SAIDEIRA | EMBRULHA PRA VIAGEM

Não, o problema é esse.

Você não pode me ver feliz, de bem com a vida,

rodeado de amigos. Você quer me colocar pra baixo.

Olha, meu amor, você abusou um pouco, não foi?

-Que abusou, Vânia! -Fala baixo!

-Eu tô falando alto?! -Tá!

-E você? -Eu não!

Você que me expôs, bem na frente da festa inteira.

Teve uma hora que você me pegou pelo braço, me levou no canto

Parecia que tava conversando com bêbado!

Meu amor, é que você tava vomitando na carne da churrasqueira.

-Ah, é a culpa é da bebida. -Ah, não é?

A culpa é sua que quer me humilhar

-na frente dos outros! -Seu Mário tava ficando bem nervoso.

Caguei pra Seu Mário! Quem que é Seu Mário!?

Seu chefe.

-Que ele tava fazendo lá? -A casa era dele, meu amor.

Vânia, você... Você distorce as coisas

e aí eu vou ficar como louco?

Tá bom, vamos pra casa? Vamos pra casa, meu amorzinho?

-Não, de jeito nenhum! -Não precisa nem voltar lá,

eles nem vão sentir falta, eu te prometo.

Não vou voltar pra casa. Tá todo mundo me esperando,

a cerveja acabou,

eu falei que ia comprar uma saideira,

a gente compra uma saideira, fica meia hora e vai embora, meu amor.

Uma Skol e não se fala mais nisso.

Amiga, você me vê uma Skol?

Cinco Brahma.

Doze Heineken.

Duas caixas de Antartica, três 51, uma jurubeba Leão do Norte,

uma fraldinha, um picanha maturada,

um quilo e meio da linguiça toscaninha apimentada,

três 'gelo', quatro 'carvão'...

E o queijo coalho do Hernando que ele não come carne.

Você acha que se eu tivesse bêbado,

eu ia lembrar dessa lista inteira?

A gente tá numa farmácia, Renato.

Justamente.

Você coloca tudo junto com um sal de fruta.

Ê!

Pode ir?

Tô falando baixo! Você que...

Caminhão passou pô!