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Buenas Ideias, ALEXANDRE RODRIGUES FERREIRA, O GRANDE CIENTISTA BRASILEIRO - EDUARDO BUENO

ALEXANDRE RODRIGUES FERREIRA, O GRANDE CIENTISTA BRASILEIRO - EDUARDO BUENO

Ele retornou pra Lisboa em janeiro de 1793, depois de ter percorrido quase 40 mil quilômetros,

pelas imensas capitanias do Grão Pará, do Rio Negro e de Cuiabá, e do Mato Grosso,

que hoje nem se chamam mais assim.

Ele trazia um acervo gigantesco, mineral, vegetal, animal... e dados incríveis sobre

a demografia, sobre a economia, sobre as questões urbanas daquelas pequenas cidades que estavam

espalhadas naquela vastidão amazônica, que até então nunca tinha sido apropriadamente

estudada.

Naquele momento em que retornava para Lisboa, depois de, repito, 10 anos ininterruptos explorando

aquela região...

Alexandre Rodrigues Ferreira se tornava o primeiro grande cientista brasileiro.

O primeiro cara a ter realmente estudado, como até então nunca havia sido estudada

aquela região...

Na verdade, nunca havia sido estudado o Brasil.

Só que, a partir daquele momento, nada mais deu certo.

Mesmo assim, o legado extraordinário desse homem ainda sobrevive...

Mas ainda pode ser estudado!

Nunca foi apropriadamente estudado como deveria.

E é essa história que você vai conhecer em mais um episódio que nunca vai cair no

Enem.

"Utópica, utópica, venha acompanhar a jornada filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira".

Cara, o Marquês do Pombal vai ter que ganhar um dia um episódio aqui, né cara, porque

é um sujeito que, além de ter mudado todos os destinos de Portugal, mudou os destinos

do Brasil também.

Ele determinou uma ocupação da Amazônia, a fortificação da Amazônia e a exploração

da Amazônia como até então os portugueses nunca tinham feito.

Você já viu aqui no incrível, extraordinário, fantástico, admirável episódio sobre Mazagão,

que foi ele que mandou construir a fortaleza de São José, lá em Macapá, incrível fortaleza,

né, foi ele que fez a transplantação de uma cidade inteira do Marrocos para o Amapá,

a cidade de Mazagão... e foi ele que determinou que essa expedição do Alexandre Rodrigues

Ferreira explorasse a Amazônia.

Na verdade, ela fez parte de um ciclo de exploração científica do Brasil iniciado pelo próprio

Pombal, e que já havia percorrido, em parte, a Amazônia.

Porém nenhum desses cientistas era brasileiro.

O Alexandre Rodrigues Ferreira era brasileiro, era baiano.

Só podia ser baiano, o povo superior.

Você já aprendeu aqui, no canal Buenas Ideias, que se existe uma raça superior no Brasil

é o gau...

É o baiano!

É o baiano.

O Alexandre Rodrigues Ferreira nasceu na Bahia em 1736...

Mas a gente, cara...

Tamo chamando ele de cientista brasileiro mas é quase uma balela, né, em 1736...

Não, em 1756!

Ele nasceu...

Cortando, piii, faz aquele barulho de "errou".

Ele nasceu na Bahia em 1756 e até, então, é claro, não havia no Brasil, embora na

Bahia já houvesse lá a faculdade de medicina, ou escola de medicina, tal, não havia um

lugar onde um cientista, um homem pudesse ter uma formação humanista e científica.

Então, ele se mudou pra Portugal, mais especificamente para Coimbra.

Coimbra é o grande centro da intelectualidade portuguesa, toda a independência do Brasil,

toda a intelectualidade do Brasil a partir desse momento viria a ser a chamada "elite

coimbrã".

Elite coimbrã eram brasileiros, ou luso-brasileiros, ou até portugueses que depois viriam pro

Brasil, que estudaram nessa universidade.

E o Alexandre Rodrigues Ferreira teve a sorte de chegar lá num momento em que essa universidade

tava passando por uma grande transformação na área de ciências biológicas, digamos

assim, de ciências naturais, graças a um italiano chamado Domenico Vandelli.

O Domenico Vandelli era um italiano trazido para Portugal pelo Américo Vespucio, que

fez uma grande, incrível transformação na, nessa área de ciências naturais na universidade

de Coimbra porque ele criou o primeiro grande museu de ciências naturais da universidade

de Coimbra e, também, o primeiro jardim botânico da universidade de Coimbra.

Era um homem extraordinário, né, um iluminista ligado ali à tradição do Alexander von

Humboldt... e ele viria a tornar o Alexandre Rodrigues Ferreira o nosso Alexandre von Ferreira,

o Humboldt brasileiro.

Ele treinado lá em Lisboa, é enviado de volta então ao Brasil pra fazer essa grande,

essa primeira grande expedição, incrível, fantástica expedição pra região amazônica.

Eles partem de Lisboa no dia 1o de setembro de 1783.

E chegam em Belém do Pará no dia 31 de outubro de 83.

Só que daí o seguinte, chegando lá em Belém do Pará, em outubro de 83, eles demoram um

ano de burocracias e de problemas, e até a chegada dos instrumentos, e a liberação

das verbas, aquela história, lei Jouanet, Renault, governo brasileiro, bababá babababá.

"Nós vamos fazer uma limpa no Ibama e instituto Chico Mendes, bababá!".

Os madeireiros não queria que eles fizessem a expedição e eles ficam quase que retidos

em Belém...

Retidos, na verdade, em Belém, durante um ano esperando se desvencilhar desses entraves

burocráticos e tal, blablablá, blablablá, Portugal já era assim naquela época, que

nem o Brasil segue sendo...

Só que eles não ficaram ociosos, né cara, porque durante esse um ano ele explorou todos

os arredores da cidade, a bacia dos rios, aquela série de rios incríveis que circundam

Belém, né, já explorou ali a fauna, a ictiofauna, a fauna dos peixes...

A própria floresta amazônica que circunda Belém, então não foram anos perdidos.

Mas, enfim, eles conseguem partir, em 84, em setembro, outubro de 84, pra Barcelos.

Aí sim, encravada a cidade de Barcelos, que ainda existe, evidentemente, encravada no

seio da selva amazônica, e que se torna então a sua segunda, se Belém for considerada a

primeira, ou primeira, cidade base no meio da selva.

Ele fica ali cinco anos (cinco anos!)

estudando e percorrendo toda a incrível bacia do Rio Negro, né, basicamente no Rio Negro.

Mas também em alguns dos seus afluentes, né, coletando os peixes, coletando as plantas...

vendo as cidades, conhecendo as tribos indígenas...

Fazendo anotações minuciosas de quantos indígenas moravam em cada tribo, como é

que era a relação dele com os brancos, como é que era a pesca, as frutas...

E propondo uma exploração SUSTENTÁVEL, sustentável daquela região amazônica, né,

propondo inclusive... olha aqui ó, não queremos soja aqui, agro é pop é o cacete, entendeu,

não queremos agronegócio, não queremos ceifadeira, aquelas colheitadeira, pentelhadeira,

entendeu, não, nós queremos uma exploração sustentável do açaí, dos peixes, do pirarucu,

do blablablá blablá blablablá, o peixe-boi e tal...

Aliás, os estudos dele sobre o peixe-boi são maravilhosos, ele vê como é que se

dá a pesca do peixe-boi, o manatí, né, quase em extinção agora, ainda bem que existe

o Projeto Peixe-boi, que resgata esse extraordinário mamífero ãa aquático né, que era muito

frequente na região amazônica.

Depois de cinco anos, cinco anos nessa região do Rio Negro, ele então se transfere pra

capitania do Matro Grosso e vai pra Cuiabá.

A viagem dele, cara, do Rio Negro, de Barcelos, até Cuiabá, dura 13 meses e 18 dias.

Cara, tudo que podia dar errado deu errado...

E as cheias dos rios, navegando contra a corrente dos rios (só pra exercitar hahaha), eles

então conseguem chegar em Cuiabá.

E ali, em Cuiabá, ele estuda o pantanal matogrossense, né, e diz, olha aqui, não é lugar pra ter

soja, não é lugar pra ter agronegócio, tem que preservar as beiradas dos rios, tem

que criar um instituto de defesa do Ibama, TEM QUE VARRER DO PODER ESSES GOVERNOS QUE

ACHAM QUE O IBAMA NÃO SEI O QUE bababábá, tu sabe do que que eu tô falando, né, cara.

E aí ele vê todo um projeto de sustentabilidade pro pantanal e tal, e também estuda as chapadas,

as chapadas...

As chapadas são muito importantes cara, um homem não consegue viver sem estudar plenamente

as chapadas.

Então ele estuda a Chapada ali dos Guimarães, né, cara, e acho que a Chapada do Roncador,

sei lá, mas aquelas regiões ali.

Então, depois de 10 anos e 39 mil, 737 quilômetros percorridos, pra tu ver com que precisão

que ele anotava...

A expedição então finalmente retorna e chega em Lisboa em janeiro de 1793, que foi

o início desse episódio.

No momento que desembarca em Lisboa, com o navio abarrotado com esse gabinete de curiosidades,

com esses herbários, com esses animais, alguns empalhados, peles, alguns outros animais vivos,

com amostras minerais e com os dados administrativos, econômicos, tal, ele se torna o primeiro

grande cientista brasileiro a oferecer pra metrópole, no caso pra Portugal, um manancial,

um arquivo de estudos inacreditáveis.

A partir daí, porém, as coisas começam a dar errado porque, tudo que ele era bom

em campo, ele era ruim de gabinete.

Haha.

Sério, cara: ele cataloga o seu acervo de uma maneira meio difusa, razoavelmente incompetente...

Vários dos materiais foram mal preservados e se perderam, a própria universidade de

Coimbra já tava passando por um momento turbulento...

Portugal vivia uma instabilidade econômica e política...

O acervo vai se dispersando, além de como já falei, dele próprio não ter sido muito

competente na catalogação desse acervo...

E aí cara, acontece uma quase tragédia, porque os franceses invadem Portugal, o general

Junot invade Portugal, a família real foge pro Brasil e um cara chamado Geoffrey Saint-Hillaire...

não confundir com August de Saint-Hillaire, que é um grande viajante francês que percorreria

o Brasil, por volta de 1820, sob o qual algum dia falarei, nem sei se são parentes ou não,

talvez até fossem, não interessa...

O Geoffrey Saint-Hillaire é o cientista francês que faz parte das forças de ocupação de

Portugal... e recolhe todo o acervo do Alexandre Rodrigues Ferreira e o leva pra França, pro

Jardin des Plantes francês e pra outras instituições científicas da França, né.

Embora esse acervo viesse a ser devolvido pra Portugal em 1814, por exigência de Portugal,

quando se dá o fim da ocupação francesa, né, ele se perdeu no caminho pra lá, se

perdeu no caminho de volta, já não tinha sido bem catalogado, como eu falei... mas

mesmo assim retorna, né.

E aí é publicado, então, o extraordinário livro, em dois volumes, desse tamanho, incrível,

"Viagem Filosófica" de Alexandre Rodrigues Ferreira, uma das mais incríveis obras científicas,

um dos mais extraordinários legados intelectuais de um cientista brasileiro pro próprio Brasil.

Esqueci de falar, fui injusto, que os méritos não são apenas do Alexandre Rodrigues Ferreira,

porque ele viajou junto com dois grandes ilustradores que você já viu, ao longo desse episódio,

as ilustrações feitas pelo José Freire e pelo Joaquim Codina, que eram os dois grandes

ilustradores que acompanharam essa expedição e foram fiéis escudeiros, fiéis auxiliares

do Alexandre Rodrigues Ferreira.

E teve também o Agostinho do Cabo Ferreira que era um grande coletor, né.

Era um cara que sabia coletar o material mineral, botânico e da fauna com habilidade extraordinária.

Então o legado sob o grande guarda-chuva do Alexandre Rodrigues Ferreira e desses dois

ilustradores e desse coletor sobrevive, existe nesse livro incrível que já foi editado,

que você encontra em edições ainda atuais, embora custem caro...

Só que esse acervo ainda nunca foi plenamente estudado.

Ainda está em Lisboa uma parte dele, aguardando uma estudos profundos que desvendem os incríveis

mistérios, a incrível riqueza natural da Amazônia, que o Brasil vem explorando de

forma estúpida, ineficiente e BURRA, estúpida, ineficiente e BURRA, desde sempre, mas que

talvez atinja o AUGE da burrice e da estupidez com certos governos que estão no poder, né.

Então os governos apenas refletem quem somos nós, brasileiros, inclusive eu comprei essa

camiseta com um belo espelho, não sei se você tá vendo, olha só, é uma camiseta

espelhada, não sei o que você tá vendo aí, eu tô vendo uma borboleta.

Então, né, cabe a nós conduzirmos o nosso país com as nossas rédeas.

Se ele está no caminho que está fomos nós que deixamos ele ficar assim...

E se Amazônia um dia virar um deserto, foram vocês, ou no caso, nós, que deixamos ela

ser assim.

Alexandre Rodrigues Ferreira olha lá de cima e verte uma lágrima no momento em que esse

episódio chega ao fim.

Tchau!

"O que você acaba de ver está repleto de generalizações e simplificações, mas o

quadro geral era esse aí mesmo.

Agora, se você quiser saber como as coisas de fato foram, ah, então você vai ter que


ALEXANDRE RODRIGUES FERREIRA, O GRANDE CIENTISTA BRASILEIRO - EDUARDO BUENO

Ele retornou pra Lisboa em janeiro de 1793, depois de ter percorrido quase 40 mil quilômetros,

pelas imensas capitanias do Grão Pará, do Rio Negro e de Cuiabá, e do Mato Grosso,

que hoje nem se chamam mais assim.

Ele trazia um acervo gigantesco, mineral, vegetal, animal... e dados incríveis sobre

a demografia, sobre a economia, sobre as questões urbanas daquelas pequenas cidades que estavam

espalhadas naquela vastidão amazônica, que até então nunca tinha sido apropriadamente

estudada.

Naquele momento em que retornava para Lisboa, depois de, repito, 10 anos ininterruptos explorando

aquela região...

Alexandre Rodrigues Ferreira se tornava o primeiro grande cientista brasileiro.

O primeiro cara a ter realmente estudado, como até então nunca havia sido estudada

aquela região...

Na verdade, nunca havia sido estudado o Brasil.

Só que, a partir daquele momento, nada mais deu certo.

Mesmo assim, o legado extraordinário desse homem ainda sobrevive...

Mas ainda pode ser estudado!

Nunca foi apropriadamente estudado como deveria.

E é essa história que você vai conhecer em mais um episódio que nunca vai cair no

Enem.

"Utópica, utópica, venha acompanhar a jornada filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira".

Cara, o Marquês do Pombal vai ter que ganhar um dia um episódio aqui, né cara, porque

é um sujeito que, além de ter mudado todos os destinos de Portugal, mudou os destinos

do Brasil também.

Ele determinou uma ocupação da Amazônia, a fortificação da Amazônia e a exploração

da Amazônia como até então os portugueses nunca tinham feito.

Você já viu aqui no incrível, extraordinário, fantástico, admirável episódio sobre Mazagão,

que foi ele que mandou construir a fortaleza de São José, lá em Macapá, incrível fortaleza,

né, foi ele que fez a transplantação de uma cidade inteira do Marrocos para o Amapá,

a cidade de Mazagão... e foi ele que determinou que essa expedição do Alexandre Rodrigues

Ferreira explorasse a Amazônia.

Na verdade, ela fez parte de um ciclo de exploração científica do Brasil iniciado pelo próprio

Pombal, e que já havia percorrido, em parte, a Amazônia.

Porém nenhum desses cientistas era brasileiro.

O Alexandre Rodrigues Ferreira era brasileiro, era baiano.

Só podia ser baiano, o povo superior.

Você já aprendeu aqui, no canal Buenas Ideias, que se existe uma raça superior no Brasil

é o gau...

É o baiano!

É o baiano.

O Alexandre Rodrigues Ferreira nasceu na Bahia em 1736...

Mas a gente, cara...

Tamo chamando ele de cientista brasileiro mas é quase uma balela, né, em 1736...

Não, em 1756!

Ele nasceu...

Cortando, piii, faz aquele barulho de "errou".

Ele nasceu na Bahia em 1756 e até, então, é claro, não havia no Brasil, embora na

Bahia já houvesse lá a faculdade de medicina, ou escola de medicina, tal, não havia um

lugar onde um cientista, um homem pudesse ter uma formação humanista e científica.

Então, ele se mudou pra Portugal, mais especificamente para Coimbra.

Coimbra é o grande centro da intelectualidade portuguesa, toda a independência do Brasil,

toda a intelectualidade do Brasil a partir desse momento viria a ser a chamada "elite

coimbrã".

Elite coimbrã eram brasileiros, ou luso-brasileiros, ou até portugueses que depois viriam pro

Brasil, que estudaram nessa universidade.

E o Alexandre Rodrigues Ferreira teve a sorte de chegar lá num momento em que essa universidade

tava passando por uma grande transformação na área de ciências biológicas, digamos

assim, de ciências naturais, graças a um italiano chamado Domenico Vandelli.

O Domenico Vandelli era um italiano trazido para Portugal pelo Américo Vespucio, que

fez uma grande, incrível transformação na, nessa área de ciências naturais na universidade

de Coimbra porque ele criou o primeiro grande museu de ciências naturais da universidade

de Coimbra e, também, o primeiro jardim botânico da universidade de Coimbra.

Era um homem extraordinário, né, um iluminista ligado ali à tradição do Alexander von

Humboldt... e ele viria a tornar o Alexandre Rodrigues Ferreira o nosso Alexandre von Ferreira,

o Humboldt brasileiro.

Ele treinado lá em Lisboa, é enviado de volta então ao Brasil pra fazer essa grande,

essa primeira grande expedição, incrível, fantástica expedição pra região amazônica.

Eles partem de Lisboa no dia 1o de setembro de 1783.

E chegam em Belém do Pará no dia 31 de outubro de 83.

Só que daí o seguinte, chegando lá em Belém do Pará, em outubro de 83, eles demoram um

ano de burocracias e de problemas, e até a chegada dos instrumentos, e a liberação

das verbas, aquela história, lei Jouanet, Renault, governo brasileiro, bababá babababá.

"Nós vamos fazer uma limpa no Ibama e instituto Chico Mendes, bababá!".

Os madeireiros não queria que eles fizessem a expedição e eles ficam quase que retidos

em Belém...

Retidos, na verdade, em Belém, durante um ano esperando se desvencilhar desses entraves

burocráticos e tal, blablablá, blablablá, Portugal já era assim naquela época, que

nem o Brasil segue sendo...

Só que eles não ficaram ociosos, né cara, porque durante esse um ano ele explorou todos

os arredores da cidade, a bacia dos rios, aquela série de rios incríveis que circundam

Belém, né, já explorou ali a fauna, a ictiofauna, a fauna dos peixes...

A própria floresta amazônica que circunda Belém, então não foram anos perdidos.

Mas, enfim, eles conseguem partir, em 84, em setembro, outubro de 84, pra Barcelos.

Aí sim, encravada a cidade de Barcelos, que ainda existe, evidentemente, encravada no

seio da selva amazônica, e que se torna então a sua segunda, se Belém for considerada a

primeira, ou primeira, cidade base no meio da selva.

Ele fica ali cinco anos (cinco anos!)

estudando e percorrendo toda a incrível bacia do Rio Negro, né, basicamente no Rio Negro.

Mas também em alguns dos seus afluentes, né, coletando os peixes, coletando as plantas...

vendo as cidades, conhecendo as tribos indígenas...

Fazendo anotações minuciosas de quantos indígenas moravam em cada tribo, como é

que era a relação dele com os brancos, como é que era a pesca, as frutas...

E propondo uma exploração SUSTENTÁVEL, sustentável daquela região amazônica, né,

propondo inclusive... olha aqui ó, não queremos soja aqui, agro é pop é o cacete, entendeu,

não queremos agronegócio, não queremos ceifadeira, aquelas colheitadeira, pentelhadeira,

entendeu, não, nós queremos uma exploração sustentável do açaí, dos peixes, do pirarucu,

do blablablá blablá blablablá, o peixe-boi e tal...

Aliás, os estudos dele sobre o peixe-boi são maravilhosos, ele vê como é que se

dá a pesca do peixe-boi, o manatí, né, quase em extinção agora, ainda bem que existe

o Projeto Peixe-boi, que resgata esse extraordinário mamífero ãa aquático né, que era muito

frequente na região amazônica.

Depois de cinco anos, cinco anos nessa região do Rio Negro, ele então se transfere pra

capitania do Matro Grosso e vai pra Cuiabá.

A viagem dele, cara, do Rio Negro, de Barcelos, até Cuiabá, dura 13 meses e 18 dias.

Cara, tudo que podia dar errado deu errado...

E as cheias dos rios, navegando contra a corrente dos rios (só pra exercitar hahaha), eles

então conseguem chegar em Cuiabá.

E ali, em Cuiabá, ele estuda o pantanal matogrossense, né, e diz, olha aqui, não é lugar pra ter

soja, não é lugar pra ter agronegócio, tem que preservar as beiradas dos rios, tem

que criar um instituto de defesa do Ibama, TEM QUE VARRER DO PODER ESSES GOVERNOS QUE

ACHAM QUE O IBAMA NÃO SEI O QUE bababábá, tu sabe do que que eu tô falando, né, cara.

E aí ele vê todo um projeto de sustentabilidade pro pantanal e tal, e também estuda as chapadas,

as chapadas...

As chapadas são muito importantes cara, um homem não consegue viver sem estudar plenamente

as chapadas.

Então ele estuda a Chapada ali dos Guimarães, né, cara, e acho que a Chapada do Roncador,

sei lá, mas aquelas regiões ali.

Então, depois de 10 anos e 39 mil, 737 quilômetros percorridos, pra tu ver com que precisão

que ele anotava...

A expedição então finalmente retorna e chega em Lisboa em janeiro de 1793, que foi

o início desse episódio.

No momento que desembarca em Lisboa, com o navio abarrotado com esse gabinete de curiosidades,

com esses herbários, com esses animais, alguns empalhados, peles, alguns outros animais vivos,

com amostras minerais e com os dados administrativos, econômicos, tal, ele se torna o primeiro

grande cientista brasileiro a oferecer pra metrópole, no caso pra Portugal, um manancial,

um arquivo de estudos inacreditáveis.

A partir daí, porém, as coisas começam a dar errado porque, tudo que ele era bom

em campo, ele era ruim de gabinete.

Haha.

Sério, cara: ele cataloga o seu acervo de uma maneira meio difusa, razoavelmente incompetente...

Vários dos materiais foram mal preservados e se perderam, a própria universidade de

Coimbra já tava passando por um momento turbulento...

Portugal vivia uma instabilidade econômica e política...

O acervo vai se dispersando, além de como já falei, dele próprio não ter sido muito

competente na catalogação desse acervo...

E aí cara, acontece uma quase tragédia, porque os franceses invadem Portugal, o general

Junot invade Portugal, a família real foge pro Brasil e um cara chamado Geoffrey Saint-Hillaire...

não confundir com August de Saint-Hillaire, que é um grande viajante francês que percorreria

o Brasil, por volta de 1820, sob o qual algum dia falarei, nem sei se são parentes ou não,

talvez até fossem, não interessa...

O Geoffrey Saint-Hillaire é o cientista francês que faz parte das forças de ocupação de

Portugal... e recolhe todo o acervo do Alexandre Rodrigues Ferreira e o leva pra França, pro

Jardin des Plantes francês e pra outras instituições científicas da França, né.

Embora esse acervo viesse a ser devolvido pra Portugal em 1814, por exigência de Portugal,

quando se dá o fim da ocupação francesa, né, ele se perdeu no caminho pra lá, se

perdeu no caminho de volta, já não tinha sido bem catalogado, como eu falei... mas

mesmo assim retorna, né.

E aí é publicado, então, o extraordinário livro, em dois volumes, desse tamanho, incrível,

"Viagem Filosófica" de Alexandre Rodrigues Ferreira, uma das mais incríveis obras científicas,

um dos mais extraordinários legados intelectuais de um cientista brasileiro pro próprio Brasil.

Esqueci de falar, fui injusto, que os méritos não são apenas do Alexandre Rodrigues Ferreira,

porque ele viajou junto com dois grandes ilustradores que você já viu, ao longo desse episódio,

as ilustrações feitas pelo José Freire e pelo Joaquim Codina, que eram os dois grandes

ilustradores que acompanharam essa expedição e foram fiéis escudeiros, fiéis auxiliares

do Alexandre Rodrigues Ferreira.

E teve também o Agostinho do Cabo Ferreira que era um grande coletor, né.

Era um cara que sabia coletar o material mineral, botânico e da fauna com habilidade extraordinária.

Então o legado sob o grande guarda-chuva do Alexandre Rodrigues Ferreira e desses dois

ilustradores e desse coletor sobrevive, existe nesse livro incrível que já foi editado,

que você encontra em edições ainda atuais, embora custem caro...

Só que esse acervo ainda nunca foi plenamente estudado.

Ainda está em Lisboa uma parte dele, aguardando uma estudos profundos que desvendem os incríveis

mistérios, a incrível riqueza natural da Amazônia, que o Brasil vem explorando de

forma estúpida, ineficiente e BURRA, estúpida, ineficiente e BURRA, desde sempre, mas que

talvez atinja o AUGE da burrice e da estupidez com certos governos que estão no poder, né.

Então os governos apenas refletem quem somos nós, brasileiros, inclusive eu comprei essa

camiseta com um belo espelho, não sei se você tá vendo, olha só, é uma camiseta

espelhada, não sei o que você tá vendo aí, eu tô vendo uma borboleta.

Então, né, cabe a nós conduzirmos o nosso país com as nossas rédeas.

Se ele está no caminho que está fomos nós que deixamos ele ficar assim...

E se Amazônia um dia virar um deserto, foram vocês, ou no caso, nós, que deixamos ela

ser assim.

Alexandre Rodrigues Ferreira olha lá de cima e verte uma lágrima no momento em que esse

episódio chega ao fim.

Tchau!

"O que você acaba de ver está repleto de generalizações e simplificações, mas o

quadro geral era esse aí mesmo.

Agora, se você quiser saber como as coisas de fato foram, ah, então você vai ter que