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Filosofia - Português Europeu, Pretender o Mal - 10

Pretender o Mal - 10

Utilitarismo

É no domínio das teorias da obrigação que a DDE se situa.

Neste domínio a questão fundamental é a de saber o que torna as acções certas ou erradas. Como já ficou claro, os consequencialistas respondem a esta questão dizendo que só as consequências das acções determinam a sua correcção moral. Pensam que fazer o que está certo é apenas uma questão de promover aquilo que é bom ou tem valor. Muitas vezes vão mais longe e defendem que a nossa obrigação básica é levar ao limite essa promoção — devemos maximizar o bem, dar origem aos melhores estados de coisas. O utilitarismo é a forma mais influente de consequencialismo. Embora os utilitaristas divirjam profundamente entre si, sobretudo por subscreverem diferentes teorias do valor, têm em comum pelo menos isto: pensam que a avaliação dos estados de coisas deve ser feita de uma perspectiva estritamente imparcial, definida pela atribuição do mesmo peso aos interesses de todos sujeitos que serão afectados pelo que fizermos. À luz do utilitarismo, bem como do consequencialismo em geral, certas distinções proeminentes na filosofia moral não têm relevância ética básica. Dado que o único padrão para avaliar a conduta é o bem ou o mal prováveis que podem resultar do comportamento, a distinção fazer/permitir não tem em si qualquer peso moral: provocar um mal não é pior nem melhor que permitir que esse mesmo mal se verifique. O mesmo se pode dizer da distinção directo/mediado: dar origem a um mal sem a intervenção de mais ninguém não é significativamente diferente de fazer algo que levará outros agentes a dar origem a esse mesmo mal. E a distinção que mais no interessa, a distinção intenção/previsão, não recebe um tratamento mais favorável no utilitarismo. Cada uma destas três distinções é excluída pela mesma razão: a única obrigação moral é contribuir para a realização de estados de coisas valiosos; o modo como um agente contribui para tal realização não pode tornar uma acção certa ou errada. Por isso, a diferença entre pretender um mal e prevê-lo enquanto simples resultado daquilo que pretendemos é algo que por si nunca pode determinar o que é permissível fazer. A este nível a incompatibilidade entre o utilitarismo e a DDE não podia ser mais clara, mas, como tentarei agora mostrar, um utilitarista pode (e talvez deva) encontrar um lugar para o duplo efeito na sua teoria. O utilitarismo é primariamente uma teoria sobre o que torna as acções certas ou erradas. Enquanto tal nada nos diz sobre deliberação moral, embora nos possa parecer que a esse respeito implica algo como o seguinte: para decidir o que fazer devemos identificar os cursos de acção disponíveis, determinar as boas e más consequências de cada curso de acção, e optar por aquele que, ponderadas as probabilidades, promete dar origem ao melhor estado de coisas. De facto, um utilitarista que reconhecesse um único nível de pensamento moral defenderia que todas as nossas decisões deveriam ser tomadas desta maneira — deveríamos pensar como um utilitarista em todas as circunstâncias, estando permanentemente empenhados na promoção imparcial do bem. Mas é óbvio que, dadas as nossas limitações cognitivas e a nossa constituição psicológica, um tal utilitarismo de único nível derrotar-se-ia a si próprio, pois qualquer ser humano que o levasse a sério ver-se-ia quase paralisado por intermináveis estimativas de consequências que, aliás, não deixariam de ser influenciadas por considerações egoístas, o que se tornaria muito perigoso aliado à total indiferença às regras morais comuns. A história do jovem Raskolnikov, protagonista de Crime e Castigo, proporciona-nos um exemplo inesquecível deste perigo. Dado que ter o pensamento dominado exclusivamente por raciocínios utilitaristas é uma péssima maneira de promover imparcialmente o bem, qualquer versão credível do utilitarismo tem de encontrar lugar para vários níveis de pensamento moral. O utilitarismo de dois níveis desenvolvido por R. M. Hare (1981) é a este respeito a teoria mais influente. Hare defende que o nosso pensamento deve permanecer quase sempre no nível intuitivo: em vez de nos deixarmos enredar em cálculos fúteis e enganadores, devemos tomar decisões seguindo simplesmente as nossas intuições morais — que se exprimem em muitas das regras morais comuns —, bem como cultivar o nosso carácter desenvolvendo certas disposições para agir que em geral se revelam benéficas. Só quando se gerar um conflito neste nível — o que pode acontecer quando as regras morais colidem — é que devemos, se as circunstâncias o permitirem, ascender ao outro nível de pensamento: o nível crítico. Neste nível de pensamento moral o que fazemos é raciocinar de uma forma manifestamente utilitarista, o que é necessário não só para resolver conflitos no nível intuitivo, mas sobretudo para decidir que intuições e disposições nele devemos adoptar. O utilitarismo tem assim relevância prática significativa não enquanto guia na vida quotidiana, mas enquanto padrão para avaliar criticamente práticas controversas como a eutanásia, a exploração de animais, a acção afirmativa ou o consumo de bens supérfluos. Podemos agora interrogar-nos se um utilitarista, mesmo excluindo a DDE do pensamento crítico, tem boas razões para incluir de alguma maneira a doutrina entre as intuições e disposições que devem ser adoptadas no nível intuitivo. Quanto à ideia de que é errado pretender o mal enquanto fim, em função de si mesmo, a resposta só pode ser afirmativa: a malevolência é uma disposição que o utilitarista deverá querer desencorajar fortemente, já que pelo menos neste mundo os agentes malévolos tendem a não promover o bem. E a ideia de que é errado pretender o mal enquanto meio para o bem? Terá o utilitarista alguma razão para aceitar esta ideia no nível intuitivo, ou seja, para dizer que devemos cultivar uma relutância mais forte em pretender o mal enquanto meio do que em dar origem ao mal enquanto efeito meramento previsto? Um argumento de J. L. Mackie (1977: 162-3) leva a pensar que sim. Confrontado com um par de situações idealizadas em que o agente, por exemplo, salva várias pessoas provocando a morte de uma — como o par Transplante/Trólei —, o utilitarista não vê qualquer diferença relevante entre essa morte ser pretendida enquanto meio e ser meramente prevista enquanto efeito lateral do meio. Mas na vida real as coisas passam-se de maneira muito diferente, pois os agentes têm de lidar frequentemente com grandes incertezas quanto ao que resultará daquilo que fizerem. E há razões para crer que em geral a ocorrência de um mal é mais provável quando este é pretendido enquanto meio do que quando este é meramente previsto enquanto efeito lateral do meio. Numa versão um pouco mais realista do Trólei, o mau efeito não seria inevitável: haveria uma certa probabilidade de o trabalhador fugir a tempo. Por isso, na ponderação dos custos e benefícios de desviar o trólei, teríamos que reduzir o peso do mau efeito tendo em conta essa probabilidade. Mas quando, como no Transplante, o mau efeito é pretendido como meio para o bom, não se pode fazer uma redução semelhante, pois como a morte do paciente é o meio escolhido para salvar os outros, o cirurgião não pode atingir o seu fim sem que essa morte se verifique. Como Mackie observa, "se há um mal que só pretendemos obliquamente, que aceitamos como efeito lateral, podemos ainda esperar que este não se verifique — ou, se tivermos crenças religiosas, rezar para que não se verifique ou confiar na intervenção de Deus. Mas seria absurdo termos uma destas atitudes em relação àquilo que pretendemos directamente, enquanto meio para o fim que escolhemos. " Nestas circunstâncias, declara Mackie, embora o utilitarista não possa dar menos importância aos efeitos laterais dos meios enquanto tais, deve reconhecer que a relutância em usar um mau meio pode ser em geral mais benéfica que uma relutância similar em tolerar um mau efeito lateral. E assim a distinção intenção/previsão acaba por ser significativa no nível intuitivo. Por razões semelhantes, também as distinções directo/mediado e fazer/permitir têm peso nesse nível.

Nota 6

Sobre o lugar que estas duas distinções podem ocupar no utilitarismo veja-se, respectivamente, Mackie (1977: 163-5) e Singer (1993: 244-5).

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Pretender o Mal - 10 Böses beabsichtigen - 10 Intend Evil - 10 Intención de maldad - 10 Intention de nuire - 10 Intenzione di male - 10 Zamiar czynienia zła - 10 意图邪恶 - 10 意圖邪惡 - 10

Utilitarismo Utilitarianism Utilitarianism

É no domínio das teorias da obrigação que a DDE se situa. ||field||||duty|||Doctrine of Double Effect||"is situated" It is in the field of theories of obligation that DDE is situated.

Neste domínio a questão fundamental é a de saber o que torna as acções certas ou erradas. ||||||||||||||right||wrong In this domain the key issue is to know what makes actions right or wrong. Como já ficou claro, os consequencialistas respondem a esta questão dizendo que só as consequências das acções determinam a sua correcção moral. ||became|||consequentialists|"respondem" in this context translates to "respond" or "answer."||||saying that only|||||||determine|||moral correctness| As it has become clear, consequentialists answer this question by saying that only the consequences of actions determine their moral correctness. Pensam que fazer o que está certo é apenas uma questão de promover aquilo que é bom ou tem valor. "they think"||do|"what is"|that|"is"||||||of|promote||that||good or valuable|or|has| They believe that doing what is right is simply a matter of promoting what is good or valuable. Muitas vezes vão mais longe e defendem que a nossa obrigação básica é levar ao limite essa promoção — devemos maximizar o bem, dar origem aos melhores estados de coisas. |||||||||||||||||||maximieren||||||||| Many times|"Many times"|"go"||further|and defend that|argue|"that"||||basic duty||take to|to the|limit|that|promotion|"we must"|maximize||good|give rise to||"states of affairs"||states of affairs||states of affairs Often they go further and argue that our basic obligation is to push this promotion to the limit - we must maximize good, bring about the best states of affairs. O utilitarismo é a forma mais influente de consequencialismo. |Utilitarismus||||||| |Utilitarianism|"is"||form||most influential||consequentialism Utilitarianism is the most influential form of consequentialism. Embora os utilitaristas divirjam profundamente entre si, sobretudo por subscreverem diferentes teorias do valor, têm em comum pelo menos isto: pensam que a avaliação dos estados de coisas deve ser feita de uma perspectiva estritamente imparcial, definida pela atribuição do mesmo peso aos interesses de todos sujeitos que serão afectados pelo que fizermos. |||unterscheiden sich||||||unterschreiben von||||||||||||||||||||||||||unparteiisch||||||||||||||betroffen sein werden||| "Although"|the interests of|utilitarians|"disagree"|deeply||among themselves|above all||subscribe to|||||"have"||in common|||||||evaluation|"of the"||||||made|||impartial standpoint|strictly|impartial|defined by|"by the"|assignment|||equal consideration||interests|||subjects||will be|affected|"by the"||we do Although utilitarians deeply disagree with each other, especially by subscribing to different value theories, they have at least this in common: they think that the evaluation of states of affairs should be done from a strictly impartial perspective, defined by assigning the same weight to the interests of all subjects affected by what we do. À luz do utilitarismo, bem como do consequencialismo em geral, certas distinções proeminentes na filosofia moral não têm relevância ética básica. ||||||||||||hervorstechende|||||||| |"in light of"||utilitarianism||||consequentialism||||distinctions|prominent distinctions|"in the"|||||ethical significance|ethical significance|fundamental ethical significance In the light of utilitarianism, as well as consequentialism in general, certain prominent distinctions in moral philosophy have no basic ethical relevance. Dado que o único padrão para avaliar a conduta é o bem ou o mal prováveis que podem resultar do comportamento, a distinção fazer/permitir não tem em si qualquer peso moral: provocar um mal não é pior nem melhor que permitir que esse mesmo mal se verifique. ||||||||Verhalten|||||||wahrscheinlichen|||resultieren aus||||||||||||||||||||||||||||| Given that||||standard||assess||conduct|||||||probable outcomes|||result||behavior||||allowing|||||any|weight|moral significance|cause|||||worse||||||||||occur Given that the only standard for evaluating conduct is the likely good or evil that may result from the behavior, the distinction between doing and allowing has no moral weight in itself: causing harm is neither worse nor better than allowing that same harm to occur. O mesmo se pode dizer da distinção directo/mediado: dar origem a um mal sem a intervenção de mais ninguém não é significativamente diferente de fazer algo que levará outros agentes a dar origem a esse mesmo mal. |||||||direkt|vermittelt||||||||||||||||||||||||||||| |||||||direct|mediated||||||||intervention|||||||||||||others|agents||||||| The same can be said of the direct/mediated distinction: causing harm without the involvement of anyone else is not significantly different from doing something that will lead other agents to cause that same harm. E a distinção que mais no interessa, a distinção intenção/previsão, não recebe um tratamento mais favorável no utilitarismo. ||||||||||forecast||receives||||favorable treatment|| And the distinction that interests us the most, the distinction between intention/forecast, does not receive more favorable treatment in utilitarianism. Cada uma destas três distinções é excluída pela mesma razão: a única obrigação moral é contribuir para a realização de estados de coisas valiosos; o modo como um agente contribui para tal realização não pode tornar uma acção certa ou errada. |||||||||||||||||||||||wertvoller Dinge||||||||||||||||| Each||of these|||||||||||||to contribute|||realization|||||valuable states||||||contribute|||||can’t|||||| Each of these three distinctions is excluded for the same reason: the only moral obligation is to contribute to the realization of valuable states of affairs; the way in which an agent contributes to such realization cannot make an action right or wrong. Por isso, a diferença entre pretender um mal e prevê-lo enquanto simples resultado daquilo que pretendemos é algo que por si nunca pode determinar o que é permissível fazer. |||||||||vorhersagen|||||||||||||||||||erlaubt| Therefore, the difference between intending a harm and foreseeing it as a mere result of what we intend is something that, by itself, can never determine what is permissible to do. A este nível a incompatibilidade entre o utilitarismo e a DDE não podia ser mais clara, mas, como tentarei agora mostrar, um utilitarista pode (e talvez deva) encontrar um lugar para o duplo efeito na sua teoria. ||||Unvereinbarkeit||||||||||||||||||Utilitarist|||||||||||||| ||level||incompatibility||||||||could not||||||I will try||||utilitarian||||must|||||||||| At this level, the incompatibility between utilitarianism and the DDE could not be clearer, but as I will now try to show, a utilitarian can (and perhaps should) find a place for the double effect in his theory. O utilitarismo é primariamente uma teoria sobre o que torna as acções certas ou erradas. |||primär||||||||||| |||primarily||||||||||| Utilitarianism is primarily a theory about what makes actions right or wrong. Enquanto tal nada nos diz sobre deliberação moral, embora nos possa parecer que a esse respeito implica algo como o seguinte: para decidir o que fazer devemos identificar os cursos de acção disponíveis, determinar as boas e más consequências de cada curso de acção, e optar por aquele que, ponderadas as probabilidades, promete dar origem ao melhor estado de coisas. ||||||Entscheidungsfindung|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||abgewogen|||||||||| ||||||deliberation||although||may||||||it implies||||||decide|||||||courses of action||||||||bad||||||||choose||that one||weighed||probabilities|it promises|||||state of|| As such, it tells us nothing about moral deliberation, although it may seem to imply something like the following: to decide what to do, we must identify the available courses of action, determine the good and bad consequences of each course of action, and choose the one that, weighed by the probabilities, promises to lead to the best state of affairs. De facto, um utilitarista que reconhecesse um único nível de pensamento moral defenderia que todas as nossas decisões deveriam ser tomadas desta maneira — deveríamos pensar como um utilitarista em todas as circunstâncias, estando permanentemente empenhados na promoção imparcial do bem. ||||||||||||verteidigen würde|||||||||||||||||||||dauerhaft|engagiert||||| |||utilitarian||recognized|||||||would defend|||||decisions|should be||taken|||we should||||utilitarian|||||being|permanently|committed||||| Mas é óbvio que, dadas as nossas limitações cognitivas e a nossa constituição psicológica, um tal utilitarismo de único nível derrotar-se-ia a si próprio, pois qualquer ser humano que o levasse a sério ver-se-ia quase paralisado por intermináveis estimativas de consequências que, aliás, não deixariam de ser influenciadas por considerações egoístas, o que se tornaria muito perigoso aliado à total indiferença às regras morais comuns. ||||gegebenen||||kognitiven||||||||||||sich besiegen||||||||||||ernst nähme||ernst nehmen|||||||endlosen||||||||||||Überlegungen|egoistischen|||||||verbunden|||Gleichgültigkeit|||| ||||given|||limitations|cognitive limitations||||constitution|psychological constitution||such|||||would defeat|||||||||human being|||took|||||||paralyzed||endless|estimates||||||would not|||influenced||selfish considerations|selfish considerations||||||dangerous|together with||total|indifference||moral rules|| But it is obvious that, given our cognitive limitations and our psychological constitution, such a one-level utilitarianism would defeat itself, as any human being who took it seriously would find themselves almost paralyzed by endless estimates of consequences that, moreover, would not fail to be influenced by selfish considerations, which would become very dangerous when combined with total indifference to common moral rules. A história do jovem  Raskolnikov, protagonista de Crime e Castigo, proporciona-nos um exemplo inesquecível deste perigo. ||||Raskolnikow||||||||||unvergessliches|| |||young|Raskolnikov|protagonist||Crime||Punishment|provides us||||unforgettable example||danger The story of the young Raskolnikov, the protagonist of Crime and Punishment, gives us an unforgettable example of this danger. Dado que ter o pensamento dominado exclusivamente por raciocínios utilitaristas é uma péssima maneira de promover imparcialmente o bem, qualquer versão credível do utilitarismo tem de encontrar lugar para vários níveis de pensamento moral. ||||||||Überlegungen||||||||unparteiisch||||||||||||||||| |||||dominated|exclusively||reasoning||||terrible||||impartially||||||||||||||levels||| Since having one's thinking dominated exclusively by utilitarian reasoning is a terrible way to impartially promote the good, any credible version of utilitarianism must find room for various levels of moral thinking. O utilitarismo de dois níveis desenvolvido por R. M. Hare (1981) é a este respeito a teoria mais influente. |||||||||Hare|||||||| |||||developed||R M Hare|Hare|Hare|||||||| The two-level utilitarianism developed by R. M. Hare (1981) is, in this respect, the most influential theory. Hare defende que o nosso pensamento deve permanecer quase sempre no nível intuitivo: em vez de nos deixarmos enredar em cálculos fúteis e enganadores, devemos tomar decisões seguindo simplesmente as nossas intuições morais — que se exprimem em muitas das regras morais comuns —, bem como cultivar o nosso carácter desenvolvendo certas disposições para agir que em geral se revelam benéficas. |vertritt die Ansicht|||||||||||||||||verstricken in|||nutzlose||irreführend||||||||||||ausdrücken|||||||||||||||Neigungen||||||||vorteilhaft |argues||||||remain|||||intuitive level|||||let ourselves|entangle||calculations|futile||deceptive||make||||||||||express|||||||||cultivate|||character|||dispositions||||||||beneficial Hare argues that our thinking should almost always remain at the intuitive level: instead of getting caught up in futile and deceptive calculations, we should make decisions simply by following our moral intuitions — which are expressed in many common moral rules — as well as cultivating our character by developing certain dispositions to act that generally prove beneficial. Só quando se gerar um conflito neste nível — o que pode acontecer quando as regras morais colidem — é que devemos, se as circunstâncias o permitirem, ascender ao outro nível de pensamento: o nível crítico. ||||||||||||||||kollidieren|||||||||aufsteigen zu|||||||| |||generates|||||||||||||collide||||||||allow|ascend||||||||critical level Only when a conflict arises at this level — which can happen when moral rules collide — should we, if circumstances allow, ascend to the other level of thinking: the critical level. Sólo cuando surge un conflicto en este nivel -lo que puede ocurrir cuando chocan normas morales- debemos, si las circunstancias lo permiten, ascender al otro nivel de pensamiento: el nivel crítico. Neste nível de pensamento moral o que fazemos é raciocinar de uma forma manifestamente utilitarista, o que é necessário não só para resolver conflitos no nível intuitivo, mas sobretudo para decidir que intuições e disposições nele devemos adoptar. |||||||||||||offensichtlich||||||||||||||||||||||||übernehmen |||||||we do||reason||||manifestly|||||necessary||||resolve|conflicts|||||||||||||| At this level of moral thinking, what we do is reason in a clearly utilitarian way, which is necessary not only to resolve conflicts at the intuitive level but above all to decide which intuitions and dispositions we should adopt. O utilitarismo tem assim relevância prática significativa não enquanto guia na vida quotidiana, mas enquanto padrão para avaliar criticamente práticas controversas como a eutanásia, a exploração de animais, a acção afirmativa ou o consumo de bens supérfluos. |||||||||Leitfaden|||alltäglichen Leben|||||||||||Sterbehilfe|||||||||||||überflüssige Güter ||||||||||||daily|||||||||||euthanasia|||||||affirmative||||||superfluous Utilitarianism thus has significant practical relevance, not as a guide in daily life, but as a standard for critically evaluating controversial practices such as euthanasia, animal exploitation, affirmative action, or the consumption of luxury goods. Podemos agora interrogar-nos se um utilitarista, mesmo excluindo a DDE do pensamento crítico, tem boas razões para incluir de alguma maneira a doutrina entre as intuições e disposições que devem ser adoptadas no nível intuitivo. ||uns fragen||||||||||||||||||||||||||||||angenommen werden||| ||question||||||excluding||||||||||||||||||||||||adopted||| We can now wonder whether a utilitarian, even excluding the Doctrine of Double Effect (DDE) from critical thinking, has good reasons to somehow include the doctrine among the intuitions and dispositions that should be adopted at the intuitive level. Quanto à ideia de que é errado pretender o mal enquanto fim, em função de si mesmo, a resposta só pode ser afirmativa: a malevolência é uma disposição que o utilitarista deverá querer desencorajar fortemente, já que pelo menos neste mundo os agentes malévolos tendem a não promover o bem. ||||||||||||||||||||||||Böswilligkeit|||||||||entmutigen||||||||||böswillige Agenten|||||| ||||||||||||||||||||||||malevolence|||||||||discourage||||||||||malevolence|||||| Regarding the idea that it is wrong to intend evil as an end for oneself, the answer can only be affirmative: malevolence is a disposition that the utilitarian should strongly want to discourage, since at least in this world, malevolent agents tend not to promote good. E a ideia de que é errado pretender o mal enquanto meio para o bem? And what about the idea that it is wrong to intend evil as a means to good? Terá o utilitarista alguma razão para aceitar esta ideia no nível intuitivo, ou seja, para dizer que devemos cultivar uma relutância mais forte em pretender o mal enquanto meio do que em dar origem ao mal enquanto efeito meramento previsto? ||||||||||||||||||||Widerstand||||||||||||||||||bloß| ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||mal|previsto Does the utilitarian have any reason to accept this idea at an intuitive level, that is, to say that we should cultivate a stronger reluctance to intend evil as a means than to merely cause evil as a foreseen effect? Um argumento de J. L. Mackie (1977: 162-3) leva a pensar que sim. |||||Mackie||||| One argument by J. L. Mackie (1977: 162-3) suggests that yes. Confrontado com um par de situações idealizadas em que o agente, por exemplo, salva várias pessoas provocando a morte de uma — como o par Transplante/Trólei —, o utilitarista não vê qualquer diferença relevante entre essa morte ser pretendida enquanto meio e ser meramente prevista enquanto efeito lateral do meio. ||||||idealisierte|||||||||||||||||||||||||||||||beabsichtigt||||||||||| ||||||idealized|||||||||||||||||||||||||||||||intended||||||||||| Confronted with a pair of idealized situations where the agent, for example, saves several people by causing the death of one — like the Transplant/Trolley pair — the utilitarian sees no relevant difference between that death being intended as a means and being merely predicted as a side effect of the means. Mas na vida real as coisas passam-se de maneira muito diferente, pois os agentes têm de lidar frequentemente com grandes incertezas quanto ao que resultará daquilo que fizerem. ||||||||||||||||||||||||||||tun werden ||||||||||||||||||||||||||||they do But in real life, things happen very differently, as agents often have to deal with great uncertainties about what will result from what they do. E há razões para crer que em geral a ocorrência de um mal é mais provável quando este é pretendido enquanto meio do que quando este é meramente previsto enquanto efeito lateral do meio. ||||believe|||||||||||||||||||||||merely|foreseen|||||means There are reasons to believe that in general the occurrence of a harm is more likely when it is intended as a means than when it is merely expected as a side effect of the means. Numa versão um pouco mais realista do Trólei, o mau efeito não seria inevitável: haveria uma certa probabilidade de o trabalhador fugir a tempo. In a slightly more realistic version of the Trolley problem, the bad effect would not be inevitable: there would be a certain probability that the worker could escape in time. Por isso, na ponderação dos custos e benefícios de desviar o trólei, teríamos que reduzir o peso do mau efeito tendo em conta essa probabilidade. |||||||||diverting||||||||||||||| Therefore, when weighing the costs and benefits of diverting the trolley, we would have to reduce the weight of the bad effect taking that probability into account. Mas quando, como no Transplante, o mau efeito é pretendido como meio para o bom, não se pode fazer uma redução semelhante, pois como a morte do paciente é o meio escolhido para salvar os outros, o cirurgião não pode atingir o seu fim sem que essa morte se verifique. But when, as in Transplantation, the bad effect is intended as a means to the good, one cannot make a similar reduction, for as the death of the patient is the chosen means to save others, the surgeon cannot achieve his end without this death occurring. Como Mackie observa, "se há um mal que só pretendemos obliquamente, que aceitamos como efeito lateral, podemos ainda esperar que este não se verifique — ou, se tivermos crenças religiosas, rezar para que não se verifique ou confiar na intervenção de Deus. ||||||||||indirekt|||||||||||||||||||||||||||||| ||||||||||obliquely|||||||||||||||||||||||||||||| As Mackie observes, "if there is a harm that we only intend obliquely, which we accept as a side effect, we can still hope that this does not occur — or, if we have religious beliefs, pray that it does not occur or trust in God's intervention. Mas seria absurdo termos uma destas atitudes em relação àquilo que pretendemos directamente, enquanto meio para o fim que escolhemos. " |||||||||zu dem|||||||||| But it would be absurd to have one of these attitudes concerning that which we intend directly, as a means to the end we choose." Nestas circunstâncias, declara Mackie, embora o utilitarista não possa dar menos importância aos efeitos laterais dos meios enquanto tais, deve reconhecer que a relutância em usar um mau meio pode ser em geral mais benéfica que uma relutância similar em tolerar um mau efeito lateral. ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||dulden|||| ||||||||||||||||||||||||||||||||||beneficial|||||||||| In these circumstances, Mackie states, although the utilitarian cannot give less importance to the side effects of means as such, they must recognize that the reluctance to use a bad means can generally be more beneficial than a similar reluctance to tolerate a bad side effect. E assim a distinção intenção/previsão acaba por ser significativa no nível intuitivo. Thus, the distinction intention/foresight turns out to be significant at the intuitive level. Por razões semelhantes, também as distinções directo/mediado e fazer/permitir têm peso nesse nível. For similar reasons, the distinctions direct/indirect and doing/allowing also carry weight at that level.

Nota 6 Note 6

Sobre o lugar que estas duas distinções podem ocupar no utilitarismo veja-se, respectivamente, Mackie (1977: 163-5) e Singer (1993: 244-5). Regarding the place that these two distinctions may occupy in utilitarianism, see Mackie (1977: 163-5) and Singer (1993: 244-5), respectively.