Bolsonaro x Haddad: como segundo turno - decidido na 'disputa da rejeição'
[Oct 12, 2018]
Você já escolheu o candidato de quem você mais gosta pra votar no segundo turno dessas eleições presidenciais?
Não, espera um pouco.
Já escolheu o candidato que você menos odeia?
Este pode não ser o seu caso.
Você pode estar completamente convicto da sua escolha mas um elemento bem importante desse pleito de acordo com os cientistas políticos é a disputa de rejeição.
Meu nome é Camilla Costa, jornalista da BBC Brasil aqui em São Paulo, e eu fiz uma reportagem falando sobre o que é que os segundos turnos anteriores da nossa história podem nos ensinar respeito do que vai acontecer agora.
Desde a redemocratização do Brasil o vencedor do primeiro turno geralmente vence também o segundo.
Foi isso que aconteceu em 1989, em 2002, em 2006, em 2010 e em 2014.
Ou seja o cenário parece indicar que Jair Bolsonaro vai vencer o segundo turno das eleições atualmente já que ele ganhou no primeiro turno.
Aqui a gente tem uma coisa curiosa.
O cientista político Antonio Lavareda me disse que é possível no primeiro turno que o candidato mais rejeitado seja também o mais votado.
Mas no segundo turno a rejeição tem um papel muito maior.
Desde 1989, todas as eleições do Brasil que chegaram ao segundo turno foram vencidos por candidatos que conseguiram reduzir sua rejeição para níveis inferiores aos seus adversários.
Foi assim com Collor contra Lula em 1989.
Lula contra Serra em 2002.
Lula contra Alckmin em 2006.
Dilma contra Serra em 2010, e Dilma contra Aécio em 2014.
Em todos os casos o vencedor começou mais rejeitado mas depois conseguiu virar o jogo.
Agora de volta pra você Camilla.
Em 2014, que é uma eleição mais recente, vocês se lembram do que aconteceu.
Dilma Rousseff venceu o primeiro turno mas ela também era a mais rejeitada.
31% dos eleitores diziam que não votariam nela de jeito nenhum, e 23% diziam que não votariam em Aécio Neves do PSDB.
E aconteceu ainda mais.
Aécio começou a aparecer empatado com Dilma ou um pouco acima dela nas intenções de voto para o segundo turno.
Quer dizer, parecia que aconteceu uma virada.
A rejeição a Dilma logo no começo do segundo turno inclusive chegou a subir.
Ela chegou a 43% de rejeição enquanto Aécio ficou ali na faixa dos 34%.
Mas aí começou a campanha dura de verdade.
Só duas semanas depois no dia 25 de Outubro, a rejeição de Aécio já tinha subido para 41% e a de Dilma tinha caído para 38%.
Resultado: ela venceu as eleições e se tornou presidente do Brasil uma segunda vez.
O que é que isso quer nos dizer?
Uma virada de Fernando Haddad, candidato do PT agora no segundo turno seria possível?
Seria. Mas ele tem um caminho bem difícil pela frente segundo os especialistas que a gente ouviu.
Se por um lado Bolsonaro precisa diminuir a rejeição que as pessoas têm a ele, Haddad precisa fazer isso e conquistar novos votos já que ele terminou o primeiro turno com a quantidade razoável de votos a menos.
Para os cientistas políticos, Bolsonaro tem um caminho que parece mais tranquilo no segundo turno.
Ele basicamente tem que ficar quieto, não entrar em polêmicas e tentar uma conciliação com mulheres e com eleitores do Nordeste que são grupos onde ele tem uma rejeição maior.
Mas até agora o que mais prejudicou Bolsonaro não foi exatamente a campanha de Haddad e sim coisas que ele e a sua própria equipe disseram durante a campanha.
O candidato, inclusive, já teve que dar uma baixa no seu candidato a vice-presidente o general Mourão, em rede nacional e ele também já negou algumas propostas que o seu economista Paulo Guedes fez em reuniões com representantes do mercado.
Ou seja, a equipe de Bolsonaro agora não pode cometer nenhum erro que beneficie o PT.
Haddad por outro lado parece depender de um erro desses.
Já para o petista, tanto a estratégia de ir mais para a esquerda, quanto a de ir para o centro do espectro político são arriscadas.
Mais à esquerda ele corre o risco de perder os votos de pessoas que ainda estão indecisas ou que votaram em outros candidatos no primeiro turno.
E mais ao centro.
Bom, nenhum candidato mais ao centro ganhou muitos votos nessa eleição.
Muitos especialistas dizem que a melhor estratégia para Haddad neste momento seria mostrar que ele não é um poste de Lula como muitos chamam, e se afastar mais do ex-presidente.
A cientista política Maria Hermínia Tavares inclusive me disse que na opinião dela, Lula é que devia ter o bom senso de dar uma sumida da campanha nesse momento.
Pode ser que tudo o que aconteceu nos segundos turnos das eleições anteriores não valha muito dessa vez.
E que a gente só vai descobrir o resultado mesmo no dia 28.
Você quer entender mais?
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