Como era ser uma criança negra na Alemanha pós-guerra
Quando eu era criança, as pessoas esfregavam meu rosto com uma escova
para mostrar às outras crianças que não tinha chocolate no meu rosto
Eu não conseguia entender por que aquilo estava acontecendo comigo
Eu só queria ser branca, me sentir incluída. Ser como os outros
Após a derrota na Segunda Guerra, em 1945, a Alemanha
viu-se novamente ocupada por tropas aliadas Os americanos chegaram com muitos soldados
negros que permaneceram estacionados na Alemanha por algum tempo após o fim do conflito
Inevitavelmente, laços foram formados e, em alguns casos, crianças negras nasceram em um
ambiente totalmente branco, em que, até então, não havia nenhum contato com pessoas negras
Meu pai veio para a Alemanha porque era um soldado americano
Ele foi mandado de volta para casa mais cedo porque ficou doente
Todas as crianças nascidas de pai afro-americano eram chamadas de "bebês da ocupação"
Quando eu tinha seis anos e meio, minha mãe me levou para um abrigo de crianças
Eu nunca a culpei, porque sei que ela estava sob intensa pressão
Eu sentia que tinha muito menos valor do que as outras crianças, e era tratada assim
Apanhava, fui trancada em quartos
E quando tinha dez anos, tentaram tirar o “diabo” que havia dentro de mim
Tive que me ajoelhar na frente de uma cadeira
Todas as janelas foram fechadas, e eu tive de repetir "Jesus é o vencedor"
Em seguida, as venezianas foram abertas para que o diabo que se escondia dentro de mim pudesse voar pela janela
Eu tinha tão pouco valor que, se eles pudessem tirar o diabo de dentro de mim, eu passaria a valer um pouco mais
Foi como me senti
Nunca pensei em meu pai enquanto crescia
Mas quando tinha por volta de 18 anos, percebi que gostaria de conhecê-lo
Tudo o que passei por causa da cor da minha pele tornou isso ainda mais importante
Tentei entrar em contato por um endereço antigo que minha mãe tinha
Mas minha carta foi devolvida
Conheci Audre Lorde aqui na Alemanha na década de 80
Ela era uma escritora afro-americana e me impressionou muito,
já que era uma mulher negra mais velha
Ela disse que nós, afro-alemães, não devemos mais ficar calados nesta sociedade
Foi algo muito especial,
porque me fez perceber que outras pessoas tinham vivenciado as mesmas coisas que eu
É impossível descrever o que eu senti
Você não conseguiria imaginar essa sensação
Eu me senti tão feliz
Conhecer meu pai fechou uma ferida aberta
De repente, eu conseguia sentir orgulho de mim mesma e andar de cabeça erguida
Eu tinha chegado onde sempre quis estar, e é assim que ainda me sinto hoje em dia