Como mortes por covid-19 no Reino Unido desabaram de 1,2 mil a menos de 20
Na segunda quinzena de janeiro deste ano, o Reino Unido chegou a registrar mais de
1.200 mortes por dia. Mais de dois meses depois, esse número agora está bem abaixo
de cem. Já chegou a ser menor que 20 em alguns dias do fim de março.
Eu sou Laís Alegretti, repórter da BBC News Brasil aqui em Londres, e neste vídeo vou falar da
receita do atual sucesso do Reino Unido em frear a covid-19: está baseada em lockdown e vacinação.
E vou explicar por que, mesmo com a queda acentuada nos casos e mortes, o país ainda mantém duras restrições.
O esforço para diminuir o impacto do coronavírus começou um mês antes do pico de mortes.
Alguns dias antes do Natal, o governo já observava que, em apenas duas semanas,
o número de novos contágios havia duplicado, de 12 mil para 25 mil por dia. Naquele momento,
a população já havia passado por dois lockdowns e tinha expectativa de
passar as festas de fim de ano com família e amigos, ainda que com algumas restrições.
Mas o plano não deu certo.
Isso porque, assim que as medidas de isolamento foram flexibilizadas,
Lá no começo de dezembro, o número de novos casos disparou. O governo teve de quebrar a
promessa e restringiu viagens e a interação entre as pessoas que não moravam juntas durante o fim de ano.
A descoberta da variante inglesa do coronavírus,
considerada até 70% mais contagiosa, aconteceu justamente nessa época.
O Reino Unido também começou em dezembro a sua campanha de vacinação, mas, é claro,
o número de doses aplicadas ainda não era suficiente para frear o avanço do vírus.
Esse cenário fez com que o primeiro-ministro,
Boris Johnson, anunciasse em rede nacional o terceiro lockdown.
O que aconteceu? O comércio não essencial e as escolas foram fechados,
vestibulares e outras provas do sistema de educação daqui foram suspensos e o governo
também impôs restrições para viagens — tanto dentro do país como para fora.
O auxílio salarial para mais de 10 milhões de trabalhadores,
com benefícios que chegam a 2.500 libras, ou quase 20 mil reais, foi estendido até setembro.
E mesmo a oposição ao governo Boris Johnson apoiou as medidas.
No dia 8 de dezembro, a britânica Margaret Keenan, de 91 anos, foi a primeira pessoa
não só do Reino Unido, mas de todo o Ocidente, a ser vacinada fora do período de testes clínicos.
Vocês devem se lembrar daquela imagem.
O esforço até chegar a essa dose, no entanto, começou muito antes.
Em janeiro de 2020, antes mesmo do primeiro caso de covid-19 no Reino Unido, cientistas
da Universidade de Oxford se mobilizaram para pedir mais recursos para pesquisas em vacinas.
Em março daquele ano, já depois da declaração de pandemia pela Organização Mundial da Saúde, a OMS,
o governo anunciou investimentos de 750 milhões de dólares, isso equivale a
mais de 4 bilhões de reais, para encontrar um imunizante eficaz contra a doença.
Um mês depois, foi assinada a parceria entre a Universidade de Oxford e a empresa farmacêutica
AstraZeneca para o desenvolvimento da vacina que acabou sendo aprovada no final de 2020.
O produto, quando comparado com os demais,
tem a vantagem de ser mais fácil de armazenar e mais barato para produzir.
Em agosto, quatro meses depois, o governo britânico já tinha
fechado contrato para a compra de 340 milhões de doses de diferentes vacinas,
o suficiente para aplicar 5 doses por habitante.
Isso tudo antes mesmo de qualquer vacina ser
aprovada pela agência que regula o setor da saúde no Reino Unido.
Assim, o Reino Unido saiu na frente de outros países europeus na corrida por vacinas e,
consequentemente, nas projeções para a reabertura da economia.
O país já imunizou duas vezes mais pessoas que a Alemanha e três vezes mais que a França.
O plano é que todas as pessoas com mais de 50 anos recebam ao menos uma dose da vacina
até 15 de abril. A meta maior é oferecer a primeira dose para todos os adultos até 31 de julho.
Mas existe a possibilidade de atrasos, já que a União Europeia pode reverter o atraso
de sua vacinação barrando a exportação de doses produzidas dentro do bloco econômico.
Mas mesmo com a queda substancial no número de mortes e o avanço na vacinação,
o Reino Unido ainda não saiu do lockdown.
A maioria dos estabelecimentos considerados não essenciais continua fechada e só vai
reabrir a partir de 12 de abril, e se houver condições para isso.
É que o governo estabeleceu um calendário de reabertura gradual,
que prevê a retomada da maior parte das atividades até junho, pouco a pouco.
Mas isso só sai do papel se não acontecer nenhum imprevisto,
como atrasos na vacinação ou aumento de mortes ou de novos casos.
Desde o dia 29 de março, seis pessoas, ou duas famílias,
podem voltar a se reunir. Mas apenas em áreas abertas, como quintais e parques.
E viagens continuam proibidas.
Mas os dias 28 e 29, os primeiros do relaxamento das restrições para encontros ao ar livre,
mostraram que o verão que se aproxima pode ser um desafio para o governo.
Com a Inglaterra atingindo as maiores
temperaturas do ano até agora, centenas de pessoas se reuniram em parques de cidades como Londres,
Leeds e Manchester. Muitas delas claramente desrespeitando a chamada "regra de seis" e a
distância de ao menos dois metros recomendada.
Cenas de Nottingham, onde jovens aglomeraram, beberam e até brigaram, correram o mundo.
O governo não descarta que o país pode ter uma terceira onda de coronavírus no final do ano,
quando o outono começar. Ainda mais depois das notícias vindas
dos vizinhos de Europa – países como Itália e França tiveram de
restabelecer medidas restritivas após os casos voltarem a aumentar.
Portanto, nada de baixar a guarda agora!
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Até a próxima!