Como um acidente RADIOATIVO aconteceu em Goiânia?
Tá todo mundo falando da série Chernobyl, da HBO, que dramatiza os eventos em torno
do maior desastre nuclear da história, em 1986, na antiga União Soviética.
Mas o que muita gente não sabe é que apenas 1 ano depois o maior acidente radioativo ocorrido
fora de usinas nucleares do mundo aconteceu aqui no Brasil, em Goiânia.
O acidente radiológico de Goiânia, também conhecido como o acidente com césio-137,
foi um grave caso de contaminação por radioatividade ocorrido no Brasil em setembro de 1987.
Tudo começou quando duas pessoas encontraram numa clínica médica abandonada um aparelho
utilizado para tratamento oncológico com radiação.
Como ele era revestido por aço e chumbo, foi destinado a um ferro-velho local, dando
início a um rastro de contaminação que afetou seriamente a saúde de mais de mil
pessoas.
Dentro do aparelho de 300kg, foi encontrada uma cápsula com 19 gramas de um pó branco,
parecido com sal de cozinha, mas que tinha um brilho azul no escuro.
Encantado, o dono do ferro-velho levou pra casa e mostrou pra esposa, amigos e familiares.
Seu irmão, por exemplo, levou um pouco pra casa e a sua filha de apenas 6 anos tocou
na substância e depois ingeriu ao comer um ovo cozido que sua mãe fez.
Dias depois ela precisou ser enterrada em um caixão de chumbo, sendo a vítima com
a maior dose de radiação do acidente.
Todos que foram expostos ao material radioativo começaram a desenvolver sintomas de enjôo,
tontura, vômitos e diarreias depois de algumas horas.
Só então houve a suspeita de que aquele pó que emitia um brilho azul poderia ser
o responsável.
Eles então levaram a cápsula de césio-137 pra Vigilância Sanitária, que não deu muita
bola e deixou a substância radioativa abandonada sobre uma cadeira por mais dois dias.
E o governo da época ainda tentou esconder a tragédia da população, afirmando que
se tratava apenas de um vazamento de gás.
Mas a verdade é que 104 pessoas morreram nos anos seguintes por contaminação, câncer
ou outros problemas decorrentes, e cerca de 1.600 tenham sido afetadas diretamente.
Além disso, a limpeza daquelas poucas gramas de material radioativo produziu toneladas
e toneladas de lixo atômico, que permanecerá perigoso para o meio ambiente por 180 anos.
Por isso, foi totalmente lacrado em 14 contêineres e armazenado em uma montanha artificial revestida
de chumbo e concreto.
E é exatamente por isso que utilizar a energia nuclear é um assunto tão polêmico.
Deixa eu explicar:
Essa tecnologia tem como uma das principais finalidades gerar energia elétrica: o calor
emitido na reação aquece a água, que vira vapor, que gira uma turbina acoplada a um
gerador.
O Iberê do Manual do Mundo acabou de lançar um vídeo visitando a usina nuclear de Angra
dos Reis e mostra exatamente como funciona.
Uma das principais vantagens da energia nuclear é que ela não utiliza combustíveis fósseis,
ou seja, não gera gases de efeito estufa - algo que se você acompanha o Laboratório
2000 sabe que a gente não precisa mais mesmo.
Por isso que mesmo sendo considerada vilã no passado, a energia nuclear passou gradativamente
a ser defendida por ecologistas.
Além disso, em comparação com a energia hidrelétrica, a energia nuclear não precisa
do alagamento de grandes áreas para a formação dos lagos de reservatórios, evitando assim
a perda de áreas de reservas naturais, terras agricultáveis, e a remoção de comunidades
inteiras dessas áreas alagadas.
E ainda tem o fato da energia nuclear não ser afetada por alterações climáticas como
muita - ou pouca chuva.
Com tantas vantagens, você pode se perguntar por que a energia nuclear não é mais utilizada
para gerar energia elétrica.
Bom, lembra que eu falei do lixo atômico?
Essa é uma grande desvantagem da energia nuclear: os insumos necessários pra produzir
e lidar com a energia nuclear, de forma geral, ocasionam na produção de gases do efeito
estufa até 6 vezes maiores se comparada com a energia eólica, que cresce a cada ano que
passa, principalmente no nordeste brasileiro.
E claro: sempre existe o fantasma da contaminação, como podem afirmar as vítimas do Césio-137.
Trinta anos se passaram e o tempo não foi um aliado.
Além da desvalorização dos imóveis, a população local passa por discriminação
devido ao medo que outros têm de serem afetados pela radiação.
Aqueles que não morreram ao longo do tempo, gastam milhares de Reais por mês com medicamentos.
Para muitos, o isolamento social é a pior herança da tragédia.