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BBC Brasil 2019 (Áudio/Vídeo+CC), Maduro X Juan Guaidó: 5 perguntas sobre a Venezuela

Maduro X Juan Guaidó: 5 perguntas sobre a Venezuela

[Jan 30, 2019].

Quem acompanha o noticiário internacional viu que nas últimas semanas a oposição voltou às ruas na Venezuela.

As cenas parecem com que nós temos assistido nos últimos anos, mas dessa vez a coisa é diferente.

Por exemplo, a Venezuela tem hoje dois presidentes. Como assim?

Eu sou Camilla Veras Mota e nesse vídeo vou explicar em cinco pontos o que está acontecendo com o nosso vizinho.

O primeiro ponto é a maior pressão internacional sobre a Venezuela.

[TRUMP] - "Não estamos considerando nada, mas todas as opções estão na mesa".

Depois de anos de crise no país, os Estados Unidos e boa parte da comunidade internacional entraram de vez na equação do lado da oposição ao governo de Nicolás Maduro.

Esse pessoal não só considera Maduro um presidente ilegítimo, como anunciou formalmente que reconhece o opositor Juan Guaidó, que se proclamou presidente interino neste mês de janeiro.

Estão na lista, além dos Estados Unidos, países como Brasil, Canadá, Argentina e Chile, entre outros.

Essa é uma mudança simbólica e política, mas não está claro ainda seu impacto prático no cenário de indefinição que a Venezuela vive.

Se por um lado ele é combustível para a oposição, de outro poderia servir de argumento para a permanência de Maduro no poder, que sempre criticou a suposta ingerência estrangeira no país.

Esse apoio externo poderia, por exemplo, alimentar esse discurso.

O segundo ponto é o papel de possíveis novas sanções.

A Venezuela já enfrenta uma série de sanções econômicas que dificultam, por exemplo, seu financiamento externo.

No ano passado, o governo Trump proibiu a realização de transações com títulos da dívida venezuelana e a compra de bônus da estatal petroleira PDVSA nos Estados Unidos, um impacto importante sobre a já combalida economia venezuelana.

"Hoje, o Tesouro age contra a estatal de petróleo venezuelana PDVSA para ajudar a prevenir futuros desvios dos recursos da Venezuela pelo presidente Maduro".

Como resposta à turbulência recente no país, nesta semana o assessor de segurança nacional dos Estados Unidos, John Bolton, anunciou novas barreiras: desta vez com impacto sobre as divisas que o petróleo venezuelano geram nos Estados Unidos.

Foram congelados 7 bilhões de dólares em recursos da Sit Go, a subsidiária da empresa de petróleo da Venezuela nos Estados Unidos, o que geraria uma perda estimada de 11 bilhões de dólares em exportações no decorrer deste ano.

Ficou ainda em aberto a possibilidade de os Estados Unidos, que são o destino de cerca de 40% de todo o petróleo exportado pelo país, simplesmente pararem de comprar a commodity da Venezuela.

As novas sanções não interrompem o fluxo de comércio, até porque isso poderia causar uma grande alta dos preços do petróleo no mercado internacional, o que afetaria, é claro, o consumidor americano.

A reação de Maduro foi romper relações diplomáticas com os Estados Unidos e convocar seus simpatizantes a se prepararem para um ataque imperialista iminente ou um golpe de estado contra o seu governo, que diz ser eleito democraticamente.

"Que vá mandar em seu país. Viva Chávez e Nicolás Maduro."

De fato houve eleições na Venezuela, como tem sido o caso há anos.

O problema é a forma como todo o processo democrático acaba sendo deturpado no país, por meio da prisão de opositores, muitos foram impedidos de concorrer nessas últimas eleições, da cooptação da justiça e mesmo da participação de militares dando apoio ao governo, ou seja agindo, para favorecer o chavismo.

Terceiro ponto por que a oposição despertou agora?

Chama atenção, claro, o renascimento da oposição, que supera uma fase de desânimo e divisão e volta a ser capaz de encher as ruas do país em apoio ao autoproclamado presidente interino.

No último ano, praticamente todos os líderes da oposição se enfraqueceram: muitos foram presos.

Isso apesar da crise econômica profunda e do número cada vez maior de venezuelanos que veem na imigração para países como o Brasil, uma última alternativa para escapar da fome e da pobreza.

Neste mês, em apenas dois dias, tudo isso mudou.

Maduro tomou posse em seu segundo mandato presidencial no dia 10 de janeiro.

O presidente foi reeleito lá em maio de 2018, em eleições marcadas por altos níveis de abstenção.

A estimativa é de que apenas 46% dos eleitores foram votar.

E pelo fato de que o resultado não foi reconhecido nem pela oposição nem por grande parte da comunidade internacional.

A nova presidência da Assembleia Nacional, essa comandada pela oposição, também assumiu no dia 10 de janeiro e dias depois declarou Maduro um usurpador do poder.

Em 2015, a oposição conquistou o controle do congresso venezuelano, mas logo em seguida o tribunal supremo de justiça do país decretou que o legislativo estava em desacato e o presidente Nicolás Maduro convocou uma nova Assembleia Nacional Constituinte.

Na prática, isso anulou os poderes dos deputados de oposição e criou um congresso paralelo no país e acabou dando um novo gás para a oposição.

O presidente da Assembleia Nacional, que se autoproclamou presidente interino no meio dessa confusão, é um jovem deputado relativamente desconhecido até então: Juan Guaidó.

Tem o perfil dele na nossa página. Vocês podem encontrar o link aqui embaixo.

Filiado ao partido de um dos líderes históricos do antichavismo, o preso político Leopoldo López, ele é considerado próximo de Washington.

O quarto ponto: qual o papel dos militares?

Uma diferença entre os protestos atuais e os anteriores é o convite aberto que a oposição tem feito aos militares.

Ainda em janeiro, a Assembleia Nacional aprovou uma lei de anistia que promete incentivos aos militares que colaborarem em um processo de transição.

Apesar disso, nenhum militar de alta patente, pelo menos até agora, abandonou Maduro para apoiar Guaidó.

"Alerto ao povo da Venezuela que está levando um golpe de Estado, contra a institucionalidade, contra a democracia, contra nossa constituição, contra o presidente Nicolás Maduro, presidente legítimo da República Bolivariana da Venezuela".

Mas uma coisa não mudou na Venezuela: ninguém sabe ao certo o que se passa na caserna, mesmo quando oficialmente prometem apoio a Maduro.

Os militares são personagens-chave no país: eles controlam vários ministérios, parte da economia, a produção de petróleo e até a distribuição de alimentos e são uma presença constante nas ruas.

Por isso, qualquer possibilidade de mudança no país passa pelos quartéis.

Eles podem, como aconteceu várias outras vezes, apoiar Maduro e reprimir os protestos, prendendo manifestantes.

Aliás, vocês já assistiram um vídeo que a gente fez sobre Helicóide, um ex-shopping center modernista transformado em prisão?

Tem um link dele aqui embaixo e vocês podem clicar nesse pop-up aqui em cima para ver também.

Nos últimos meses, alguns focos de rebelião surgiram em alguns quartéis, mas em pequena escala e em circunstâncias que ainda são pouco claras.

Muitos analistas e parte da oposição e até do chavismo dizem que a única saída pacífica para a crise política na Venezuela passa por uma negociação entre as partes.

E os militares são peça fundamental nesse diálogo.

Quinto ponto: pode haver uma intervenção militar?

Quem acompanhou a cobertura da coletiva de Bolton, o assessor de segurança nacional dos Estados Unidos que deu aquela entrevista esta semana, viu que o assessor segurava um bloquinho acidentalmente ou intencionalmente com os dizeres escritos à mão: "5 mil tropas para a Colômbia".

A nota gerou especulações sobre uma eventual ação americana na Venezuela, especialmente porque Bolton não descartou a possibilidade de intervenção e disse que todas as opções continuavam sobre a mesa.

O ministro de relações exteriores colombiano afirmou desconhecer do que se tratava a anotação do assessor.

E o Brasil nessa história?

O vice-presidente Hamilton Mourão disse, no último dia 23 de janeiro, que o Brasil não participaria de uma eventual intervenção militar na Venezuela.

"Não é da nossa política externa intervir nos assuntos internos de outros países", ele afirmou, logo após a notícia de que Guaidó havia se declarado presidente interino.

Independentemente da questão da intervenção militar, há o risco de que a Venezuela, por sua importância estratégica na produção de petróleo, vire uma espécie de zona de guerra fria entre as potências.

Rússia e China, por exemplo, criticaram as novas sanções americanas impostas ao país.

A Rússia classificou de ilegais as novas barreiras, acusou Washington de ingerência sobre o país e anunciou a intenção de defender seus interesses na Venezuela.

Rússia e China estão entre os países, ao lado de México e Bolívia, que reconhecem o governo de Nicolás Maduro.

Espero que tenha ficado mais claro o momento vivido pela nossa vizinha.

Muito obrigada.

Hasta la vista e até a próxima"


Maduro X Juan Guaidó: 5 perguntas sobre a Venezuela Maduro gegen Juan Guaidó: 5 Fragen zu Venezuela Maduro vs. Juan Guaidó: 5 questions about Venezuela Maduro vs Juan Guaidó: 5 domande sul Venezuela マドゥロ対フアン・グアイドー:ベネズエラに関する5つの質問 馬杜羅 X 胡安瓜伊多:關於委內瑞拉的 5 個問題

[Jan 30, 2019].

Quem acompanha o noticiário internacional viu que nas últimas semanas a oposição voltou às ruas na Venezuela.

As cenas parecem com que nós temos assistido nos últimos anos, mas dessa vez a coisa é diferente.

Por exemplo, a Venezuela tem hoje dois presidentes. Como assim?

Eu sou Camilla Veras Mota e nesse vídeo vou explicar em cinco pontos o que está acontecendo com o nosso vizinho.

O primeiro ponto é a maior pressão internacional sobre a Venezuela.

[TRUMP] - "Não estamos considerando nada, mas todas as opções estão na mesa".

Depois de anos de crise no país, os Estados Unidos e boa parte da comunidade internacional entraram de vez na equação do lado da oposição ao governo de Nicolás Maduro.

Esse pessoal não só considera Maduro um presidente ilegítimo, como anunciou formalmente que reconhece o opositor Juan Guaidó, que se proclamou presidente interino neste mês de janeiro.

Estão na lista, além dos Estados Unidos, países como Brasil, Canadá, Argentina e Chile, entre outros.

Essa é uma mudança simbólica e política, mas não está claro ainda seu impacto prático no cenário de indefinição que a Venezuela vive.

Se por um lado ele é combustível para a oposição, de outro poderia servir de argumento para a permanência de Maduro no poder, que sempre criticou a suposta ingerência estrangeira no país.

Esse apoio externo poderia, por exemplo, alimentar esse discurso.

O segundo ponto é o papel de possíveis novas sanções.

A Venezuela já enfrenta uma série de sanções econômicas que dificultam, por exemplo, seu financiamento externo.

No ano passado, o governo Trump proibiu a realização de transações com títulos da dívida venezuelana e a compra de bônus da estatal petroleira PDVSA nos Estados Unidos, um impacto importante sobre a já combalida economia venezuelana.

"Hoje, o Tesouro age contra a estatal de petróleo venezuelana PDVSA para ajudar a prevenir futuros desvios dos recursos da Venezuela pelo presidente Maduro".

Como resposta à turbulência recente no país, nesta semana o assessor de segurança nacional dos Estados Unidos, John Bolton, anunciou novas barreiras: desta vez com impacto sobre as divisas que o petróleo venezuelano geram nos Estados Unidos.

Foram congelados 7 bilhões de dólares em recursos da Sit Go, a subsidiária da empresa de petróleo da Venezuela nos Estados Unidos, o que geraria uma perda estimada de 11 bilhões de dólares em exportações no decorrer deste ano.

Ficou ainda em aberto a possibilidade de os Estados Unidos, que são o destino de cerca de 40% de todo o petróleo exportado pelo país, simplesmente pararem de comprar a commodity da Venezuela.

As novas sanções não interrompem o fluxo de comércio, até porque isso poderia causar uma grande alta dos preços do petróleo no mercado internacional, o que afetaria, é claro, o consumidor americano.

A reação de Maduro foi romper relações diplomáticas com os Estados Unidos e convocar seus simpatizantes a se prepararem para um ataque imperialista iminente ou um golpe de estado contra o seu governo, que diz ser eleito democraticamente.

"Que vá mandar em seu país. Viva Chávez e Nicolás Maduro."

De fato houve eleições na Venezuela, como tem sido o caso há anos.

O problema é a forma como todo o processo democrático acaba sendo deturpado no país, por meio da prisão de opositores, muitos foram impedidos de concorrer nessas últimas eleições, da cooptação da justiça e mesmo da participação de militares dando apoio ao governo, ou seja agindo, para favorecer o chavismo.

Terceiro ponto por que a oposição despertou agora?

Chama atenção, claro, o renascimento da oposição, que supera uma fase de desânimo e divisão e volta a ser capaz de encher as ruas do país em apoio ao autoproclamado presidente interino.

No último ano, praticamente todos os líderes da oposição se enfraqueceram: muitos foram presos.

Isso apesar da crise econômica profunda e do número cada vez maior de venezuelanos que veem na imigração para países como o Brasil, uma última alternativa para escapar da fome e da pobreza.

Neste mês, em apenas dois dias, tudo isso mudou.

Maduro tomou posse em seu segundo mandato presidencial no dia 10 de janeiro.

O presidente foi reeleito lá em maio de 2018, em eleições marcadas por altos níveis de abstenção.

A estimativa é de que apenas 46% dos eleitores foram votar.

E pelo fato de que o resultado não foi reconhecido nem pela oposição nem por grande parte da comunidade internacional.

A nova presidência da Assembleia Nacional, essa comandada pela oposição, também assumiu no dia 10 de janeiro e dias depois declarou Maduro um usurpador do poder.

Em 2015, a oposição conquistou o controle do congresso venezuelano, mas logo em seguida o tribunal supremo de justiça do país decretou que o legislativo estava em desacato e o presidente Nicolás Maduro convocou uma nova Assembleia Nacional Constituinte.

Na prática, isso anulou os poderes dos deputados de oposição e criou um congresso paralelo no país e acabou dando um novo gás para a oposição.

O presidente da Assembleia Nacional, que se autoproclamou presidente interino no meio dessa confusão, é um jovem deputado relativamente desconhecido até então: Juan Guaidó.

Tem o perfil dele na nossa página. Vocês podem encontrar o link aqui embaixo.

Filiado ao partido de um dos líderes históricos do antichavismo, o preso político Leopoldo López, ele é considerado próximo de Washington.

O quarto ponto: qual o papel dos militares?

Uma diferença entre os protestos atuais e os anteriores é o convite aberto que a oposição tem feito aos militares.

Ainda em janeiro, a Assembleia Nacional aprovou uma lei de anistia que promete incentivos aos militares que colaborarem em um processo de transição.

Apesar disso, nenhum militar de alta patente, pelo menos até agora, abandonou Maduro para apoiar Guaidó.

"Alerto ao povo da Venezuela que está levando um golpe de Estado, contra a institucionalidade, contra a democracia, contra nossa constituição, contra o presidente Nicolás Maduro, presidente legítimo da República Bolivariana da Venezuela".

Mas uma coisa não mudou na Venezuela: ninguém sabe ao certo o que se passa na caserna, mesmo quando oficialmente prometem apoio a Maduro.

Os militares são personagens-chave no país: eles controlam vários ministérios, parte da economia, a produção de petróleo e até a distribuição de alimentos e são uma presença constante nas ruas.

Por isso, qualquer possibilidade de mudança no país passa pelos quartéis.

Eles podem, como aconteceu várias outras vezes, apoiar Maduro e reprimir os protestos, prendendo manifestantes.

Aliás, vocês já assistiram um vídeo que a gente fez sobre Helicóide, um ex-shopping center modernista transformado em prisão?

Tem um link dele aqui embaixo e vocês podem clicar nesse pop-up aqui em cima para ver também.

Nos últimos meses, alguns focos de rebelião surgiram em alguns quartéis, mas em pequena escala e em circunstâncias que ainda são pouco claras.

Muitos analistas e parte da oposição e até do chavismo dizem que a única saída pacífica para a crise política na Venezuela passa por uma negociação entre as partes.

E os militares são peça fundamental nesse diálogo.

Quinto ponto: pode haver uma intervenção militar?

Quem acompanhou a cobertura da coletiva de Bolton, o assessor de segurança nacional dos Estados Unidos que deu aquela entrevista esta semana, viu que o assessor segurava um bloquinho acidentalmente ou intencionalmente com os dizeres escritos à mão: "5 mil tropas para a Colômbia".

A nota gerou especulações sobre uma eventual ação americana na Venezuela, especialmente porque Bolton não descartou a possibilidade de intervenção e disse que todas as opções continuavam sobre a mesa.

O ministro de relações exteriores colombiano afirmou desconhecer do que se tratava a anotação do assessor.

E o Brasil nessa história?

O vice-presidente Hamilton Mourão disse, no último dia 23 de janeiro, que o Brasil não participaria de uma eventual intervenção militar na Venezuela.

"Não é da nossa política externa intervir nos assuntos internos de outros países", ele afirmou, logo após a notícia de que Guaidó havia se declarado presidente interino.

Independentemente da questão da intervenção militar, há o risco de que a Venezuela, por sua importância estratégica na produção de petróleo, vire uma espécie de zona de guerra fria entre as potências.

Rússia e China, por exemplo, criticaram as novas sanções americanas impostas ao país.

A Rússia classificou de ilegais as novas barreiras, acusou Washington de ingerência sobre o país e anunciou a intenção de defender seus interesses na Venezuela.

Rússia e China estão entre os países, ao lado de México e Bolívia, que reconhecem o governo de Nicolás Maduro.

Espero que tenha ficado mais claro o momento vivido pela nossa vizinha.

Muito obrigada.

Hasta la vista e até a próxima"