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BBC Brasil 2020 (Áudio/Vídeo+CC), Coronavírus: por que sarampo, dengue e febre amarela merecem mais atenção

Coronavírus: por que sarampo, dengue e febre amarela merecem mais atenção

[Feb 4, 2020].

O surto do coronavírus que começou na China gerou um alerta de emergência global.

Mas você sabia que no Brasil você tem quatro vezes mais chances de contrair sarampo do que coronavírus?

E que a febre amarela mata mais do que essa nova doença?

E que o prognóstico é também mais perigoso se você contrair o tipo mais grave de dengue?

Eu sou Luís Barrucho da BBC News Brasil aqui em Londres e neste vídeo foi explicar por que o coronavírus não deve tirar o foco de doenças infecciosas, às vezes até mais letais, que circulam no Brasil.

Antes de mais nada, uma coisa precisa ficar clara: segundo os infectologistas com quem conversei, ninguém está minimizando a importância do coronavírus, afinal é uma doença nova da qual conhecemos pouco e contra a qual ainda não temos imunidade.

Esse é um dos motivos pelos quais ela se espalha com tanta facilidade.

Mas os especialistas com quem conversei destacam que esse ímpeto gerado pela emergência do coronavírus seria útil no combate a outras doenças infecciosas que fazem muitas vítimas do nosso país, e são doenças que poderiam ser evitadas com ações mais urgentes.

Doenças que talvez, por convivermos tanto com elas, acabamos não dando muita atenção e ficamos, digamos, desleixados com a prevenção.

Quer um exemplo? Dengue.

É provável que alguns de vocês que estejam assistindo agora já tenham contraído dengue.

Ela é transmitida pelo nosso velho conhecido, o mosquito aedes aegypti, que precisa de água parada para se proliferar.

Ele tem feito de áreas urbanas com grande concentração de lixo e pequenos pedaços de plástico um verdadeiro paraíso de reprodução.

No ano passado, por exemplo, segundo dados do Ministério da Saúde, foram notificados mais de um milhão e meio de casos prováveis de dengue no país, um aumento de 525% em relação a 2018.

Desse total, foram confirmados 1.419 casos de dengue grave e 18.740 casos de dengue com sinais de alarme, ou seja, que indica possibilidade de gravidade do quadro clínico e de evolução para febre hemorrágica da dengue ou síndrome do choque da dengue.

No ano passado, 718 pessoas morreram de dengue, ou seja a taxa de letalidade da versão mais grave da dengue foi de 3,8%.

A do coronavírus por enquanto é de 2%, de acordo com os dados mais recentes divulgados pela China, onde a imensa maioria das mortes ocorreu.

Um alerta: especialistas dizem que o estado de São Paulo pode enfrentar uma epidemia atrasada de dengue neste ano.

Os casos da doença, que estavam caindo em janeiro, em relação ao mesmo período de 2008, começaram a subir.

Já são quase 25 mil registros com uma morte.

Já a febre amarela, cujo último grande surto aconteceu na temporada 2017 - 2018, mata mais de três em cada dez pessoas infectadas.

O vírus também é transmitido pela picada dos mosquitos transmissores infectados e, assim como a dengue, não há transmissão direta de pessoa a pessoa.

Entre 1º de julho de 2017 a 30 de junho de 2018, foram confirmados 1.376 casos de febre amarela no país e 483 mortes, ou seja, uma altíssima letalidade de 35%.

Desde 2018, houve uma redução significativa do número de casos de febre amarela no Brasil.

Durante monitoramento 2019-2020, apenas uma pessoa morreu, no Pará, mas no início de janeiro o Ministério da Saúde fez um alerta à população especialmente do Sul e do Sudeste, que não eram áreas de risco para a doença para tomar a vacina, uma vez que o verão costuma ser um período de maior ocorrência de doenças transmitidas por mosquitos.

O governo também decidiu ampliar a cobertura da vacina contra a febre amarela, lembrando que em 2016 o vírus da febre amarela surgiu no extremo leste brasileiro causando maior surto da doença observado nas últimas décadas, envolvendo principalmente os estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.

Atualmente, o Brasil tem registros apenas de febre amarela silvestre, ou seja, transmitida por mosquitos que vivem no campo e nas florestas.

Os últimos casos de febre amarela urbana transmitida pelo aedes aegypti foram registrados em1942, no Acre.

Agora vamos falar de outra doença de que a gente escutou muito no ano passado: o sarampo.

Apesar de ser menos letal do que o coronavírus, o sarampo é muito mais contagioso: seu número reprodutivo varia de 12 a 18, dependendo da metodologia usada.

No jargão científico, isso significa para quantas pessoas uma pessoa infectada transmite o vírus.

No caso do coronavírus, esse número foi calculado entre 2,2 e 3,3, também muito contagioso, mas bem menor do que o do sarampo.

No Brasil, foram 16 mil casos de sarampo em 2019, cerca de 10 mil em 2018 e nenhum em 2016 e 2017.

Do total de infectados no ano passado, apenas 15 morreram, 14 em São Paulo e um em Pernambuco.

Especialistas acreditam que o surto de sarampo está ligado em grande parte à desinformação gerada pelo movimento anti-vacina — aliás, não podemos nos esquecer que em 2016 o Brasil havia sido declarado livre do sarampo pela OMS - Organização Mundial da Saúde.

Resumindo: temos sim que prestar atenção no coronavírus, mas não podemos nos esquecer das doenças que continuam circulando no Brasil e que podemos evitar com medidas simples, como vacinação e controle do (mosquito) vetor.

Ouça o que diz a infectologista Rosana Richtmann do Instituto de Infectologia Emílio Ribas em São Paulo.

[Rosana]: A pior coisa que pode acontecer agora são as pessoas se aproveitarem desta situação deste talvez um ponto frágil na ciência, porque é um vírus novo, então a gente tá entendendo e ele, rapidamente e felizmente, e colocar um monte de fake news que só atrapalha a população e desvia atenção de coisas muito mais importantes cientificamente comprovadas, como por exemplo a vacinação contra o sarampo.

É isso! Gostaram?

Assinem o nosso canal, acompanhem a gente nas redes sociais, Facebook, Twitter e Instagram, e, claro, leiam a reportagem completa no bbcbrasil.com.

Tchau!

Coronavírus: por que sarampo, dengue e febre amarela merecem mais atenção Coronavirus: Warum Masern, Dengue und Gelbfieber mehr Aufmerksamkeit verdienen Coronaviruses: why measles, dengue and yellow fever deserve more attention Coronavirus : pourquoi la rougeole, la dengue et la fièvre jaune méritent plus d'attention Coronavirus: perché morbillo, dengue e febbre gialla meritano maggiore attenzione Coronavirus: waarom mazelen, dengue en gele koorts meer aandacht verdienen Koronawirus: dlaczego odra, denga i żółta gorączka zasługują na większą uwagę? Coronaviruset: varför mässling, denguefeber och gula febern förtjänar mer uppmärksamhet

[Feb 4, 2020].

O surto do coronavírus que começou na China gerou um alerta de emergência global. Der Ausbruch des Coronavirus, der in China begann, hat einen globalen Notfallalarm ausgelöst.

Mas você sabia que no Brasil você tem quatro vezes mais chances de contrair sarampo do que coronavírus? Aber wussten Sie, dass Sie in Brasilien viermal häufiger an Masern erkranken als am Coronavirus?

E que a febre amarela mata mais do que essa nova doença? Und dieses Gelbfieber tötet mehr als diese neue Krankheit?

E que o prognóstico é também mais perigoso se você contrair o tipo mais grave de dengue? Und dass die Prognose auch gefährlicher ist, wenn man sich mit der schwersten Form von Dengue ansteckt?

Eu sou Luís Barrucho da BBC News Brasil aqui em Londres e neste vídeo foi explicar por que o coronavírus não deve tirar o foco de doenças infecciosas, às vezes até mais letais, que circulam no Brasil.

Antes de mais nada, uma coisa precisa ficar clara: segundo os infectologistas com quem conversei, ninguém está minimizando a importância do coronavírus, afinal é uma doença nova da qual conhecemos pouco e contra a qual ainda não temos imunidade.

Esse é um dos motivos pelos quais ela se espalha com tanta facilidade.

Mas os especialistas com quem conversei destacam que esse ímpeto gerado pela emergência do coronavírus seria útil no combate a outras doenças infecciosas que fazem muitas vítimas do nosso país, e são doenças que poderiam ser evitadas com ações mais urgentes.

Doenças que talvez, por convivermos tanto com elas, acabamos não dando muita atenção e ficamos, digamos, desleixados com a prevenção.

Quer um exemplo? Dengue.

É provável que alguns de vocês que estejam assistindo agora já tenham contraído dengue.

Ela é transmitida pelo nosso velho conhecido, o mosquito aedes aegypti, que precisa de água parada para se proliferar.

Ele tem feito de áreas urbanas com grande concentração de lixo e pequenos pedaços de plástico um verdadeiro paraíso de reprodução.

No ano passado, por exemplo, segundo dados do Ministério da Saúde, foram notificados mais de um milhão e meio de casos prováveis de dengue no país, um aumento de 525% em relação a 2018.

Desse total, foram confirmados 1.419 casos de dengue grave e 18.740 casos de dengue com sinais de alarme, ou seja, que indica possibilidade de gravidade do quadro clínico e de evolução para febre hemorrágica da dengue ou síndrome do choque da dengue.

No ano passado, 718 pessoas morreram de dengue, ou seja a taxa de letalidade da versão mais grave da dengue foi de 3,8%.

A do coronavírus por enquanto é de 2%, de acordo com os dados mais recentes divulgados pela China, onde a imensa maioria das mortes ocorreu.

Um alerta: especialistas dizem que o estado de São Paulo pode enfrentar uma epidemia atrasada de dengue neste ano.

Os casos da doença, que estavam caindo em janeiro, em relação ao mesmo período de 2008, começaram a subir.

Já são quase 25 mil registros com uma morte.

Já a febre amarela, cujo último grande surto aconteceu na temporada 2017 - 2018, mata mais de três em cada dez pessoas infectadas.

O vírus também é transmitido pela picada dos mosquitos transmissores infectados e, assim como a dengue, não há transmissão direta de pessoa a pessoa.

Entre 1º de julho de 2017 a 30 de junho de 2018, foram confirmados 1.376 casos de febre amarela no país e 483 mortes, ou seja, uma altíssima letalidade de 35%.

Desde 2018, houve uma redução significativa do número de casos de febre amarela no Brasil.

Durante monitoramento 2019-2020, apenas uma pessoa morreu, no Pará, mas no início de janeiro o Ministério da Saúde fez um alerta à população especialmente do Sul e do Sudeste, que não eram áreas de risco para a doença para tomar a vacina, uma vez que o verão costuma ser um período de maior ocorrência de doenças transmitidas por mosquitos.

O governo também decidiu ampliar a cobertura da vacina contra a febre amarela, lembrando que em 2016 o vírus da febre amarela surgiu no extremo leste brasileiro causando maior surto da doença observado nas últimas décadas, envolvendo principalmente os estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.

Atualmente, o Brasil tem registros apenas de febre amarela silvestre, ou seja, transmitida por mosquitos que vivem no campo e nas florestas.

Os últimos casos de febre amarela urbana transmitida pelo aedes aegypti foram registrados em1942, no Acre.

Agora vamos falar de outra doença de que a gente escutou muito no ano passado: o sarampo.

Apesar de ser menos letal do que o coronavírus, o sarampo é muito mais contagioso: seu número reprodutivo varia de 12 a 18, dependendo da metodologia usada.

No jargão científico, isso significa para quantas pessoas uma pessoa infectada transmite o vírus.

No caso do coronavírus, esse número foi calculado entre 2,2 e 3,3, também muito contagioso, mas bem menor do que o do sarampo.

No Brasil, foram 16 mil casos de sarampo em 2019, cerca de 10 mil em 2018 e nenhum em 2016 e 2017.

Do total de infectados no ano passado, apenas 15 morreram, 14 em São Paulo e um em Pernambuco.

Especialistas acreditam que o surto de sarampo está ligado em grande parte à desinformação gerada pelo movimento anti-vacina — aliás, não podemos nos esquecer que em 2016 o Brasil havia sido declarado livre do sarampo pela OMS - Organização Mundial da Saúde.

Resumindo: temos sim que prestar atenção no coronavírus, mas não podemos nos esquecer das doenças que continuam circulando no Brasil e que podemos evitar com medidas simples, como vacinação e controle do (mosquito) vetor.

Ouça o que diz a infectologista Rosana Richtmann do Instituto de Infectologia Emílio Ribas em São Paulo.

[Rosana]: A pior coisa que pode acontecer agora são as pessoas se aproveitarem desta situação deste talvez um ponto frágil na ciência, porque é um vírus novo, então a gente tá entendendo e ele, rapidamente e felizmente, e colocar um monte de fake news que só atrapalha a população e desvia atenção de coisas muito mais importantes cientificamente comprovadas, como por exemplo a vacinação contra o sarampo.

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