×

Wir verwenden Cookies, um LingQ zu verbessern. Mit dem Besuch der Seite erklärst du dich einverstanden mit unseren Cookie-Richtlinien.

image

Os Escravos, por Antonio Frederico de Castro Alves, 2º Poema: A canção do africano, de Os Escravos, de Castro Alves

2º Poema: A canção do africano, de Os Escravos, de Castro Alves

A canção do africano

Lá na úmida senzala,

Sentado na estreita sala,

Junto ao braseiro, no chão,

Entoa o escravo o seu canto,

E ao cantar correm-lhe em pranto

Saudades do seu torrão ...

De um lado, uma negra escrava

Os olhos no filho crava,

Que tem no colo a embalar...

E à meia voz lá responde

Ao canto, e o filhinho esconde,

Talvez pra não o escutar!

"Minha terra é lá bem longe,

Das bandas de onde o sol vem;

Esta terra é mais bonita,

Mas à outra eu quero bem!

"0 sol faz lá tudo em fogo,

Faz em brasa toda a areia;

Ninguém sabe como é belo

Ver de tarde a papa-ceia!

Aquelas terras tão grandes,

Tão compridas como o mar,

Com suas poucas palmeiras

Dão vontade de pensar ...

"Lá todos vivem felizes,

Todos dançam no terreiro;

A gente lá não se vende

Como aqui, só por dinheiro".

O escravo calou a fala,

Porque na úmida sala

O fogo estava a apagar;

E a escrava acabou seu canto,

Pra não acordar com o pranto

O seu filhinho a sonhar!

............................

O escravo então foi deitar-se,

Pois tinha de levantar-se

Bem antes do sol nascer,

E se tardasse, coitado,

Teria de ser surrado,

Pois bastava escravo ser.

E a cativa desgraçada

Deita seu filho, calada,

E põe-se triste a beijá-lo,

Talvez temendo que o dono

Não viesse, em meio do sono,

De seus braços arrancá-lo!

Learn languages from TV shows, movies, news, articles and more! Try LingQ for FREE

2º Poema: A canção do africano, de Os Escravos, de Castro Alves 2nd Poem: The song of the African, by Os Escravos, by Castro Alves 2º Poema: La canción del africano, de Los esclavos, de Castro Alves 2e poème : Le chant de l'Africain, extrait de Les esclaves de Castro Alves 2° Poesia: La canzone dell'africano, da Gli schiavi di Castro Alves 2. wiersz: Pieśń Afrykańczyka, z "Niewolników" Castro Alvesa

A canção do africano the song of the african

Lá na úmida senzala, ||damp|slave quarters There in the humid slave quarters,

Sentado na estreita sala, sitting||narrow| Sitting in the narrow room,

Junto ao braseiro, no chão, ||fireplace|| By the brazier, on the floor,

Entoa o escravo o seu canto, enters||slave||| The slave sings his song,

E ao cantar correm-lhe em pranto |||run|||cry And when singing, they run to tears

Saudades do seu torrão ... |||homeland Miss your turd...

De um lado, uma negra escrava |||||slave On one side, a black slave

Os olhos no filho crava, ||||fixate on The eyes on the son stare,

Que tem no colo a embalar... |||lap||rocking What's on your lap to pack...

E à meia voz lá responde |||||answers And in a low voice there he answers

Ao canto, e o filhinho esconde, ||||little son|hides In the corner, and the little boy hides,

Talvez pra não o escutar! Maybe not to hear it!

"Minha terra é lá bem longe, "My land is far away,

Das bandas de onde o sol vem; |bands||||| From the bands where the sun comes from;

Esta terra é mais bonita, This land is more beautiful,

Mas à outra eu quero bem! But the other one I love!

"0 sol faz lá tudo em fogo, |||||fire "The sun makes everything there in fire,

Faz em brasa toda a areia; ||ember|||sand It makes all the sand ablaze;

Ninguém sabe como é belo ||||beautiful Nobody knows how beautiful

Ver de tarde a papa-ceia! ||||dinner|supper See the supper in the afternoon!

Aquelas terras tão grandes, Those||| Those lands so big,

Tão compridas como o mar, |as long as||| As long as the sea,

Com suas poucas palmeiras |||palms With its few palm trees

Dão vontade de pensar ... gives||| Makes you want to think...

"Lá todos vivem felizes, "There everyone lives happily,

Todos dançam no terreiro; |dance||yard Everyone dances in the terreiro;

A gente lá não se vende |||||sells itself We don't sell there

Como aqui, só por dinheiro". Like here, just for money."

O escravo calou a fala, ||silenced|| The slave was silent,

Porque na úmida sala 'Cause in the damp room

O fogo estava a apagar; ||||put out The fire was going out;

E a escrava acabou seu canto, And the slave ended her song,

Pra não acordar com o pranto ||wake up|||crying So as not to wake up with tears

O seu filhinho a sonhar! ||||dream Your little boy dreaming!

............................ ...................................

O escravo então foi deitar-se, ||||lie down| The slave then went to bed,

Pois tinha de levantar-se |||to get up| Well, I had to get up.

Bem antes do sol nascer, Well before the sun comes up,

E se tardasse, coitado, ||took too long|poor thing And if it took too long, poor thing,

Teria de ser surrado, |||beaten would have to be beaten,

Pois bastava escravo ser. |just had to|| For it was enough to be a slave.

E a cativa desgraçada ||the wretched captive|damned And the unfortunate captive

Deita seu filho, calada, lay down|||quietly Lay down your son, silent,

E põe-se triste a beijá-lo, |becomes||||kissing him| And she starts to kiss him sadly,

Talvez temendo que o dono |fearing that the owner|||owner Perhaps fearing that the owner

Não viesse, em meio do sono, |you came|||| Did not come, in the midst of sleep,

De seus braços arrancá-lo! ||arms|pull him out| From your arms snatch it!