PROTAGONISTA
Mãe, você já postou no Facebook, no grupo da família?
Minha cena vai ao ar amanhã, tá?
Como assim aparecer?
Mãe, você não tá entendendo. Eu sou o protagonista da cena.
A cena gira em torno do meu personagem.
Que teste?
O diretor me assistiu no teatro e adorou a cena.
Espera um pouquinho que ele tá aqui.
Philip.
Márcio Figueiroa!
-Sou eu! -Rapaz, que honra!
Honra minha!
Assisti teu espetáculo, chorei do início ao fim.
Emocionante. Necessário falar disso, né?
Quando chegou esse capítulo pra mim e eu vi essa cena,
falei, "Só tem um cara pra fazer isso: Márcio Figueiroa."
Quero o mesmo desespero, a verdade que você mostrou no palco.
Tranquilo que eu me preparei a semana inteira.
O personagem já vai entrar à flor da pele.
Que ótimo. Você viu a cena, você é o protagonista.
Que honra.
-Primeira novela? -Primeira.
Fica tranquilo, você vai arrebentar.
A partir de amanhã, vai por mim,
o Brasil inteiro vai saber quem é Márcio Figueiroa!
Vamo lá, vamos rodar. Prepara o set aí, gente.
Oficina da Vida, cena 1, take 1. Capítulo: O Sequestrado.
Vem, idiota!
A gente vai te arrebentar, mané!
Me soltem! Eu não vou me calar!
Vocês querem que eu prove do sangue da loucura,
mas eu não vou me calar!
Eu sou a voz silenciada da minoria!
Corta! Corta! Maravilhoso, rapaziada.
Chega de fumaça, corta a fumaça.
Marcião, tá arrebentando.
Dando uma aula como protagonista, tá lindo, cara.
Vem cá, cadê a arte?
Alê, é só na nossa novela
que o sequestrado sabe pra onde tá sendo levado?
Não tem uma venda no olho, não tem porra nenhuma?
Vamos resolver isso, cacete! Agora sim!
Estou vendo um sequestrado. Vamos rodar.
Mas o monólogo eu mando daqui mesmo?
Isso, assim que você chegar, já cospe as verdades na cara deles.
Tá maravilhoso, vamos.
-Mas fala com isso aqui... -Com isso na cara.
Tá maravilhoso. Vamos rodar!
Vem, idiota!
A gente vai te arrebentar, mané!
Me soltem! Eu não vou me calar!
Eu não vou me calar!
Vocês querem que eu prove do sangue da loucura,
-mas sou a... -Corta, corta.
Gente, não precisa não, tá ótimo. Só um papo aqui com ele.
Marcião, o monólogo tá lindo, rapaz.
Esse negócio na sua cabeça tá atrapalhando sua dicção.
Eu tô vendo, verdade tá aí. Tem verdade, tem tudo.
Deixa eu pensar aqui. Já sei!
Faz o seguinte, pensa no monólogo, mas só grita.
Vamos testar isso só pra ver como é que fica?
Vai lá.
Puta ator, foda. Arrepiou. Tá maravilhoso, vamos rodar.
Vem logo, idiota!
Agora você vai aprender!
Vai, caralho!
Vocês são bandidos, porra!
Vocês vão deixar o sequestrado gritar assim na casa de vocês?
Eu não tô acreditando em nada! Vamos!
Não grita, seu bosta!
Tá matando pernilongo, né?
Gente, põe verdade nessa merda! Que tapa de bosta é esse?
Não grita, seu bosta!
Não tá ouvindo o que ele tá falando, seu merda?!
Agora eu tô vendo bandido, porra!
Marcinho, não esquece aquele teu grito lindo.
O público tá contigo, irmão.
Fala o nome, seu bosta!
Quê mais? Vão oferecer sanduíche pra ele?
Agora sim, porra!
Seu desgraçado, não vai falar o nome não?
Gente, vamos lá. Vamos fechar na cara do Márcio.
Tira o saco da cara dele pra gente fazer um close...
Que merda de maquiagem é essa que parece Sessão da Tarde?
Mas eu nem fiz a maquiagem ainda.
Bom, foda-se.
Coloca o saco na cara dele e vamos dar porradaria.
Muita porrada!
Mas agora não é a hora do monólogo?
Não, Marcinho. Seu monólogo já foi lá no começo, tá bom, querido?
Agora é do meio da cena mesmo.
Saco na cara dele e vamos embora, gente!
Quero sentir medo nessa porra, hein?! Violência! Vai, porrada!
Vamos que eu quero sentir medo!
Eu quero acreditar nessa porra! Cadê a violência?
Se faz de calado, vamos pegar as pernas dele.
Que tá fazendo?
Mão pra baixo!
Vai jogar?! Não, é...
Então fecha essa boca.
Márcio, dá aquele gritinho fantástico pra gente.
Cena!
Mas eu não vou me calar! Eu sou a groza adrormecida.
Bosta! Merda. Desculpa, velho.
Errei o texto.