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BBC News 2021 (Brasil), Por que vacinação sem lockdown pode tornar Brasil 'fábrica' de variantes perigosas

Por que vacinação sem lockdown pode tornar Brasil 'fábrica' de variantes perigosas

O cenário atual no Brasil, que combina o início da vacinação com uma transmissão

descontrolada da covid-19 e, em particular, da variante de Manaus, pode transformar o país

numa "fábrica" de variantes superpotentes, capazes de driblar a proteção das vacinas

Quem diz isso são cientistas britânicos que trabalham em

algumas das principais pesquisas sobre mutações do coronavírus

Eu sou Nathalia Passarinho, repórter da BBC News Brasil em Londres,

e neste vídeo vou explicar o porquê disso, segundo pesquisadores da

universidade Imperial College London e da Universidade de Leicester, do Reino Unido

E, é claro, mostrar porque o isolamento social é essencial na

fase de vacinação para evitar que isso ocorra. Segundo os pesquisadores com que eu conversei,

é o contato em larga escala entre recém-vacinados e variantes que pode

propiciar o aparecimento de mutações resistentes,

capazes escapar da ação das vacinas. E, no Brasil, existe uma combinação

explosiva para que isso ocorra: vacinação ainda em ritmo lento, variante com a mutação E484k,

que dribla anticorpos, e altas taxas de infecção. O maior risco, no Brasil, segundo o virologista

Julian Tang, está em permitir que pessoas recém-vacinadas se infectem

pela variante de Manaus, apelidada de P1. Para entender esse processo, a gente precisa

falar do risco apresentado por essa variante. Bom, a gente sabe que as mutações fazem parte

do processo natural de evolução do vírus, que vai mudando conforme vai se espalhando

Funciona assim:

o vírus invade uma célula e, dentro dela, se multiplica,

invadindo outras células e aí por diante

Como esse processo acontece inúmeras vezes,

em algumas delas as cópias não saem exatamente iguais ao vírus anterior

Essas são as mutações

Geralmente, isso não significa que o vírus vai necessariamente ficar mais perigoso

Em muitas vezes, acontece justamente o contrário

Mas esse infelizmente não é o caso da variante de Manaus

Ela traz duas mutações, a N501Y e E484K,

que tornam o vírus mais "eficiente" na hora de invadir as células

Ele se espalha mais rapidamente do que a versão

anterior do coronavírus e reinfecta mais facilmente quem já teve covid

Isso acontece porque essas mutações estão num lugar estratégico no vírus: a spike,

que é a proteína que ele usa para entrar nas células humanas para se reproduzir

A mutação que mais preocupa é a E484K, que dribla a ação dos chamados anticorpos neutralizantes,

que se estabelecem entre o spike e a célula para impedir a entrada do vírus

O vírus, vamos colocar entre aspas, original, tem uma chance muito pequena de conseguir se

fixar em grandes quantidades nas células de uma pessoa vacinada

Isso porque as vacinas foram produzidas exatamente para impedir que ele consiga fazer isso

Estudos preliminares apontam que algumas vacinas são capazes de

reduzir casos graves de infecção por variante com a mutação E484K,

mas não impediriam com a mesma eficácia o contágio e quadros leves de covid

É aí que entra a perigosa combinação entre a circulação da variante P.1

e a infecção de pessoas recém-vacinadas

O virologista Julian Tang, da Universidade de Leicester, me explicou que, ao entrar na célula

humana de uma pessoa recém-vacinada e se deparar com poucos anticorpos,

a variante de Manaus pode promover mutações mais resistentes a esses anticorpos quando se replicar

E sem as medidas de isolamento, essas pessoas vacinadas podem transmitir esse vírus ainda

mais potente, resistente aos anticorpos criados pelas vacinas, para outras ainda não vacinadas

O professor de Saúde Global Peter Baker afirma que esse contato em larga escala

de variantes do coronavírus com pessoas vacinadas

na verdade gera uma espécie de "pressão" biológica, foi essa palavra que ele usou,

para que essas variantes se modifiquem mais e eventualmente escapem dos anticorpos

E o problema é que o Brasil vive justamente essa perigosa

confluência entre vacinação em estágio precoce e pico de casos de covid-19

O país recentemente superou os Estados Unidos no recorde de infecções em 24 horas

E a gente está vendo até mais mortes que no pico da epidemia, no ano passado

Por isso, em vários municípios governadores decretaram lockdown ou medidas de distanciamento social

Mas o presidente Jair Bolsonaro continua se mostrando totalmente contrário à ideia

No que depender de mim, nunca teríamos lockdown. Nunca. Uma política que não deu certo em lugar nenhum no mundo

Estados Unidos, vários Estados anunciaram que não têm mais

Mas os dados revelam o contrário da fala do presidente

Aqui no Reino Unido, o lockdown em vigor em todo o país desde o

início de janeiro reduziu em dois terços as infecções por covid-19

Em Londres a diminuição foi de 80%, segundo pesquisa da Imperial College London

Um estudo liderado pelo cientista Charlie Whittaker mostrou que a

variante de Manaus é entre 1,4 e 2,2 vezes mais transmissível que o vírus

original e pode reinfectar entre 25% e 61% das pessoas que já tiveram covid

A P1 já circula em pelo menos 10 Estados,

e já é responsável por quase todas as infecções atuais em Manaus

Além de já estar se espalhando pelo território brasileiro, a variante de

Manaus já foi detectada em 25 países, apesar de vários deles terem cancelado voos para

o Brasil e imposto quarentenas e testes de covid-19 a quem desembarcar vindo do país

Isso revela que o descontrole da doença num país coloca em risco o resto do mundo

Os pesquisadores com quem eu conversei afirmam que a vacinação em massa, combinada com medidas de restrição de

contato social, como lockdowns, uso de máscaras e fechamento de comércio são importantes para

conter altas taxas de infecções e impedir novas mutações, enquanto a imunização avança

É isso. Deixa aqui nos comentários suas dúvidas e sugestões

Tchau, até a próxima!


Por que vacinação sem lockdown pode tornar Brasil 'fábrica' de variantes perigosas Warum Impfungen ohne Abriegelung Brasilien zu einer "Fabrik" für gefährliche Varianten machen könnten Why vaccination without lockdown could turn Brazil into a 'factory' of dangerous variants

O cenário atual no Brasil, que combina o  início da vacinação com uma transmissão

descontrolada da covid-19 e, em particular,  da variante de Manaus, pode transformar o país

numa "fábrica" de variantes superpotentes,  capazes de driblar a proteção das vacinas

Quem diz isso são cientistas  britânicos que trabalham em

algumas das principais pesquisas  sobre mutações do coronavírus

Eu sou Nathalia Passarinho, repórter  da BBC News Brasil em Londres,

e neste vídeo vou explicar o porquê  disso, segundo pesquisadores da

universidade Imperial College London e da  Universidade de Leicester, do Reino Unido

E, é claro, mostrar porque o  isolamento social é essencial na

fase de vacinação para evitar que isso ocorra. Segundo os pesquisadores com que eu conversei,

é o contato em larga escala entre  recém-vacinados e variantes que pode

propiciar o aparecimento de mutações resistentes,

capazes escapar da ação das vacinas. E, no Brasil, existe uma combinação

explosiva para que isso ocorra: vacinação ainda  em ritmo lento, variante com a mutação E484k,

que dribla anticorpos, e altas taxas de infecção. O maior risco, no Brasil, segundo o virologista

Julian Tang, está em permitir que  pessoas recém-vacinadas se infectem

pela variante de Manaus, apelidada de P1. Para entender esse processo, a gente precisa

falar do risco apresentado por essa variante. Bom, a gente sabe que as mutações fazem parte

do processo natural de evolução do vírus,  que vai mudando conforme vai se espalhando

Funciona assim:

o vírus invade uma célula e,  dentro dela, se multiplica,

invadindo outras células e aí por diante

Como esse processo acontece inúmeras vezes,

em algumas delas as cópias não saem  exatamente iguais ao vírus anterior

Essas são as mutações

Geralmente, isso não significa que o vírus  vai necessariamente ficar mais perigoso

Em muitas vezes, acontece justamente o contrário

Mas esse infelizmente não é  o caso da variante de Manaus

Ela traz duas mutações, a N501Y e E484K,

que tornam o vírus mais "eficiente"  na hora de invadir as células

Ele se espalha mais rapidamente do que a versão

anterior do coronavírus e reinfecta  mais facilmente quem já teve covid

Isso acontece porque essas mutações estão  num lugar estratégico no vírus: a spike,

que é a proteína que ele usa para entrar  nas células humanas para se reproduzir

A mutação que mais preocupa é a E484K, que dribla  a ação dos chamados anticorpos neutralizantes,

que se estabelecem entre o spike e a  célula para impedir a entrada do vírus

O vírus, vamos colocar entre aspas, original,  tem uma chance muito pequena de conseguir se

fixar em grandes quantidades nas  células de uma pessoa vacinada

Isso porque as vacinas foram produzidas exatamente  para impedir que ele consiga fazer isso

Estudos preliminares apontam que  algumas vacinas são capazes de

reduzir casos graves de infecção  por variante com a mutação E484K,

mas não impediriam com a mesma eficácia  o contágio e quadros leves de covid

É aí que entra a perigosa combinação  entre a circulação da variante P.1

e a infecção de pessoas recém-vacinadas

O virologista Julian Tang, da Universidade de  Leicester, me explicou que, ao entrar na célula

humana de uma pessoa recém-vacinada  e se deparar com poucos anticorpos,

a variante de Manaus pode promover mutações mais  resistentes a esses anticorpos quando se replicar

E sem as medidas de isolamento, essas pessoas  vacinadas podem transmitir esse vírus ainda

mais potente, resistente aos anticorpos criados  pelas vacinas, para outras ainda não vacinadas

O professor de Saúde Global Peter Baker  afirma que esse contato em larga escala

de variantes do coronavírus com pessoas vacinadas

na verdade gera uma espécie de "pressão"  biológica, foi essa palavra que ele usou,

para que essas variantes se modifiquem mais  e eventualmente escapem dos anticorpos

E o problema é que o Brasil  vive justamente essa perigosa

confluência entre vacinação em estágio  precoce e pico de casos de covid-19

O país recentemente superou os Estados  Unidos no recorde de infecções em 24 horas

E a gente está vendo até mais mortes que no pico da epidemia, no ano passado

Por isso, em vários municípios governadores decretaram lockdown ou medidas de distanciamento social

Mas o presidente Jair Bolsonaro continua  se mostrando totalmente contrário à ideia

No que depender de mim, nunca teríamos lockdown. Nunca. Uma política que não deu certo em lugar nenhum no mundo

Estados Unidos, vários Estados anunciaram que não têm mais

Mas os dados revelam o  contrário da fala do presidente

Aqui no Reino Unido, o lockdown em  vigor em todo o país desde o

início de janeiro reduziu em dois  terços as infecções por covid-19

Em Londres a diminuição foi de 80%, segundo  pesquisa da Imperial College London

Um estudo liderado pelo cientista  Charlie Whittaker mostrou que a

variante de Manaus é entre 1,4 e 2,2  vezes mais transmissível que o vírus

original e pode reinfectar entre 25% e  61% das pessoas que já tiveram covid

A P1 já circula em pelo menos 10 Estados,

e já é responsável por quase todas  as infecções atuais em Manaus

Além de já estar se espalhando pelo  território brasileiro, a variante de

Manaus já foi detectada em 25 países, apesar  de vários deles terem cancelado voos para

o Brasil e imposto quarentenas e testes de  covid-19 a quem desembarcar vindo do país

Isso revela que o descontrole da doença  num país coloca em risco o resto do mundo

Os pesquisadores com quem eu conversei afirmam que a vacinação em massa, combinada com medidas de restrição de

contato social, como lockdowns, uso de máscaras  e fechamento de comércio são importantes para

conter altas taxas de infecções e impedir  novas mutações, enquanto a imunização avança

É isso. Deixa aqui nos comentários  suas dúvidas e sugestões

Tchau, até a próxima!