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Embrulha Pra Viagem, FADIGA

FADIGA

Então, Zé Lucas.

É a quinta reclamação que eu recebo do senhor

em menos de um mês, né?

Tento segurar sua barra, sei que você é funcionário antigo,

e nós temos uma ótima relação, o senhor é excelente, mas...

Desculpa, Seu Flávio.

Se quiser, pode ver quanto foi o prejuízo aí

e descontar do meu ordenado, viu?

A gente vai acionar o seguro, não vai sair nada do seu bolso.

Mas, Seu Zé Lucas, dormir no volante da empilhadeira,

e entrar com ela com tudo no refeitório

em pleno horário de almoço é um pouco demais, né?

O senhor vai me dizer aqui o que está acontecendo.

É o Wesley, meu filho. Ele tá acordando de duas em duas horas.

Mas o Wesley não tá com seis anos?

Não, esse aí é o Wilson.

O Wilson é o que brincava com o meu filho?

Não, esse é o Wallace, tá com doze.

Wallace. Então o Wesley tá com um ano e?

Um ano e acorda de duas em duas horas.

Então tá explicado. Essa é uma época dificílima.

Um transtorno na vida do casal.

Eu me lembro quando o Enzo era pequenininho,

troca de babá, vinha outra, ele estranhava, chorava muito também.

E o saco quando vinha aquela folguista

pra entrar no lugar da babá noturna?

Meu Deus no céu! A criança chorando a noite toda.

Eu lembro que botei até uma porta antirruído no meu quarto.

-Ai, que bênção! -Espera aí.

Solução pra você que a empresa vai dar.

Vamos dar uma porta antirruído pro Walter!

É o Wesley.

Pro Wesley, é isso. Vamos dar uma porta antirruído.

Na verdade não vai resolver muito, não,

porque ele dorme com a gente, né?

Aí não dá, né?

Aí perde completamente a privacidade do casal.

Não tem condição.

Pra você ter ideia, na minha casa,

quando o Enzo nasceu,

eu dormia num quarto, minha esposa no outro,

e o Enzo no outro!

Então sua prioridade agora é colocar o Wesley em outro quarto.

Depois disso,

a empresa vai lhe dar uma porta antirruído.

É, mas é que a casa só tem um quarto mesmo.

Isso não é desculpa pra privacidade do casal.

O senhor pode dormir na sala.

É que na sala a gente já deixa os outros meninos.

Gente?!

Mas a babá deve ficar louca! Nem quarto a coitada tem.

Não tem babá lá em casa não.

Meu Deus. Deve sobrar tudo pra faxineira então.

Pelo menos a faxineira é boa?

Pessoal não costuma reclamar muito da Dalva, não.

Espera aí, a Dalva não é sua esposa?

Isso, ela é faxineira.

Entendi a brincadeirinha.

A Dalva é a faxineira da sua casa.

Não, a Dalva é faxineira na casa dos outros, mesmo.

Lá em casa sou eu e os meninos que limpa tudo, mesmo

Nossa, meu amigo.

Mas vocês precisam se cuidar, eu digo assim, como casal,

você e a Dalva. Viajar juntos, fazer alguma coisa.

Eu lembro que teve uma época que eu e a Natália

a gente tava uma pilha de nervos.

Nossa, um não podia olhar pra cara do outro.

Peguei um cruzeiro com ela, e rapaz, foda-se.

Foram menos de dez dias, claro. Mas foi o suficiente.

Por que vocês não fazem isso?

O caso é que nós tem que bater o cartão na segunda, né?

É, isso é.

Mas não é desculpa pra perder o espaço do casal.

Tem que ficar atento.

Porque, olha, quando entra um bebê, a gente transa menos.

Eu fiquei uns três, quatro meses sem transar.

É difícil, rapaz.

Você deve estar transando com menos frequência também, né?

-É, nós estamos. -Tá vendo, olha aí.

Você tá a quanto tempo sem transar?

Faz umas quinze horas.

Antes era de oito em oito horas.

Era sagrado, né?

Então.

Frequência caiu, você não manteve essa constância.

É metade, né?

-Olha aí. -A Dalva, ela reclama muito.

Acho que é porque ela tá de oito meses,

tá muito buchuda assim.

Aí tem que ficar mudando de posição.

Aí depois a gente se entende, né?

Vamos fazer o seguinte?

Segunda feira você não precisa vir trabalhar.

Eu vou levar você e a Dalva pra uma terapia de casal.

O senhor acha que a gente precisa disso aí?

Não, quem tá precisando é a minha terapeuta.

Eu queria que vocês dessem esse relato sobre vida de vocês

pra aquela filha da puta, pra ela...

Depois eu vejo isso aí, eu tenho que ir embora agora

que tá na hora de eu ficar com o Enzo, hoje é meu dia.

Vocês não vivem mais juntos, Seu Flávio?

Depois que o Enzo nasceu,

aquela confusão toda, casal, que eu te falei.

Eu precisava do meu espaço, sabe?

Sabe aquela sensação que a casa ficou pequena?

Não.

Não sei, não.

Faz umas quinze horas.

Antes era de oito em oito horas, aí era sagrado.

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FADIGA

Então, Zé Lucas.

É a quinta reclamação que eu recebo do senhor

em menos de um mês, né?

Tento segurar sua barra, sei que você é funcionário antigo,

e nós temos uma ótima relação, o senhor é excelente, mas...

Desculpa, Seu Flávio.

Se quiser, pode ver quanto foi o prejuízo aí

e descontar do meu ordenado, viu?

A gente vai acionar o seguro, não vai sair nada do seu bolso.

Mas, Seu Zé Lucas, dormir no volante da empilhadeira,

e entrar com ela com tudo no refeitório

em pleno horário de almoço é um pouco demais, né?

O senhor vai me dizer aqui o que está acontecendo.

É o Wesley, meu filho. Ele tá acordando de duas em duas horas.

Mas o Wesley não tá com seis anos?

Não, esse aí é o Wilson.

O Wilson é o que brincava com o meu filho?

Não, esse é o Wallace, tá com doze.

Wallace. Então o Wesley tá com um ano e?

Um ano e acorda de duas em duas horas.

Então tá explicado. Essa é uma época dificílima.

Um transtorno na vida do casal.

Eu me lembro quando o Enzo era pequenininho,

troca de babá, vinha outra, ele estranhava, chorava muito também.

E o saco quando vinha aquela folguista

pra entrar no lugar da babá noturna?

Meu Deus no céu! A criança chorando a noite toda.

Eu lembro que botei até uma porta antirruído no meu quarto.

-Ai, que bênção! -Espera aí.

Solução pra você que a empresa vai dar.

Vamos dar uma porta antirruído pro Walter!

É o Wesley.

Pro Wesley, é isso. Vamos dar uma porta antirruído.

Na verdade não vai resolver muito, não,

porque ele dorme com a gente, né?

Aí não dá, né?

Aí perde completamente a privacidade do casal.

Não tem condição.

Pra você ter ideia, na minha casa,

quando o Enzo nasceu,

eu dormia num quarto, minha esposa no outro,

e o Enzo no outro!

Então sua prioridade agora é colocar o Wesley em outro quarto.

Depois disso,

a empresa vai lhe dar uma porta antirruído.

É, mas é que a casa só tem um quarto mesmo.

Isso não é desculpa pra privacidade do casal.

O senhor pode dormir na sala.

É que na sala a gente já deixa os outros meninos.

Gente?!

Mas a babá deve ficar louca! Nem quarto a coitada tem.

Não tem babá lá em casa não.

Meu Deus. Deve sobrar tudo pra faxineira então.

Pelo menos a faxineira é boa?

Pessoal não costuma reclamar muito da Dalva, não.

Espera aí, a Dalva não é sua esposa?

Isso, ela é faxineira.

Entendi a brincadeirinha.

A Dalva é a faxineira da sua casa.

Não, a Dalva é faxineira na casa dos outros, mesmo.

Lá em casa sou eu e os meninos que limpa tudo, mesmo

Nossa, meu amigo.

Mas vocês precisam se cuidar, eu digo assim, como casal,

você e a Dalva. Viajar juntos, fazer alguma coisa.

Eu lembro que teve uma época que eu e a Natália

a gente tava uma pilha de nervos.

Nossa, um não podia olhar pra cara do outro.

Peguei um cruzeiro com ela, e rapaz, foda-se.

Foram menos de dez dias, claro. Mas foi o suficiente.

Por que vocês não fazem isso?

O caso é que nós tem que bater o cartão na segunda, né?

É, isso é.

Mas não é desculpa pra perder o espaço do casal.

Tem que ficar atento.

Porque, olha, quando entra um bebê, a gente transa menos.

Eu fiquei uns três, quatro meses sem transar.

É difícil, rapaz.

Você deve estar transando com menos frequência também, né?

-É, nós estamos. -Tá vendo, olha aí.

Você tá a quanto tempo sem transar?

Faz umas quinze horas.

Antes era de oito em oito horas.

Era sagrado, né?

Então.

Frequência caiu, você não manteve essa constância.

É metade, né?

-Olha aí. -A Dalva, ela reclama muito.

Acho que é porque ela tá de oito meses,

tá muito buchuda assim.

Aí tem que ficar mudando de posição.

Aí depois a gente se entende, né?

Vamos fazer o seguinte?

Segunda feira você não precisa vir trabalhar.

Eu vou levar você e a Dalva pra uma terapia de casal.

O senhor acha que a gente precisa disso aí?

Não, quem tá precisando é a minha terapeuta.

Eu queria que vocês dessem esse relato sobre vida de vocês

pra aquela filha da puta, pra ela...

Depois eu vejo isso aí, eu tenho que ir embora agora

que tá na hora de eu ficar com o Enzo, hoje é meu dia.

Vocês não vivem mais juntos, Seu Flávio?

Depois que o Enzo nasceu,

aquela confusão toda, casal, que eu te falei.

Eu precisava do meu espaço, sabe?

Sabe aquela sensação que a casa ficou pequena?

Não.

Não sei, não.

Faz umas quinze horas.

Antes era de oito em oito horas, aí era sagrado.