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Buenas Ideias, CAPITANIAS HEREDITÁRIAS | EDUARDO BUENO

CAPITANIAS HEREDITÁRIAS | EDUARDO BUENO

Não, não!

Capitanias hereditárias, não!

Bomba! Bomba!

Português ganha Pernambuco de presente.

Capitanias hereditárias é um dos momentos mais intensos,

mais perturbadores e mais reveladores da história colonial do Brasil.

Em 1532, o rei D. João III

percebeu que, se ele não incrementasse a ocupação

e a colonização portuguesa do Brasil,

havia o risco real e efetivo dos franceses o fazer.

Então, ele pega um mapa... ele, não, né?!

Seus assessores pegam um...

mapa feito por um grande cartógrafo chamado Gaspar Viegas e fazem aqueles malditos

tracinhos dividindo as capitanias hereditárias.

O rei chama

essas pessoas que receberiam essas capitanias e diz:

Tem uma boa notícia e uma má notícia.

A boa notícia é que você acaba de ganhar um território maior que Portugal!

A gente tem que ter ah...

plenamente consciente que os 14 lotes das capitanias hereditárias entregues no Brasil

Eles tinham 250 quilômetros de largura!

Que nem você ganhar um terreno e perguntar "Qual é o tamanho do meu terreno?"

250 quilômetros de largura por fundo indefinido.

Porque o fundo ia até onde passava a linha de Tordesilhas,

que ninguém sabia exatamente onde passava.

Mas passava alhures!

Passava lá longe! Lá no fundo do Brasil.

Aí o rei disse: "Tem essa boa notícia.

Agora a má notícia.

Você não está sendo

convidado para ocupar esse território.

Você está sendo obrigado a

colonizá-lo com o teu dinheiro."

O rei não dava nada!

Os caras tinham que construir os seus próprios barcos ou comprá-los,

arregimentar os seus colonos,

fazer essa difícil navegação,

de três, às vezes quatro meses até o Brasil,

chegar no seu território,

reconhecê-lo,

escolher um lugar para fazer uma vila, fazer uma vila,

e começar a trabalhar e a produzir dinheiro.

Quer dizer... Pô! É piada, né?

Então, a partir de 1532 até 1534,

o rei ficou distribuindo essas capitanias hereditárias.

Mas o melhor de tudo, o que mais me fascina nessa história, é que quando ele assinou os forais,

os documentos eh... doando essas capitanias, a doação foi feita de juro e herdade

para todo o sempre, portanto, a pessoa, o donatário que recebia aquela imensa extensão de terra,

seria dono dela e poderia

dá-la para os seus herdeiros para sempre.

Uma maravilha, porque a gente vai descobrir logo depois que o sempre foi que nem o amor no caso do

Vinicius de Moraes, né?

Eterno enquanto dure, porque eh... 16 anos depois,

em 1548, o mesmo rei suspendeu as doações e as pessoas que tinham entregue todas as suas fortunas,

e alguns deles a própria vida na colonização dos seus lotes, os perderam.

Espetacular!

Mas, de qualquer forma, a saga de cada um desses 14 lotes é uma saga inacreditável!

Só dois deram certo:

o Pernambuco, que foi ocupado pelo Duarte Coelho,

que era um cara decente,

trabalhador, responsável.

Aí tem um lado bom e um lado ruim, né?

Pela implantação da indústria de cana no Brasil, da cana-de-açúcar, né?

Era um grande navegador.

Ocupou Pernambuco, foi o único lugar que conseguiu desenvolver,

porque a outra única capitania que deu mais ou menos certo foi a do Martim Afonso de Sousa,

São Vicente, que hoje é a São Paulo, né?

Mas só deu certo, porque ali já era um lugar conhecido como "Porto dos Escravos",

onde alguns misteriosos, tipo Bacharel de Cananéia, João Ramalho, que eram náufragos

ou degredados que moravam ali antes do Martim Afonso de Sousa,

tinham iniciado um mui rendoso tráfico de escravos

naquela região. Vendiam os escravos pra expedições

portuguesas e espanholas que passavam por ali.

Todas as outras capitanias fracassaram

lastimavelmente!

Houve casos incríveis entre esses donatários!

A Capitania de Porto Seguro pertencia a um cara chamado Pero do Campo Tourinho.

Ele foi preso e enviado

a ferros pra Inquisição pelos seus próprios colonos!

E sabe qual foi o motivo?

É que os colonos queriam respeitar os dias santos de guarda!

Eu achava que san... dia santo de guarda era um santo que ficava em guarda.

Não! Eram dias de santos que você tinha que guardar!

Ou seja, que você não podia trabalhar.

Na época, os colonos de Porto Seguro disseram pro donatário que havia

48 dias santos de guarda que não pode, não podiam trabalhar.

Além de não trabalhar nos fins de semana também.

Ou seja, trabalha menos que

senador e que deputado brasileiro nos dias de hoje, né?

Longos recessos parlamentares

os colonos faziam.

E o Pero Campo Tourinho era um cara totalmente anti-clerical e fez mil piadas incríveis

sobre o Papa, sobre Jesus Cristo.

Foi preso, algemado e mandado pra Inquisição em Portugal e condenado!

Não foi condenado à morte, mas perdeu a sua propriedade.

Outro caso inacreditável

é o caso do donatário do Espírito Santo, Vasco Fernandes Coutinho.

Esse se viciou em tabaco.

Não, ficou assim totalmente

viciado em tabaco!

Sério! Fumava tabaco o tempo inteiro, o tempo inteiro.

Ah... depois que ele já tinha perdido a sua capitania, praticamente,

porque a capitania foi tomada por traficantes de escravos e por degredados...

Ele se refugiou na Bahia,

e lá tava o bispo Sardinha,

primeiro bispo do Brasil,

que humilhou ele, botando ele sentado na igreja, rodeado de rolos de fumo

e fez com que ele dissesse,

como se fosse no ar assim,

que ele era viciado em tabaco, tal.

Morreu na miséria. Uma coisa horrível.

Outro donatário que só fez

foi o próprio donatário da Bahia -

o Francisco Pereira, chamado de

porque era um homem muito rude

e resolveu desafiar os índios da Bahia, os Tupinambás.

Os Tupinambás invadiram Salvador, queimaram Salvador, destruíram Salvador

A capitania ficou abandonada,

tanto é que foi ali que, anos depois,

o rei D. João III resolveu fazer a

capital do Brasil, Salvador, né?

E deu início ao Governo Geral.

As capitanias hereditárias se encerraram em

mas o legado delas é duradouro.

Primeiro legado: o Coronelismo.

Todos esses caras eram como se fossem coronéis, né?

Mandavam, tinham um poder de vida ou morte sobre seus colonos.

Literalmente, poder de vida ou morte!

E que só davam arrego pros amigos deles, né?

Só fazia negócio quem tava ligado a eles.

Portanto, o clientelismo também começa ali.

O mandonismo, porque, cara, "neguin" assim, sabe,

andava lá com o cajado isso tudo é meu, eu que mando!

A estrutura fundiária do Brasil,

os grandes latifúndios improdutivos

estão na origem dessas vastas extensões de terras que foram doadas -

primeiro pros donatário e depois pros caras que eles também doavam terras lá dentro.

Por fim, a indústria do açúcar, que tá até hoje ainda sugando o Brasil,

essa cana que é plantada com voracidade,

no antigo solo fértil de massapê da zona da mata -

que não tem mais mata nenhuma!

No Nordeste, no Oeste de São Paulo para onde se expandiu, né?

Para produzir o pó branco que vicia

o açúcar, além do etanol, do álcool e dessas coisas...

E os usineiros sempre devendo,

uma indústria sempre endividada,

sempre vivendo à custa de subsídios estatais,

como já era desde aquela época,

porque nunca houve núcleo propriamente dessa indústria açucareira

se não houvesse investimento da própria Coroa, parceria-público privada.

Mas é o seguinte, né?

Capitanias hereditárias: o rei fez e o rei desfez!

Ou seja, se inaugura no Brasil a época dos contratos estatais não cumpridos!

E a gente, realmente, tem certeza que as capitanias acabaram,

quando a gente pensa, por exemplo, no Maranhão.

Maranhão tem donatário?

Não, acho que não, né?

No Pará! O Pará tem donatário? Não, claro que não.

A Bahia tinha, morreu faz um pouco, né?

Ah... um pouco, não, já faz alguns anos, mas deixou neto, parece, né?

O donatário da Bahia.

As capitanias hereditárias vivem

no pior sentido possível dentro da estrutura desse país que ainda retrógrado e que ainda é atrasado.

Então, se você quiser continuar achando que capitanias hereditárias é um assunto chato,

você tá errado e você vai continuar reproduzindo esses 500 anos de equívocos que o Brasil fez.

É essa a história das capitanias hereditárias.

E uma coisa eu te garanto: ela não vai cair no Enem.

Pelo menos não desse jeito.

Agora, não me pergunte por quê.

Mas, pelo menos, tem esse programinha aqui pra você ver.

Tchau, tchau. Até o próximo.

O que você acaba de ver está repleto de generalizações e simplificações,

mas o quadro geral era esse aí mesmo.

Agora, se você quiser saber como as coisas de fato foram, então, você vai ter que ler.

CAPITANIAS HEREDITÁRIAS | EDUARDO BUENO HEREDITARY CAPTAINCIES | EDUARDO BUENO CAPITANÍAS HEREDITARIAS | EDUARDO BUENO

Não, não!

Capitanias hereditárias, não!

Bomba! Bomba!

Português ganha Pernambuco de presente.

Capitanias hereditárias é um dos momentos mais intensos,

mais perturbadores e mais reveladores da história colonial do Brasil.

Em 1532, o rei D. João III

percebeu que, se ele não incrementasse a ocupação

e a colonização portuguesa do Brasil,

havia o risco real e efetivo dos franceses o fazer.

Então, ele pega um mapa... ele, não, né?!

Seus assessores pegam um...

mapa feito por um grande cartógrafo chamado Gaspar Viegas e fazem aqueles malditos

tracinhos dividindo as capitanias hereditárias.

O rei chama

essas pessoas que receberiam essas capitanias e diz:

Tem uma boa notícia e uma má notícia.

A boa notícia é que você acaba de ganhar um território maior que Portugal!

A gente tem que ter ah...

plenamente consciente que os 14 lotes das capitanias hereditárias entregues no Brasil

Eles tinham 250 quilômetros de largura!

Que nem você ganhar um terreno e perguntar "Qual é o tamanho do meu terreno?"

250 quilômetros de largura por fundo indefinido.

Porque o fundo ia até onde passava a linha de Tordesilhas,

que ninguém sabia exatamente onde passava.

Mas passava alhures!

Passava lá longe! Lá no fundo do Brasil.

Aí o rei disse: "Tem essa boa notícia.

Agora a má notícia.

Você não está sendo

convidado para ocupar esse território.

Você está sendo obrigado a

colonizá-lo com o teu dinheiro."

O rei não dava nada!

Os caras tinham que construir os seus próprios barcos ou comprá-los,

arregimentar os seus colonos,

fazer essa difícil navegação,

de três, às vezes quatro meses até o Brasil,

chegar no seu território,

reconhecê-lo,

escolher um lugar para fazer uma vila, fazer uma vila,

e começar a trabalhar e a produzir dinheiro.

Quer dizer... Pô! É piada, né?

Então, a partir de 1532 até 1534,

o rei ficou distribuindo essas capitanias hereditárias.

Mas o melhor de tudo, o que mais me fascina nessa história, é que quando ele assinou os forais,

os documentos eh... doando essas capitanias, a doação foi feita de juro e herdade

para todo o sempre, portanto, a pessoa, o donatário que recebia aquela imensa extensão de terra,

seria dono dela e poderia

dá-la para os seus herdeiros para sempre.

Uma maravilha, porque a gente vai descobrir logo depois que o sempre foi que nem o amor no caso do

Vinicius de Moraes, né?

Eterno enquanto dure, porque eh... 16 anos depois,

em 1548, o mesmo rei suspendeu as doações e as pessoas que tinham entregue todas as suas fortunas,

e alguns deles a própria vida na colonização dos seus lotes, os perderam.

Espetacular!

Mas, de qualquer forma, a saga de cada um desses 14 lotes é uma saga inacreditável!

Só dois deram certo:

o Pernambuco, que foi ocupado pelo Duarte Coelho,

que era um cara decente,

trabalhador, responsável.

Aí tem um lado bom e um lado ruim, né?

Pela implantação da indústria de cana no Brasil, da cana-de-açúcar, né?

Era um grande navegador.

Ocupou Pernambuco, foi o único lugar que conseguiu desenvolver,

porque a outra única capitania que deu mais ou menos certo foi a do Martim Afonso de Sousa,

São Vicente, que hoje é a São Paulo, né?

Mas só deu certo, porque ali já era um lugar conhecido como "Porto dos Escravos",

onde alguns misteriosos, tipo Bacharel de Cananéia, João Ramalho, que eram náufragos

ou degredados que moravam ali antes do Martim Afonso de Sousa,

tinham iniciado um mui rendoso tráfico de escravos

naquela região. Vendiam os escravos pra expedições

portuguesas e espanholas que passavam por ali.

Todas as outras capitanias fracassaram

lastimavelmente!

Houve casos incríveis entre esses donatários!

A Capitania de Porto Seguro pertencia a um cara chamado Pero do Campo Tourinho.

Ele foi preso e enviado

a ferros pra Inquisição pelos seus próprios colonos!

E sabe qual foi o motivo?

É que os colonos queriam respeitar os dias santos de guarda!

Eu achava que san... dia santo de guarda era um santo que ficava em guarda.

Não! Eram dias de santos que você tinha que guardar!

Ou seja, que você não podia trabalhar. Or rather||||||

Na época, os colonos de Porto Seguro disseram pro donatário que havia

48 dias santos de guarda que não pode, não podiam trabalhar.

Além de não trabalhar nos fins de semana também.

Ou seja, trabalha menos que

senador e que deputado brasileiro nos dias de hoje, né?

Longos recessos parlamentares

os colonos faziam.

E o Pero Campo Tourinho era um cara totalmente anti-clerical e fez mil piadas incríveis

sobre o Papa, sobre Jesus Cristo.

Foi preso, algemado e mandado pra Inquisição em Portugal e condenado!

Não foi condenado à morte, mas perdeu a sua propriedade.

Outro caso inacreditável

é o caso do donatário do Espírito Santo, Vasco Fernandes Coutinho.

Esse se viciou em tabaco.

Não, ficou assim totalmente

viciado em tabaco!

Sério! Fumava tabaco o tempo inteiro, o tempo inteiro.

Ah... depois que ele já tinha perdido a sua capitania, praticamente,

porque a capitania foi tomada por traficantes de escravos e por degredados...

Ele se refugiou na Bahia,

e lá tava o bispo Sardinha,

primeiro bispo do Brasil,

que humilhou ele, botando ele sentado na igreja, rodeado de rolos de fumo

e fez com que ele dissesse,

como se fosse no ar assim,

que ele era viciado em tabaco, tal.

Morreu na miséria. Uma coisa horrível.

Outro donatário que só fez

foi o próprio donatário da Bahia -

o Francisco Pereira, chamado de

porque era um homem muito rude

e resolveu desafiar os índios da Bahia, os Tupinambás.

Os Tupinambás invadiram Salvador, queimaram Salvador, destruíram Salvador

A capitania ficou abandonada,

tanto é que foi ali que, anos depois,

o rei D. João III resolveu fazer a

capital do Brasil, Salvador, né?

E deu início ao Governo Geral.

As capitanias hereditárias se encerraram em

mas o legado delas é duradouro.

Primeiro legado: o Coronelismo.

Todos esses caras eram como se fossem coronéis, né?

Mandavam, tinham um poder de vida ou morte sobre seus colonos.

Literalmente, poder de vida ou morte!

E que só davam arrego pros amigos deles, né?

Só fazia negócio quem tava ligado a eles.

Portanto, o clientelismo também começa ali.

O mandonismo, porque, cara, "neguin" assim, sabe,

andava lá com o cajado isso tudo é meu, eu que mando!

A estrutura fundiária do Brasil,

os grandes latifúndios improdutivos

estão na origem dessas vastas extensões de terras que foram doadas -

primeiro pros donatário e depois pros caras que eles também doavam terras lá dentro.

Por fim, a indústria do açúcar, que tá até hoje ainda sugando o Brasil,

essa cana que é plantada com voracidade,

no antigo solo fértil de massapê da zona da mata -

que não tem mais mata nenhuma!

No Nordeste, no Oeste de São Paulo para onde se expandiu, né?

Para produzir o pó branco que vicia

o açúcar, além do etanol, do álcool e dessas coisas...

E os usineiros sempre devendo,

uma indústria sempre endividada,

sempre vivendo à custa de subsídios estatais,

como já era desde aquela época,

porque nunca houve núcleo propriamente dessa indústria açucareira

se não houvesse investimento da própria Coroa, parceria-público privada.

Mas é o seguinte, né?

Capitanias hereditárias: o rei fez e o rei desfez!

Ou seja, se inaugura no Brasil a época dos contratos estatais não cumpridos!

E a gente, realmente, tem certeza que as capitanias acabaram,

quando a gente pensa, por exemplo, no Maranhão. |||||||Maranhão (state)

Maranhão tem donatário?

Não, acho que não, né?

No Pará! O Pará tem donatário? Não, claro que não.

A Bahia tinha, morreu faz um pouco, né?

Ah... um pouco, não, já faz alguns anos, mas deixou neto, parece, né?

O donatário da Bahia.

As capitanias hereditárias vivem

no pior sentido possível dentro da estrutura desse país que ainda retrógrado e que ainda é atrasado.

Então, se você quiser continuar achando que capitanias hereditárias é um assunto chato,

você tá errado e você vai continuar reproduzindo esses 500 anos de equívocos que o Brasil fez.

É essa a história das capitanias hereditárias.

E uma coisa eu te garanto: ela não vai cair no Enem.

Pelo menos não desse jeito.

Agora, não me pergunte por quê.

Mas, pelo menos, tem esse programinha aqui pra você ver.

Tchau, tchau. Até o próximo.

O que você acaba de ver está repleto de generalizações e simplificações,

mas o quadro geral era esse aí mesmo.

Agora, se você quiser saber como as coisas de fato foram, então, você vai ter que ler.