CORONAVÍRUS | EMBRULHA PRA VIAGEM
-Bom dia, bom dia. -Bom dia.
Carlos, você tá com os contratos aí?
Tá na mesa do Henrique. Dá licença, gente. Vamos lá?
-Como é que tá o Chico, hein? -Chico tá ótimo.
Hoje de manhã eu dei uns biscoitinhos pra ele,
-ele ficou todo feliz. -Ah, que bom.
Ontem à noite também.
Antes de eu ir embora, deixei uma comidinha pra ele,
ele ficou super de boa.
Inclusive, Vanda, o pessoal disse que o Chico acordou superanimado.
Tá super empolgado. Escuta aqui!
Oi, Vanda. Ele bebeu água, comeu direitinho.
Eu não ouvi um espirro!
Ele deu uma tossidinha a noite, mas coisa leve também.
E senti um cheirinho de saudade!
Acho que ele tá querendo voltar pra casa também.
Tá vendo? Já tá na hora de ele ir pra casa,
ficar com as crianças, o cachorro, Vanda.
É isso que ele tá precisando!
Não saiu o resultado do exame.
É que a vigilância sanitária falou que tá um caos a cidade,
é uma fila de espera.
Mas Vanda, é assim. A responsabilidade é da família.
Entendeu? Eu sei, eu sei...
Eu vou fazer o seguinte, então. Eu vou fazer o seguinte.
No máximo ele vai ficar aqui no escritório mais três dias.
Só três estourando!
Tá bom? Tá.
Ah, gente, desculpa. Ela tá em pânico, cara.
Falou que ele não vai voltar pra casa
enquanto não sair o resultado do exame
porque tem criança lá, tem uma vó, vai contaminar todos.
Gente, numa boa, as pessoas tão enlouquecendo.
-Não é pra tanto também! -Um exagero.
Gente.
Eu não vou ser mais o responsável por limpar o banheiro do Chico.
-Vamos revezar. -Que foi?
Tem que ficar esperto com o cara.
Hoje fui abrir a porta do banheiro, ele tava todo simpático, todo faceiro.
Fiquei com dó, né?
Fui tirar o cadeado do pescoço,
desenrolar a corrente debaixo da pia
pra ele dar uma volta, respirar um pouco.
Ele quase tossiu na minha perna.
Você tá de brincadeira.
Sorte que eu tava com o rodo na mão.
Mas, espera aí. Foi aquela tosse?
E você tem dúvida?
Quarta-feira todo mundo ouviu ele espirrar escondido no banheiro.
Aí ele pediu uma aspirina pra Fernanda.
Perguntei se era dor de cabeça ele disse que era ressaca.
-É o quê? -Nossa, aí tem!
Bom, gente. Chico tá alimentado, banheiro limpo.
Agora vamos voltar a trabalhar.
Não vamos entrar na neura que tá esse país
que a coisa não é bem assim, né?
-É vida que segue. -Exatamente.
Vamos desopilar e ocupar a cabeça.
Fernanda! Você que é a sacoleira aqui do escritório.
Você ainda tem aquelas máscaras infantis?
-Com lantejoulas? -Aquelas rosas?
Isso! A minha esposa quer usar na festa da Clarinha.
Ela quer entregar como lembrancinha.
Ah, que pena! Acabou.
Mas olha, eu tô com um álcool gel com glitter
que a criançada tá amando!
Inclusive, a senhora tá me devendo aquele soro fisiológico em spray.
Na compra de dois ganha a luvinha de proteção colorida?
Comprei semana passada! Paguei R$80 num frasco com 100ml.
Ela tá vendendo por R$62.
Mas eu vou continuar te devendo. Acabou, só semana que vem.
Vou ficar esperando, hein?
Por falar em dever,
sabe quem ficou me devendo um relatório? Seu Chico!
Eu tenho que entregar agora pra filial de Parma,
se não ela não libera a nossa comissão.
Mas eu consegui. Eu sou muito eficiente.
Antes de a gente levar o Chico pro banheirinho,
eu fiz ele imprimir o relatório.
Foi o Chico que imprimiu?
Foi, ele imprimiu e me entregou. Tá aqui.
Fernanda, você tá sem luva!
Que isso, gente! Que isso!
Nanda, calma! Tá tudo bem!
Fica tranquila que estamos todos no mesmo barco.
Exatamente. Isso aqui é só uma medida de precaução.
-Né, Lucas? -Claro!
Além disso, o banheirinho é super espaçoso, é tranquilo.
Hoje eu vou comprar uns colchonetes.
E o Chico vai ficar muito feliz.
Olha, que legal hein?!
Você vai com o Lucas, eu vou ligar pra sua casa.
De repente sua família vem te buscar,
ou vem te visitar de final de semana.
Quem sabe eles não te trazem uns chocolates, uns doces.
Umas revistas pra você ler, um cigarrinho?
Olha! Você também fuma?
Olha que legal! Porque o Chico fuma também!
Então de repente vocês podem fumar o mesmo cigarro,
aí vocês conversam,
E é legal porque lá você vai ter um tempo pra você!
É mais um descanso, né?
-E outra, lá no banheirinho... -Pelo amor de Deus, gente!
Vamos esterilizar tudo!
Tudo, tudo! Não deixa nem um rastro!
Onde ela pisou, lápis, caneta, relatório, tudo!
Que foi?
Eu fui abrir a porta do banheiro,
o Chico ameaçou cuspir em mim.
-Puta que pariu. -Pois é.
Bom, mas a família também já tinha esquecido dele.
Banheirinho era pequeno. Agora tá tudo certo.
Bom, de agora em diante, a gente não tem o que fazer.
Infelizmente vai ser assim.
Tem razão, né?
É vida que segue, né?
E tem que matar o mal pela raíz!
Vamos recuperar esse relatório do Chico.
Inclusive, eu tô com a senha dele...
É...
É rinite.
Não, gente. Calma.
Calma que eu tenho certeza. Alguém tem um rinosoro aí?
É rinite, gente
Você ainda tem aquelas...
Máscaras pequenininhas...
Eu não vou ser mais responsável