FINAL DE ANO | EMBRULHA PRA VIAGEM
É, pessoal.
O famigerado ano de 2020 tá chegando ao fim.
Que bom, né? Ou não, também.
Sabe-se lá o quê nos espera nesse 2021.
A Jéssica que ficou bem chateada,
porque a família dela é bem festeira.
Eles já começam a comemorar o Natal no final de novembro.
É jantar do sorteio do amigo secreto do Natal,
depois um jantar com os familiares
que não vão conseguir estar com a gente na noite de Natal.
Depois um jantar pra decidir
o quê vão preparar no jantar da noite de Natal.
Só sei que esse ano a gente passou o Natal
só eu e a Jéssica aqui em casa.
E vou te falar,
mesmo com todo o dinheiro que a gente economizou,
de presente pros catorze sobrinhos que ela tem,
me bateu um vazio, sabe?
Eu poder escolher tranquilamente
o que eu quero comer na noite de Natal,
ter a liberdade de colocar no prato só o que eu quiser comer,
sem ter que me preocupar em agradar a tia Irene,
que todo ano prepara uma torta e um manjar
e fica monitorando todo mundo que ainda não experimentou.
Eu senti falta também do Edson,
que todo ano vem com a esposa e os filhos, com os sogros, o cunhado,
os filhos do cunhado, e só traz duas Coca zero.
Pois é. Mal cicatrizamos a ceia de Natal,
já vai vir aí a virada de ano.
Há doze anos a família toda se reúne
no apartamento do meu sogro lá em Itanhaém.
A minha sogra acha o máximo
reunir os filhos, as noras, os genros,
os catorze netos, todo mundo junto
num apartamento de dois dormitórios.
Mas o apartamento é super bem localizado.
Ele fica à duas quadras da rodovia.
Pra ir à praia mesmo você tem que caminhar nove quadras.
E tem que ir a pé, porque essa época do ano
você não vai achar uma vaga pra estacionar seu carro
ali perto da praia.
E sempre confortavelmente carregando cadeira,
guarda-sol, baldinho, um cooler lotado de Itaipava
que meu sogro sempre compra.
Aí depois de passar o dia na praia,
aquelas nove quadras na volta parecem uns sessenta quilômetros.
As costas ardendo de sol,
e você carregando o dobro de cadeira,
que seu cunhado que tem um filho menor
voltou antes da praia de mão vazia
pra dar alguma comida pra criança.
E aquela areiazinha que tá dentro da sunga
vai descendo pra coxa,
e conforme você vai caminhando, ela vai assando toda sua virilha.
Com sorte, a sua Havaianas molhada arrebenta no meio do caminho.
A noite da virada também me traz uma lembrança muito gostosa.
As crianças já tão chorando ali com insolação,
depois de passarem dois dias brincando em baixo de sol.
Então a ceia fica com aquele cheiro de maionese de salpicão
misturada com Caladryl.
Mas o que eu vou mais sentir falta esse ano
é do dia dois de janeiro.
Você sair da praia às nove da manhã
e só chegar em casa perto da meia noite.
Rapaz, não tem jeito melhor de começar o ano.
Pois é, mas infelizmente esse ano
a gente não vai conseguir juntar todo mundo.
E vamos ser obrigados a passar o fim de ano nesse vazio.