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BBC News 2020 (Brasil), As explicações para a volta do partido de Evo Morales ao poder na Bolívia

As explicações para a volta do partido de Evo Morales ao poder na Bolívia

Muita gente pensou que essas imagens, de 2019, representavam o fim do poder do MAS,

o partido do ex-presidente da Bolívia Evo Morales. Mas apesar da controversa e abrupta saída de

Morales da presidência e do país em meio a ondas de protestos e denúncias de fraude eleitoral,

o MAS, sigla para Movimento ao Socialismo, está de volta.

Sou Adriano Brito, da BBC News Brasil, e neste vídeo falo sobre os motivos que levaram Luis Arce,

candidato de Morales, a ganhar a eleição de forma contundente, já no primeiro turno,

algo que as pesquisas não previram. Ele levou 55,1% dos votos,

contra 28,8% do oposicionista Carlos Mesa. Bem, primeiro é importante lembrar que Evo

Morales governou o país por quase catorze anos e era bastante popular, mas passou a

ser cada vez mais criticado pelas sucessivas manobras jurídicas para se manter no poder.

Ele acabou tendo de deixar o cargo e o país em meio a denúncias de fraude

na eleição realizada no ano passado, que foram questionadas no país e internacionalmente ao dar

vitória a Morales ainda no primeiro turno. A OEA, Organização dos Estados Americanos,

levantou a possibilidade de fraude. Organizações independentes, no entanto,

questionaram esses supostos indícios. Mas agora vamos ao presidente eleito.

Luis Arce tem 57 anos e foi ministro da Fazenda e Economia de Evo Morales.

Ele ajudou o líder do movimento dos camponeses a elaborar seu plano econômico de governo e,

para muitos, foi o cérebro do boom econômico que a Bolívia viveu nos anos do MAS no poder.

E embora Evo Morales tenha deixado a presidência pela porta dos fundos

em 2019, ele deixou para trás um país que se transformou radicalmente durante sua gestão.

E apesar das críticas a ele, acusado por muitos de autoritário e de querer se eternizar no poder,

o êxito de sua gestão na economia só era colocado em dúvida por poucos.

Para esses críticos, ele perdeu a oportunidade de fazer o país crescer ainda mais.

Mas bem, durante o mandato de Morales, a Bolívia se transformou em um dos países

que mais cresciam na América Latina, se aproveitando do chamado boom das commodities.

Foram mais de cinco anos crescendo 5% anuais Além disso, milhões de bolivianos saíram da

pobreza graça aos planos econômicos impulsionados pelo governo.

Como ministro, Arce supervisionou a nacionalização das indústrias de minério,

gás e telecomunicações da Bolívia. Também promoveu medidas para incentivar

o mercado interno e dar estabilidade à moeda do país, o boliviano.

Também ajudou a lançar o Banco del Sur, um fundo de desenvolvimento regional para projetos de

infraestrutura e desenvolvimento social. Essa experiência pode ter sido chave para

atrair os eleitores em um momento em que a Bolívia enfrenta uma das piores crises de sua história.

Quando Evo Morales saiu do poder em 2019, deixou um país profundamente dividido e polarizado.

De um lado, estavam aqueles que apoiavam sua saída por causa das denúncias de fraude eleitoral,

e de outro, os que o defendiam e ainda o consideravam como presidente legítimo do país.

E embora o apoio a Morales tenha diminuído nos últimos anos de governo,

ele mantinha uma base eleitoral forte. Evo Morales chegou ao poder em 2006,

fazendo história ao se transformar no primeiro presidente indígena da Bolívia.

Isso foi, aliás, um feito paradoxal, já que estamos falando de um país

onde 70% da população é indígena. Esse dado ajuda a mostrar a pouca

representação política que essa grande parte da população, e também explica como

Morales e seu partido conseguiram montar uma base eleitoral tão forte e sólida.

Essa mesma base defendeu o ex-presidente nas ruas quando ele deixou o poder,

e foi duramente reprimida pelo governo da presidente interina Jeanine Áñez.

E foi esse mesmo grupo de eleitores que votou em peso no candidato do MAS,

mostrando nas urnas ainda ser maioria no país. Outro elemento que pode ajudar a explicar o

sucesso do partido de Morales na eleição é a impopularidade do governo interino.

A saída de Evo Morales, em novembro de 2019, deixou uma lacuna de poder que terminou com

a senadora oposicionista Jeanine Áñez, com uma Bíblia nas mãos, assumindo o governo interino.

Mas a gestão da presidente interina ficou marcada pela pandemia de coronavírus,

alguns casos de corrupção e a pela agitação política que ela teve de enfrentar.

Áñez foi duramente criticada dentro e fora da Bolívia pela maneira como reprimiu os

protestos a favor de Evo Morales na época em que assumiu o poder.

Dezenas de manifestantes morreram nas ruas em conflitos com o exército

comandado pela presidente interina. No início, a tarefa de Áñes era

convocar novas eleições, mas ela acabou se colocando como candidata quando seus níveis

de popularidade atingiram o ponto mais alto. No fim, acabou se retirando da disputa

por causa da falta de apoio e para formar uma frente única contra Arce,

e tentar evitar a volta do MAS ao poder. Mas a exemplo do que ocorreu com quase todos

os mandatários do mundo, a covid-19 foi um dos desafios mais difíceis da presidente interina.

Áñez, que foi infectada com o vírus, tem sido muito criticada por sua gestão da pandemia.

Em julho, imagens chocantes mostraram centenas de cadáveres nas ruas de La Paz e Santa Cruz,

deixando evidente o drama enfrentado pelo país. A Bolívia é o terceiro país com mais mortes

por milhão de habitantes no mundo, atrás apenas do Peru e da Bélgica.

E a esses números nada animadores se somaram às denúncias de corrupção na gestão da pandemia.

Um dos casos mais polêmicos do então ministro da Saúde Marcelo Navajas, que foi destituído e preso

por causa do sobrepreço na compra de respiradores. Para completar, a longa quarentena foi um grande

golpe na economia de um dos países com as maiores taxas de informalidade do planeta.

Ou seja, tudo isso deixou o governo de transição em uma posição muito desfavorável, abrindo caminho

para o retorno do MAS na figura de Luis Arce. É importante frisar que será um retorno difícil:

o país está no meio de uma crise sanitária e econômica sem precedentes e ainda vivendo

uma forte polarização política. Arce negou em entrevista à BBC

ser uma marionete de Evo Morales, e disse que o governo será dele, e não do ex-chefe.

E que vai caber a Morales, hoje vivendo na Argentina, decidir se volta à Bolívia.

A gente da BBC News Brasil vai continuar acompanhando a conturbada política boliviana.

Tem dúvidas? Deixa aqui nos comentários. Eu fico por aqui, tchau!

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As explicações para a volta do partido de Evo Morales ao poder na Bolívia Die Erklärungen für die Rückkehr der Partei von Evo Morales an die Macht in Bolivien Explanations for the return of Evo Morales' party to power in Bolivia Explicaciones sobre el regreso del partido de Evo Morales al poder en Bolivia Wyjaśnienia dotyczące powrotu partii Evo Moralesa do władzy w Boliwii

Muita gente pensou que essas imagens, de  2019, representavam o fim do poder do MAS,

o partido do ex-presidente da Bolívia Evo Morales. Mas apesar da controversa e abrupta saída de the party of former Bolivian president Evo Morales. But despite the controversial and abrupt departure of

Morales da presidência e do país em meio a ondas  de protestos e denúncias de fraude eleitoral, Morales from the presidency and the country amid waves of protests and allegations of electoral fraud,

o MAS, sigla para Movimento  ao Socialismo, está de volta.

Sou Adriano Brito, da BBC News Brasil, e neste  vídeo falo sobre os motivos que levaram Luis Arce, Ich bin Adriano Brito von BBC News Brazil, und in diesem Video spreche ich über die Gründe, die Luis Arce dazu gebracht haben,

candidato de Morales, a ganhar a eleição  de forma contundente, já no primeiro turno, Morales' Kandidat, die Wahl überzeugend zu gewinnen, bereits in der ersten Runde,

algo que as pesquisas não previram. Ele levou 55,1% dos votos,

contra 28,8% do oposicionista Carlos Mesa. Bem, primeiro é importante lembrar que Evo

Morales governou o país por quase catorze  anos e era bastante popular, mas passou a

ser cada vez mais criticado pelas sucessivas  manobras jurídicas para se manter no poder.

Ele acabou tendo de deixar o cargo e  o país em meio a denúncias de fraude Aufgrund von Betrugsvorwürfen musste er schließlich sein Amt und das Land verlassen.

na eleição realizada no ano passado, que foram  questionadas no país e internacionalmente ao dar bei den Wahlen im vergangenen Jahr, die im Land und international in Frage gestellt wurden, indem sie

vitória a Morales ainda no primeiro turno. A OEA, Organização dos Estados Americanos,

levantou a possibilidade de fraude.  Organizações independentes, no entanto,

questionaram esses supostos indícios. Mas agora vamos ao presidente eleito.

Luis Arce tem 57 anos e foi ministro  da Fazenda e Economia de Evo Morales. Luis Arce ist 57 Jahre alt und war der Finanz- und Wirtschaftsminister von Evo Morales.

Ele ajudou o líder do movimento dos camponeses  a elaborar seu plano econômico de governo e,

para muitos, foi o cérebro do boom econômico  que a Bolívia viveu nos anos do MAS no poder.

E embora Evo Morales tenha deixado  a presidência pela porta dos fundos Und obwohl Evo Morales die Präsidentschaft durch die Hintertür verlassen hat

em 2019, ele deixou para trás um país que se  transformou radicalmente durante sua gestão.

E apesar das críticas a ele, acusado por muitos  de autoritário e de querer se eternizar no poder,

o êxito de sua gestão na economia só  era colocado em dúvida por poucos.

Para esses críticos, ele perdeu a oportunidade  de fazer o país crescer ainda mais. Für diese Kritiker hat er die Chance verpasst, das Land weiter wachsen zu lassen.

Mas bem, durante o mandato de Morales, a  Bolívia se transformou em um dos países Aber gut, während der Amtszeit von Morales ist Bolivien zu einem der Länder geworden, die

que mais cresciam na América Latina, se  aproveitando do chamado boom das commodities. die in Lateinamerika am schnellsten wuchs und vom so genannten Rohstoffboom profitierte.

Foram mais de cinco anos crescendo 5% anuais Além disso, milhões de bolivianos saíram da

pobreza graça aos planos econômicos  impulsionados pelo governo.

Como ministro, Arce supervisionou a  nacionalização das indústrias de minério, Als Minister beaufsichtigte Arce die Verstaatlichung der Bergbauindustrie,

gás e telecomunicações da Bolívia. Também promoveu medidas para incentivar Gas und Telekommunikation in Bolivien. Außerdem wurden Maßnahmen zur Förderung

o mercado interno e dar estabilidade  à moeda do país, o boliviano. den Binnenmarkt und die Stabilität der bolivianischen Währung zu gewährleisten.

Também ajudou a lançar o Banco del Sur, um fundo  de desenvolvimento regional para projetos de Außerdem half sie bei der Einrichtung des Banco del Sur, eines regionalen Entwicklungsfonds für

infraestrutura e desenvolvimento social. Essa experiência pode ter sido chave para

atrair os eleitores em um momento em que a Bolívia  enfrenta uma das piores crises de sua história.

Quando Evo Morales saiu do poder em 2019, deixou  um país profundamente dividido e polarizado.

De um lado, estavam aqueles que apoiavam sua  saída por causa das denúncias de fraude eleitoral,

e de outro, os que o defendiam e ainda o  consideravam como presidente legítimo do país.

E embora o apoio a Morales tenha  diminuído nos últimos anos de governo,

ele mantinha uma base eleitoral forte. Evo Morales chegou ao poder em 2006, konnte er eine starke Wählerbasis halten. Evo Morales kam im Jahr 2006 an die Macht,

fazendo história ao se transformar no  primeiro presidente indígena da Bolívia. Er schrieb Geschichte, indem er der erste indigene Präsident Boliviens wurde.

Isso foi, aliás, um feito paradoxal,  já que estamos falando de um país

onde 70% da população é indígena. Esse dado ajuda a mostrar a pouca

representação política que essa grande  parte da população, e também explica como

Morales e seu partido conseguiram montar  uma base eleitoral tão forte e sólida.

Essa mesma base defendeu o ex-presidente  nas ruas quando ele deixou o poder,

e foi duramente reprimida pelo governo  da presidente interina Jeanine Áñez.

E foi esse mesmo grupo de eleitores  que votou em peso no candidato do MAS, Und es war dieselbe Gruppe von Wählern, die mit großer Mehrheit für den MAS-Kandidaten gestimmt hat,

mostrando nas urnas ainda ser maioria no país. Outro elemento que pode ajudar a explicar o ||ballots||||||||||||| an den Wahlurnen immer noch die Mehrheit im Lande ist. Ein weiteres Element, das zur Erklärung der

sucesso do partido de Morales na eleição  é a impopularidade do governo interino. ||||||||||||interim

A saída de Evo Morales, em novembro de 2019,  deixou uma lacuna de poder que terminou com

a senadora oposicionista Jeanine Áñez, com uma  Bíblia nas mãos, assumindo o governo interino. die oppositionelle Senatorin Jeanine Áñez, die mit einer Bibel in der Hand die Übergangsregierung übernimmt.

Mas a gestão da presidente interina ficou  marcada pela pandemia de coronavírus, Doch die Amtszeit des Interimspräsidenten war geprägt von der Coronavirus-Pandemie,

alguns casos de corrupção e a pela agitação  política que ela teve de enfrentar. einige Korruptionsfälle und die politischen Turbulenzen, denen sie ausgesetzt war.

Áñez foi duramente criticada dentro e fora  da Bolívia pela maneira como reprimiu os Áñez wurde innerhalb und außerhalb Boliviens für die Art und Weise, in der sie den Widerstand der Bevölkerung unterdrückte, scharf kritisiert.

protestos a favor de Evo Morales  na época em que assumiu o poder.

Dezenas de manifestantes morreram  nas ruas em conflitos com o exército

comandado pela presidente interina. No início, a tarefa de Áñes era

convocar novas eleições, mas ela acabou se  colocando como candidata quando seus níveis zu Neuwahlen aufzurufen, aber sie stellte sich schließlich als Kandidatin zur Verfügung, als ihre

de popularidade atingiram o ponto mais alto. No fim, acabou se retirando da disputa ||reached|||||||||||

por causa da falta de apoio e para  formar uma frente única contra Arce,

e tentar evitar a volta do MAS ao poder. Mas a exemplo do que ocorreu com quase todos

os mandatários do mundo, a covid-19 foi um dos  desafios mais difíceis da presidente interina. Für die Regierenden der Welt war das Covid-19 eine der schwierigsten Herausforderungen für den Interimspräsidenten.

Áñez, que foi infectada com o vírus, tem sido  muito criticada por sua gestão da pandemia.

Em julho, imagens chocantes mostraram centenas  de cadáveres nas ruas de La Paz e Santa Cruz,

deixando evidente o drama enfrentado pelo país. A Bolívia é o terceiro país com mais mortes was das Drama des Landes deutlich macht. Bolivien ist das drittgrößte Land mit den meisten Todesopfern

por milhão de habitantes no mundo,  atrás apenas do Peru e da Bélgica.

E a esses números nada animadores se somaram às  denúncias de corrupção na gestão da pandemia. Zu diesen nicht sehr ermutigenden Zahlen kamen noch Korruptionsvorwürfe bei der Verwaltung der Pandemie hinzu.

Um dos casos mais polêmicos do então ministro da  Saúde Marcelo Navajas, que foi destituído e preso Einer der umstrittensten Fälle des damaligen Gesundheitsministers Marcelo Navajas, der abgesetzt und inhaftiert wurde

por causa do sobrepreço na compra de respiradores. Para completar, a longa quarentena foi um grande wegen der überhöhten Preise beim Kauf von Atemschutzgeräten. Zu allem Überfluss war die lange Quarantäne eine große

golpe na economia de um dos países com as  maiores taxas de informalidade do planeta. ein Schlag für die Wirtschaft eines der Länder mit der höchsten Informalität der Welt.

Ou seja, tudo isso deixou o governo de transição  em uma posição muito desfavorável, abrindo caminho Mit anderen Worten, all dies brachte die Übergangsregierung in eine sehr ungünstige Lage und ebnete den Weg

para o retorno do MAS na figura de Luis Arce. É importante frisar que será um retorno difícil: für die Rückkehr der MAS in der Person von Luis Arce. Es ist wichtig zu betonen, dass es eine schwierige Rückkehr sein wird:

o país está no meio de uma crise sanitária  e econômica sem precedentes e ainda vivendo das Land befindet sich inmitten einer beispiellosen Gesundheits- und Wirtschaftskrise und lebt immer noch

uma forte polarização política. Arce negou em entrevista à BBC eine starke politische Polarisierung. Arce bestritt in einem Interview mit der BBC

ser uma marionete de Evo Morales, e disse  que o governo será dele, e não do ex-chefe. eine Marionette von Evo Morales zu sein, und sagte, dass die Regierung seine sein wird und nicht die seines ehemaligen Chefs.

E que vai caber a Morales, hoje vivendo  na Argentina, decidir se volta à Bolívia. Und dass es Morales, der jetzt in Argentinien lebt, überlassen bleibt, ob er nach Bolivien zurückkehren will.

A gente da BBC News Brasil vai continuar  acompanhando a conturbada política boliviana.

Tem dúvidas? Deixa aqui nos comentários. Eu fico por aqui, tchau! Haben Sie Zweifel? Hinterlassen Sie sie hier in den Kommentaren. Ich bin hier fertig, tschüss!