Podemos parar um asteroide?
[Podemos parar um asteroide?]
"Cerca de 66 milhões de anos atrás um asteroide com cerca de 10 km de diâmetro caiu na Terra próximo à costa da região que hoje chamamos de México.
As consequências do impacto fez com que pelo menos 50% das espécies na Terra desaparecessem, incluindo os dinossauros.
Um impacto dessa magnitude é bem raro.
Seria loucura pensar que isso poderia acontecer com nós, humanos?
Em 30 de Novembro de 1954 uma mulher chamada Ann Hodges foi acordada de uma soneca em sua casa nos Estados Unidos com uma pancada forte no quadril.
Ao abrir os olhos percebeu que sua casa estava cheia de fumaça e que havia um buraco no teto.
Uma rocha preta com um tamanho um pouco maior que um punho havia entrado na casa, ricocheteado em um rádio e atingido a mulher.
Apesar do susto e do grande hematoma em seu corpo, ela não se machucou gravemente.
Depois da análise de um geólogo, constatou-se que o objeto se tratava de um meteorito.
Esse foi o primeiro caso documentado de um ferimento em um ser humano causado diretamente por um objeto vindo do espaço.
Mas, rochas vindas do espaço podem ter consequências bem mais catastróficas que um hematoma.
O impacto de um asteroide na Terra tem sim o potencial de ser o causador da extinção da nossa espécie.
Mas, o quão provável isso é de acontecer?
E o que a gente pode fazer se detectarmos um deles vindo ao nosso encontro?
O filme de 1998 Impacto Profundo mostra as ações do governo americano e russo para deter um cometa com cerca de 11 km de comprimento e 500 bilhões de toneladas em rota de colisão com a Terra.
E para isso, os dois países construíram na órbita da Terra a maior nave espacial já concebida.
Seis astronautas viajariam nela, pousariam no cometa, furariam a superfície, colocariam bombas nucleares a 100 metros de profundidade e as detonariam.
Talvez um dos lados mais interessantes da exploração espacial para mim é o desenvolvimento da nossa habilidade de evitar a nossa própria extinção.
Desenvolver colônias em outros lugares do sistema solar é uma das maneiras de fazer isso, afinal, não devemos carregar todos os ovos em uma única cesta.
Mas é sempre uma boa ideia evitar catástrofes globais como a que o impacto de um asteroide poderia causar.
A Terra é atingida constantemente por fragmentos rochosos que queimam na atmosfera e são o que chamamos de "meteoro" ou "estrela cadente".
Antes de se encontrarem com o nosso planeta eles são chamados de "meteoroides" se forem sólidos maiores do que 10 micrômetros e menores do que 1 metro.
E apesar da definição destes termos ser um pouquinho difusa, podemos dizer que "meteoritos" são, de acordo com um artigo publicado em 2010:
"[...] objetos sólidos naturais maiores que 10 micrômetros derivados de um corpo celeste, transportados por meios naturais de onde foram formados e que colidiram com um corpo natural ou artificial maior do que ele mesmo, mesmo que este corpo seja o mesmo de onde ele saiu.
Apesar de atingirem a superfície, estes objetos não costumam ser um problema para nós.
O meteoro de Chelyabinsk, que rasgou os céus da Rússia em 15 de Fevereiro de 2013, tinha cerca de 17 metros de diâmetro e pesava cerca de 10 mil toneladas.
Ele explodiu durante a entrada com uma força de cerca de 470 kilotons, criando uma onda de choque que quebrou vidros e machucou cerca de 1200 pessoas indiretamente.
Em 1908 um outro meteoro um pouco maior rasgou os céus da Sibéria, causando uma explosão ainda maior.
Tão grande, na verdade, que derrubou árvores em uma área gigantesca de mais de 2 mil km quadrados.
Eventos como esse são relativamente raros.
Mas, quanto maiores eles forem, mais perigosos são.
E há uma relação inversa entre o tamanho destes objetos e a frequência com que eles atingem o planeta.
Quanto maiores eles são, mais raros são os seus impactos.
Asteroides maiores do que 100 metros já têm um potencial devastador bastante grande dependendo da sua trajetória, velocidade e composição.
Mas, para causar uma catástrofe global eles precisam ter cerca de 1 km de diâmetro ou mais.
Além de afetar uma grande área, um impacto de um asteroide dessa magnitude poderia lançar material suficiente na atmosfera para bloquear parte da radiação solar e diminuir consideravelmente a temperatura do planeta.
Mas não corra para estocar comida ainda, um impacto deste tipo ocorre uma vez a cada alguns milhões de anos, o que é bastante raro.
Então, o que nós humanos podemos fazer se nos depararmos com um asteroide ou cometa vindo em nossa direção?
Estes objetos viajam em órbitas ao redor do sol e nos atingem com uma velocidades de em média 18 km/s.
E por mais rápido que isso seja, basta mudar essa velocidade por uma fração bem pequena para que evitar o impacto com o planeta.
Um dos jeitos de fazer isso é causar um impacto direto no asteroide.
E é exatamente isso que a missão DART da NASA irá fazer.
A sigla quer dizer "Double Asteroid Redirection Test", ou "Teste de Redirecionamento de Asteroide Duplo".
Duplo por que o objeto em questão, chamado de "Didymos", tem um companheiro menor que o orbita.
Essa pequena Lua tem cerca de 160 metros de diâmetro e vai ser impactada pela sonda a aproximadamente 6.6 km/s.
Esse impacto vai ser suficiente para mudar só um pouquinho a velocidade do corpo.
Mas, vai ser suficiente para que a órbita dele ao redor do corpo primário mudar e ser medida através de observações feitas aqui da Terra.
Alguns dias antes do impacto a sonda vai soltar um Cubesat feito pela Agência Espacial Italiana, que vai fazer medições do asteroide logo após o impacto, coletando imagens da cratera, da pluma de ejeção e do asteroide em si.
A DART é a primeira parte de uma missão conjunta chamada AIDA, "Asteroid Impact and Deflection Assessment".
E vai ser lançada a bordo de um Falcon 9 no segundo semestre de 2021.
A segunda parte, operada pela Agência Espacial Europeia, consiste da sonda Hera, que será lançada em 2024 e tem o objetivo de estudar mais de perto o resultado da colisão.
Bater em um asteroide é talvez um dos jeitos mais fáceis de deflexão.
A mudança de velocidade é pequena, mas as diferenças de distância viajada são absurdamente amplificadas ao longo do tempo.
Reduzir ou aumentar a velocidade de um asteroide em 1 ou 2 mm/s pode já ser o suficiente pra evitar uma catástrofe.
Mas existem outras maneiras de fazer isso.
Poderíamos usar lasers para vaporizar a superfície de um lado do asteroide, por exemplo.
A ejeção desse material para o espaço mudaria a velocidade dele.
Outro jeito de fazer pode sim envolver bombas nucleares.
Mas ao invés de explodir o asteroide como no filme 'Armaggedon', poderíamos explodir uma logo acima da superfície, causando um grande aumento de temperatura no asteroide e consequente ejeção de material, causando deflexão.
Outras ideias envolvem o uso da influência gravitacional de uma sonda para lentamente mudar a trajetória do objeto, por exemplo.
Mas asteroides de tamanhos diferentes, órbitas diferentes e composições diferentes podem exigir soluções bastante diferentes.
Mas antes de qualquer sistema desses precisar agir para deter um objeto vindo em nossa direção, precisamos saber onde eles estão.
Em 1998, a NASA definiu o objetivo de descobrir 90% dos objetos com mais de 1km e, em 2005, estendeu este objetivo para descobrir 90% dos objetos com mais de 140 metros.
Os times responsáveis por isso trabalham no chamado Centro Para Estudo de Objetos Próximos à Terra, que trabalha em conjunto com o Escritório de Coordenação de Defesa Planetária.
Ao coletar dados continuamente e calcular de forma bastante precisa as órbitas de milhares de objetos no sistema solar, é possível descobrir os níveis de risco a que estamos sujeitos.
De acordo com o site do programa, em Setembro de 2020 já foram descobertos mais de 23 mil objetos próximos da Terra.
A maior parte deles na casa das dezenas ou poucas centenas de metros de diâmetro.
E poucos acima de 1km.
Nós ainda não temos um sistema de defesa planetária que impeça uma catástrofe acontecer.
Mas continuamos de olho no céu e estamos dando os primeiros passos para acharmos as melhores soluções para possíveis problemas.
Eu lembro de assistir ao filme Impacto Profundo quando era criança e de ficar extremamente assustado com a perspectiva de um asteroide daquela magnitude atingindo a Terra.
E muita gente hoje em dia pode ter a mesma reação ao ler notícias sensacionalistas sobre a passagem de um asteroide próximo da Terra.
A maior parte destes objetos passam a milhões de km da Terra.
5, 10, 20 vezes a distância entre o planeta e a Lua.
A verdade é que os riscos de um impacto em um futuro breve são baixíssimos e nós temos cientistas muito competentes do mundo inteiro procurando por estes objetos e avaliando continuamente essa possibilidade.
Se um dia nos depararmos com uma possibilidade de catástrofe real, é provável que teremos anos para nos preparar e agir.
As missões de demonstração de tecnologia que vão acontecer nos próximos anos são passos essenciais nesse processo e vai ser bem legal acompanhar de perto seus resultados.
Por mais que seja muito provável que não precisemos utilizar essas soluções em um cenário real por centenas ou talvez até milhares de anos.
Antes de terminar o vídeo eu quero te avisar que o Dobra Espacial agora tem um servidor no Discord! Se você quiser um lugar para conversar sobre exploração espacial, ciência e qualquer coisa interessante, é só dar uma passadinha lá.
Vou deixar o link aqui na descrição.
E eu te vejo lá!