Imunidade contra a covid-19: como funciona e por que diminui com o tempo
Muitas vacinas têm sido desenvolvidas ao redor do mundo para tentar frear o avanço da covid-19.
O objetivo de todas elas é o de ajudar a nos defender do coronavírus.
Para isso, elas induzem nosso corpo a produzir anticorpos,
que circulam no nosso sistema sanguíneo e atacam o vírus caso ele consiga entrar.
O que não se sabe ainda é por quanto tempo essa imunidade dura. Os estudos mais recentes
mostram que o volume de anticorpos decai de forma relativamente rápida quando somos
infectados e nos recuperamos - ou seja, quando desenvolvemos esses anticorpos de forma natural.
Resta saber ainda como a resposta imunológica gerada pelas vacinas vai se comportar com o tempo.
Meu nome é Camilla Veras Mota, e neste vídeo explico como funciona
a resposta imunológica de curto, médio e longo prazo.
Steven Smith, que é professor de Ciências Biomédicas da Universidade de Brunel,
em Londres, escreveu um artigo sobre isso – e é nele que nos baseamos aqui.
Bom, então vamos começar por um componente importantíssimo do
nosso sistema imunológico - os anticorpos, que estão lá na linha de frente e atuam
diretamente contra eventuais agentes invasores.
Os anticorpos são proteínas e, por isso, não duram para
sempre. Elas geralmente são eliminadas do nosso corpo depois de alguns meses.
Mas as células que produzem os anticorpos têm memória. Aliás,
nosso organismo tem uma capacidade incrível de lembrar de encontros antigos com vírus,
bactérias e outras ameaças e saber como se proteger.
Essa memória reside nos glóbulos brancos conhecidos como linfócitos.
Funciona assim: Quando nosso corpo se depara com uma ameaça - de um vírus,
por exemplo - ou passa por uma simulação dessa invasão, que é o princípio por trás das vacinas,
esses linfócitos são chamados para o confronto e produzem anticorpos para atacar o invasor.
Depois desse combate, “versões de memória” dessas células permanecem no nosso corpo.
Elas ficam de prontidão para o caso de um futuro encontro
com o mesmo agente que ela acabou de derrotar.
É por isso que se você pegar covid-19 e conseguir se recuperar, seu corpo vai
ficar imune ao coronavírus por algum tempo. E acontece a mesma coisa quando somos vacinados.
Mas por que essa proteção pode desaparecer ou diminuir no longo prazo?
Quando nós recebemos anticorpos passivamente, através do leite materno,
por exemplo, a proteção não dura muito. Pra que ela seja longeva,
é preciso que o nosso corpo produza anticorpos por conta própria.
Isso tem a ver com o mecanismo de funcionamento daqueles linfócitos que eu mencionei há pouco.
Mais especificamente, um tipo conhecido como linfócito B.
Quando o nosso corpo percebe a presença de uma ameaça - ainda que ela seja simulada,
como no caso das vacinas -, esses linfócitos B sofrem uma diferenciação e viram plasmócitos,
que são verdadeiras fábricas de anticorpos.
O problema é que quando a infecção é eliminada do corpo, as células B param de se transformar
em plasmócitos. E a fábrica de anticorpos fica com menos funcionários, digamos.
Mas tem uma boa notícia.
Algumas dessas células plasmáticas podem permanecer por bastante tempo no nosso
organismo. Elas são chamadas, não por acaso de células plasmáticas de longa vida, as LLPCs,
na sigla em inglês - que são a chave da imunidade mais duradoura.
Elas nem sempre são produzidas após uma infecção, mas se o forem, podem viver por longos períodos
na nossa medula óssea, produzindo e liberando anticorpos de boa qualidade.
Mas a ciência ainda não entende completamente as
melhores condições imunológicas para estimular a produção dessas células.
Outra coisa que os cientistas também têm estudado é qual o efeito dos diferentes
tipos de vacinas sobre a resposta do nosso sistema imune. Isso porque
os anticorpos gerados após tomarmos vacina contra o tétano e a difteria,
por exemplo, duram menos que os criados depois da vacinação contra sarampo, caxumba e varíola.
E isso acontece porque elas são vacinas de tipos diferentes.
As de tétano e difteria contêm apenas proteínas isoladas, ou seja,
versões modificadas das toxinas produzidas pelas bactérias do tétano e da difteria.
Já no caso do sarampo, caxumba e varíola, as vacinas usam versões atenuadas do vírus - eles
estão ativos, mas são enfraquecidos a ponto de não conseguirem provocar a doença.
E o fato é que essas vacinas que usam o vírus ativo parecem
manter a resposta imune por mais tempo.
Isso tem a ver com a persistência, digamos assim, do imunizante no corpo, que encoraja
a reposição em curto prazo de células plasmáticas. As fábricas de anticorpos que mencionei mais cedo.
Também é provável que essas vacinas produzam células plasmáticas de
longo prazo, as LLPCs, com mais eficiência.
Ainda não existem evidências nesse sentido para as vacinas contra a covid-19,
que ainda estão sendo estudadas,
mas vamos aproveitar pra recapitular rapidamente os diferentes métodos
usados por aquelas que estão sendo aplicadas aqui no Brasil.
Bom, nenhuma usa o vírus Sars-CoV-2 ativo. A da Oxford/AstraZeneca utiliza um vírus ativo - mas um
adenovírus, vírus da gripe comum. É uma tecnologia conhecida como vetor viral não replicante:
esse adenovírus, que não tem capacidade de se reproduzir no nosso organismo, carrega uma
proteína semelhante ao do Sars-CoV-2, e é isso que estimula a resposta do nosso sistema imunológico.
A Coronavac, por sua vez, usa uma versão inativada do vírus.
A vacina da Pfizer usa a nova tecnologia RNA mensageiro,
que você talvez já tenha visto escrita por aí como mRNA.
Isso significa que cientistas usam só um pequeno fragmento do código genético do vírus,
que conseguiram criar em laboratório. É a mesma tecnologia utilizada pelo imunizante da Moderna.
Essas vacinas de RNA mensageiro têm um custo menor de produção,
embora exijam temperaturas bem baixas para o armazenamento. E,
o que é melhor, têm sido mais eficazes em uma proteção rápida contra o coronavírus.
Mas só o tempo dirá se a proteção que elas oferecem será duradoura.
É isso! Espero que vocês tenham gostado. Muito obrigada e até a próxima!