Saulo, Saulo.
Aconteceu alguma coisa, meu amor?
Vamos descobrir agora, né, Saulo Pereira Diniz?
-Correto? -Correto.
Minha linda, o que aconteceu?
Eu não estou conseguindo acompanhar o raciocínio.
-Quero saber o que é isso aqui. -Meu smartphone.
Então você confirma que esse Galaxy S20 é seu?
Confirmo, meu amor, o que aconteceu...?
Já sei, Regina.
Você está querendo usar ele? Eu empresto pra você um pouquinho.
Sua bateria descarregou.
Pode ficar, não vou reclamar. É isso?
Quem faz as perguntas aqui sou eu.
E eu só quero saber
o que está acontecendo com você nessa foto.
Ué, meu amor, sou eu cortando o bolo de aniversário
da minha avó na festa que a gente fez pra ela.
-Regina, você não se lembra? -Claro que eu lembro,
fui eu quem tirei a foto.
Mas se eu der um zoom aqui,
eu consigo ver a aliança na sua mão.
-Aliança que você me deu. -Será mesmo, Saulo?
Porque se eu der um zoom aqui agora,
eu consigo ler nitidamente a frase "Com todo amor,
para sempre juntos, Regina".
Mas é o texto de fora, que fica na parte de fora
da aliança, meu amor porque...
Porque não faz sentido nenhum gravar na parte de dentro,
já que ninguém vai ver. Eu sei disso.
Mas se eu der um zoom,
eu consigo ver um coraçãozinho no lugar do pingo do I.
-E? -E você sabe que eu odeio
uso de coração em letra. Jamais colocaria
a merda de um coraçãozinho no lugar do pingo do I,
-ainda mais no meu nome. -Regina,
o que você está querendo insinuar, meu amor?
Que eu perdi a nossa aliança, fui no joalheiro,
o cara errou, fez uma cagada e no lugar do pingo do I,
ele botou um coração. É isso que você está querendo,
parecer que aconteceu isso?
Isso é o que você quer que eu acredite,
mas não. Porque se eu pegar aqui
e der um zoom bem no coraçãozinho,
-Meu Deus, Regina. -Olha,
eu consigo ver que as moléculas das quais foi feito o anel,
na verdade, são de bronze.
Eu tinha que ter ficado com aquele smartphone
que não filmava porra nenhuma.
-O que tem o bronze, meu amor? -Não é um bronze qualquer.
É um bronze muito específico da região da Baixa Costa Rica,
onde vivia uma antiga civilização ameríndia e poligâmica.
E daí?
E daí, Saulo, que esse zoom é tão potente,
que eu consigo romper a barreira espaço-tempo
e ver que, numa outra vida, você foi Glautê Matoki.
Sabe quem foi Glautê Matoki?
Um ameríndio poligâmico e, se eu pegar aqui
e der outro zoom, dá pra ver nitidamente
o anel de côco que você deu pra uma tal de Iara.
E como eu sei disso, seu Glautê Matoki?
Porque está escrito: "Te amo, Iara"
e tem a merda de um coraçãozinho no lugar do pingo do I.
-Te peguei. -Calma.
Eu posso explicar tudo.
Ora, ora, ora.
Se não é o meu marido aqui novamente.
O que foi agora, Regina?
Nada.
Você reconhece aqui essa foto?
Esse GIF, esse vídeo?
Ué? É uma selfie tua em Single Take.
E olha só que curioso. Se você der um zoom aqui,
finalmente você vai conseguir ver...
Pelo amor de Deus, a origem do universo?
-É isso agora? -Não.
O reflexo do meu amante costa-riquenho no espelho.
-Agora a gente está quite. -Não, espera aí.
Regina, Regina.
