Explosão no Líbano: o que é o nitrato de amônio, fertilizante por trás de atentados e acidentes
O nitrato de amônio voltou às manchetes como
“o principal suspeito” pela megaexplosão em Beirute.
Esse composto químico foi apontado pelo presidente do Líbano, Michel Aoun, como o principal
causador de mortes e destruição.
As informações iniciais são de que mais de 2700 toneladas do produto químico estavam
armazenadas no porto desde 2013.
Mas o que é o nitrato de amônio e como pode ter provocado uma explosão tão devastadora?
Eu sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil e começo dizendo que não é fácil fazer
esse composto químico explodir.
E também que ele é muito comum em todo mundo, inclusive no Brasil.
Isso porque ele é um dos fertilizantes eficientes, é o N do NPK, sigla que reúne os compostos
nitrogênio, fósforo e potássio, os nutrientes mais importantes para as plantas.
Isso significa que o acesso ao nitrato de amônio é relativamente fácil, qualquer
um pode comprar o composto em pequenas quantidades em lojas especializadas.
Significa também que a produção agrícola consome grandes quantidades de nitrato de
amônio, que precisam ser transportadas e armazenadas em segurança.
Mas ele também é usado na fabricação de explosivos
para mineração.
Especialistas dizem que sozinho o composto não é explosivo, mas se torna perigoso quando
submetido a altas temperaturas.
Nesse caso, ele pode sofrer decomposição térmica, liberando oxigênio, que alimenta
a combustão - ou seja, aumenta a intensidade do fogo - e outros gases, o que pode acabar
gerando uma grande explosão.
É por causa desse enorme potencial de destruição que a substância já foi usada em atentados
como o ataque cometido em 1995 pelos extremistas americanos Timothy McVeigh e Terry Nichols.
O atentado, que usou uma van cheia de nitrato de amônio misturado com nitrometano, destruiu
parcialmente um prédio do governo dos Estados Unidos em Oklahoma, matando 168
pessoas, entre elas dezenove crianças de uma creche que funcionava no edifício.
Foi um incidente trágico do chamado terrorismo doméstico nos Estados Unidos.
O composto também foi usado como bomba em Oslo, na Noruega,
quando um extremista norueguês explodiu um carro em frente à sede do governo, matando
oito pessoas em 2011.
Você deve se lembrar de que poucas horas depois da explosão do carro bomba com nitrato
de amônio, um segundo extremista, Anders Breivik, invadiu uma
colônia de férias e executou 69 pessoas.
Foi também um dos episódios mais trágicos da história da Noruega.
Mas mesmo antes de ser usado como arma, o potencial explosivo do nitrato de amônio
já era conhecido por causa de acidentes dramáticos.
Em 1947, também nos Estados Unidos, aconteceu a explosão considerada uma das mais devastadoras
da História, tirando as de bombas nucleares.
Em 16 de abril de 1947, no Texas, 581 pessoas morreram depois que
um incêndio em um navio levou à explosão de cerca de 2 mil toneladas de nitrato de
amônio.
Aí você deve estar pensando como esse composto tão explosivo pode ser usado de forma tão
generalizada, né?
É que para o nitrato de amônio explodir, são necessárias temperaturas muito altas.
O que especialistas chamam de gatilho.
Na reportagem que você pode ler no nosso site, o professor Reinaldo Bazito,
do Instituto de Química da USP, nos explicou que o incêndio no porto de Beirute pode ter
sido o gatilho para a explosão.
Se havia uma grande quantidade do material armazenada ali, o incêndio atingiu facilmente
mais de trezentos graus, a temperatura que, segundo
o professor, levaria à explosão.
Ou seja, o fertilizante que você tem em casa, ou aquele armazenado por agricultores seguindo
as regras de segurança, tem um risco muito baixo de explodir.
É por isso que, apesar do potencial destruidor que a gente viu nos vídeos lá de Beirute,
existem relativamente poucos acidentes e explosões graves causadas pelo fertilizante.
No caso da explosão do Líbano, as autoridades responsáveis pelo porto foram mandadas
para prisão domiciliar.
Espero que este vídeo tenha te ajudado a entender um pouco mais o que aconteceu no Líbano.
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Obrigada e até a próxima!