asa e na prática se tornou o chefe do clã.

O Hideyoshi continuou o trabalho do Nobunaga, conquistando cada vez mais províncias e hoje ele é conhecido como o segundo grande unificador do Japão.

Mas depois de unir o país, o Hideyoshi decidiu aproveitar o embalo e conquistar nada mais nada menos que a China, que na época era controlada pela famosa dinastia Ming.

Ele pediu que a Coreia desse passagem para que seus exércitos começassem a invasão, mas como os coreanos não queriam isso,

o Japão simplesmente invadiu a Coreia em 1592.

Em três meses eles conquistaram Seul, que hoje é a capital da Coreia do Sul, e chegaram até Pyongyang, que agora é a capital da Coreia do Norte.

A situação só mudou quando a China mandou seu exército para ajudar os coreanos, o que deixou a guerra meio empatada.

E aí rolaram as negociações de paz.

Os japoneses começaram a fazer um monte de exigências para os chineses e depois de quatro anos de papo não tinha rolado acordo nenhum.

O Hideyoshi cansou de conversar e invadiu a Coreia de novo, mas dessa vez os coreanos e chineses estavam bem mais preparados e a invasão não deu em nada.

E quando o Hideyoshi morreu em 1598, o Japão ficou em alerta.

Mas será que todas aquelas guerras pelo poder iam começar de novo?

Bom, teoricamente sim, mas o que aconteceu?

Será que todas aquelas guerras pelo poder iam começar de novo?

Bom, teoricamente não.

O Hideyoshi tinha sido esperto e montado um conselho com seus cinco principais aliados para comandar o Japão,

até que seu herdeiro, que era apenas uma criança, tivesse idade para governar o império.

Mas você já pegou a manha de como as coisas funcionavam, né?

Um ano depois, as entregas políticas dentro do conselho já corriam soltas, especialmente por causa do comportamento de um de seus membros,

Ieyasu Tokugawa.

A História do Tokugawa

Tokugawa era um cara que tinha ao seu lado um serviço bom de ninjas, com destaque para um sujeito chamado Hattori Hanzo,

um dos ninjas mais famosos da história, que era totalmente leal ao seu mestre.

O Tokugawa começou a se aliar com clãs que não eram particularmente fãs da família Hideyoshi.

O Japão rachou novamente.

De um lado, o Tokugawa, que tinha se aliado com a maior parte das províncias do leste.

Do outro, os outros membros do conselho, liderados por um cara chamado Mitsunari Ishida, que tinha influência nas províncias do oeste.

Foram meses de tensão e conspirações, até que ficou claro que a coisa só seria resolvida no campo de batalha.

E em 21 de outubro de 1600, rolou a Batalha de Sikigahara, um dos maiores e mais importantes conflitos da história do Japão feudal.

O exército do oeste foi derrotado e vários dos seus comandantes foram executados.

Seu principal líder, Ishida, foi decapitado e sua cabeça exibida em Kyoto como uma espécie de aviso.

E é bom prestar atenção nesse aviso, tá? Porque a mensagem era clara.

A partir de agora, quem manda no Japão é Tokugawa, o terceiro grande unificador do Japão.

Vamos olhar um pouco o campo onde rolou a Batalha de Sikigahara.

Logo depois do conflito, esse lugar que hoje fica na prefeitura de Gifu, estava coberto de corpos de guerreiros e um monte de feridos se arrastando pra lá e pra cá.

Um desses feridos se chamava Takezo Shimen, que tinha lutado pelo exército do oeste.

Depois da derrota, ele se recuperou dos ferimentos e passou a vagar pelo Japão, se tornando um dos guerreiros mais respeitados da história, usando o nome de Miyamoto Musashi.

E assim começa o livro Musashi, escrito pelo ator Eiji Yoshikawa, que se tornou um fenômeno de vendas mundial e que eu recomendo muito. É sensacional, eu já li e recomendo.

Por mais que a história do Musashi nesse livro seja romanceada, ele é sim uma figura real e muito famosa do Japão dessa época.

O Musashi era um Onin, ou seja, um samurai sem mestre.

E mais do que mandar bem demais com a espada, ele também era filósofo e escreveu um tratado chamado O Livro dos Cinco Anéis, uma das obras fundamentais sobre a estratégia militar japonesa.

Mas sua fama vem mesmo dos combates contra outros samurais.

O primeiro duelo do Musashi aconteceu quando ele tinha apenas 13 anos.

Daí em diante, foi empilhando uma vitória atrás da outra, até se tornar recordista absoluto, vencendo mais de 60 duelos.

Muito disso se deve à forma como ele usava suas espadas.

Os samurais usavam duas espadas diferentes.

A principal era a katana, mas eles também usavam a wakizashi, uma espada menor, que funcionava como arma auxiliar.

Porém, o Musashi mudou isso, criando uma técnica em que as duas espadas eram usadas ao mesmo tempo como armas principais.

Não!

Então se você curte histórias de samurais, fica a dica do livro Musashi, que mostra muito sobre a época do Japão e os samurais.

Essa é uma das obras mais famosas do Japão, então vale muito a pena.

Quem prefere mangá, pode ler a série Vagabond, que é baseada no livro.

Diferente do que rolou com Nobunaga e Hideyoshi, o Tokugawa assumiu o cargo de shogun.

Dois anos depois ele abdicou e seu filho assumiu o cargo, mas quem continuou mandando mesmo foi ele.

Isso foi uma tacada de mestre do Tokugawa para garantir que sua linhagem continuaria no poder.

Assim, quando ele morresse, seu filho seria um shogun já bem estabelecido e ninguém iria tentar roubar o cargo.

Agora, vamos ser sinceros.

Dificilmente teria qualquer tipo de briga pelo cargo, porque o Tokugawa controlava o país com mão de ferro.

Tokugawa morreu em 1616 e nenhum lord ou general cresceu o olho para a cadeira do shogun e o país continuou tocando a vida.

O mesmo aconteceu nos anos seguintes. O Japão se tornou politicamente estável.

Nessa época, os samurais eram de longe a classe mais importante da sociedade.

Mas como o país vivia uma era tranquila, eles se tornaram quase que burocratas, fazendo tarefas administrativas do governo.

Você ia lá no Pupa Tempo, tinha um samurai te atendendo. Era meio assim que funcionava.

Agora, claro que os samurais não curtiam essa ideia de passar o dia inteiro ali, como se fosse um escritório.

Por isso, sempre que eles podiam entrar em ação, mergulhavam de cabeça nisso.

Esse é o caso dos 47 Honins, uma história muito famosa dessa época.

Um senhor feudal cometeu uma pequena ofensa e foi obrigado a cometer seppuku.

47 samurais, que eram leais, juraram se vingar do oficial do governo, que tinha sido responsável por essa decisão.

E passaram dois anos esperando por uma oportunidade para finalmente atacar e fatiar o cara.

Eles ainda colocaram a cabeça do sujeito no túmulo do seu antigo mestre, para não deixar nenhuma dúvida sobre o motivo do ataque.

Todos os 47 foram condenados à morte e cometeram seppuku coletivo.

Ou seja, esses samurais mataram e morreram pelo seu mestre e são vistos até hoje como exemplos da honra e da lealdade dos guerreiros japoneses.

Mas voltando para o Japão, o objetivo do Shogun era controlar cada aspecto do Japão.

Isso podia funcionar com os senhores feudais e camponeses, mas não dava tão certo assim com estrangeiros,

por causa do idioma e pelo fato dos europeus não entenderem direito os costumes japoneses.

E tinha um grupo de europeus que era ainda especialmente preocupante.

Os católicos.

O Shogun sabia que as nações católicas adoravam formar impérios com a ajuda da igreja.

E ele não curtia nada a ideia de que a religião católica era liderada por um papa que se metia em política toda hora.

Para o Shogun, isso era uma ameaça.

Por isso, em 1614, todos os missionários católicos foram expulsos do Japão.

Uma das consequências diretas disso é que em 1640, para receber o seu primeiro império,

praticamente não existiam mais europeus no Japão.

O Shogun queria manter a sociedade japonesa como era.

E isso fez algumas pessoas acreditarem que a cristianidade era subversiva

e que estava afetando o modelo social do Japão.

A exceção eram os holandeses que podiam fazer comércio em uma pequena ilha.

Essa relação com os holandeses é bem importante nesse final do Japão feudal.

No começo, eles realmente ficavam apenas nessa ilha.

Mas logo foram conquistando uma boa relação com o Shogunato e passaram a fazer visitas ao castelo do Shogun em Edo.

Nessas visitas, eles levavam presentes e apresentavam inovações científicas e tecnologias que estavam rolando no ocidente.

Justamente por isso, alguns samurais começaram a se tornar cientistas e os daimiôs eram tratados por médicos holandeses.

Esse movimento é chamado de Rangaku.

Ran vinha de Roranda, que era como os japoneses chamavam a Holanda, e Gaku, que significa aprendizado.

Na verdade, o Shogunato não era contra a presença de europeus.

Mas tinham muito cuidado com quaisquer estrangeiros que queriam comercializar com eles,

como chineses e coreanos, que também tinham pouco acesso.

Os japoneses não podiam deixar o país e aqueles que se arriscavam a fazer isso eram proibidos de voltar para casa.

Aos poucos, o Japão se tornou uma nação isolada, sem praticamente nenhum contato com outras civilizações.

O centro de todo esse território fechado em si mesmo, claro, era a enorme cidade de Edo.

Osaka e Kyoto também eram cidades enormes.

E os habitantes dessas cidades passavam longe de arte rebuscada, viu?

Eles curtiam mesmo coisas mais divertidas, como livros de romances e comédia e espetáculos de Kabuki,

que é uma forma de teatro popular japonês.

E nesse cenário não podemos deixar de falar das geishas.

Ao contrário do que muita gente imagina, elas não eram cortesãs nem prostitutas,

e sim artistas com habilidades de dança e canto.

Aliás, alguns desses artistas inclusive eram homens.

Mas sim, existem geishas que começaram a oferecer serviços sexuais

quando se apresentavam em quartos reservados, né?

Quando tinham interesse no cliente.

Havia uma diferença distinta entre os geishas e os cortesãs.

Os geishas eram entretenidores profissionais.

Eles tinham a música, cantavam, tocavam instrumentos e dançavam.

Enquanto os cortesãs entreteniam os clientes com conversas e gratificações sexuais.

Agora, aquela história de que o Japão se tornou um país totalmente fechado.

As outras nações não queriam saber disso, especialmente as ocidentais.

Como esses países começaram a expandir sua influência pela Ásia e Pacífico

a partir do fim do século XVII, faziam de tudo para ter algum contato com o Japão.

Mas o Shogunato não queria nem saber disso.

Tudo começou a mudar em 1853, quando um oficial da Marinha Americana

aportou em Edo acompanhado de diversos navios de guerra

e deixando claro que ou o Japão era um dos principais navios de guerra,

ou o Japão abria os seus portões para outros países, ou o bicho ia pegar.

O assunto foi muito debatido, mas o Shogunato acabou aceitando.

Aí meus amigos, começaram a aparecer navios ingleses, russos, franceses, pronto.

Todo mundo queria falar com os japoneses.

O problema é que a população japonesa via os estrangeiros como uma ameaça

muito por causa da influência do governo e sua política de fechar o país.

Aí, quando um monte de gringos começou a aparecer, o povo começou a pensar

que o Shogunato, que já andava meio desgastado, não tinha capacidade

de ser o grande protetor militar do país.

Aí pronto, começaram as conspirações.

Os nobres que eram contra o Shogunato aproveitaram que o trono também tinha

um novo imperador e convenceram o cara de que esse papo de Shogun não tinha mais futuro.

Com toda essa pressão política, o Shogun entregou o cargo.

Assim, o poder voltou para o imperador e depois de cerca de 700 anos,

o domínio dos Shoguns sobre o Japão chegou ao fim.

De uma vez por todas.

Uma coisa importante de dizer aqui é que o Japão não entrou na Era Moderna

por vontade própria.

Na verdade, o país foi literalmente puxado para a Era Moderna por outras nações.

E aí a gente entra num período muito importante na nossa história

que foi praticamente uma ponte entre a Era dos Samurais

e o começo daquele Japão que a gente conhece hoje.

E bem no meio disso, a gente mergulha de cabeça naquilo que eu falei lá no comecinho do vídeo,

que é a busca da identidade do povo japonês.

Em praticamente todos os momentos que a gente viu, os japoneses viviam isolados

e sem muito contato com outras culturas.

Construindo sua identidade e sua forma de pensar.

Mas a partir de agora, isso seria colocado à prova.

Porque o Japão teria que descobrir qual era o seu papel no mundo.

Encontrando maneiras de criar uma nação forte e respeitada pelas outras.

E olha, isso não foi nada fácil.

Como vocês viram, depois do fim do Shogunato, o poder voltou para a mão do imperador

num período chamado de Restauração Meiji.

Então, o imperador ficou com a tarefa de literalmente reconstruir e modernizar

todo o sistema político do Japão.

E se você acha que isso já era uma tarefa difícil,

lembre-se que esse imperador chamado Mutsuhito tinha apenas 15 anos de idade.

Quem ajudou muito nessa tarefa foram justamente os líderes samurais

que ajudaram a derrubar o Shogunato.

E a primeira grande tarefa era mostrar ao povo que, mesmo com todas essas mudanças,

o governo era estável e o país não iria mergulhar numa guerra civil.

Agora, política estável não quer dizer que não rolariam mudanças.

E uma das primeiras envolvia a própria capital.

No tempo do Tokugawa, o poder estava dividido entre Kioto e Edo.

Agora, o país precisava de uma única capital.

E a escolhida foi Edo, que passou a se chamar Tóquio, que significa Capital do Leste.

Outra mudança aconteceu com a distribuição de tênis.

Eram as guerras que voltaram a pertencer ao governo

e o país foi reorganizado em prefeituras, o sistema de administração que existe até hoje.

Mas a transformação mais profunda mesmo foi o fim daquele sistema de classes engessado.

Isso teve duas consequências.

A primeira é que as pessoas podiam trabalhar na área que elas quisessem.

A segunda, ainda mais radical, é que isso literalmente decretou o fim dos samurais.

Os samurais que eu tanto gosto.

Desde o fim do Shogunato, os samurais não tinham muito mais o que fazer.

Essa é a verdade.

Aí em 1873, surgiu uma lei que dizia que todo homem podia ser convocado para o exército.

Então a própria existência dos samurais ficou sem propósito.

E eles foram obrigados a abandonar suas armas, recebendo uma indenização do governo como compensação.

Aliás, quem é fã de Samurai X?

Você que é fã de Samurai X vai lembrar que o personagem principal, Kenshin Himura,

vive no começo da Era Menji e é parado o tempo inteiro pela polícia porque estava andando com suas espadas.

Ah, uma curiosidade rápida.

Kenshin foi inspirado em um dos maiores assassinos da história do Japão, chamado Kawakami Gensai.

Mas de volta ao lance das espadas que eu estava falando.

Em 1876, o governo criou uma lei que proibia as pessoas de andarem com armas na rua.

As exceções eram os antigos senhores feudais, militares e oficiais da lei.

Ou seja, a partir daí, na prática, qualquer samurai que decidisse dar um rolê pela cidade com suas espadas

teria suas armas confiscadas.

Só que a gente está falando de guerreiros que tinham mandado no país durante séculos

e que nunca aceitariam isso de boa.

Assim, aos poucos, alguns começaram a se reunir na cidade de Kagoshima,

sob a liderança de um antigo samurai que tinha apoiado o imperador,

mas acabou brigando com o novo governo e ficou puto com essa história de restauração imperial.

Em 1877, o governo mandou navios recolherem as munições estocadas em Kagoshima.

Os samurais que estavam na região atacaram as embarcações e a partir daí os combates começaram a crescer.

Esses conflitos duraram meses até o Exército Nacional derrotar os últimos samurais

que eram contra toda essa modernização, rompendo um dos elos mais fortes do Japão com seu passado.

Mas o aspecto mais difícil dessa modernização toda foi cultural.

Muitas filosofias e teorias científicas ocidentais que chegavam ao Japão

iam contra tudo aquilo que o Japão tinha.

Um exemplo eram as ideias de liberdade individual.

Imagine um povo que passou séculos sem sequer poder mudar de profissão tentando assimilar todos esses conceitos.

Aí o governo percebeu que tinha um problema nas mãos.

Se por um lado os caras sabiam que seria impossível construir uma nação forte com um povo submisto e sem iniciativa,

por outro lado tinham medo de que um povo forte demais poderia se colocar contra o poder de uma sociedade.

Ou mesmo de que um povo forte demais poderia se colocar contra o governo.

A saída que o governo encontrou foi algo muito em moda na segunda metade do século 19.

O nacionalismo.

Como eu já expliquei em outros vídeos aqui no canal, nacionalismo é diferente de patriotismo.

O patriotismo diz que você tem que amar o seu país.

Já o nacionalismo, explicando de forma bem rápida, passa pelo sentimento de união de um povo ou de uma cultura

e normalmente desemboca na ideia de que aquele povo é superior a todos os outros.

Assim, o governo começou a criar uma filosofia de que servir ao imperador significava ser um bom japonês.

Algo que não podia jamais ser compartilhado com pessoas de outros povos que eram inferiores.

Isso realmente deu um propósito e um norte para o povo japonês, mas como vocês vão ver daqui a pouco,

teve consequências bem negativas.

Agora, de todas as ideias que chegaram ao Japão nessa época, a mais perigosa para o governo era a democracia.

Afinal, esse conceito poderia enfraquecer o poder do imperador,

mas ao mesmo tempo o governo sabia que as potências de um país eram muito diferentes.