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O Assunto (*Generated Transcript*), 26.06.23-Câncer - a terapia revolucionária que cura

26.06.23-Câncer - a terapia revolucionária que cura

Primeira imagem, mostra lá o corpo todo tomado, uma imagem, uma fotografia do organismo da

pessoa, toda tomada por manchas pretas que vão da perna até a altura do pescoço.

Basicamente isso.

E eu fiquei impressionado porque aquilo dali é uma quantidade muito grande.

Estava dizendo embaixo na legenda que aquilo dali eram os tumores.

E aí eu vi a segunda imagem, que é uma imagem com aquilo tudo limpo.

Nada mais de preta, como se tivesse passado uma borracha naquilo.

E eu ainda não caio a ficha.

Porque pra mim é tão impressionante a primeira imagem de uma pessoa que tenha sobrevivido,

qualquer um, tá?

Qualquer um.

Com aquela quantidade de tumores espalhados no corpo que eu não tinha a menor ideia que

meu câncer, meu infoma, tinha chegado àquele nível de evolução.

Tinha a menor ideia.

Então, quando eu soube que o carticel poderia ser feito através do SUS, isso através do

doutor Wanderson, eu fiquei mais animado ainda.

Então eu ressuscitei ali, como eu digo que ressuscitei também, quando eu tive o carticel

e teve aquela imagem depois.

Da redação do G1, eu sou Nathuzaneri e o assunto hoje é a revolução na luta contra

o câncer.

Como funciona a terapia celular que promete ser a nova fronteira nos tratamentos para

doença e quando ela deve chegar a mais brasileiros?

Eu converso com o médico Dimas Covas, professor da USP de Ribeirão Preto, diretor do Hemocentro

de Ribeirão Preto e coordenador do Centro de Terapia Celular da USP.

Antes, falo com Paulo Peregrino, paciente de 61 anos que conviveu com o câncer nos

últimos 13.

Ele teve remissão completa da doença após ser tratado por apenas um mês com essa terapia

revolucionária.

É do Paulo a voz que você ouviu no início deste episódio.

Segunda-feira, 26 de junho.

Paulo, os exames que mostram o seu corpo antes e depois do tratamento são duas imagens muito

impressionantes e você só viu esses exames depois de o câncer ter regredido.

Então eu te peço para descrever para quem nos ouve e para quem não viu esses exames

de antes e depois, o que eles mostram e principalmente o que você sentiu quando viu esses dois

exames lado a lado.

O primeiro patch, dos dois patches que você está falando, são duas imagens.

A primeira imagem é do dia 6 de março e a segunda imagem é do dia 24 de abril.

Do mesmo ano.

É, do mesmo ano de 23, desse ano que está aqui hoje.

Entre essa primeira data e a segunda data houve a infusão do cárticel, houve o tratamento.

A imagem que quando eu vi, isso foi entregue para a gente através de um irmão meu, que

está mais próximo do Dr.

Wanderson, que encaminhou para o grupo da família, que são muitos irmãos, cunhados,

etc.

Quando eu vi aquilo, eu confesso a você, Natuza, e até agora a ficha não caiu.

Posso imaginar.

É como se fossem imagens.

Primeira imagem, mostra lá o corpo todo tomado, uma imagem, uma fotografia do organismo da

pessoa, toda tomada por manchas pretas, que vão da perna até a altura do pescoço.

Basicamente isso.

E eu fiquei impressionado porque aquilo dali é uma quantidade muito grande.

Estava dizendo embaixo na legenda que aquilo dali eram os tumores.

E aí eu vi a segunda imagem, que é uma imagem com aquilo tudo limpo.

Nada mais de preta, como se tivesse passado uma borracha naquilo.

Pareciam duas pessoas diferentes, né?

Pareciam que eram imagens de pacientes diferentes.

É como disse o Carlos Dias, o G1, na primeira reportagem que ele fez, que era como se fossem

dois Paulos.

Mas olha, eu te confesso até agora, Natuza, eu estou dizendo para todo mundo isso, disse

hoje também, que ainda não caiu a ficha.

Porque para mim é tão impressionante a primeira imagem de uma pessoa que tenha sobrevivido,

qualquer um, tá?

Qualquer um.

Com aquela quantidade de tumores espalhados no corpo, que eu não tinha a menor ideia

que meu câncer, meu infoma, tinha chegado àquele nível de evolução.

Não tinha a menor ideia.

Dr.

Wanderson, por exemplo, eu até comentei com isso numa live com ele, ele riu até.

Eu falei, Dr.

Wanderson, foi muito prudente não ter mostrado para mim aquele PET scan da imagem do câncer

tomando o meu corpo todo no dia 6 de março.

Porque se eu tivesse visto aquilo, talvez eu tivesse perdido muito da minha fé e esperança

que eu sempre tive na minha vida.

O Paulo estava num estágio bem avançado.

Ele estava prestes a entrar em cuidados paliativos, que é quando o tratamento é mais focado

em dar qualidade de vida e controlar os sintomas de pacientes com doenças graves.

A segunda imagem, que aquele corpo todo limpo, como eu falei a você, parecia uma borracha

que ele tivesse passado, aquilo me impressionou bastante.

Realmente, eu não consigo associar, primeiro, que eu estou ali, quer dizer, que eu sou aquele

corpo que está ali sendo mostrado no PET scan, tanto na primeira imagem, o corpo todo

tomado do uniforme, como na segunda imagem todo limpo.

Eu queria, inclusive, te propor para a gente voltar um pouco no tempo para entender os

momentos difíceis pelos quais você passou, Paulo.

Quais foram esses momentos, se você puder nos descrever, para que quem está nos ouvindo

agora entenda essa trajetória dramática que foi até esse momento dessa grande notícia

que você recebeu?

Diria a você que cada momento que tinham que me furar para poder colocar um acesso,

que eu tinha que ter catéteres todo momento para poder fazer quimioterapia, que eu fiz

muitas quimioterapias e tudo, meus catéteres eram colocados em diversos locais, às vezes

era no braço, às vezes era no interior do braço, aqui perto da axila, às vezes era

no pescoço, às vezes era no ombro, enfim, cada momento desse era um momento muito complicado.

O Paulo luta há 13 anos contra a doença.

Começou com o câncer de próstata, que foi tratado e que terminou com a retirada do órgão.

Em 2018, começaram a aparecer linfomas pelo corpo todo.

Nenhum tratamento deu resultado.

Mas o pior momento, Natuza, o pior momento que eu tive, e eu acho que isso foi uma provação

que eu passei para poder chegar até aqui, foi em janeiro de 22.

Por quê?

Em outubro de 21, foi detectado pelo Petscan a volta do linfoma, quer dizer, não sabia

se era o mesmo linfoma, o mesmo tipo, mas era o linfoma número 3.

Eu já tinha tentado quimioterapia para poder combater o linfoma número 1 em 2018.

Em 2019, voltou o linfoma, que era igual ao linfoma número 1, e por conta disso o protocolo

indica que eu teria que fazer um transplante de medula óssea, que foi feito em junho de

2020, também não funcionou, porque em outubro de 21, como eu falei, teve o Petscan.

Nesse Petscan, detectou uma série de tumores espalhados pelo meu corpo.

Então temos que fazer uma biópsia de qualquer maneira para poder saber como é que a gente

vai controlar.

Mas só que eles estavam na situação meio típica, se ficar o bicho pega, se correr o

bicho come.

Por quê?

Porque eu estava com a plaqueta muito baixa.

Para você ter ideia, o número mínimo de plaquetas de uma pessoa adulta é 150 mil,

eu estava com 3 mil no final de 2021.

E os médicos estavam naquela coisa, pô, temos que fazer uma biópsia porque senão

a gente não vai saber como tentar controlar o linfoma do Paulo.

Agora se fizer uma biópsia, deve ser uma biópsia de altíssimo risco, porque temos

que primeiro encontrar um cirurgião que tenha coragem de fazer uma biópsia em um paciente

com 3 mil de plaqueta.

E graças a Deus eu tenho um cirurgião anterói que tinha operado meus dois primeiros linfomas,

quer dizer, feita a biópsia dos dois primeiros, e que ele aceitou.

E aí isso foi dia 5 de janeiro de 22.

Foi feita e pouco tempo depois detectou-se que era o mesmo tipo de linfoma, não Rodex,

tipo grande, classe B, que era igual ao linfoma número 2 e número 1.

E aí pouco tempo, uns dias depois, eu tive que ser internado de emergência por conta

da minha dor que estava insuportável na região lombar.

Essa dor já vinha desde 2021 me perseguindo e fazendo com que eu tivesse noites e dias

terríveis lá em casa, tomando tramal com dose máxima, que é o tramal é um opioide

que é o segundo mais forte depois da mofina.

E ao mesmo tempo eu tinha dores fortíssimas por conta de câimbras que vinham dos efeitos

colaterais da quimioterapia.

Essa dor na região lombar me fez entrar em emergência, como eu falei, logo depois da

biópsia que eu fiz, isso em janeiro de 22, lá em Niterói.

Quando eu entrei de emergência, eu passei a tomar mofina de rotina dentro do hospital.

Esse foi o período mais crítico.

Esse meio de janeiro aconteceu o seguinte, eu tomava mofina de rotina, eu fazia quimioterapia

com aqueles efeitos que são possíveis de ter, tinha alguns, etc.

E ainda tentava controlar uma púrpura, porque eu tinha detectado na internação de outubro

de 21 que eu estava com púrpura também, que é uma doença autoimune, que faz com

que as plaquetas sejam destruídas pelo próprio organismo.

E no meio disso tudo, eu tive covid.

Nessa covid, que no meu caso foi sintomático, ou seja, eu tossia, espirrava de vez em quando

e tudo, juntou com o fato de eu estar com a plaqueta baixa, ou seja, estar com possibilidade

de hemorragia a qualquer momento, aí teve um certo momento no meio da internação que

eu tive uma tosse e com a tosse gerou hemorragia nas minhas duas retinas.

E essa hemorragia fez com que eu tivesse cegueira parcial durante três meses a partir dali.

Nossa, Paulo.

Então a partir dessa internação que terminou no final de janeiro, na tosa, aí eu tive

alta e foi cuidado a minha visão.

Paulo é publicitário, tem um filho de 29 anos, mora no Rio de Janeiro, a família dele

é do Nordeste, do Recife.

Ele é o caçuna de 10 irmãos.

Durante a pandemia ele ficou internado, né, por causa dos cuidados aí para evitar a covid.

Escreveu um livro que dividiu com as pessoas que estavam no hospital com ele, em outros

quartos, no isolamento, eles fizeram um grupo de WhatsApp para um fortalecer o outro.

Eu já tinha sabido do cartel em outubro de 21, novembro de 21, com meu médico anterior,

o doutor Wanderson, tá?

Ele tinha falado para mim numa consulta em novembro de 21 que havia para mim uma possibilidade,

só que a Ilanvisa naquele momento estava aprovando a parte comercial desse tratamento,

ou seja, ele estava falando da parte comercial, mas já estava dizendo ali naquele momento

para mim que o custo devia ser altíssimo, né?

Então eu fiquei com aquilo na cabeça, a minha família também, que sempre a minha

família participa dessa coisa, minha mulher, meu filho, meus irmãos e tudo.

E aí quando foi em agosto, julho e agosto de 22, mais ou menos isso, aí a gente, a

família procurando uma forma de lidar com esse problema, já sabia do cartel, e aí

consegui encontrar na internet associando o cartel, o tratamento, com o doutor Wanderson Rocha.

Então, quando eu soube que o cartel poderia ser feito através do SUS, isso através

do doutor Wanderson, eu fiquei mais animado ainda.

Você tem uma força de vontade imensa, né?

Pelo que eu estou te ouvindo, você transmite isso.

O que mudou na sua visão de mundo depois de ter passado por esse desafio enorme e hoje

ter uma nova perspectiva de vida?

Porque foi isso que aconteceu, né?

Você ganhou uma nova perspectiva de vida.

É, eu digo a você que na verdade eu não ganhei só uma, né?

Eu ganhei várias vezes, várias perspectivas de vida, porque eu tive momentos, como eu

tive uma alta, que seria uma alta para mim no cartel em 28 de abril, só que eu estava

com uma bactéria hospitalar fortíssima, que me levou a septicemia, sem internado de

emergência, fiquei com pressão 5 por 3 aqui no HC de São Paulo.

Isso logo depois da alta do cartel em 28 de abril.

Então, eu ressuscitei ali, como eu digo que ressuscitei também, tá?

Quando eu tive o cartel e teve aquela imagem depois.

Então, quer dizer, a minha perspectiva, Natuza, só assim, para poder reforçar, é

claro que a gente vai ver a vida de outra forma e tudo.

É que acho que a gente não deve nunca esmorecer.

E como é que você avalia, Paulo, o fato de ter feito esse tratamento pelo SUS?

As pessoas que estão escrevendo pelo Instagram, e eu não consigo responder a todo mundo,

claro, é muita gente, sempre me caracterizando como se fosse uma luz, né?

No meu caso, uma luz no fim do túnel, né?

Porque, claro, que a grande maioria do povo brasileiro não tem condição de fazer isso

pelo modo particular, que custa 2 milhões de reais, segundo o Dr.

Wanderson, estimou ele, ou está sendo, enfim, comercializado.

Então, fazer pelo SUS, provar que pode ser feito pelo SUS, para mim, não só me dá

um, assim, me deixa muito envaidecido, porque eu posso estar ajudando as pessoas a acreditarem

em algo que foi perdido ultimamente, que foi a questão da crença na ciência.

Que incrível você dizer isso.

Mas, Natuza, é uma coisa impressionante, as pessoas, quando mandam mensagem para mim,

no final, terminam assim, viva a ciência, viva o SUS.

Imagina você ouvir isso em 2022.

Olha, eu estou com o meu braço aqui arrepiado, só com esse relato que você está fazendo

aqui desde o início da nossa conversa.

É muito impressionante.

Mas, enfim, então eu acho que essa questão da ciência, do SUS, e saber que foi feito

pelo SUS.

Natuza, olha, eu não imaginei nunca na minha vida que eu tivesse um tratamento tão exemplar

como eu tive no HC de São Paulo, pelo SUS, no caso, foi no Centro de Hematologia e Transplante

Medula Óssea, que fica lá no oitavo andado do Instituto Central do HC, com a equipe fantástica,

não só pelo caso do Dr.

Van, só como dos assistentes médicos dele, como das enfermeiras.

Um tratamento de primeiro mundo, desde o primeiro câncer de próstata, desde o linfoma

que eu tive.

Todos, todos, porque mesmo que não tenham sido tratamentos que não dessem certo, eles

ajudaram, claro, foram super importantes, essenciais até, para que eu chegasse no momento

de fazer o cárticelo.

Paulo, eu estou muito feliz de ter feito essa entrevista com você.

A equipe inteira está muito feliz com o seu relato.

Ele é um relato impactante, ele é um relato impressionante, mas, sobretudo, ele é um

relato de esperança.

Então, que bom que você topou conversar com a gente aqui hoje e com quem nos ouve.

Muito obrigada.

Eu que agradeço, Natuza.

Um abraço a todos e obrigado pela oportunidade, mais uma vez.

Espera um pouquinho que eu já volto para falar com o Dimas.

Doutor Dimas, eu gostaria muito que você nos explicasse como é o tratamento cárticel

e por que ele é tão revolucionário para combater alguns tipos de câncer como leucemia

e linfoma.

O câncer, normalmente, ele é tratado das formas que todo mundo conhece.

Ou é cirurgia, ou é radioterapia, ou é quimioterapia.

Essas são as formas tradicionais de tratamento do câncer.

A quimioterapia, ela tem um efeito sistêmico.

Ela destrói o câncer, mas também destrói células normais.

Então, por isso que esse tratamento traz, muitas vezes, efeitos colaterais para as pessoas,

que é a de cabelo, mal-estar geral.

Ou seja, é um tratamento que muitas vezes é eficiente, mas não é específico.

Nós estamos falando agora, com o tratamento das formas chamadas cárticel, de um tipo

de tratamento imunológico.

Ou seja, é um outro universo, é um outro tipo de abordagem ao tratamento do câncer.

Como é que funciona?

Bem, o nosso sistema imunológico, normalmente, ele reconhece células cancerosas, cancerígenas

cancerosas, e essas células, à medida que o câncer vai desenvolvendo, desenvolvem

a habilidade de se safar do sistema imunológico.

Essa terapia, especificamente com cárticel, ela se baseia nas células do sistema imunológico.

Então vejam, a pessoa tem câncer, tem uma leucemia linfóide aguda, do tipo B, onlinfoma

do tipo B, que foi tratado com quimioterapia, às vezes com radioterapia, até com transplante

de medula óssea, e que não responderam.

Ou seja, as células não estão sendo, as células tumorais não estão sendo efetivamente

combatidas.

Então nós pegamos esse paciente, retiramos as células de defesa chamadas células T,

a gente coleta essas células, leva essas células para o laboratório, e no laboratório

a gente faz uma modificação genética nessas células.

A gente altera o DNA dessas células.

Essas células são retiradas do corpo do paciente, e aí no laboratório elas têm

o DNA modificado.

Com isso, as células passam a produzir uma molécula chamada de receptor de antígeno

quimérico, CAR, na sigla em inglês.

Por isso que o nome do tratamento é CAR-T-Cell.

Nós colocamos no DNA dessas células no laboratório, agora, um receptor, um receptor específico

para o câncer, específico para as células do câncer.

E aí multiplicamos essas células aos milhões, amplificamos o número dessas células e voltamos

para o paciente.

No paciente, essas células que são dele, são do sistema imunológico dele, agora estão

com um receptor, como se elas tivessem, vamos explicar de forma bem simples, como se elas

tivessem um radar para localizar o câncer.

Então essas células vão se espalhar pela circulação, as milhões e milhões de células

que foram produzidas e vão especificamente se ligar ao tumor e levar à sua destruição.

Isso acontece muito rapidamente.

Em 15, 20 dias, os pacientes que estavam lutando com câncer, às vezes há alguns anos sem

resposta, em 15, 20 dias essas células conseguem destruir completamente o tumor.

Isso é muito impressionante.

Primeiro, essa modificação celular, eu queria até lhe perguntar se essa modificação

de célula é feita no Brasil e se a gente tem toda a tecnologia para isso, mas impressionada

com a velocidade com que essas células cancerígenas são detectadas.

Nós desenvolvemos esse processo aqui em Ribeirão Preto, na USP, no Emocente Ribeirão Preto,

nós desenvolvemos dentro de um projeto apoiado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia

que chama Instituto Nacional de Célula Tronco e Terapia Celular para o Câncer.

Nós desenvolvemos essa tecnologia de modificar o DNA das células imunológicas e de cultivar

essas células em laboratório.

Nós desenvolvemos essa tecnologia e o primeiro paciente foi tratado em 2019.

O Vamberto Luiz de Castro estava com 64 anos na época, ele tinha um linfoma em fase terminal

e nem conseguia andar por causa da doença.

Ele fez o tratamento e em 40 dias saiu caminhando do hospital e com o câncer em remissão.

O primeiro paciente apresentou um sucesso absoluto, em 20 dias ele se viu livre dos

tumores, da mesma forma que os demais pacientes.

Até o momento nós já tratamos 13 pacientes e a resposta sempre é maravilhosa.

Durante quase metade da vida, o Caio conviveu com o câncer.

Com 9 anos, ele recebeu o diagnóstico de leucemia, o câncer que interrompeu a infância

também tirou o chão da família.

Os dias de angústia só terminaram depois que a equipe médica do Hospital Erasto Gertner

trouxe para a família do Caio a informação de que ele poderia passar por um tratamento

que até então nunca tinha sido feito no Brasil.

Ele é o primeiro paciente pediátrico do Brasil a passar por uma terapia celular que

é inédita.

E isso é uma nova perspectiva de tratamento, uma nova fronteira de tratamento do câncer.

Claro, e quando você diz que 13 pacientes foram tratados dessa maneira, a primeira pergunta

que me vem à cabeça é quando a gente consegue escala, grande escala de produção para atender

os mais de 2 mil pacientes que podem ser beneficiados de imediato.

Esse é o próximo desafio.

Uma vez que nós desenvolvemos a tecnologia, agora como é tornar essa tecnologia acessível

aos pacientes brasileiros, principalmente aos pacientes do SUS.

Então em 2021 nós fizemos um grande arranjo institucional com a USP, com o Instituto Butantan,

com o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina do Ribeirão Preto, Hospital das

Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Fizemos um grande esforço no sentido de implantar duas unidades de produção, duas fábricas.

Uma localizada em São Paulo, na cidade universitária, e a outra localizada em Ribeirão Preto, no Emocen.

Essa segunda fábrica, ela já está em operação.

Ela tem capacidade de produção de 300 tratamentos por ano e ela já está operacional, ela já

está apta a produzir o tratamento.

Então esse foi o primeiro desafio.

O segundo desafio, é o desafio que se apresenta nesse momento, é como incorporar isso ao SUS.

E o primeiro passo é o registro desse produto na Anvisa.

Então a Anvisa necessita de dados agora mais completos, de um número maior de pacientes

e isso vai ser feito aqui agora a partir de agosto.

Nós vamos fazer um estudo clínico, que a gente chama de fase 1 e fase 2, com 80 pacientes

e isso permitirá a geração de dados, de análises de dados, que serão encaminhados

na Anvisa para que o produto, esse produto, seja registrado e aí incorporado ao SUS.

O tratamento com células T só será oferecido pelo SUS, o sistema único de saúde, depois

de aprovado pela Anvisa.

Para isso, os pesquisadores da USP do Butantã aguardam a autorização da agência para

começar testes clínicos.

O custo de mais essa fase de estudos é de 60 milhões de reais.

De uma forma muito entusiasmada e até um pouco otimista, eu prevejo no prazo máximo

de um ano, um ano e alguns meses, nós poderemos ter esse tratamento disponibilizado no SUS.

Que maravilha!

E se esses pacientes, inclusive, que receberam o tratamento de graça, esses 13 pacientes,

receberam pelo SUS, queria conferir essa informação contigo e te perguntar, se esse

tratamento, doutor Dimas, fosse feito pela rede particular, quanto lhe custaria?

Sim, o tratamento foi feito, os 13 pacientes, 11 foram tratados aqui no Hospital das Clínicas

da Faculdade de Medicina de Imirão Preto e dois pacientes no Hospital das Clínicas

da Faculdade de Medicina de São Paulo.

Então, todos dentro do sistema público.

Existem tratamentos assemelhados a esse no exterior, nos Estados Unidos, na Europa, ainda

não de forma disseminada, mas já existem esses tratamentos disponíveis.

Ela começou a ser usada em 2012 lá nos Estados Unidos e a primeira pessoa tratada desse jeito

foi uma garotinha americana chamada Emily, que na época tinha 7 anos.

Ela se curou e hoje, com 17 anos, vive uma vida normal.

E lá nos Estados Unidos, na Europa, o custo é em torno de 500 mil dólares, um tratamento.

500 mil dólares.

A produção dessas células, em termos de reais, seria próximo de 2 milhões.

2 milhões de reais por preparo dessas células.

Ou seja, um tratamento muito caro, né?

Muito pouca gente dá conta de bancar um tratamento desse, né?

Um tratamento caríssimo e que isso limita o alcance.

Como é que nós podemos imaginar a introdução desse tratamento nos pacientes do SUS nesse valor?

Então, precisamos ter uma alternativa.

A alternativa é o desenvolvimento e a produção nacional.

Então, com isso, nós vamos baratear muito esse custo e tornar o tratamento acessível

à nossa população.

Agora, o Carter Cell, ele pode evoluir para tratar outros tipos de câncer, para além

do linfoma e para além da leucemia?

Qual a expectativa disso acontecer e de quando isso pode acontecer?

Olha, essa é uma grande aposta.

Eu acredito que o Carter será a nova fronteira do tratamento do câncer em geral.

Tanto para os cânceres do sangue, como a leucemia e o linfoma, mas também para os

chamados tumores sólidos, tipo tumores de mama, tumores de intestino, tumores de pulmão.

E nós já temos em desenvolvimento, inclusive, um Carter para melanoma.

Melanoma, que é um câncer muito prevalente, um câncer de pele muito prevalente e muito

agressivo.

Então, na minha perspectiva, nos próximos anos, nós vamos ver esse tipo de terapia

sendo estendido para outros tipos de câncer e com os mesmos resultados, espero eu, resultados

muito animadores.

Que assim seja, doutor Dimas, a gente espera junto com o senhor.

Muito obrigada.

Muito obrigada.

Sua voz é uma voz muito conhecida aqui para os nossos ouvidos.

Que bom que a gente está fazendo esse episódio sobre essa notícia tão alvissareira.

Então agradeço demais.

Eu que agradeço.

É um prazer muito grande falar com você e com os seus ouvintes.

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Comigo na equipe do assunto estão Mônica Mariotti, Amanda Polato, Lorena Lara, Luiz

Felipe Silva, Thiago Kaczorowski, Gabriel de Campos, Guilherme Romero e Nayara Fernandes.

Eu sou Nath Zaneri e fico por aqui.

Até o próximo assunto.

26.06.23-Câncer - a terapia revolucionária que cura 26.06.23-Krebs - die revolutionäre Therapie, die heilt 06.26.23-Cancer - The Revolutionary Healing Therapy 26.06.23-Cáncer: la terapia revolucionaria que cura 26.06.23-癌を治す画期的な治療法 26.06.23-Kanker - de revolutionaire therapie die geneest

Primeira imagem, mostra lá o corpo todo tomado, uma imagem, uma fotografia do organismo da

pessoa, toda tomada por manchas pretas que vão da perna até a altura do pescoço.

Basicamente isso.

E eu fiquei impressionado porque aquilo dali é uma quantidade muito grande.

Estava dizendo embaixo na legenda que aquilo dali eram os tumores.

E aí eu vi a segunda imagem, que é uma imagem com aquilo tudo limpo.

Nada mais de preta, como se tivesse passado uma borracha naquilo.

E eu ainda não caio a ficha.

Porque pra mim é tão impressionante a primeira imagem de uma pessoa que tenha sobrevivido,

qualquer um, tá?

Qualquer um.

Com aquela quantidade de tumores espalhados no corpo que eu não tinha a menor ideia que

meu câncer, meu infoma, tinha chegado àquele nível de evolução.

Tinha a menor ideia.

Então, quando eu soube que o carticel poderia ser feito através do SUS, isso através do

doutor Wanderson, eu fiquei mais animado ainda.

Então eu ressuscitei ali, como eu digo que ressuscitei também, quando eu tive o carticel

e teve aquela imagem depois.

Da redação do G1, eu sou Nathuzaneri e o assunto hoje é a revolução na luta contra

o câncer.

Como funciona a terapia celular que promete ser a nova fronteira nos tratamentos para

doença e quando ela deve chegar a mais brasileiros?

Eu converso com o médico Dimas Covas, professor da USP de Ribeirão Preto, diretor do Hemocentro

de Ribeirão Preto e coordenador do Centro de Terapia Celular da USP.

Antes, falo com Paulo Peregrino, paciente de 61 anos que conviveu com o câncer nos

últimos 13.

Ele teve remissão completa da doença após ser tratado por apenas um mês com essa terapia

revolucionária.

É do Paulo a voz que você ouviu no início deste episódio.

Segunda-feira, 26 de junho.

Paulo, os exames que mostram o seu corpo antes e depois do tratamento são duas imagens muito

impressionantes e você só viu esses exames depois de o câncer ter regredido.

Então eu te peço para descrever para quem nos ouve e para quem não viu esses exames

de antes e depois, o que eles mostram e principalmente o que você sentiu quando viu esses dois

exames lado a lado.

O primeiro patch, dos dois patches que você está falando, são duas imagens.

A primeira imagem é do dia 6 de março e a segunda imagem é do dia 24 de abril.

Do mesmo ano.

É, do mesmo ano de 23, desse ano que está aqui hoje.

Entre essa primeira data e a segunda data houve a infusão do cárticel, houve o tratamento.

A imagem que quando eu vi, isso foi entregue para a gente através de um irmão meu, que

está mais próximo do Dr.

Wanderson, que encaminhou para o grupo da família, que são muitos irmãos, cunhados,

etc.

Quando eu vi aquilo, eu confesso a você, Natuza, e até agora a ficha não caiu.

Posso imaginar.

É como se fossem imagens.

Primeira imagem, mostra lá o corpo todo tomado, uma imagem, uma fotografia do organismo da

pessoa, toda tomada por manchas pretas, que vão da perna até a altura do pescoço.

Basicamente isso.

E eu fiquei impressionado porque aquilo dali é uma quantidade muito grande.

Estava dizendo embaixo na legenda que aquilo dali eram os tumores.

E aí eu vi a segunda imagem, que é uma imagem com aquilo tudo limpo.

Nada mais de preta, como se tivesse passado uma borracha naquilo.

Pareciam duas pessoas diferentes, né?

Pareciam que eram imagens de pacientes diferentes.

É como disse o Carlos Dias, o G1, na primeira reportagem que ele fez, que era como se fossem

dois Paulos.

Mas olha, eu te confesso até agora, Natuza, eu estou dizendo para todo mundo isso, disse

hoje também, que ainda não caiu a ficha.

Porque para mim é tão impressionante a primeira imagem de uma pessoa que tenha sobrevivido,

qualquer um, tá?

Qualquer um.

Com aquela quantidade de tumores espalhados no corpo, que eu não tinha a menor ideia

que meu câncer, meu infoma, tinha chegado àquele nível de evolução.

Não tinha a menor ideia.

Dr.

Wanderson, por exemplo, eu até comentei com isso numa live com ele, ele riu até.

Eu falei, Dr.

Wanderson, foi muito prudente não ter mostrado para mim aquele PET scan da imagem do câncer

tomando o meu corpo todo no dia 6 de março.

Porque se eu tivesse visto aquilo, talvez eu tivesse perdido muito da minha fé e esperança

que eu sempre tive na minha vida.

O Paulo estava num estágio bem avançado.

Ele estava prestes a entrar em cuidados paliativos, que é quando o tratamento é mais focado

em dar qualidade de vida e controlar os sintomas de pacientes com doenças graves.

A segunda imagem, que aquele corpo todo limpo, como eu falei a você, parecia uma borracha

que ele tivesse passado, aquilo me impressionou bastante.

Realmente, eu não consigo associar, primeiro, que eu estou ali, quer dizer, que eu sou aquele

corpo que está ali sendo mostrado no PET scan, tanto na primeira imagem, o corpo todo

tomado do uniforme, como na segunda imagem todo limpo.

Eu queria, inclusive, te propor para a gente voltar um pouco no tempo para entender os

momentos difíceis pelos quais você passou, Paulo.

Quais foram esses momentos, se você puder nos descrever, para que quem está nos ouvindo

agora entenda essa trajetória dramática que foi até esse momento dessa grande notícia

que você recebeu?

Diria a você que cada momento que tinham que me furar para poder colocar um acesso,

que eu tinha que ter catéteres todo momento para poder fazer quimioterapia, que eu fiz

muitas quimioterapias e tudo, meus catéteres eram colocados em diversos locais, às vezes

era no braço, às vezes era no interior do braço, aqui perto da axila, às vezes era

no pescoço, às vezes era no ombro, enfim, cada momento desse era um momento muito complicado.

O Paulo luta há 13 anos contra a doença.

Começou com o câncer de próstata, que foi tratado e que terminou com a retirada do órgão.

Em 2018, começaram a aparecer linfomas pelo corpo todo.

Nenhum tratamento deu resultado.

Mas o pior momento, Natuza, o pior momento que eu tive, e eu acho que isso foi uma provação

que eu passei para poder chegar até aqui, foi em janeiro de 22.

Por quê?

Em outubro de 21, foi detectado pelo Petscan a volta do linfoma, quer dizer, não sabia

se era o mesmo linfoma, o mesmo tipo, mas era o linfoma número 3.

Eu já tinha tentado quimioterapia para poder combater o linfoma número 1 em 2018.

Em 2019, voltou o linfoma, que era igual ao linfoma número 1, e por conta disso o protocolo

indica que eu teria que fazer um transplante de medula óssea, que foi feito em junho de

2020, também não funcionou, porque em outubro de 21, como eu falei, teve o Petscan.

Nesse Petscan, detectou uma série de tumores espalhados pelo meu corpo.

Então temos que fazer uma biópsia de qualquer maneira para poder saber como é que a gente

vai controlar.

Mas só que eles estavam na situação meio típica, se ficar o bicho pega, se correr o

bicho come.

Por quê?

Porque eu estava com a plaqueta muito baixa.

Para você ter ideia, o número mínimo de plaquetas de uma pessoa adulta é 150 mil,

eu estava com 3 mil no final de 2021.

E os médicos estavam naquela coisa, pô, temos que fazer uma biópsia porque senão

a gente não vai saber como tentar controlar o linfoma do Paulo.

Agora se fizer uma biópsia, deve ser uma biópsia de altíssimo risco, porque temos

que primeiro encontrar um cirurgião que tenha coragem de fazer uma biópsia em um paciente

com 3 mil de plaqueta.

E graças a Deus eu tenho um cirurgião anterói que tinha operado meus dois primeiros linfomas,

quer dizer, feita a biópsia dos dois primeiros, e que ele aceitou.

E aí isso foi dia 5 de janeiro de 22.

Foi feita e pouco tempo depois detectou-se que era o mesmo tipo de linfoma, não Rodex,

tipo grande, classe B, que era igual ao linfoma número 2 e número 1.

E aí pouco tempo, uns dias depois, eu tive que ser internado de emergência por conta

da minha dor que estava insuportável na região lombar.

Essa dor já vinha desde 2021 me perseguindo e fazendo com que eu tivesse noites e dias

terríveis lá em casa, tomando tramal com dose máxima, que é o tramal é um opioide

que é o segundo mais forte depois da mofina.

E ao mesmo tempo eu tinha dores fortíssimas por conta de câimbras que vinham dos efeitos

colaterais da quimioterapia.

Essa dor na região lombar me fez entrar em emergência, como eu falei, logo depois da

biópsia que eu fiz, isso em janeiro de 22, lá em Niterói.

Quando eu entrei de emergência, eu passei a tomar mofina de rotina dentro do hospital.

Esse foi o período mais crítico.

Esse meio de janeiro aconteceu o seguinte, eu tomava mofina de rotina, eu fazia quimioterapia

com aqueles efeitos que são possíveis de ter, tinha alguns, etc.

E ainda tentava controlar uma púrpura, porque eu tinha detectado na internação de outubro

de 21 que eu estava com púrpura também, que é uma doença autoimune, que faz com

que as plaquetas sejam destruídas pelo próprio organismo.

E no meio disso tudo, eu tive covid.

Nessa covid, que no meu caso foi sintomático, ou seja, eu tossia, espirrava de vez em quando

e tudo, juntou com o fato de eu estar com a plaqueta baixa, ou seja, estar com possibilidade

de hemorragia a qualquer momento, aí teve um certo momento no meio da internação que

eu tive uma tosse e com a tosse gerou hemorragia nas minhas duas retinas.

E essa hemorragia fez com que eu tivesse cegueira parcial durante três meses a partir dali.

Nossa, Paulo.

Então a partir dessa internação que terminou no final de janeiro, na tosa, aí eu tive

alta e foi cuidado a minha visão.

Paulo é publicitário, tem um filho de 29 anos, mora no Rio de Janeiro, a família dele

é do Nordeste, do Recife.

Ele é o caçuna de 10 irmãos.

Durante a pandemia ele ficou internado, né, por causa dos cuidados aí para evitar a covid.

Escreveu um livro que dividiu com as pessoas que estavam no hospital com ele, em outros

quartos, no isolamento, eles fizeram um grupo de WhatsApp para um fortalecer o outro.

Eu já tinha sabido do cartel em outubro de 21, novembro de 21, com meu médico anterior,

o doutor Wanderson, tá?

Ele tinha falado para mim numa consulta em novembro de 21 que havia para mim uma possibilidade,

só que a Ilanvisa naquele momento estava aprovando a parte comercial desse tratamento,

ou seja, ele estava falando da parte comercial, mas já estava dizendo ali naquele momento

para mim que o custo devia ser altíssimo, né?

Então eu fiquei com aquilo na cabeça, a minha família também, que sempre a minha

família participa dessa coisa, minha mulher, meu filho, meus irmãos e tudo.

E aí quando foi em agosto, julho e agosto de 22, mais ou menos isso, aí a gente, a

família procurando uma forma de lidar com esse problema, já sabia do cartel, e aí

consegui encontrar na internet associando o cartel, o tratamento, com o doutor Wanderson Rocha.

Então, quando eu soube que o cartel poderia ser feito através do SUS, isso através

do doutor Wanderson, eu fiquei mais animado ainda.

Você tem uma força de vontade imensa, né?

Pelo que eu estou te ouvindo, você transmite isso.

O que mudou na sua visão de mundo depois de ter passado por esse desafio enorme e hoje

ter uma nova perspectiva de vida?

Porque foi isso que aconteceu, né?

Você ganhou uma nova perspectiva de vida.

É, eu digo a você que na verdade eu não ganhei só uma, né?

Eu ganhei várias vezes, várias perspectivas de vida, porque eu tive momentos, como eu

tive uma alta, que seria uma alta para mim no cartel em 28 de abril, só que eu estava

com uma bactéria hospitalar fortíssima, que me levou a septicemia, sem internado de

emergência, fiquei com pressão 5 por 3 aqui no HC de São Paulo.

Isso logo depois da alta do cartel em 28 de abril.

Então, eu ressuscitei ali, como eu digo que ressuscitei também, tá?

Quando eu tive o cartel e teve aquela imagem depois.

Então, quer dizer, a minha perspectiva, Natuza, só assim, para poder reforçar, é

claro que a gente vai ver a vida de outra forma e tudo.

É que acho que a gente não deve nunca esmorecer.

E como é que você avalia, Paulo, o fato de ter feito esse tratamento pelo SUS?

As pessoas que estão escrevendo pelo Instagram, e eu não consigo responder a todo mundo,

claro, é muita gente, sempre me caracterizando como se fosse uma luz, né?

No meu caso, uma luz no fim do túnel, né?

Porque, claro, que a grande maioria do povo brasileiro não tem condição de fazer isso

pelo modo particular, que custa 2 milhões de reais, segundo o Dr.

Wanderson, estimou ele, ou está sendo, enfim, comercializado.

Então, fazer pelo SUS, provar que pode ser feito pelo SUS, para mim, não só me dá

um, assim, me deixa muito envaidecido, porque eu posso estar ajudando as pessoas a acreditarem

em algo que foi perdido ultimamente, que foi a questão da crença na ciência.

Que incrível você dizer isso.

Mas, Natuza, é uma coisa impressionante, as pessoas, quando mandam mensagem para mim,

no final, terminam assim, viva a ciência, viva o SUS.

Imagina você ouvir isso em 2022.

Olha, eu estou com o meu braço aqui arrepiado, só com esse relato que você está fazendo

aqui desde o início da nossa conversa.

É muito impressionante.

Mas, enfim, então eu acho que essa questão da ciência, do SUS, e saber que foi feito

pelo SUS.

Natuza, olha, eu não imaginei nunca na minha vida que eu tivesse um tratamento tão exemplar

como eu tive no HC de São Paulo, pelo SUS, no caso, foi no Centro de Hematologia e Transplante

Medula Óssea, que fica lá no oitavo andado do Instituto Central do HC, com a equipe fantástica,

não só pelo caso do Dr.

Van, só como dos assistentes médicos dele, como das enfermeiras.

Um tratamento de primeiro mundo, desde o primeiro câncer de próstata, desde o linfoma

que eu tive.

Todos, todos, porque mesmo que não tenham sido tratamentos que não dessem certo, eles

ajudaram, claro, foram super importantes, essenciais até, para que eu chegasse no momento

de fazer o cárticelo.

Paulo, eu estou muito feliz de ter feito essa entrevista com você.

A equipe inteira está muito feliz com o seu relato.

Ele é um relato impactante, ele é um relato impressionante, mas, sobretudo, ele é um

relato de esperança.

Então, que bom que você topou conversar com a gente aqui hoje e com quem nos ouve.

Muito obrigada.

Eu que agradeço, Natuza.

Um abraço a todos e obrigado pela oportunidade, mais uma vez.

Espera um pouquinho que eu já volto para falar com o Dimas.

Doutor Dimas, eu gostaria muito que você nos explicasse como é o tratamento cárticel

e por que ele é tão revolucionário para combater alguns tipos de câncer como leucemia

e linfoma.

O câncer, normalmente, ele é tratado das formas que todo mundo conhece.

Ou é cirurgia, ou é radioterapia, ou é quimioterapia.

Essas são as formas tradicionais de tratamento do câncer.

A quimioterapia, ela tem um efeito sistêmico.

Ela destrói o câncer, mas também destrói células normais.

Então, por isso que esse tratamento traz, muitas vezes, efeitos colaterais para as pessoas,

que é a de cabelo, mal-estar geral.

Ou seja, é um tratamento que muitas vezes é eficiente, mas não é específico.

Nós estamos falando agora, com o tratamento das formas chamadas cárticel, de um tipo

de tratamento imunológico.

Ou seja, é um outro universo, é um outro tipo de abordagem ao tratamento do câncer.

Como é que funciona?

Bem, o nosso sistema imunológico, normalmente, ele reconhece células cancerosas, cancerígenas

cancerosas, e essas células, à medida que o câncer vai desenvolvendo, desenvolvem

a habilidade de se safar do sistema imunológico.

Essa terapia, especificamente com cárticel, ela se baseia nas células do sistema imunológico.

Então vejam, a pessoa tem câncer, tem uma leucemia linfóide aguda, do tipo B, onlinfoma

do tipo B, que foi tratado com quimioterapia, às vezes com radioterapia, até com transplante

de medula óssea, e que não responderam.

Ou seja, as células não estão sendo, as células tumorais não estão sendo efetivamente

combatidas.

Então nós pegamos esse paciente, retiramos as células de defesa chamadas células T,

a gente coleta essas células, leva essas células para o laboratório, e no laboratório

a gente faz uma modificação genética nessas células.

A gente altera o DNA dessas células.

Essas células são retiradas do corpo do paciente, e aí no laboratório elas têm

o DNA modificado.

Com isso, as células passam a produzir uma molécula chamada de receptor de antígeno

quimérico, CAR, na sigla em inglês.

Por isso que o nome do tratamento é CAR-T-Cell.

Nós colocamos no DNA dessas células no laboratório, agora, um receptor, um receptor específico

para o câncer, específico para as células do câncer.

E aí multiplicamos essas células aos milhões, amplificamos o número dessas células e voltamos

para o paciente.

No paciente, essas células que são dele, são do sistema imunológico dele, agora estão

com um receptor, como se elas tivessem, vamos explicar de forma bem simples, como se elas

tivessem um radar para localizar o câncer.

Então essas células vão se espalhar pela circulação, as milhões e milhões de células

que foram produzidas e vão especificamente se ligar ao tumor e levar à sua destruição.

Isso acontece muito rapidamente.

Em 15, 20 dias, os pacientes que estavam lutando com câncer, às vezes há alguns anos sem

resposta, em 15, 20 dias essas células conseguem destruir completamente o tumor.

Isso é muito impressionante.

Primeiro, essa modificação celular, eu queria até lhe perguntar se essa modificação

de célula é feita no Brasil e se a gente tem toda a tecnologia para isso, mas impressionada

com a velocidade com que essas células cancerígenas são detectadas.

Nós desenvolvemos esse processo aqui em Ribeirão Preto, na USP, no Emocente Ribeirão Preto,

nós desenvolvemos dentro de um projeto apoiado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia

que chama Instituto Nacional de Célula Tronco e Terapia Celular para o Câncer.

Nós desenvolvemos essa tecnologia de modificar o DNA das células imunológicas e de cultivar

essas células em laboratório.

Nós desenvolvemos essa tecnologia e o primeiro paciente foi tratado em 2019.

O Vamberto Luiz de Castro estava com 64 anos na época, ele tinha um linfoma em fase terminal

e nem conseguia andar por causa da doença.

Ele fez o tratamento e em 40 dias saiu caminhando do hospital e com o câncer em remissão.

O primeiro paciente apresentou um sucesso absoluto, em 20 dias ele se viu livre dos

tumores, da mesma forma que os demais pacientes.

Até o momento nós já tratamos 13 pacientes e a resposta sempre é maravilhosa.

Durante quase metade da vida, o Caio conviveu com o câncer.

Com 9 anos, ele recebeu o diagnóstico de leucemia, o câncer que interrompeu a infância

também tirou o chão da família.

Os dias de angústia só terminaram depois que a equipe médica do Hospital Erasto Gertner

trouxe para a família do Caio a informação de que ele poderia passar por um tratamento

que até então nunca tinha sido feito no Brasil.

Ele é o primeiro paciente pediátrico do Brasil a passar por uma terapia celular que

é inédita.

E isso é uma nova perspectiva de tratamento, uma nova fronteira de tratamento do câncer.

Claro, e quando você diz que 13 pacientes foram tratados dessa maneira, a primeira pergunta

que me vem à cabeça é quando a gente consegue escala, grande escala de produção para atender

os mais de 2 mil pacientes que podem ser beneficiados de imediato.

Esse é o próximo desafio.

Uma vez que nós desenvolvemos a tecnologia, agora como é tornar essa tecnologia acessível

aos pacientes brasileiros, principalmente aos pacientes do SUS.

Então em 2021 nós fizemos um grande arranjo institucional com a USP, com o Instituto Butantan,

com o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina do Ribeirão Preto, Hospital das

Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Fizemos um grande esforço no sentido de implantar duas unidades de produção, duas fábricas.

Uma localizada em São Paulo, na cidade universitária, e a outra localizada em Ribeirão Preto, no Emocen.

Essa segunda fábrica, ela já está em operação.

Ela tem capacidade de produção de 300 tratamentos por ano e ela já está operacional, ela já

está apta a produzir o tratamento.

Então esse foi o primeiro desafio.

O segundo desafio, é o desafio que se apresenta nesse momento, é como incorporar isso ao SUS.

E o primeiro passo é o registro desse produto na Anvisa.

Então a Anvisa necessita de dados agora mais completos, de um número maior de pacientes

e isso vai ser feito aqui agora a partir de agosto.

Nós vamos fazer um estudo clínico, que a gente chama de fase 1 e fase 2, com 80 pacientes

e isso permitirá a geração de dados, de análises de dados, que serão encaminhados

na Anvisa para que o produto, esse produto, seja registrado e aí incorporado ao SUS.

O tratamento com células T só será oferecido pelo SUS, o sistema único de saúde, depois

de aprovado pela Anvisa.

Para isso, os pesquisadores da USP do Butantã aguardam a autorização da agência para

começar testes clínicos.

O custo de mais essa fase de estudos é de 60 milhões de reais.

De uma forma muito entusiasmada e até um pouco otimista, eu prevejo no prazo máximo

de um ano, um ano e alguns meses, nós poderemos ter esse tratamento disponibilizado no SUS.

Que maravilha!

E se esses pacientes, inclusive, que receberam o tratamento de graça, esses 13 pacientes,

receberam pelo SUS, queria conferir essa informação contigo e te perguntar, se esse

tratamento, doutor Dimas, fosse feito pela rede particular, quanto lhe custaria?

Sim, o tratamento foi feito, os 13 pacientes, 11 foram tratados aqui no Hospital das Clínicas

da Faculdade de Medicina de Imirão Preto e dois pacientes no Hospital das Clínicas

da Faculdade de Medicina de São Paulo.

Então, todos dentro do sistema público.

Existem tratamentos assemelhados a esse no exterior, nos Estados Unidos, na Europa, ainda

não de forma disseminada, mas já existem esses tratamentos disponíveis.

Ela começou a ser usada em 2012 lá nos Estados Unidos e a primeira pessoa tratada desse jeito

foi uma garotinha americana chamada Emily, que na época tinha 7 anos.

Ela se curou e hoje, com 17 anos, vive uma vida normal.

E lá nos Estados Unidos, na Europa, o custo é em torno de 500 mil dólares, um tratamento.

500 mil dólares.

A produção dessas células, em termos de reais, seria próximo de 2 milhões.

2 milhões de reais por preparo dessas células.

Ou seja, um tratamento muito caro, né?

Muito pouca gente dá conta de bancar um tratamento desse, né?

Um tratamento caríssimo e que isso limita o alcance.

Como é que nós podemos imaginar a introdução desse tratamento nos pacientes do SUS nesse valor?

Então, precisamos ter uma alternativa.

A alternativa é o desenvolvimento e a produção nacional.

Então, com isso, nós vamos baratear muito esse custo e tornar o tratamento acessível

à nossa população.

Agora, o Carter Cell, ele pode evoluir para tratar outros tipos de câncer, para além

do linfoma e para além da leucemia?

Qual a expectativa disso acontecer e de quando isso pode acontecer?

Olha, essa é uma grande aposta.

Eu acredito que o Carter será a nova fronteira do tratamento do câncer em geral.

Tanto para os cânceres do sangue, como a leucemia e o linfoma, mas também para os

chamados tumores sólidos, tipo tumores de mama, tumores de intestino, tumores de pulmão.

E nós já temos em desenvolvimento, inclusive, um Carter para melanoma.

Melanoma, que é um câncer muito prevalente, um câncer de pele muito prevalente e muito

agressivo.

Então, na minha perspectiva, nos próximos anos, nós vamos ver esse tipo de terapia

sendo estendido para outros tipos de câncer e com os mesmos resultados, espero eu, resultados

muito animadores.

Que assim seja, doutor Dimas, a gente espera junto com o senhor.

Muito obrigada.

Muito obrigada.

Sua voz é uma voz muito conhecida aqui para os nossos ouvidos.

Que bom que a gente está fazendo esse episódio sobre essa notícia tão alvissareira.

Então agradeço demais.

Eu que agradeço.

É um prazer muito grande falar com você e com os seus ouvintes.

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Felipe Silva, Thiago Kaczorowski, Gabriel de Campos, Guilherme Romero e Nayara Fernandes.

Eu sou Nath Zaneri e fico por aqui.

Até o próximo assunto.