BARÃO DE MAUÁ - O VISIONÁRIO QUE PODERIA TER MUDADO O BRASIL | EDUARDO BUENO (1)
Cara, esse programa tá esquerdista demais. Cara, só fala em pobre, desvalido, favela,
quilombo, quilombola. Ora bola! Cadê os ricos, cara? Cadê o capitalismo? Onde é
que estão os ricos? Mauá! Mauá! Com o Barão de Mauá investindo, dá. Uma das
desgraças adicionais do Brasil é que só tem rico chinelão. Não se conta nos dedos
das mãos do Lula quanto os ricos decentes, quanto os ricos com visão de país, quantos
os ricos comprometidos com a nação esse país teve. Mas, em compensação, teve um que
valeu por muitos, né, cara? Com cinco Barão de Mauá já dava para ter feito um país
de verdade. O Barão de Mauá tu sabe quem é, né? É o Irineu Evangelista de Sousa,
nasceu em 1813, em Arroio Grande. Onde é que fica Arroio Grande? Só podia ficar no Rio Grande
do Sul, né, cara, tudo que é grande é no Rio Grande do Sul. Ele era gaúcho, só que não exercia.
Até porque se mandou cedo de lá. Sorte dele, né?
Quando tinha cinco anos de idade, o pai dele foi morto e foi morto numa
escaramuça bem típica de gaúcho lá, né? O pai dele era plantador de vaca. É! É o
cara que bota a vaca no campo, gigolô de gado, né?
Bota a vaca no campo, não faz mais nada e fica esperando crescer. E era ali uma zona de
muito contrabando de gado, ele foi ao Uruguai buscar um contrabando de gado. Na
volta deram uns teco no véio e o véio morreu. Eu tô pra te dizer que para o Mauá foi uma sorte.
Pro, no caso, Irineu não era Mauá ainda, que foi uma sorte porque ele foi trazido
por um tio para o Rio de Janeiro, com nove anos de idade, foi posto no trabalho com
nove anos de idade. Virou caixeiro, virou comerciante, que com 12 anos de idade já
era o chefe lá dos estabelecimentos, de um tal de Pereira de Almeida, que era
um atacadista, né? Um comerciante a grosso, como então se dizia. Do Rio de
Janeiro e, com 16 anos de idade, já era sócio do cara. É uma coisa. O cara
era gênio dos negócios, né? E aí esse Pereira devia um dinheirão para um
escocês aqui do Rio de Janeiro chamado Richard Carrothers, que morava aqui e era um grande
negociante britânico e ele vendeu. Ele deu o Mauá, então, o Irineu em troca das
suas dívidas para esse escocês. O Irineu era tão gênio nos negócios
que o Carrothers voltou pra Escócia e deixou, a partir dos 19 anos de idade,
o Irineu cuidando de seus negócios no Rio de Janeiro. Esses negócios
floresceram muito, mas o Irineu resolveu vendê-los para se tornar o quê?
Para se tornar industrial, cara. Industrial num país que ainda não tinha indústria.
Não tinha indústria porque havia uma restrição dos ingleses à existência da indústria no
Brasil. A gente vai falar de algum dia aqui. É uma coisa que tu ignorantemente
não sabe. Até que surgiu a chamada tarifa Alves Branco, sob a qual falaremos algum
dia aqui porque é um momento chave na história do Brasil e, a partir de 1846, o
Brasil pôde começar a desenvolver indústrias. Qual foi a primeira indústria digna do nome
do Brasil? Foi a indústria do Mauá, é claro. Que ainda não era Mauá, ele vai
virar Mauá depois. Mas nós vamos chamá-lo de Mauá e pronto, não enche o saco. Aí o Mauá resolveu
criar a primeira fundição e o primeiro estaleiro brasileiro porque já
era a era do grande capital, já era a era da ferrovia, que o brasil não
tinha e a era da navegação a vapor e o Brasil continuava navegando à vela.
Porque vai ficar claro nesse episódio que o Brasil era um país escuro, que o Mauá
iluminou. Era um país retrógrado que o Mauá fez progredir.
Era um país com iluminação a óleo de baleia que o Mauá iluminou e era
um país de estradas poeirentas, que o Mauá botou nos
trilhos, mas isso viria depois porque, primeiro, ele fez esse estabelecimento na
Baía de Guanabara, em Niterói. Num lugar chamado Ponta de Areia.
Ali ele criou, num lugar que já era uma armação de baleias, um lugar onde matavam
baleias, só que já tinham matado todas as baleias, não tinha mais baleia para matar,
ele comprou de barbada essa animação e transformou num estaleiro e fundição.
Conseguiu um capital de 60 contos, que era o equivalente ao rendimento de uma grande
fazenda de café durante todo um ano, ou seja, era um monte de dinheiro, associado com esse
Richard Carruthers e criou essa fundição.
A primeira obra que essa fundição fez foram os canos de ferro para a canalização do Rio Maracanã, que na época
ainda não era podre porque o Rio de Janeiro não tinha nem distribuição de água
domiciliar. A água era entregue em barris.
Aí uma hora resolveu canalizar o rio, numa iniciativa junto com o governo. E aí
quando os campos ficaram prontos, o governo não pagou os caras. "É. não,
essa obra foi adquirida na gestão anterior". Era um gabinete liberal porque
o brasil se dividia. A política do Brasil se dividia entre liberais e
conservadores, no segundo reinado. Os liberais eram liberais na política e
horrorosos na economia e disseram "não, nós não vamos te pagar". Aí assumiu. Ele quase faliu. Ele
ficou a um passo de falir, mas daí assumiu um novo gabinete. Um gabinete
conservador, mas conservador na política e liberal em economia e liberou
empréstimos de 300, pagou os canos, o rio foi canalizado, a água foi distribuída.
A fundição, o estaleiro pôde enfim começar a florescer. Passou a ter mais de
300 funcionários. Foi a primeira indústria digna do nome do Brasil e
diversificou. Fizeram setenta e dois navios a vapor.
Na época o Brasil, só navegava vela. Depois fizeram engenhos de açúcar.
Também a vapor. Porque o Mauá era totalmente contra à escravidão. Quando
ele comprou a Ponta de Areia, tinha 28 escravos lá. A primeira coisa que ele fez
foi liberar os escravos e contratou basicamente funcionários que ele trouxe
da Inglaterra, com bons salários. Chegou a ter 300 funcionários nessa fundição. Quando
estourou a Guerra do Paraguai, do qual Mauá sempre foi contra e que chamava de
"Maldita Guerra" - essa expressão é dele. Ele foi meio que forçado pelo governo a
fazer canhões. E fez canhões, né, cara? E ganhou dinheiro com canhões de
cobre. Depois também fez navios a vapor, com os
quais o Brasil acabou ganhando a guerra, porque o Brasil começa a ganhar a guerra
do Paraguai - uma guerra fluvial. Na batalha do
Riachuelo. Bom, nessa época o Rio de Janeiro era uma cidade suja e escura, quase
horrorosa, se é que não fosse horrorosa, mas e perigosa. Bem ao contrário de hoje.
Porque a cidade era iluminada com lampiões de de óleo de peixe. Óleo de peixe
era óleo de baleia, cara. Porque houve uma época que tinha tanta baleia, mas tanta
baleia na Baía de Guanabara, que dava engarrafamento de baleia. Tem imagens de um
tal Leandro-não-sei-das-quantas, esqueci o nome agora, de 1700 e pouco, mostrando as
baleias entrando na Baía de Guanabara em fila para procriar. 250 baleias por
ano os caras matavam para fazer o tal óleo de peixe, que iluminava parcamente,
uma luz pardarcenta, uma luz bruxuleante, né? Deixava o Rio de Janeiro
ainda mais assustador de noite. Quando o Mauá resolveu fazer o quê? Iluminação a
gás. "Vamos formar o Rio de Janeiro numa
Cidade-luz". A ilha adquiriu uma vasta zona para os
lados do que se chamava então Cidade Nova, depois ali da Quinta da Boa Vista,
que era um lugar terrível, chamado O Alagado, que depois passou a se chamar O Aterrado.
Por que? Porque ele aterrou aquele mangue, o tal Mangue de São Diogo, que era
um lugar muito terrível e ele fez o Canal do Mangue e ladeou com belíssimas
palmeiras imperiais, que ficaram lá durante tempos. Morreram todas as
palmeiras. Tem fotos delas enormes. Desenhos e Fotos também. Vão
diminuindo diminuindo e hoje não tem uma palmeira lá.
E lá ele construiu a sua fábrica de iluminação a gás.
Isso em 1852. Só que quando ele trouxe também ingleses para criar essa fábrica
de gás, teve uma epidemia de febre amarela. É uma coisa já extinta, não
existe mais. Hoje não é um perigo que o Brasil corra porque a febre amarela é uma
doença transmitida por um mosquito aedes aegypti. É uma doença muito
primitiva. Só países muito primitivos tem esse tipo de doença. Então, naquela época
o Brasil era primitivo. Agora já acabou com o perigo da febre amarela. Na época tinha e
morreram cerca de 100. 100 dos funcionários que o Mauá trouxe e chamou o lugar
de Antessala do Inferno. Ele tinha um contrato
com o governo que ele tinha que entregar estes lampiões a gás e ele entregou no
prazo os lampiões a gás, em 1854. E os jornais especialmente o Jornal do Comércio,
em 1854, dão definições, dão descrições muito minuciosas do encanto
que aquela luz quando, enfim, o Rio de Janeiro era quatro ou
cinco quarteirões no coração no centro do Rio de Janeiro, ao redor da igreja da
Candelária foram iluminados pela primeira vez e o Rio de Janeiro pôde
ver a luz. Depois, por volta de 1870, começou um confronto muito grande, o
Mauá vai ganhar outro episódio. O Mauá vai ganhar outro episódio aqui porque nesse
primeiro eu queria só realmente me concentrar ali em Ponta de Areia e na
fábrica de gás porque, logo em seguida da criação da fábrica de gás,
o Mauá vai introduzir o Brasil na era do trem para fazer a primeira ferrovia
brasileira, mas isso eu vou falar num outro episódio. Mas preciso mencionar um
acontecimento específico disso porque ele vai causar a derrocada do Mauá. Quando o Mauá
resolveu inaugurar a estrada de ferro, que iria do Rio a Petrópolis, ele
convidou o Imperador. Ele era vizinho do Imperador. Ele morava do lado da
Quinta da Boa Vista, em um palacete que dizem que era tão bom quanto a própria
Quinta. Dom Pedro II, que tem gente que gosta, que acha assim que era um
monarca, um bonachão, bondoso, queridão com aquela barba, que
estudava sânscrito, que estudava hebraico e que tinha uma tropa de choque no
Congresso, a bancada ruralista, a bancada escravista, que defendia o trabalho
escravo, que defendia a agroexportação, o agronegócio. A agro é pop. Agro é pop
quando planta maconha, que nem no Uruguai, cara. Que agro é pop plantando soja. Não enche meu
saco com agro pop. Então, agro pop plantava café com um monte de escravo.
Não queria indústria. Queria exportar café e importar bens de consumo. Uma coisa
genial. Então essa bancada ruralista começou uma grande campanha contra o Mauá,
que acabaria destruindo o Mauá. E se diz que essa campanha começou quando, na
inauguração da ferrovia, que falaremos em outro momento, o Mauá deu uma uma pá de
prata com cabo de jacarandá, cravejada de brilhantes para que o o Imperador desse
a primeira pazada no início das obras. Não foi na inauguração. Foi no início das
obras da ferrovia. Só que, no Brasil, trabalho manual era considerado
trabalho escravo. Era feio você ser visto carregando um pacote, um objeto. Você tinha
que ter um escravo para carregar o objeto. Tu imagina que, num país que nem esse, o Mauá deu
pro Dom Pedro II a pá para ele dar a primeira pazada e o Imperador deu, mas disse que
se sentiu assim totalmente humilhado por aquele porco capitalista,
interessado no trabalho e não na renda. E se inicia aí, verdade ou não, uma campanha
que acabaria destruindo os negócios do Mauá.
O Mauá foi vítima de uma campanha violentíssima em cima de parte da ala
governista do senado. As empresas dele acabaram sendo destruídas. Ele pagou
todas as suas dívidas e pagou todos os seus credores. Morreu zerado. Não devia