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BBC News 2021 (Brasil), 3 erros que levaram à falta de vacinas contra covid-19 no Brasil

3 erros que levaram à falta de vacinas contra covid-19 no Brasil

As imagens de idosos e profissionais de saúde se vacinando pelo Brasil trouxeram esperança

de dias melhores na luta contra a covid-19

Mas já vimos que essa jornada não vai ser nada simples: várias cidades, como Rio de

Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Cuiabá e Curitiba chegaram a suspender a vacinação,

por causa da falta de doses

E problemas de abastecimento devem se repetir ao longo do ano

Eu sou Nathalia Passarinho, repórter da BBC News Brasil, e hoje eu vou falar de três

erros que teriam levado à falta de vacinas, segundo especialistas com quem eu conversei

Vamos logo direto a eles

Segundo a epidemiologista Ethel Maciel e o fundador da Anvisa, Gonzalo Vecina Neto, o

primeiro e maior erro foi o governo federal foi não comprar vacinas antecipadamente,

ainda em 2020

No meio do ano passado, quando fabricantes anunciaram que estavam desenvolvendo vacinas,

vários países, como Chile, Colômbia e Reino Unido, negociaram a compra desses produtos

ainda na fase de testes

Era uma aposta

A pesquisa podia dar errado

Mas fechar o contrato antes significava garantir acesso às doses

Uma das estratégias para minimizar esse risco seria montar uma cesta variada de vacinas

Por exemplo, comprar doses da Oxford-AstraZeneca, CoronaVac, Pfizer e Moderna

Mas o Brasil não fez isso

E recusou um acordo proposto pela Pfizer que garantiria 70 milhões de vacinas em dezembro do ano passado

O governo brasileiro argumentou que as cláusulas eram abusivas

Em nota, o Ministério da Saúde citou como exemplo o fato de a Pfizer exigir que, em

caso de desavença com o governo brasileiro, as negociações de arbitragem teriam que

se pautar nas leis de Nova York, não nas do Brasil

Outro ponto mencionado pelo governo brasileiro foi a exigência da Pfizer de assinatura de

um termo de responsabilidade para isentar a fabricante de penalização civil por eventuais

efeitos colaterais graves da vacina

A Pfizer rebateu dizendo que esses mesmos termos foram aceitos por outros países que

compraram a vacina, entre eles Estados Unidos, Colômbia, Chile, Reino Unido, Japão, Equador

e a União Europeia

Enquanto isso, os institutos de pesquisa Fiocruz e Butantan tomaram a iniciativa de negociar

vacinas com a Oxford-AstraZeneca e a chinesa Sinovac

O governo federal aceitou a proposta da Fiocruz, mas em outubro do ano passado rejeitou uma

proposta do Butantan que previa a entrega de 45 milhões de doses da CoronaVac até

dezembro

E outras 15 milhões no primeiro trimestre de 2021

Houve uma distorção por parte do João Dória tocante ao que ele falou

Ele tem um protocolo de intenções. Já mandei cancelar se ele assinou

Já mandei cancelar, o presidente sou eu. Não abro mão da minha autoridade

Até porque estaria comprando uma vacina que ninguém está interessado por ela, a não ser nós

Depois, em janeiro, o presidente Jair Bolsonaro voltou atrás e firmou acordo para comprar

as vacinas do Butantan

O problema é que essa demora na negociação atrasou, também, o calendário de entrega

dos produtos

Isso porque a capacidade de produção do Butantan e da Fiocruz esbarra no ritmo de

importação de insumos da China

Na primeira fase de vacinação, foram entregues só 12 milhões de doses

O suficiente para imunizar seis milhões de pessoas, já que cada uma precisa de duas

doses

Isso é só 3% da população brasileira e nem chega a atender o grupo prioritário,

de idosos e profissionais de saúde

É um país que teria condições de ter uma oferta maior de vacina se nós tivéssemos

feito o que outros países fizeram, como, por exemplo, o Chile

O Chile hoje tem três doses de vacina por habitante, só que ele começou a comprar

vacina em setembro

Nós não começamos a comprar vacina cedo

Não fizemos nenhuma aposta

Aí, você pode estar se perguntando: por que o governo federal não compra agora doses de

outras fabricantes para complementar?

O problema é que, como o Brasil largou atrasado na negociação, grandes fabricantes, como

Pfizer e Moderna, já venderam para outros países a grande maioria dos seus lotes

Segundo Vecina Neto, restou para o Brasil apostar agora em vacinas que ainda despertam

desconfiança pela falta de transparência nos estudos ou que não concluíram a última

etapa de pesquisa, como a russa Sputnik V e a indiana Covaxin

A Sputnik V, especificamente, já foi alvo de críticas internacionais pela falta de

transparência no processo de fabricação do imunizante

Mesmo na Rússia o ritmo de vacinação começou lento, porque a população questionava a

eficácia da vacina

No início do mês, o instituto Gamaleya de Pesquisa da Rússia alcançou uma etapa importante

em comprovar a eficácia da vacina, ao publicar um estudo na revista científica Lancet

Essa pesquisa mostrava um percentual de 91% de proteção

Só que tanto essa vacina russa quanto a indiana Covaxin não divulgaram ainda os resultados

da fase 3 de testes, quando o imunizante é aplicado num grupo grande e heterogêneo de

voluntários, para verificar reações adversas, por exemplo

Agora chegamos no segundo erro, que poderia ter mitigado as consequências da escassez

de vacinas: a falta de uma definição sobre quem deveria receber a vacina primeiro, dentro

do grupo de prioridades

Ou seja, quem é a prioridade das prioridades

Quando as vacinas foram distribuídas para os municípios

Para os Estados e municípios, não tinha uma ordenação

de quem deveria receber a vacina primeiro, quem deveria receber a vacina depois

No cenário de escassez total, quem seria a prioridade da prioridade

O governo não fez isso

Abriu um espaço muito grande para que os estados e municípios fossem criando sua própria ordenação

Como não teve uma coordenação federal, cada município criou as próprias regras

E aí a gente viu distorções

Já que não havia uma definição sobre quem se enquadraria como profissional de saúde,

em algumas cidades, esteticistas, psicólogos e até instrutores de pilates foram vacinados

antes de idosos com mais de 80 anos

Diante dessa situação, o Supremo Tribunal Federal determinou, no dia oito de fevereiro,

que o governo federal divulgasse a ordem de preferência dentro do grupo prioritário

Mas a essa altura, as doses da primeira remessa já estavam acabando

Por fim, o terceiro erro: a falta de treinamento e orientação às equipes que administram

a vacina

Em alguns municípios, profissionais de saúde relataram desperdício de doses, especialmente

nas cidades que decidiram escalonar por idade

No Rio de Janeiro, foi amplamente noticiado que doses da Oxford-AstraZeneca foram jogadas

fora por causa do baixo comparecimento de idosos em algumas áreas da cidade

Uma vez aberto o frasco para colocar na seringa, o conteúdo da vacina de Oxford só tem validade

por seis horas

Como não havia orientação clara sobre o que fazer na ausência do grupo-alvo da vacinação,

as doses que sobravam nos frascos abertos foram perdendo a validade

Ou seja, além de termos pouca vacina, a falta de orientação aos profissionais levou a

uma redução ainda maior do estoque

Segundo a epidemiologista Ethel Maciel, seria o caso de orientar que, em situações assim, é

melhor administrar a vacina em quem estiver por lá, por exemplo, no acompanhante do idoso,

a desperdiçar as doses

Segundo o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, que já foi Secretário Nacional de

Vigilância Sanitária, se a gente tivesse vacina e um planejamento prévio mínimo,

o SUS teria condições de imunizar até 60 milhões de pessoas por mês

Considerando que existem cerca de 160 milhões de brasileiros com mais de 18 anos, seria

possível imunizar essa população toda até meados de julho

Só falta a vacina

Mas as coisas podem melhorar a partir do final de março, se for cumprido o cronograma de

entrega de cerca de 30 milhões de doses por mês de CoronaVac e da Oxford-AstraZeneca

E enquanto isso, o governo federal tenta negociar mais doses de outras fabricantes

Vamos ver como o país se organiza para garantir a distribuição quando essas vacinas chegarem

É isso por hoje

Se você tiver alguma dúvida ou comentário

escreva aqui em baixo

Até a próxima!

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3 erros que levaram à falta de vacinas contra covid-19 no Brasil 3 Fehler, die zum Mangel an Covid-19-Impfstoffen in Brasilien führten 3 mistakes that led to the lack of covid-19 vaccines in Brazil ブラジルでコビッド19ワクチン不足を招いた3つの過ち Brezilya'da covid-19 aşılarının eksikliğine yol açan 3 hata

As imagens de idosos e profissionais de saúde se vacinando pelo Brasil trouxeram esperança

de dias melhores na luta contra a covid-19

Mas já vimos que essa jornada não vai ser nada simples: várias cidades, como Rio de

Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Cuiabá e Curitiba chegaram a suspender a vacinação,

por causa da falta de doses

E problemas de abastecimento devem se repetir ao longo do ano

Eu sou Nathalia Passarinho, repórter da BBC News Brasil, e hoje eu vou falar de três

erros que teriam levado à falta de vacinas, segundo especialistas com quem eu conversei

Vamos logo direto a eles

Segundo a epidemiologista Ethel Maciel e o fundador da Anvisa, Gonzalo Vecina Neto, o

primeiro e maior erro foi o governo federal foi não comprar vacinas antecipadamente,

ainda em 2020

No meio do ano passado, quando fabricantes anunciaram que estavam desenvolvendo vacinas,

vários países, como Chile, Colômbia e Reino Unido, negociaram a compra desses produtos

ainda na fase de testes

Era uma aposta

A pesquisa podia dar errado

Mas fechar o contrato antes significava garantir acesso às doses

Uma das estratégias para minimizar esse risco seria montar uma cesta variada de vacinas

Por exemplo, comprar doses da Oxford-AstraZeneca, CoronaVac, Pfizer e Moderna

Mas o Brasil não fez isso

E recusou um acordo proposto pela Pfizer que garantiria 70 milhões de vacinas em dezembro do ano passado

O governo brasileiro argumentou que as cláusulas eram abusivas

Em nota, o Ministério da Saúde citou como exemplo o fato de a Pfizer exigir que, em

caso de desavença com o governo brasileiro, as negociações de arbitragem teriam que

se pautar nas leis de Nova York, não nas do Brasil

Outro ponto mencionado pelo governo brasileiro foi a exigência da Pfizer de assinatura de

um termo de responsabilidade para isentar a fabricante de penalização civil por eventuais

efeitos colaterais graves da vacina

A Pfizer rebateu dizendo que esses mesmos termos foram aceitos por outros países que

compraram a vacina, entre eles Estados Unidos, Colômbia, Chile, Reino Unido, Japão, Equador

e a União Europeia

Enquanto isso, os institutos de pesquisa Fiocruz e Butantan tomaram a iniciativa de negociar

vacinas com a Oxford-AstraZeneca e a chinesa Sinovac

O governo federal aceitou a proposta da Fiocruz, mas em outubro do ano passado rejeitou uma

proposta do Butantan que previa a entrega de 45 milhões de doses da CoronaVac até

dezembro

E outras 15 milhões no primeiro trimestre de 2021

Houve uma distorção por parte do João Dória tocante ao que ele falou

Ele tem um protocolo de intenções. Já mandei cancelar se ele assinou

Já mandei cancelar, o presidente sou eu. Não abro mão da minha autoridade

Até porque estaria comprando uma vacina que ninguém está interessado por ela, a não ser nós

Depois, em janeiro, o presidente Jair Bolsonaro voltou atrás e firmou acordo para comprar

as vacinas do Butantan

O problema é que essa demora na negociação atrasou, também, o calendário de entrega

dos produtos

Isso porque a capacidade de produção do Butantan e da Fiocruz esbarra no ritmo de |||||||||||choca||| Esto se debe a que la capacidad de producción de Butantan y Fiocruz choca con el ritmo de

importação de insumos da China ||insumos||

Na primeira fase de vacinação, foram entregues só 12 milhões de doses

O suficiente para imunizar seis milhões de pessoas, já que cada uma precisa de duas

doses

Isso é só 3% da população brasileira e nem chega a atender o grupo prioritário,

de idosos e profissionais de saúde

É um país que teria condições de ter uma oferta maior de vacina se nós tivéssemos

feito o que outros países fizeram, como, por exemplo, o Chile

O Chile hoje tem três doses de vacina por habitante, só que ele começou a comprar

vacina em setembro

Nós não começamos a comprar vacina cedo

Não fizemos nenhuma aposta

Aí, você pode estar se perguntando: por que o governo federal não compra agora doses de

outras fabricantes para complementar?

O problema é que, como o Brasil largou atrasado na negociação, grandes fabricantes, como

Pfizer e Moderna, já venderam para outros países a grande maioria dos seus lotes

Segundo Vecina Neto, restou para o Brasil apostar agora em vacinas que ainda despertam

desconfiança pela falta de transparência nos estudos ou que não concluíram a última

etapa de pesquisa, como a russa Sputnik V e a indiana Covaxin

A Sputnik V, especificamente, já foi alvo de críticas internacionais pela falta de

transparência no processo de fabricação do imunizante

Mesmo na Rússia o ritmo de vacinação começou lento, porque a população questionava a

eficácia da vacina

No início do mês, o instituto Gamaleya de Pesquisa da Rússia alcançou uma etapa importante

em comprovar a eficácia da vacina, ao publicar um estudo na revista científica Lancet

Essa pesquisa mostrava um percentual de 91% de proteção

Só que tanto essa vacina russa quanto a indiana Covaxin não divulgaram ainda os resultados

da fase 3 de testes, quando o imunizante é aplicado num grupo grande e heterogêneo de

voluntários, para verificar reações adversas, por exemplo

Agora chegamos no segundo erro, que poderia ter mitigado as consequências da escassez

de vacinas: a falta de uma definição sobre quem deveria receber a vacina primeiro, dentro

do grupo de prioridades

Ou seja, quem é a prioridade das prioridades

Quando as vacinas foram distribuídas para os municípios

Para os Estados e municípios, não tinha uma ordenação

de quem deveria receber a vacina primeiro, quem deveria receber a vacina depois

No cenário de escassez total, quem seria a prioridade da prioridade

O governo não fez isso

Abriu um espaço muito grande para que os estados e municípios fossem criando sua própria ordenação

Como não teve uma coordenação federal, cada município criou as próprias regras

E aí a gente viu distorções

Já que não havia uma definição sobre quem se enquadraria como profissional de saúde,

em algumas cidades, esteticistas, psicólogos e até instrutores de pilates foram vacinados

antes de idosos com mais de 80 anos

Diante dessa situação, o Supremo Tribunal Federal determinou, no dia oito de fevereiro,

que o governo federal divulgasse a ordem de preferência dentro do grupo prioritário

Mas a essa altura, as doses da primeira remessa já estavam acabando

Por fim, o terceiro erro: a falta de treinamento e orientação às equipes que administram

a vacina

Em alguns municípios, profissionais de saúde relataram desperdício de doses, especialmente

nas cidades que decidiram escalonar por idade

No Rio de Janeiro, foi amplamente noticiado que doses da Oxford-AstraZeneca foram jogadas

fora por causa do baixo comparecimento de idosos em algumas áreas da cidade

Uma vez aberto o frasco para colocar na seringa, o conteúdo da vacina de Oxford só tem validade

por seis horas

Como não havia orientação clara sobre o que fazer na ausência do grupo-alvo da vacinação,

as doses que sobravam nos frascos abertos foram perdendo a validade

Ou seja, além de termos pouca vacina, a falta de orientação aos profissionais levou a

uma redução ainda maior do estoque

Segundo a epidemiologista Ethel Maciel, seria o caso de orientar que, em situações assim, é

melhor administrar a vacina em quem estiver por lá, por exemplo, no acompanhante do idoso,

a desperdiçar as doses

Segundo o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, que já foi Secretário Nacional de

Vigilância Sanitária, se a gente tivesse vacina e um planejamento prévio mínimo,

o SUS teria condições de imunizar até 60 milhões de pessoas por mês

Considerando que existem cerca de 160 milhões de brasileiros com mais de 18 anos, seria

possível imunizar essa população toda até meados de julho

Só falta a vacina

Mas as coisas podem melhorar a partir do final de março, se for cumprido o cronograma de

entrega de cerca de 30 milhões de doses por mês de CoronaVac e da Oxford-AstraZeneca

E enquanto isso, o governo federal tenta negociar mais doses de outras fabricantes

Vamos ver como o país se organiza para garantir a distribuição quando essas vacinas chegarem

É isso por hoje

Se você tiver alguma dúvida ou comentário

escreva aqui em baixo

Até a próxima!