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Buenas Ideias, FERROVIA MADEIRA-MAMORÉ - EDUARDO BUENO (1)

FERROVIA MADEIRA-MAMORÉ - EDUARDO BUENO (1)

O que você acaba de ver está repleto de generalizações e simplificações, mas o

quadro geral é esse aí mesmo.

Agora, se você quiser saber como as coisas de fato foram, haa, então você vai ter que

ler.

É isso que eu tô dizendo pra ti faz dois anos, cara, é isso que eu tenho dito, é

por isso que esse canal existe, é pra você ler, é pra você aprender por si, é pra

você não ouvir o que os outros, no caso eu, digo.

Mas uma coisa são generalizações e simplificações.

Outra, são erros.

E eu tenho feito vários erros aqui!

Por exemplo, eu disse que a ferrovia Madeira-Mamoré era no Acre, e é em Rondônia, ô mané!

Eu disse que a Philco era holandesa e a Philco é americana, eu errei a data de nascimento

do Lênin, eu errei um monte de coisa!

São erros menores, mas são erros.

De qualquer forma, eu vou começar a corrigir um por um.

E o primeiro que eu vou corrigir agora, o primeiro que eu vou corrigir é o da Ferrovia

Madeira-Mamoré, porque eu sei tudo sobre a ferrovia Madeira-Mamoré e dei uma deslizada

breve, uma pequena deslizada que eu vou tratar de botar as coisas no trilho certo, né, e

você vai dar graças a deus!

Quer ver?

"Que sorte, que sorte!

Você perdeu o trem, mas era da Ferrovia da Morte!".

Haha foi boa essa, hein?

Que rima, hã?

Esse trem, o próximo só sai amanhã às 11 horas.

Se eu perder esse.

Então cara, o Brasil perdeu o trem da história várias vezes, cê sabe né.

As ferrovias chegaram atrasadas no Brasil, o Brasil até hoje despreza as suas ferrovias,

mas nenhuma ferrovia brasileira foi mais emblemática das dificuldades incríveis desse país continental

e das suas mazelas e dos seus volteios do que a história da ferrovia do diabo, a ferrovia

da morte, a Ferrovia Madeira-Mamoré, aquela que teria custado a vida de seis mil pessoas.

Uma pessoa por dormente. 30 mil pessoas trabalharam na construção, seis mil morreram.

E eu falei que ela ficava no Acre.

Mas sabe que o erro não foi tão grave assim, não foi tão grave!

Porque além do Acre ser vizinho de Rondônia, né, a ferrovia nasceu justamente por causa

do Acre!

Porque o Brasil tomou o Acre na mão grande, né, não sei se tu sabe, ou sou eu que vou

ter que te contar?

Sim!

A tomada, a conquista do Acre pelo gaúcho Plácido de Castro, Plácido de Castro, um

veterano da revolução federalista de 1893... é um episódio épico, incrível da história

do Brasil!

O Brasil tomou na mão grande, né, roubou da Bolívia o Acre.

Depois ganhou na Justiça, ali né, no tapetão com o grande Barão do Rio Branco, né.

Mas, na verdade, tomou na mão grande.

E uma das cláusulas do tratado que o grande, extraordinário, fantástico, magnífico Barão

do Rio Branco, no tempo que o Itamaraty se dava ao respeito... fez, foi assinar um tratado

com a Bolívia com o Brasil se comprometendo a construir uma ferrovia nas margens do Rio

Madeira, que é um dos principais afluentes, se não o principal afluente da margem direita

do Rio Amazonas.

Essa ferrovia serviria para que a Bolívia escoasse sua produção de borracha e o próprio

Brasil também o fizesse.

Só que esqueceram de avisar a selva amazônica que ia passar uma ferrovia ali, né, cara.

Bom, eu falei do Barão do Rio Branco e eu quero dizer mais uma coisa pra você.

Mais um volteio antes de entrarmos no episódio: eu não me sinto preparado ainda para fazer

um episódio sobre o Barão do Rio Branco.

Algum dia farei.

Eu não me sinto preparado ainda para fazer um episódio sobre o Santos Dumont, que tão

pedindo: algum dia farei.

Eu não me sinto sequer preparado para fazer um episódio sobre o Dom Pedro II que, aliás,

farei dois, né.

E eu ainda não me sinto preparado para fazer um episódio sobre esse gigante, esse titã

americano, que eu já falei no episódio sobre o edifício A Noite, Percival Farquhar.

E o Percival Farquhar se notabiliza no Brasil, o dono do Brasil, justamente por, pela construção,

ou tentativa de construção da Ferrovia da Morte, da Ferrovia do Diabo.

Ele disse: "essa ferrovia será o meu cartão de visitas para o governo brasileiro!".

Ha, cartão de visitas mais caro da história, né cara.

Porque a construção da ferrovia custou 28 toneladas de ouro.

Vou repetir para a câmera dois!

Câmera dois: 28 toneladas de outro!

Mais de um bilhão de reais a preços de hoje.

O tratado dizia, o tratado que o Brasil assinou com a Bolívia dizia que o Brasil devia construir

essa ferrovia.

Em 1905 tentaram iniciar a construção dessa ferrovia e desistiram.

O Percival Farquhar que é esse super, mega, macro capitalista americano que virou meio

que dono do Brasil, ligado a Light, ligado a milhões de coisas, ligado a Vale do Rio

Doce, que chamava Itabira, ligado a milhões de coisas, algum dia você saberá, se esse

canal sobreviver a mim próprio.

Chega no Brasil e diz "vou construir a ferrovia".

A ferrovia ia nascer em Porto Velho, em em em em Rondônia, e aliás, não era um porto

tão velho assim porque sequer existia!

Porto Velho era só apenas um pequeno entreposto na selva, né, que a ferrovia partiu dali.

E ela teria que ter 366km até chegar em Guajará-Mirim.

Só que é o seguinte, Porto Velho fica a 60 metros do nível do mar e Guajará-Mirim

fica a 120 metros do nível do mar.

Ou seja, era uma subida, e existiam mais de 25 cachoeiras no caminho e o rio era todo

sinuoso.

O Percival Farquhar disse "é comigo mesmo", porque o Percival Farquhar já estivera ligado

à construção do canal do Panamá.

Então, no dia 1o de agosto de 1907... e por isso que esse episódio está indo pro ar

agora.

E se você não é da comunidade do canal Buenas Ideias, você não está diretamente

ligado ao primeiro de agosto, ao dia 31 de julho, né, nós estamos aqui bem nesse território

pantanoso, né, fazendo esse episódio bem na época que começou, no dia em que a construção

começou. 1o de agosto de 1907.

As obras se iniciam, seriam 366km como já falei e ele arregimenta cara, um grupo, uma

Babel, cara!

Ele traz uma Babel pra selva.

Eram 30 mil, 30 mil operários, de 50 nacionalidades diferentes!

50 nacionalidades diferentes!

A maioria deles eram antilhanos, né, gente ali do Caribe...

Cubanos, gente das Bahamas que já tinham trabalhado na construção do canal do Panamá,

né, esse épico, esse ÉPICO que é o canal do Panamá!

Não vou fazer um episódio sobre isso porque não é brasileiro.

E aí vieram também indianos, que tinham trabalhado lá também, vieram gregos, franceses,

poloneses, ããã, a maior parte deles antilhanos, e claro, brasileiros, nordestinos retirantes

da seca.

Se diz que se comunicava em castelhano nessa grande Babel Amazônica que foi a construção

dessa ferrovia.

Cara, é um épico tão grande, daqui a pouco vai começar a tragédia porque agora nós

estamos na parte boa.

Porque Porto Velho não era lugar nenhum, mas tinha ali perto uma cidadezinha chamado

Santo Antônio que foi onde esses caras construíram seus primeiros alojamentos.

E cara, virou uma história assim de...

Imagina se o Clint Eastwood filmasse...

MUITO MELHOR, MUITO MELHOR QUE ISSO: SE O JACK LONDON, O GRANDE, EXTRAORDINÁRIO ESCRITOR

DE AVENTURAS JACK LONDON ESCREVESSE ESSA HISTÓRIA!

Porque cara, era igual aquelas cidades do velho oeste, entendeu, era uma jogatina, prostituição,

loucura, porque os caras ganhavam o salário adiantado, né, se não ninguém iria pra

lá, né, e cara, tinha cassino, tinha jogatina, as ruas todas embarradas, parece aqueles filmes

de caubói e se o Brasil produzisse mitologia sobre a sua história a gente viveria essa

história com grande intensidade.

Embora já tenham sido feitos filmes e livros bem legais sobre isso.

O problema é teu se tu não conhece.

Bom, aí cara, começou a construção e veio junto, chegou o período das chuvas.

Né, as chuvas lá...

Na verdade começou no período das chuvas.

Porque as chuvas são de março a outubro, chove sem parar, e aí começou aquela mosquitama,

bzz bzz bzz bzzzz, daqui a pouco eu vou dar um tapa no microfone, bzzz bzzz bzzzz bzz,

e o microfone.. o microfone não, os mosquitos e os microfones, ERAM UNS MOSQUITOS TÃO GRANDES

QUE PARECIAM UM MICROFONE!

Era tão alucinante, cara, e que transmitiam malária e desinteira, os caras pegaram desinteria,

transmitiam malária, e transmitiram a zika e dengue.. não, isso não.

Cara, dos 30 mil, dos 30 mil homens, 90% contraíram malária!

90% contraíram malária.

Seis mil deles morreram.

E a obra foi avançando muito lentamente, vinham as enxurradas e levavam embora os dormentes,

levavam embora os os os trilhos...

Cara, descarrilhava, uma loucura, do caos a lama, da lama ao caos.

Cara, assim, um lance alucinante.

Mesmo assim a ferrovia ficou pronta do dia 30 de abril de 1912. 366km, um prodígio,

um feito.

Só que aí cara, em 1912, o preço da borracha fez assim ó vummmmmmm.

Cara, porque esse Percival Farquhar, o cara tinha um azar do *, um azar do , impressionante

o azar que tinha, do cacete, tinha um azar...

Cara o que deu de azar, cara, o Brasil deu um azar pra esse Farquhar... e aí o preço

da borracha caiu lá embaixo, tu sabe porque né, porque um cara chamado Henry Wickham

tinha roubado, tinha ROUBADO as sementes de seringueira da Amazônia, tinha levado pra

Malásia e lá fizeram uma produção muito mais certinha, plantio em linha, e a borracha

era muito melhor, muito melhor produzida, muito mais facilmente produzida e de qualidade

muito maior.

POW!

Foi abaixo a produção da borracha brasileira e a ferrovia começou a ficar cada vez mais

deficitária.

Eu falei que o Jack London não escreveu essa história, mas em compensação o Farquhar

contratou um fotógrafo, um fotógrafo incrível americano chamado Dana B.

Merrill, Dana B.

Merrill, que veio fotografar todos esses ã toda essa construção épica nessas fotos

incríveis que você tá vendo desde o início e vai continuar vendo agora.

Sabe como é que chamou o livro, o álbum de fotografias que ele publicou?

Chamou "Views, Reviews and Scenes as Seen by Engineers, Tropical Tourisits, Globetrotters,

Knights of Fortune, and Tramps at the Madeira-Mamoré Railroad".

Cara, nem Eduardo Bueno seria capaz de dar um título tão maravilhoso pra um livro...

Traduzindo pra você, que é ignorante: "Vistas, Revistas e Cenas como vistas pelos engenheiros,

pelos turistas tropicais, pelos globetrotters, pelos viajantes, né, globais, pelos soldados

da fortuna, ou seja, mercenários, pelos vagabundos ou andarilhos, na Madeira-Mamoré Railroad".

Não é demais, cara, não é demais.

Bom, mas a real é que não nada certo lá nunca, nunca, tanto é que o Farquhar já

meio que se retira desse negócio e a partir de de 1919 a ferrovia fica mais no comando

do controle de ingleses do que propriamente de americanos, no caso o Farquhar.

E aí cara, no dia 10 de julho de 1931 o Getúlio Vargas que era inimigo de morte do Farquhar

ã TOMA, toma muitas coisas do Farquhar, dentre elas a ferrovia, aí vira uma ferrovia genuinamente

nacional hehe caminho pra dar errado, né.

E claro, vai dando errado, uma ferrovia que se torna mais deficitária ainda, incompetente,

as linhas atrasavam, um lugar cheio de doença, ninguém queria ir lá naquela coisa lá,

a borracha brasileira lá pra baixo, mas daí vem a 2a guerra mundial e o Brasil tem um

novo up na borracha, né, você já viu aqui num maravilhoso episódio sobre o ciclo da

borracha no Brasil, né, a árvore que chora, e você vai chorar se ver esse episódio também,

essa história da exploração da borracha é muito trágica, muito triste...

De todos os ciclos vegetais talvez o da borracha seja o mais trágico, de maior custo de vidas

humanas, de maiores...

Cara, é horrível!

A história da borracha é horrível.

É melhor apagar a história da borracha, né, se bem que não é bom apagar não, é


FERROVIA MADEIRA-MAMORÉ - EDUARDO BUENO (1) CHEMIN DE FER MADÈRE-MAMORÉ - EDUARDO BUENO (1) MADEIRA-MAMORÉ 铁路 - EDUARDO BUENO (1)

O que você acaba de ver está repleto de generalizações e simplificações, mas o

quadro geral é esse aí mesmo.

Agora, se você quiser saber como as coisas de fato foram, haa, então você vai ter que

ler. lesen. 读书。

É isso que eu tô dizendo pra ti faz dois anos, cara, é isso que eu tenho dito, é

por isso que esse canal existe, é pra você ler, é pra você aprender por si, é pra

você não ouvir o que os outros, no caso eu, digo.

Mas uma coisa são generalizações e simplificações.

Outra, são erros.

E eu tenho feito vários erros aqui!

Por exemplo, eu disse que a ferrovia Madeira-Mamoré era no Acre, e é em Rondônia, ô mané!

Eu disse que a Philco era holandesa e a Philco é americana, eu errei a data de nascimento

do Lênin, eu errei um monte de coisa!

São erros menores, mas são erros.

De qualquer forma, eu vou começar a corrigir um por um.

E o primeiro que eu vou corrigir agora, o primeiro que eu vou corrigir é o da Ferrovia

Madeira-Mamoré, porque eu sei tudo sobre a ferrovia Madeira-Mamoré e dei uma deslizada

breve, uma pequena deslizada que eu vou tratar de botar as coisas no trilho certo, né, e

você vai dar graças a deus!

Quer ver?

"Que sorte, que sorte!

Você perdeu o trem, mas era da Ferrovia da Morte!".

Haha foi boa essa, hein?

Que rima, hã?

Esse trem, o próximo só sai amanhã às 11 horas.

Se eu perder esse.

Então cara, o Brasil perdeu o trem da história várias vezes, cê sabe né.

As ferrovias chegaram atrasadas no Brasil, o Brasil até hoje despreza as suas ferrovias,

mas nenhuma ferrovia brasileira foi mais emblemática das dificuldades incríveis desse país continental

e das suas mazelas e dos seus volteios do que a história da ferrovia do diabo, a ferrovia

da morte, a Ferrovia Madeira-Mamoré, aquela que teria custado a vida de seis mil pessoas.

Uma pessoa por dormente. 30 mil pessoas trabalharam na construção, seis mil morreram.

E eu falei que ela ficava no Acre.

Mas sabe que o erro não foi tão grave assim, não foi tão grave!

Porque além do Acre ser vizinho de Rondônia, né, a ferrovia nasceu justamente por causa

do Acre!

Porque o Brasil tomou o Acre na mão grande, né, não sei se tu sabe, ou sou eu que vou

ter que te contar?

Sim!

A tomada, a conquista do Acre pelo gaúcho Plácido de Castro, Plácido de Castro, um

veterano da revolução federalista de 1893... é um episódio épico, incrível da história

do Brasil!

O Brasil tomou na mão grande, né, roubou da Bolívia o Acre.

Depois ganhou na Justiça, ali né, no tapetão com o grande Barão do Rio Branco, né.

Mas, na verdade, tomou na mão grande.

E uma das cláusulas do tratado que o grande, extraordinário, fantástico, magnífico Barão

do Rio Branco, no tempo que o Itamaraty se dava ao respeito... fez, foi assinar um tratado

com a Bolívia com o Brasil se comprometendo a construir uma ferrovia nas margens do Rio

Madeira, que é um dos principais afluentes, se não o principal afluente da margem direita

do Rio Amazonas.

Essa ferrovia serviria para que a Bolívia escoasse sua produção de borracha e o próprio

Brasil também o fizesse.

Só que esqueceram de avisar a selva amazônica que ia passar uma ferrovia ali, né, cara.

Bom, eu falei do Barão do Rio Branco e eu quero dizer mais uma coisa pra você.

Mais um volteio antes de entrarmos no episódio: eu não me sinto preparado ainda para fazer

um episódio sobre o Barão do Rio Branco.

Algum dia farei.

Eu não me sinto preparado ainda para fazer um episódio sobre o Santos Dumont, que tão

pedindo: algum dia farei.

Eu não me sinto sequer preparado para fazer um episódio sobre o Dom Pedro II que, aliás,

farei dois, né.

E eu ainda não me sinto preparado para fazer um episódio sobre esse gigante, esse titã

americano, que eu já falei no episódio sobre o edifício A Noite, Percival Farquhar.

E o Percival Farquhar se notabiliza no Brasil, o dono do Brasil, justamente por, pela construção,

ou tentativa de construção da Ferrovia da Morte, da Ferrovia do Diabo.

Ele disse: "essa ferrovia será o meu cartão de visitas para o governo brasileiro!".

Ha, cartão de visitas mais caro da história, né cara.

Porque a construção da ferrovia custou 28 toneladas de ouro.

Vou repetir para a câmera dois!

Câmera dois: 28 toneladas de outro!

Mais de um bilhão de reais a preços de hoje.

O tratado dizia, o tratado que o Brasil assinou com a Bolívia dizia que o Brasil devia construir

essa ferrovia.

Em 1905 tentaram iniciar a construção dessa ferrovia e desistiram.

O Percival Farquhar que é esse super, mega, macro capitalista americano que virou meio

que dono do Brasil, ligado a Light, ligado a milhões de coisas, ligado a Vale do Rio

Doce, que chamava Itabira, ligado a milhões de coisas, algum dia você saberá, se esse

canal sobreviver a mim próprio.

Chega no Brasil e diz "vou construir a ferrovia".

A ferrovia ia nascer em Porto Velho, em em em em Rondônia, e aliás, não era um porto

tão velho assim porque sequer existia!

Porto Velho era só apenas um pequeno entreposto na selva, né, que a ferrovia partiu dali.

E ela teria que ter 366km até chegar em Guajará-Mirim.

Só que é o seguinte, Porto Velho fica a 60 metros do nível do mar e Guajará-Mirim

fica a 120 metros do nível do mar.

Ou seja, era uma subida, e existiam mais de 25 cachoeiras no caminho e o rio era todo

sinuoso.

O Percival Farquhar disse "é comigo mesmo", porque o Percival Farquhar já estivera ligado

à construção do canal do Panamá.

Então, no dia 1o de agosto de 1907... e por isso que esse episódio está indo pro ar

agora.

E se você não é da comunidade do canal Buenas Ideias, você não está diretamente

ligado ao primeiro de agosto, ao dia 31 de julho, né, nós estamos aqui bem nesse território

pantanoso, né, fazendo esse episódio bem na época que começou, no dia em que a construção

começou. 1o de agosto de 1907.

As obras se iniciam, seriam 366km como já falei e ele arregimenta cara, um grupo, uma

Babel, cara!

Ele traz uma Babel pra selva.

Eram 30 mil, 30 mil operários, de 50 nacionalidades diferentes!

50 nacionalidades diferentes!

A maioria deles eram antilhanos, né, gente ali do Caribe...

Cubanos, gente das Bahamas que já tinham trabalhado na construção do canal do Panamá,

né, esse épico, esse ÉPICO que é o canal do Panamá!

Não vou fazer um episódio sobre isso porque não é brasileiro.

E aí vieram também indianos, que tinham trabalhado lá também, vieram gregos, franceses,

poloneses, ããã, a maior parte deles antilhanos, e claro, brasileiros, nordestinos retirantes

da seca.

Se diz que se comunicava em castelhano nessa grande Babel Amazônica que foi a construção

dessa ferrovia.

Cara, é um épico tão grande, daqui a pouco vai começar a tragédia porque agora nós

estamos na parte boa.

Porque Porto Velho não era lugar nenhum, mas tinha ali perto uma cidadezinha chamado

Santo Antônio que foi onde esses caras construíram seus primeiros alojamentos.

E cara, virou uma história assim de...

Imagina se o Clint Eastwood filmasse...

MUITO MELHOR, MUITO MELHOR QUE ISSO: SE O JACK LONDON, O GRANDE, EXTRAORDINÁRIO ESCRITOR

DE AVENTURAS JACK LONDON ESCREVESSE ESSA HISTÓRIA!

Porque cara, era igual aquelas cidades do velho oeste, entendeu, era uma jogatina, prostituição,

loucura, porque os caras ganhavam o salário adiantado, né, se não ninguém iria pra

lá, né, e cara, tinha cassino, tinha jogatina, as ruas todas embarradas, parece aqueles filmes

de caubói e se o Brasil produzisse mitologia sobre a sua história a gente viveria essa

história com grande intensidade.

Embora já tenham sido feitos filmes e livros bem legais sobre isso.

O problema é teu se tu não conhece.

Bom, aí cara, começou a construção e veio junto, chegou o período das chuvas.

Né, as chuvas lá...

Na verdade começou no período das chuvas.

Porque as chuvas são de março a outubro, chove sem parar, e aí começou aquela mosquitama,

bzz bzz bzz bzzzz, daqui a pouco eu vou dar um tapa no microfone, bzzz bzzz bzzzz bzz,

e o microfone.. o microfone não, os mosquitos e os microfones, ERAM UNS MOSQUITOS TÃO GRANDES

QUE PARECIAM UM MICROFONE!

Era tão alucinante, cara, e que transmitiam malária e desinteira, os caras pegaram desinteria,

transmitiam malária, e transmitiram a zika e dengue.. não, isso não.

Cara, dos 30 mil, dos 30 mil homens, 90% contraíram malária!

90% contraíram malária.

Seis mil deles morreram.

E a obra foi avançando muito lentamente, vinham as enxurradas e levavam embora os dormentes,

levavam embora os os os trilhos...

Cara, descarrilhava, uma loucura, do caos a lama, da lama ao caos.

Cara, assim, um lance alucinante.

Mesmo assim a ferrovia ficou pronta do dia 30 de abril de 1912. 366km, um prodígio,

um feito.

Só que aí cara, em 1912, o preço da borracha fez assim ó vummmmmmm.

Cara, porque esse Percival Farquhar, o cara tinha um azar do ***, um azar do ****, impressionante

o azar que tinha, do cacete, tinha um azar...

Cara o que deu de azar, cara, o Brasil deu um azar pra esse Farquhar... e aí o preço

da borracha caiu lá embaixo, tu sabe porque né, porque um cara chamado Henry Wickham

tinha roubado, tinha ROUBADO as sementes de seringueira da Amazônia, tinha levado pra

Malásia e lá fizeram uma produção muito mais certinha, plantio em linha, e a borracha

era muito melhor, muito melhor produzida, muito mais facilmente produzida e de qualidade

muito maior.

POW!

Foi abaixo a produção da borracha brasileira e a ferrovia começou a ficar cada vez mais

deficitária.

Eu falei que o Jack London não escreveu essa história, mas em compensação o Farquhar

contratou um fotógrafo, um fotógrafo incrível americano chamado Dana B.

Merrill, Dana B.

Merrill, que veio fotografar todos esses ã toda essa construção épica nessas fotos

incríveis que você tá vendo desde o início e vai continuar vendo agora.

Sabe como é que chamou o livro, o álbum de fotografias que ele publicou?

Chamou "Views, Reviews and Scenes as Seen by Engineers, Tropical Tourisits, Globetrotters,

Knights of Fortune, and Tramps at the Madeira-Mamoré Railroad".

Cara, nem Eduardo Bueno seria capaz de dar um título tão maravilhoso pra um livro...

Traduzindo pra você, que é ignorante: "Vistas, Revistas e Cenas como vistas pelos engenheiros,

pelos turistas tropicais, pelos globetrotters, pelos viajantes, né, globais, pelos soldados

da fortuna, ou seja, mercenários, pelos vagabundos ou andarilhos, na Madeira-Mamoré Railroad".

Não é demais, cara, não é demais.

Bom, mas a real é que não nada certo lá nunca, nunca, tanto é que o Farquhar já

meio que se retira desse negócio e a partir de de 1919 a ferrovia fica mais no comando

do controle de ingleses do que propriamente de americanos, no caso o Farquhar.

E aí cara, no dia 10 de julho de 1931 o Getúlio Vargas que era inimigo de morte do Farquhar

ã TOMA, toma muitas coisas do Farquhar, dentre elas a ferrovia, aí vira uma ferrovia genuinamente

nacional hehe caminho pra dar errado, né.

E claro, vai dando errado, uma ferrovia que se torna mais deficitária ainda, incompetente,

as linhas atrasavam, um lugar cheio de doença, ninguém queria ir lá naquela coisa lá,

a borracha brasileira lá pra baixo, mas daí vem a 2a guerra mundial e o Brasil tem um

novo up na borracha, né, você já viu aqui num maravilhoso episódio sobre o ciclo da

borracha no Brasil, né, a árvore que chora, e você vai chorar se ver esse episódio também,

essa história da exploração da borracha é muito trágica, muito triste...

De todos os ciclos vegetais talvez o da borracha seja o mais trágico, de maior custo de vidas

humanas, de maiores...

Cara, é horrível!

A história da borracha é horrível.

É melhor apagar a história da borracha, né, se bem que não é bom apagar não, é