Covid-19: três critérios para o mundo voltar a abrir portas para turistas do Brasil
O avanço da vacinação contra covid está
permitindo que países comecem a abrir as fronteiras para turistas imunizados.
É o caso da Espanha, da França, e outras nações da União Europeia.
O viajante apresenta um comprovante de que tomou a última dose da vacina 14
dias antes de embarcar e pode entrar sem fazer quarentena.
Mas essa boa notícia não vale para viajantes vindos do Brasil.
Nosso país ficou de fora da lista, que incluiu praticamente todas as nações do mundo,
por causa do descontrole das infecções e por ter
se tornado o que especialistas chamam de “caldeirão de variantes” do vírus.
Eu sou Nathalia Passarinho, repórter da BBC News Brasil, aqui em Londres, e hoje vou
falar de 3 critérios para que o mundo volte a abrir as portas para os turistas brasileiros.
Sem demora, vamos ao primeiro, que é reduzir o número de novos casos de covid
Segundo o pesquisador da Fiocruz, Fernando Bozza, a proporção de infecções num país
é um dos principais critérios na hora de decidir de onde receber turistas.
A União Europeia fixou como regra permitir a entrada, sem quarentena,
de pessoas vacinadas vindas de países com taxa de até 75 casos
de covid por 100 mil habitantes. O Brasil está bem longe dessa meta
Atualmente, tem uma taxa de 416 novos casos de covid por 100 mil habitantes,
conforme dados utilizados pelo Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças.
A gente tá falando décima segunda pior taxa do mundo. Dos 10 países com mais
infecções por 100 mil habitantes, sete são latino-americanos
O segundo critério para o Brasil sair do isolamento é controlar o surgimento de variantes
De longe, a maior preocupação dos países que estão avançando na campanha de vacinação é
que uma linhagem resistente à vacina surja, infecte parte da população e atrapalhe tudo
Atualmente, a P.1, identificada primeiramente em Manaus e rebatizada de gamma pela Organização
Mundial da Saúde, é a cepa prevalente em todo o território brasileiro
Ela preocupa por ser mais transmissível e pela capacidade de evadir anticorpos
ao apresentar mutações que facilitam a entrada do vírus nas células humanas
Um estudo publicado na revista científica Science mostrou que a P.1 é até 2,4 vezes
mais transmissível que outras linhagens e mais capaz de reinfectar quem já teve covid
E pesquisas preliminares apontam que vacinas perdem eficácia contra essa variante,
embora ainda ofereçam forte proteção contra hospitalizações e casos graves da doença
Cepas surgidas a partir de mutações da P.1 também já foram identificadas no Brasil e não
se sabe se são mais letais e transmissíveis. Para piorar o cenário, a variante indiana,
chamada agora de Delta e apontada como responsável pelo atual surto de covid na Índia,
já foi identificada em cidades brasileiras. Como nenhuma vacina é 100% eficaz em impedir
infecções, embora sejam muito eficientes em evitar hospitalizações, não é impossível que uma pessoa
imunizada embarque num avião com o vírus. Principalmente se sair de um país onde
circulam variantes que reduzem ainda mais esse percentual de proteção
O terceiro critério citado pelos especialistas com quem eu conversei
é acelerar o ritmo de vacinação. A chamada cobertura vacinal, que é o
percentual de imunizados de um país, é outro fator considerado ao definir de onde receber turistas.
A gente sabe que o ritmo de vacinação no Brasil começou lento, porque o governo
federal não comprou vacinas suficientes em 2020, quando mais doses estavam disponíveis
Neste ano, acordos de compra foram feitos, mas as doses vão ser distribuídas ao longo do ano,
porque grande parte dos imunizantes foi comprada por outros países no ano passado
Por causa da falta de vacinas para atender a todos os brasileiros,
só 11% da população brasileira recebeu duas doses da vacina até 9 de junho e 24% recebeu uma dose,
segundo dados do ranking global de dados oficiais compilados
pela Universidade de Oxford, no Reino Unido. Em números absolutos, o Brasil está em quarto
no ranking, tendo vacinado com duas doses mais de 23 milhões de pessoas até o dia 10 de junho
Mas o que importa para checar se um país está ou não protegido da doença é o percentual da
população totalmente imunizada. Nesse ranking, o Brasil aparece
em 74º no mundo numa lista com 190 países. Ou seja, quanto mais o país conseguir acelerar
a vacinação, mais perto os brasileiros vão ficar de poder voltar a viajar por aí
E uma pergunta que costuma sempre surgir: a marca da minha vacina conta?
Inicialmente, a União Europeia anunciou que receberia vacinados com doses aprovadas pela
agência reguladora do bloco: Pfizer, Moderna, AstraZeneca e Janssen
Muitos brasileiros ficaram preocupados em não poder viajar no futuro por terem sido
imunizados com a CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a China
Mas, pouco depois, a União Europeia informou que poderão ser incluídas vacinas aprovadas pela OMS
A Coronavac teve sua utilização emergencial aprovada pelo
organismo internacional em 1º de junho. A Espanha, por exemplo, está recebendo
vacinados com CoronaVac. Autoridades dos Estados Unidos também anunciaram que vão considerar as
vacinas aprovadas pela OMS ao estabelecer regras para entrada de turistas vacinados
Ou seja, qualquer vacina aprovada pela OMS e a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) já deixa o brasileiro mais perto de voltar a viajar pelo mundo
Mas outros aspectos, como redução de infecções e controle de variantes são
essenciais para que o Brasil saia do isolamento. Fernando Bozza, pesquisador da Fiocruz também
cita um elemento político que pode influenciar essa exclusão do Brasil.
Segundo ele, o discurso do governo, de minimizar a gravidade do coronavírus e
se opor a medidas de isolamento, pode dificultar a flexibilização de regras
para entrada de brasileiros na Europa e nos Estados Unidos.
O governo brasileiro tem se mostrado
negacionista de toda a racionalidade do controle da pandemia. Isso também, olhando externamente,
leva a uma percepção ruim em relação ao país como um todo. É um país onde o governo não está
preocupado com o controle da pandemia. Essa é a sinalização que o governo brasileiro tem
dado internacionalmente. Então, a percepção dos parceiros é de que não é um país confiável. Então,
também não há porque flexibilizar num país com variante e infecção alta e um governo que
se coloca contra a racionalidade e o que está sendo proposto internacionalmente.
Mas Peter Baker, do Centro para Desenvolvimento Global, também
critica os países ricos por comprarem doses excessivas de vacinas e não ajudarem países
pobres e em desenvolvimento, como o Brasil, a sair da crise.
Para ele, a responsabilidade deve ser compartilhada. E não
é só por uma questão de caridade. O turismo e o comércio internacional
só vão voltar ao quer eram antes, se o mundo todo estiver vacinado.
É isso por hoje. Espero que você tenha gostado do vídeo. Se tiver
dúvidas ou comentários, escreve aqui embaixo.
Até a próxima!