QUANDO O BRASIL ARRANHOU O CÉU - EDUARDO BUENO (1)
O canal Buenas Ideias te eleva, o canal Buenas Ideias te leva para cima e para o alto.
O canal Buenas Ideias te põe nas alturas, o canal Buenas Ideias faz com que você arranhe
o céu.
É, arranha-céu é o nome que deram pra esses prédios enormes que surgiram pra melhorar
tanto as nossas cidades, né, pra deixar elas na sombra, pra fazer com que a gente se sinta
que nem uma formiga...
É, é, então hoje cara, em casa nova...
Sim, você tá reparando: olha que cenário espetacular, olha que casa incrível, olha
o que o Nando Chagas, que assume agora como diretor do programa, está fazendo pra você.
Finalmente saiu aquela coisa chinfrim daquele, daquela placa que tinha aqui atrás com aquela
biblioteca falsa com os livros falsos do Marcelo Madureira, e agora estamos aqui num mundo
de verdade, num mundo cheio de luz e num mundo cheio de sombra, também.
Porque quando surgiram esses grandes prédios, eles trouxeram a sombra pras nossas cidades,
né.
E qual foi o primeiro grande prédio do Brasil?
Qual foi o primeiro grande edifício do Brasil?
Não foi apenas um grande edifício do Brasil, foi o maior arranha-céu da América Latrina!
É, tudo bem que só durou quatro anos né, porque cê sabe que o que interessa é São
Paulo, aí São Paulo não ia ficar atrás do Rio de Janeiro e fez logo um edifício
maior do que o edifício do "A Noite".
O prédio do "A Noite", cuja história é incrível, fantástica, extraordinária e
você vai conhecer a partir de agora, nessa nova fase do canal Buenas Ideias: a história
do maior edifício da América Latrina.
"É difícil, é difícil viver nesse mundo cheio de edifício".
Hehehe essas rimas tão cada vez piores... mas o cenário tá melhor!
O cenário tá melhor.
Meu, a história do edifício que entraria, ã, que passaria pra história com o nome
de Edifício "A Noite", e que continua sendo chamado de Edifício "A Noite" mas que, na
verdade, se chama Edifício Jospeh Gire, que é o nome do arquiteto francês que construiu...
é uma história simplesmente fantástica demais pra não ser contada.
E cara, é o seguinte, cara, tudo tem tem história, como você já sabe aqui pelo canal
Buenas Ideias: tudo tem história.
Agora, a história desse edifício ela é muito mais ampla do que meramente uma história
arquitetônica...
Claro que a preservação do patrimônio arquitetônico é importante...
O Iphan... é um prédio inclusive tombado, né.
E por mais frágil, por mais fraca, por mais fajuta que seja a preservação do patrimônio
histórico no Brasil, a história desse edifício transcende em muito um mero marco arquitetônico.
O edifício fica aqui na Praça Mauá.
A Praça Mauá era a grande porta de entrada do Rio de Janeiro... né, os navios, as pessoas
que chegavam desembarcavam no Rio de Janeiro pela Praça Mauá que, graças a Deus, hoje
está revitalizada.
Então ali, na Praça Mauá, existia o liceu... como é que chamava mesmo o liceu?
Liceu Literário Português: tinha sido fundado em 1848.
Não ali, mas ele se mudou prali em 1872 e era um liceu que dava aulas de literatura,
era um liceu que dava cursos gratuitos pra todas as pessoas que quisessem aprender a
ler e quisessem aprender literatura, coisa hoje em extinção, né.
Até o próprio dom Pedro II frequentou os cursos ali nesse liceu de literatura que acabou
sendo comprado, em 1908, pelo jornal, por um grande jornal carioca.
O jornal "A Noite".
E por que que se chamava "A Noite"?
Porque era um jornal soturno, sombrio, que só dava notícias escuras...
Heheh não, não, cara, até que podia ser né, porque esse jornal pertencia ao Irineu
Marinho, né, o patriarca da família Marinho...
Mas não, ele se chamava "A Noite" porque foi o primeiro vespertino carioca, era um
jornal que saía às 17h30, às 18h, portanto ele trazia as notícias frescas do dia!
Eles pegavam tudo ali no WhatsApp, pegavam aquelas conversas ali do Intercept, né, cara,
juiz que conversando com promotor, esse tipo de coisa, grandes bombas.
E aí publicava já às 18h30!
Era uma bomba!
E aí o jornal cara, passou a vender cem mil exemplares!
Cem mil exemplares em 1900 e 20 tantos.
Era um prodígio, o Rio de Janeiro tinha um milhão e duzentos mil habitantes, trezentos
mil habitantes, e o jornal vendia cem mil exemplares!
Era um prodígio.
Só que daí, em 1924, o Irineu Marinho teve um problema de pleura, pleura... tomou na
pleura e teve que ir se operar na Europa, né.
E os sócios dele deram um golpe nele cara, e tomaram o jornal dele!
Falando sério, tomaram o jornal dele, mais ou menos em 1926, por aí.
Era um jornal popular e meio populista, né.
Era um jornal ilustrado, era um jornal que atingia as camadas populares e que defendia
causas nacionais e que odiava acima de tudo a Brazil Railway Company, que era uma companhia
de ferrovias que pertencia ao extraordinário, gigantesco, ao fantástico, milionário dono
do Brasil, Percival Farquhar, que claro, algum dia vai ganhar um episódio aqui no canal
Buenas Ideias... assim como alguns jornais brasileiros também ganharão episódios aqui
no canal Buenas Ideias porque o canal Buenas Ideias é inesgotável, é interminável,
não é.
E aí os caras deram o golpe no Irineu Marinho, tomaram o jornal dele...
E sabe quem tomou o jornal dele, cara.
Geraldo Rocha!
E sabe o que que esse Geraldo Rocha era?
Ele era engenheiro de ferrovias e ele tinha trabalhado na construção da ferrovia Madeira-Mamoré,
naquela que, pra cada dormente colocado, um homem morreu, né, lá na selva, lá no Acre.
E a quem pertencia essa ferrovia?
Pertencia ao Percival Farquhar, né.
E o cara tinha ficado rico como engenheiro, né, esse Geraldo Rocha e adquiriu o jornal
do Irineu Marinho e catapultou o jornal.
O jornal já era um sucesso mas ficou mais sucesso ainda na mão desse Geraldo Rocha,
não é.
Então, em 1928, ele adquiriu o terreno onde era antes o Liceu Literário Português, destruiu
o liceu e começou a construir o que?
O maior prédio da América Latina, um gigante de concreto armado.
Não apenas um gigante de concreto armado, mas o primeiro prédio de concreto armado
de toda a América Latina!
Há controvérsias, há controvérsias, tem gente que diz que a Estação Leopoldina já
era de concreto armado, um outro prédio aqui já era de concreto armado, agora esqueci,
não vem ao caso...
Mas passou pra história e ainda hoje muita gente diz que a primeira edificação, pelo
menos de porte, altiva, grande, de concreto armado da América Latina foi o prédio do
edifício "A Noite", que se chamava prédio Joseph Gire, porque o Joseph Gire era um grande
arquiteto francês que veio pro Brasil e pra Argentina.
Ele construiu apenas o Hotel Glória, em 1922, o hotel Copacabana Palace em 1928, que é
baseado no hotel Negresco lá de Nice, que ainda existe...
Construiu o Palácio das Laranjeiras, o atual, que era a casa da família Guinle...
Aliás, ele construiu tudo isso para a família Guinle, que algum dia terá um episódio no
canal Buenas Ideias porque esse canal é interminável, se você pagar para assistir.
E aí construiu também o edifício Praia do Flamengo que é um edifício lindíssimo,
um art deco, pros ricos em 1900 e 30 e poucos e construiu também o palácio da Ilha do
Brocoió.
Esse é o meu favorito, a ilha do Brocoió que hoje pertence ao governo do estado do
Rio de Janeiro, é uma mansão normanda, né, e ele veio construir... já tinha construído
outras coisas e foi contratado pra construir esse prodígio arquitetônico de 22 andares
com 102 metros de altura.
E o prédio começou a surgir, começou a crescer, começou a mudar toda a estrutura,
todo o horizonte, todo o perfil urbano da cidade do Rio de Janeiro, porque até então
só existiam prédios de oito andares no Rio de Janeiro, e me diz agora QUEM É QUE PRECISA
DE PRÉDIO DE MAIS DE OITO ANDARES!?
NÃO PRECISA!
Todo o plano de obras, todo o...o ooo oo.. o regime, tem uma palavra lá, o gabarito,
mudou todo o gabarito arquitetônico do Rio de Janeiro, né, dizem até que subornaram
ali, molharam a mão de fiscais da prefeitura...
E o prédio surgiu imponente.
O Geraldo Rocha não tinha dinheiro sozinho pra fazer esse prédio, então ele penhorou,
ele empenhou todo o capital que a sua empresa, empresa "A Noite" tinha, né.
O prédio foi inaugurado com grande pompa e circunstância, o Rio de Janeiro ficou abismado,
todo mundo adorando, óó, estamos subindo para cima e para o alto...
Foi inaugurado no dia 7 de setembro de 1929, né!
Que é o ano da quebra da bolsa, a bolsa quebraria logo depois causando um grande cataclisma
em todo o sistema capitalista do mundo inteiro.
Então, o que que aconteceu?
O Geraldo Brocha..
O Geraldo Rocha sifu, né.
E em 1934 ele teve que passar todo o prédio e todo o jornal para as mãos do Percival
Farquhar!
É, o Percival Farquhar, que era o dono do Brasil, esse mega capitalista americano, esse
titã, né, que era o dono da Brazil Railway, que era dono da estrada de ferro Rio Grande-São
Paulo, que em torno da qual se travou a grande luta em Contestado, no Paraná, você já
viu esse episódio aqui no... o Canudos do Sul, quando milhares de desvalidos, de pobres,
de camponeses, foram mortos num massacre injustificável e terrível lá no Paraná... ele era o dono
dessa companhia, ele era o dono de Itabira, que hoje é Vale do Rio Doce... ele era dono
do Brasil!
E virou dono do jornal "A Noite".
Isso tudo é muito incrível porque em 1930, quando o jornal "A Noite" ainda pertencia
ao Geraldo Rocha, os correlegionários, as pessoas favoráveis ao Getúlio Vargas, invadiram
e empastelaram e quebraram o jornal inteiro porque o jornal era contrário ao Getúlio
Vargas, né.
O jornal passou mal por causa disso e aí em 34 passa pras mãos do Percival Farquhar,
que ia virar um grande inimigo do Getúlio Vargas também.
Mas o que interessa cara, o que interessa é que daí se instalam nesse prédio a Panam,
as asas da Panam, que a partir de 1929 tinha feito a primeira ligação aérea entre Buenos
Aires e Nova Iorque com escala no Rio de Janeiro.
Então as pessoas voavam nas asas da Panam.
Aí ficava a Philco, a sede da Philco, essa grande empresa holandesa...
Ficavam ali várias empresas importantes.
Ficava ali o consulado dos Estados Unidos da América, ficava ali o consulado do Canadá,
né, e lá em cima, no topo, tinha um restaurante entre pérgulas, com uma vista espetacular.
Mas o que mais importa dessa história inteira cara, é que em 1936 foi inaugurada ali a
Rádio Nacional!
A Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a rádio que mudaria a história do Brasil, a rádio
que daria início à chamada Era do Rádio do Brasil.
E tudo isso dá uma guinada gigantesca.
Em 1940, quando o Getúlio Vargas cria a chamada Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União...
nesse seu projeto estatizante o Getúlio Vargas pegou todas as grandes empresas falidas do
Brasil, inclusive a empresa do Henrique Lage, que construiu o Parque Lage, que era dono
da companhia de navegação Ita, peguei um Ita no norte...
Vááaarias empresas falidas, inclusive a empresa do Percival Farquhar que ele, Vargas,
fez com que falisse...
Incorpora tudo isso ao patrimônio da União.
E então o edifício "A Noite" passa a pertencer ao estado brasileiro.
E, em setembro de 1940, setembro de 1940, ele incorpora a Rádio Nacional, e a Rádio
Nacional que passaria a ter quase que 10 andares desse prédio transforma a história do Brasil
com Cauby Peixoto, com a Emilinha, com as rainhas do rádio, com a Dalva de Oliveira,
com o Francisco Alves, e esses caras todos desciam, desembarcavam de seus carros como
se fossem artistas de Hollywood chegando numa pré-estréia e o povo circulava ali na Praça
Mauá pra ver seus grandes ídolos e aí surgiram bares, e surgiram cafeterias e todo mundo