×

Nous utilisons des cookies pour rendre LingQ meilleur. En visitant le site vous acceptez nos Politique des cookies.


image

BBC Brasil 2020 (Áudio/Vídeo+CC), Por que grupo de cientistas diz que covid-19 é sindemia, e não pandemia

Por que grupo de cientistas diz que covid-19 é sindemia, e não pandemia

[Oct 15, 2020]

A covid-19 não é uma pandemia. Parece estranho dizer isso, né? Mas é o que defendem alguns cientistas. Segundo eles, não estamos diante de uma doença como o sarampo, o influenza ou a varíola. Eles dizem que estamos enfrentando uma sindemia, e não uma pandemia.

Mas o que é isso?

Eu sou a Laís Alegretti, da BBC News Brasil, e neste vídeo vou explicar não só o que é sindemia, mas também o que mudaria no tratamento e no combate à doença nessa perspectiva em que um mais um é mais do que dois.

Bem, já são mais de um milhão de vidas perdidas em menos de um ano.

Um saldo devastador alcançado desde o momento em que a Organização Mundial de Saúde, a OMS, declarou a pandemia em março.

Com o vírus se espalhando ao redor do mundo, a estratégia de combate tem sido uma: cortar as vias de transmissão oral, controlando assim a propagação do vírus.

Quarentenas, toques de recolher, suspensão de aulas e distanciamento social são algumas das medidas que países, em diferentes graus, têm implementado para combater essa doença infecciosa.

A ciência por trás dessas medidas é sustentada por modelos matemáticos e por uma perspectiva epidemiológica clássica.

A estratégia de impor quarentenas, por exemplo, tem séculos de antiguidade.

Mas para um grupo de cientistas, o tratamento dado a essa enfermidade tem de ir além.

Isso porque o coronavírus tem demonstrado ser mais complicado.

Por isso, eles escreveram na revista científica The Lancet, uma das mais prestigiadas publicações da área de medicina no mundo, que a crise da covid-19 não é uma pandemia, mas sim uma sindemia.

E que é preciso entender isso para combater de maneira efetiva o vírus.

E o que é uma sindemia?

Esse conceito combina duas palavras: Sinergia, que é um termo muito utilizado na medicina para descrever cooperação.

E claro, pandemia, que é quando uma enfermidade epidêmica se espalha para muitos países.

O termo sindemia foi cunhado nos anos 90 pelo antropólogo médico americano Merrill Singer.

E basicamente serve para explicar uma situação em que “duas ou mais enfermidades interagem de tal forma a causar um dano maior do que a mera soma dessas duas enfermidades” causariam.

Em entrevista à BBC, Singer afirmou que “o impacto dessa interação também é facilitado pelas condições sociais e ambientais que se somam a essas duas enfermidades ou fazem que a população seja mais vulnerável a seu impacto.

E é exatamente o que estamos vendo ocorrer com a covid-19.

Os dados disponíveis mostram que as pessoas com mais chances de ficar gravemente doentes ou morrer são também aquelas que já sofrem com outras enfermidades como câncer, diabetes, problemas cardíacos ou mesmo obesidade.

E também tem sido observado que a doença ataca desproporcionalmente as comunidades mais pobres, com menor renda e minorias étnicas.

São as mesmas populações, aliás, em que enfermidades como a diabetes e o sobrepeso, consideradas de risco, são mais frequentes.

Um exemplo: nos Estados Unidos, uma pessoa negra tem o dobro de chance de morrer por covid, segundo os Centros de Controle de Doenças, o CDC.

A mesma coisa acontece no Reino Unido, segundo o escritório de estatísticas nacionais, conhecido pela sigla ONS.

Ou mesmo no Peru, o país com mais mortes per capita do mundo, epidemiologistas descobriram que o impacto é maior nos distritos com rendas mais baixas, segundo o OjoPúblico, um respeitado veículo peruano especializado em investigações e dados.

Mas atenção: os especialistas reforçam que não se trata apenas da soma de duas enfermidades.

As sindemias se caracterizam por interações biológicas e sociais entre diferentes condições, e são essas interações que aumentam a vulnerabilidade de uma pessoa a uma determinada doença.

Mas o que esse conceito poderia mudar no tratamento que estamos dando ao coronavírus?

Bem, isso poderia mudar bastante a estratégia de combate ao vírus.

Para Richard Horton, editor da revista The Lancet, não se pode pensar em lutar contra o coronavírus, ou mesmo eliminá-lo, sem lutar diretamente contra essas enfermidades não contagiosas como a hipertensão, a obesidade, os problemas de coração ou o câncer.

E se não atuamos para conter esses problemas, também não podemos conter a covid-19.

Ele assegura que a covid-19 tem demonstrado que a luta contra essas enfermidades não deve estar apenas nos planos dos países ricos.

Para o um bilhão de pessoas mais pobres do mundo, essas enfermidades representam um terço dos adoecimentos.

Outros pesquisadores, como Tiff-Annie Kenny, da Universidade Laval, no Canadá, sustentam que fazer frente à covid-19 do ponto de vista de uma sindemia permitiria enfrentar não só essa doença infecciosa, mas também o contexto social em que ela se propaga e se torna mais grave.

E cada vez mais cientistas concordam nisso.

E dizem basicamente que precisamos eliminar essas estruturas que fazem os pobres terem mais dificuldades para acessar a saúde ou uma dieta adequadas.

Por isso, eles alertam que enquanto os governos não investirem em projetos e políticas públicas que ajudem a reverter essas desigualdades, as sociedades não estarão seguras em relação à covid-19.

E esse entendimento é importante, segundo os especialistas, não só para a covid.

Essa abordagem mira um problema que pode deixar muita gente vulnerável a doenças futuras, como as que escapam do mundo animal e passam para os humanos, que tendem a aumentar à medida que continuarmos a invadir o espaço das espécies selvagens, ou como resultado da mudança climática e do desmatamento.

E cientistas como Horton asseguram ainda que uma vacina ou um tratamento fracassariam se essas disparidades não forem resolvidas -- em outras palavras, se continuarmos enfrentando a covid-19 como uma pandemia, em vez de atacá-la como uma sindemia.

Espero que esse vídeo tenha sido útil pra você.

Conta aqui nos comentários o que você achou e não esquece de seguir a BBC News Brasil nas redes sociais.

Até a próxima!


Por que grupo de cientistas diz que covid-19 é sindemia, e não pandemia Why scientists say covid-19 is a syndemic, not a pandemic

[Oct 15, 2020]

A covid-19 não é uma pandemia. Parece estranho dizer isso, né? Mas é o que defendem alguns cientistas. Segundo eles, não estamos diante de uma doença como o sarampo, o influenza ou a varíola. Eles dizem que estamos enfrentando uma sindemia, e não uma pandemia.

Mas o que é isso?

Eu sou a Laís Alegretti, da BBC News Brasil, e neste vídeo vou explicar não só o que é sindemia, mas também o que mudaria no tratamento e no combate à doença nessa perspectiva em que um mais um é mais do que dois.

Bem, já são mais de um milhão de vidas perdidas em menos de um ano.

Um saldo devastador alcançado desde o momento em que a Organização Mundial de Saúde, a OMS, declarou a pandemia em março.

Com o vírus se espalhando ao redor do mundo, a estratégia de combate tem sido uma: cortar as vias de transmissão oral, controlando assim a propagação do vírus.

Quarentenas, toques de recolher, suspensão de aulas e distanciamento social são algumas das medidas que países, em diferentes graus, têm implementado para combater essa doença infecciosa.

A ciência por trás dessas medidas é sustentada por modelos matemáticos e por uma perspectiva epidemiológica clássica.

A estratégia de impor quarentenas, por exemplo, tem séculos de antiguidade.

Mas para um grupo de cientistas, o tratamento dado a essa enfermidade tem de ir além.

Isso porque o coronavírus tem demonstrado ser mais complicado.

Por isso, eles escreveram na revista científica The Lancet, uma das mais prestigiadas publicações da área de medicina no mundo, que a crise da covid-19 não é uma pandemia, mas sim uma sindemia.

E que é preciso entender isso para combater de maneira efetiva o vírus.

E o que é uma sindemia?

Esse conceito combina duas palavras: Sinergia, que é um termo muito utilizado na medicina para descrever cooperação.

E claro, pandemia, que é quando uma enfermidade epidêmica se espalha para muitos países.

O termo sindemia foi cunhado nos anos 90 pelo antropólogo médico americano Merrill Singer.

E basicamente serve para explicar uma situação em que “duas ou mais enfermidades interagem de tal forma a causar um dano maior do que a mera soma dessas duas enfermidades” causariam.

Em entrevista à BBC, Singer afirmou que “o impacto dessa interação também é facilitado pelas condições sociais e ambientais que se somam a essas duas enfermidades ou fazem que a população seja mais vulnerável a seu impacto.

E é exatamente o que estamos vendo ocorrer com a covid-19.

Os dados disponíveis mostram que as pessoas com mais chances de ficar gravemente doentes ou morrer são também aquelas que já sofrem com outras enfermidades como câncer, diabetes, problemas cardíacos ou mesmo obesidade.

E também tem sido observado que a doença ataca desproporcionalmente as comunidades mais pobres, com menor renda e minorias étnicas.

São as mesmas populações, aliás, em que enfermidades como a diabetes e o sobrepeso, consideradas de risco, são mais frequentes.

Um exemplo: nos Estados Unidos, uma pessoa negra tem o dobro de chance de morrer por covid, segundo os Centros de Controle de Doenças, o CDC.

A mesma coisa acontece no Reino Unido, segundo o escritório de estatísticas nacionais, conhecido pela sigla ONS.

Ou mesmo no Peru, o país com mais mortes per capita do mundo, epidemiologistas descobriram que o impacto é maior nos distritos com rendas mais baixas, segundo o OjoPúblico, um respeitado veículo peruano especializado em investigações e dados.

Mas atenção: os especialistas reforçam que não se trata apenas da soma de duas enfermidades.

As sindemias se caracterizam por interações biológicas e sociais entre diferentes condições, e são essas interações que aumentam a vulnerabilidade de uma pessoa a uma determinada doença.

Mas o que esse conceito poderia mudar no tratamento que estamos dando ao coronavírus?

Bem, isso poderia mudar bastante a estratégia de combate ao vírus.

Para Richard Horton, editor da revista The Lancet, não se pode pensar em lutar contra o coronavírus, ou mesmo eliminá-lo, sem lutar diretamente contra essas enfermidades não contagiosas como a hipertensão, a obesidade, os problemas de coração ou o câncer.

E se não atuamos para conter esses problemas, também não podemos conter a covid-19.

Ele assegura que a covid-19 tem demonstrado que a luta contra essas enfermidades não deve estar apenas nos planos dos países ricos.

Para o um bilhão de pessoas mais pobres do mundo, essas enfermidades representam um terço dos adoecimentos.

Outros pesquisadores, como Tiff-Annie Kenny, da Universidade Laval, no Canadá, sustentam que fazer frente à covid-19 do ponto de vista de uma sindemia permitiria enfrentar não só essa doença infecciosa, mas também o contexto social em que ela se propaga e se torna mais grave.

E cada vez mais cientistas concordam nisso.

E dizem basicamente que precisamos eliminar essas estruturas que fazem os pobres terem mais dificuldades para acessar a saúde ou uma dieta adequadas.

Por isso, eles alertam que enquanto os governos não investirem em projetos e políticas públicas que ajudem a reverter essas desigualdades, as sociedades não estarão seguras em relação à covid-19.

E esse entendimento é importante, segundo os especialistas, não só para a covid.

Essa abordagem mira um problema que pode deixar muita gente vulnerável a doenças futuras, como as que escapam do mundo animal e passam para os humanos, que tendem a aumentar à medida que continuarmos a invadir o espaço das espécies selvagens, ou como resultado da mudança climática e do desmatamento.

E cientistas como Horton asseguram ainda que uma vacina ou um tratamento fracassariam se essas disparidades não forem resolvidas -- em outras palavras, se continuarmos enfrentando a covid-19 como uma pandemia, em vez de atacá-la como uma sindemia.

Espero que esse vídeo tenha sido útil pra você.

Conta aqui nos comentários o que você achou e não esquece de seguir a BBC News Brasil nas redes sociais.

Até a próxima!