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Buenas Ideias, A HISTÓRIA DA PRIMEIRA FAVELA DO BRASIL | EDUARDO BUENO

A HISTÓRIA DA PRIMEIRA FAVELA DO BRASIL | EDUARDO BUENO

As coisas têm nome e a gente tem que dar o nome correto das coisas, tipo dar nome

aos bois. Então, o nome é favela! Favela! Repita

comigo! Favela! Vela, vela! Acenda uma para a nossa primeira favela.

Não sabe o que é favela? Sabe ou não sabe? É claro que sabe. Favela é

uma árvore, cara, é uma árvore de três a cinco metros de altura da família das euforbiáceas.

A mesma família da seringueira. É uma árvore que tem favos. Daí, favela.

Favos verruginosos, que têm umas verrugas e essas verrugas são

profusamente espinhosas e esse espinho é um espinho cáustico, que quando pega a tua

pele tem uma espécie de látex, que dá uma ardência horrorosa, mas pior! Esse espinho

entra na tua pele porque são aqueles espinhos andarilhos, caminhantes, ele vai caminhando e

tem neguinho que diz que chega até o coração e é assim que a gente chega ao

coração da questão, cara. Como é que surgiram as favelas? Por que hoje favela quer dizer

comunidade, quer dizer os barracos nos morros?

É simples, cara, porque tudo começou no Morro da Favela.

Onde é que era o morro da favela, ô mané? Tu não viu o episódio de Canudos na semana

passada? Vê lá, vai lá, clica lá! Canudos! Só que o

seguinte: eu não falei do Morro da Favela. Falei!

Mas muito rapidamente do Morro da Favela. O Morro da Favela

ficava no interior da Bahia no Arraial de Canudos. Foi em cima desse morro que o

exército brasileiro botou um canhão chamado a matadeira e mirou exatamente

na igreja de canudos. Um ataque final que acabou arrasando aquele arraial

evangélico liderado pelo Antônio Conselheiro. Esse morro estava coberto de

uma árvore chamada favela. Os soldados brasileiros que foram convocados, alguns

deles meio que à força, para combater os miseráveis de canudos em 1897, voltaram

para o Rio de Janeiro e um dos motivos pelos quais eles tinham se alistado, ou meio

que sido levados conduzidos para participar desse massacre, é que eles

haviam recebido a promessa de que teriam uma casa própria.

Tão logo retornassem desse confronto. Eles foram lá mataram 25 mil sertanejos, sujaram

as suas mãos com sangue, retornaram para o porto do Rio de Janeiro e foram esperar

a sua casa própria e vão para a frente do ministério do exército, no mesmo lugar

onde hoje ainda existe uma grande instalação do exército, no fim da Avenida

Presidente Vargas, à sombra do morro que então se chamava o Morro da Providência,

pois nenhuma providência era tomada pelo exército e os caras acabam subindo esse

morro e algumas fontes dizem até que as grandes caixas de madeira, nas quais os

canhões Krupp, comprados da empresa bélica alemã Krupp, que ainda existe, estavam

ali e com aquelas caixas. Talvez seja lenda, mas pelo menos faz sentido.

Aquelas caixas. Eles subiram e construíram os seus barracos no morro que, até então

chamava Morro da Providência.

A questão é que já havia barracos. Isso se deu em 1897, virada para 1898. Na verdade, já era

1898. A questão é que esse Morro da Providência, que aliás tem milhões de anos, né? É um morro de granito, que existe, portanto, há provavelmente 800

milhões de anos, portanto ele já estava aqui quando a cidade do Rio de Janeiro

foi fundada em 1565 e a cidade nasceu ali na zona portuária, foi se expandindo,

chamou Cidade Nova, hoje ainda chama Cidade Nova, mas foi batizada de Cidade

Nova no tempo do Dom João VI porque ficava ali perto da Quinta da Boa Vista,

que era o palácio onde Dom João morou, onde Dom Pedro I, onde Dom Pedro II morou.

E esse morro se chamava Morro do Paulo Caieiro, já se chamava

assim em 1600 e tanto, depois passou a chamar Morro da Formiga, depois passou a

chamar Morro do Livramento, ele ainda conserva esse nome em alguma parte dele

porque na verdade é tipo uma espécie de cordilheira, né? Tem vários nomes, do

Valongo. Começa lá no Morro da Conceição, vai pelo Morro do Valongo, chega no Morro

do Livramento e chega no morro que, então, passou a ser chamado Morro da

Providência. Providência no sentido de o todo poderoso, a providência de deus, mas

ainda tem um jogo verbal porque alguns dizem que passou a se chamar Morro

da Providência porque o exército não tomva nenhuma providência para dar as

tais casas que tinha prometido para os combatentes de Canudos. Não é verdade, mas

pelo menos o jogo verbal faz sentido. Outro jogo verbal que também faz sentido

é que os combatentes de Canudos, especialmente as chamadas vivandeiras,

eram as mulheres que acompanharam essas tropas para Canudos, algumas delas,

inclusive, era mulheres dos caras ou amantes ou amancebadas, outras não eram nada.

Eram vendedoras de comida, eram mulheres que forneciam, que esquentavam, que cozinhavam

os mantimentos, a comida para o exército, quando o exército estava lá em Canudos.

Essas vivandeiras não apenas vieram junto de volta para o Rio de Janeiro, de onde,

provavelmente, tinham saído, como subiram o morro e não apenas subiram o morro, como

se diz, que elas tinham conseguido o crucifixo que pertencia à própria igreja

de Antônio Conselheiro, lá em Canudos.

E ergueram um oratório e ergueram um campanário lá no topo do Morro da

Providência. Que ainda existe! Ainda existe! A questão é que para chegar

lá não é mole. Eu cheguei lá uma vez, mas é difícil chegar lá e esse crucifixo

estaria lá. Inclusive, foi tombado pelo patrimônio

histórico nacional na década de 1970 esse campanário.

Bom, o fato é que já existiam pelo menos cem barracos no Morro da Providência

antes de que os combatentes de Canudos ocupassem e o rebatizassem sem como o

nome de Morro da Favela. Esses barracos eram de pessoas que tinham sido expulsas

daquela que se chama a primeira cortiço brasileiro porque não chamava favela,

chamava cortiço e até aquele livro maravilhoso, que você foi obrigado a ler

no vestibular do Aluísio de Azevedo, O Cortiço e como tu foi obrigado achou que o livro é chato,

mas não é chato. É maravilhoso! Se eu fosse tu ia lá ler ler de novo O Cortiço de Aluísio de Azevedo.

Ele conta a história de um cortiço chamado Cabeça de Porco, que ficava

justamente ali nessa região perto do atual Campo de Santana, Campo da

Aclamação, a Central do Brasil e esse no lugar que foi o Ministério do

Exército, pois esse cortiço dizem que pertencia ao Conde D, o genro do

Dom Pedro II, marido da Princesa Isabel.

O fato é que esse curtiço acabou sendo arrasado pelo prefeito Barata

Ribeiro, em 1893. Ele mandou desocupar o cortiço porque o

engenheiro Carlos Sampaio ia fazer um túnel

ali naquela região e urbanizar, não sei que, não sei que. Inclusive o Ângelo

Augustinho, que foi um jornalista e, acima de tudo, um ilustrador maravilhoso, que

tinha um jornal satírico, escreveu "quem diria que uma barata seria capaz de

devorar um porco" e devorou porque, em janeiro de 1893,

eles atacaram. A polícia atacou esse cortiço e devastou o cortiço, expulsando

dali 4 mil pessoas. E por que que chamava cabeça de porco? Que daí virou um nome

quase um sinônimo de cortiço, cabeça de porco, mas o original era esse porque

os ricos botavam um leão na entrada de sua chácara, daí que vem

a expressão Leão de Chácara! Que programa maravilhoso. Você está sempre

aprendendo. Inclusive tinha que ter uma vinheta aqui "morrendo e aprendendo com Eduardo Bueno".

Leão de Chácara vem daí porque os caras faziam pórticos com leão e aí o

povaréu botou o que? Botou uma cabeça de porco. De início era uma cabeça de porco

verdadeira, né? Depois fizeram uma escultura de argila lá com uma cabeça de porco, o local

chamava Cabeça de Porco. Foi devastado o lugar foi, derrubado o lugar e aí alguns dos

refugiados subiram o Morro da Providência, ou Morro da Formiga, ou Morro do Livramento

fazendo ali esses casebres. E em 1898, esses casebres aumentaram grandemente em

número e os combatentes anunciaram "Olha! Parece o Morro da Favela" e virou

Morro da Favela, meu chapa. E a favela só fez crescer, especialmente porque quando

teve o bota-abaixo, que falaremos aqui nesse programa num episódio posterior.

O bota-abaixo para dar origem à Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco, no Rio

de Janeiro, também o prefeito Pereira Passos mandou derrubar um monte de

cortiço, que ficavam na zona central do rio de janeiro, em torno da Igreja da

Candelária especialmente, mais de 500 imóveis foram derrubados e essas pessoas,

sem ter onde morar e expulsas pelo governo federal, pelo governo estadual,

pelo governo municipal do Rio de Janeiro foram se instalar aonde? No Morro da

Providência, no Morro da Favela, dando origem à favela.

E hoje o Brasil é assim "Nós estamos com problemas com as favelas! Olha

quantas favelas! O morro vai descer para o asfalto!" Aliás, eu falei que o morro ia descer para

asfalto aqui no episódio da Revolta da Vacina e um monte de gente porque

tem essa gente que fica comentando. Eu não quero comentário no Youtube. Não me

interessa a tua opinião. Aí, me acalmando, tomando meu remédinho. É isso, cara, é uma

metáfora. O morro descer para o asfalto é uma metáfora. Não pensa que eu sou a

favor do asfalto ou a favor do morro e, inclusive, eu estou contra tudo e contra

todos. Menos contra você que vai dar um like nesse episódio. E antes de me interromper

bruscamente, eu estava falando sobre o que mesmo? Eu estava falando sobre o

Morro da Favela, a favela original, que começou a virar um problema. Um problema

criado, evidentemente, pelo próprio Brasil, pelo próprio governo brasileiro, mas a

favela foi crescendo, a favela foi desenvolvendo e a favela acabou

virando a arte, meu irmão. Virando arte! Porque, em 1935, o grande cineasta Humberto Mauro, cara,

fez um filme chamado Favela dos Meus Amores, filmado ali. Depois teve

Orfeu do Carnaval, que também era uma peça de teatro escrita pelo

Vinícius de Moraes, que depois virou filme do Marcel Cami,

depois teve o filme Cinco Vezes Favela, também espetacular. E na favela, no morro

da providência, o samba teve grandes momentos, grandes sambistas, grandes

malandros cariocas. Muito da cultura popular brasileira surgiu no Morro da

Favela, no Morro da Providência e o morro continua lá, o Rio de Janeiro continua

lindo e continua problemático e o Brasil

continua tendo problemas para conviver com as comunidades, que hoje dizem que

a gente não pode mais chamar de favela, tem que chamar de comunidade.

Então, tudo bem, eu vou chamar de comunidade porque você já sabe que favela é uma árvore, uma

árvores espinhenta, que quando entra na tua circulação. Então o seguinte, cara, povo

que não conhece a sua história está condenado a repeti-la.

Vocês vão ter mais 500 anos iguais que passaram, a não ser que você

seja salvo pelo Canal Buenas Ideias e pelo programa Não Vai Cair no Enem.

Muito obrigado, até a próxima

O que você acaba de ver que está repleto de

generalizações e simplificações, mas o quadro geral era esse aí mesmo.

Agora, se você quiser saber como as coisas de fato foram. Ah, aí então você vai

ter que ler.

A HISTÓRIA DA PRIMEIRA FAVELA DO BRASIL | EDUARDO BUENO DIE GESCHICHTE DER ERSTEN FAVELA BRASILIENS | EDUARDO BUENO THE HISTORY OF BRAZIL'S FIRST FAVELA | EDUARDO BUENO LA HISTORIA DE LA PRIMERA FAVELA DE BRASIL | EDUARDO BUENO L'HISTOIRE DE LA PREMIÈRE FAVELA DU BRÉSIL | EDUARDO BUENO DE GESCHIEDENIS VAN DE EERSTE FAVELA VAN BRAZILIË | EDUARDO BUENO

As coisas têm nome e a gente tem que dar o nome correto das coisas, tipo dar nome Things have a name and we have to give the correct name of things, like giving a name Las cosas tienen un nombre y tenemos que dar el nombre correcto de las cosas, como dar un nombre

aos bois. Então, o nome é favela! Favela! Repita ||||||shantytown|| to the oxen. So the name is favela! Shanty town! repeat

comigo! Favela! Vela, vela! Acenda uma para a nossa primeira favela. ||Candle||Light up|||||| with me! Shanty town! Sail, sail! Light one for our first favela.

Não sabe o que é favela? Sabe ou não sabe? É claro que sabe. Favela é Don't you know what a favela is? Do you know or not? Of course you do. Favela is

uma árvore, cara, é uma árvore de três a cinco metros de altura da família das euforbiáceas. |||||tree||||||||||| a tree, man, is a tree three to five meters tall from the euphorbia family.

A mesma família da seringueira. É uma árvore que tem favos. Daí, favela. The same family as the rubber tree. It is a tree that has combs. Hence, favela.

Favos verruginosos, que têm umas verrugas e essas verrugas são Warty honeycombs|Warty honeycombs||||Warts|||| Wart combs, which have some warts and these warts are

profusamente espinhosas e esse espinho é um espinho cáustico, que quando pega a tua ||||thorn|||||||||

pele tem uma espécie de látex, que dá uma ardência horrorosa, mas pior! Esse espinho |||||latex||||burning sensation|||||

entra na tua pele porque são aqueles espinhos andarilhos, caminhantes, ele vai caminhando e ||||||||wandering thorns|||||

tem neguinho que diz que chega até o coração e é assim que a gente chega ao |someone||||||||||||||| there are little guys who say that it reaches the heart and that's how we reach the

coração da questão, cara. Como é que surgiram as favelas? Por que hoje favela quer dizer |||||||"did they arise"||||||||

comunidade, quer dizer os barracos nos morros? community, do you mean the shacks on the hills?

É simples, cara, porque tudo começou no Morro da Favela.

Onde é que era o morro da favela, ô mané? Tu não viu o episódio de Canudos na semana |||||||||dummy||||||||| Where was the favela hill, man? You haven't seen the episode of Canudos this week

passada? Vê lá, vai lá, clica lá! Canudos! Só que o last? Come on, go there, click there! Straws! Only the

seguinte: eu não falei do Morro da Favela. Falei!

Mas muito rapidamente do Morro da Favela. O Morro da Favela

ficava no interior da Bahia no Arraial de Canudos. Foi em cima desse morro que o ||||||"village"||Canudos settlement|||||hill|| it was located in the interior of Bahia in the Arraial de Canudos. It was on top of this hill that the

exército brasileiro botou um canhão chamado a matadeira e mirou exatamente Brazilian army put a cannon called a matadeira and aimed exactly

na igreja de canudos. Um ataque final que acabou arrasando aquele arraial in the church with straws. A final attack that ended up razing that camp

evangélico liderado pelo Antônio Conselheiro. Esse morro estava coberto de Evangelical led by Antônio Conselheiro. This hill was covered with

uma árvore chamada favela. Os soldados brasileiros que foram convocados, alguns

deles meio que à força, para combater os miseráveis de canudos em 1897, voltaram ||||by force|||||||| of them kind of by force, to fight the wretches with straws in 1897, came back

para o Rio de Janeiro e um dos motivos pelos quais eles tinham se alistado, ou meio ||||||||||||||enlisted||

que sido levados conduzidos para participar desse massacre, é que eles that been led to participate in this massacre, is that they

haviam recebido a promessa de que teriam uma casa própria.

Tão logo retornassem desse confronto. Eles foram lá mataram 25 mil sertanejos, sujaram ||"returned from"||confrontation||||||backcountry people| As soon as they returned from that confrontation. They went there, killed 25 thousand sertanejos, soiled

as suas mãos com sangue, retornaram para o porto do Rio de Janeiro e foram esperar |||||returned||||||||||

a sua casa própria e vão para a frente do ministério do exército, no mesmo lugar

onde hoje ainda existe uma grande instalação do exército, no fim da Avenida

Presidente Vargas, à sombra do morro que então se chamava o Morro da Providência,

pois nenhuma providência era tomada pelo exército e os caras acabam subindo esse ||measure|||||||||| because no action was taken by the army and the guys end up going up this

morro e algumas fontes dizem até que as grandes caixas de madeira, nas quais os

canhões Krupp, comprados da empresa bélica alemã Krupp, que ainda existe, estavam Krupp cannons, purchased from the still existing German war company Krupp, were

ali e com aquelas caixas. Talvez seja lenda, mas pelo menos faz sentido. there and with those boxes. Maybe it's a legend, but at least it makes sense.

Aquelas caixas. Eles subiram e construíram os seus barracos no morro que, até então

chamava Morro da Providência.

A questão é que já havia barracos. Isso se deu em 1897, virada para 1898. Na verdade, já era The point is that there were already shacks. This happened in 1897, turning to 1898. In fact, it was already

1898\. A questão é que esse Morro da Providência, que aliás tem milhões de anos, né? É um morro de granito, que existe, portanto, há provavelmente 800

milhões de anos, portanto ele já estava aqui quando a cidade do Rio de Janeiro

foi fundada em 1565 e a cidade nasceu ali na zona portuária, foi se expandindo,

chamou Cidade Nova, hoje ainda chama Cidade Nova, mas foi batizada de Cidade

Nova no tempo do Dom João VI porque ficava ali perto da Quinta da Boa Vista,

que era o palácio onde Dom João morou, onde Dom Pedro I, onde Dom Pedro II morou.

E esse morro se chamava Morro do Paulo Caieiro, já se chamava

assim em 1600 e tanto, depois passou a chamar Morro da Formiga, depois passou a

chamar Morro do Livramento, ele ainda conserva esse nome em alguma parte dele

porque na verdade é tipo uma espécie de cordilheira, né? Tem vários nomes, do

Valongo. Começa lá no Morro da Conceição, vai pelo Morro do Valongo, chega no Morro

do Livramento e chega no morro que, então, passou a ser chamado Morro da

Providência. Providência no sentido de o todo poderoso, a providência de deus, mas

ainda tem um jogo verbal porque alguns dizem que passou a se chamar Morro

da Providência porque o exército não tomva nenhuma providência para dar as

tais casas que tinha prometido para os combatentes de Canudos. Não é verdade, mas

pelo menos o jogo verbal faz sentido. Outro jogo verbal que também faz sentido

é que os combatentes de Canudos, especialmente as chamadas vivandeiras, is that the fighters from Canudos, especially the so-called vivanderes,

eram as mulheres que acompanharam essas tropas para Canudos, algumas delas,

inclusive, era mulheres dos caras ou amantes ou amancebadas, outras não eram nada. even, they were the guys' wives or lovers or mates, others were nothing.

Eram vendedoras de comida, eram mulheres que forneciam, que esquentavam, que cozinhavam They were food sellers, they were women who provided, who heated, who cooked

os mantimentos, a comida para o exército, quando o exército estava lá em Canudos.

Essas vivandeiras não apenas vieram junto de volta para o Rio de Janeiro, de onde,

provavelmente, tinham saído, como subiram o morro e não apenas subiram o morro, como probably, they had left, as they climbed the hill and not only climbed the hill, but

se diz, que elas tinham conseguido o crucifixo que pertencia à própria igreja |||||||crucifix||||| it is said that they had obtained the crucifix that belonged to the church itself.

de Antônio Conselheiro, lá em Canudos.

E ergueram um oratório e ergueram um campanário lá no topo do Morro da And they erected an oratory and erected a belfry there on top of the Morro da

Providência. Que ainda existe! Ainda existe! A questão é que para chegar Providence. That still exists! Still exist! The question is that to get

lá não é mole. Eu cheguei lá uma vez, mas é difícil chegar lá e esse crucifixo there is not soft. I got there once, but it's hard to get there and this crucifix

estaria lá. Inclusive, foi tombado pelo patrimônio would be there. It was even listed by heritage

histórico nacional na década de 1970 esse campanário.

Bom, o fato é que já existiam pelo menos cem barracos no Morro da Providência

antes de que os combatentes de Canudos ocupassem e o rebatizassem sem como o

nome de Morro da Favela. Esses barracos eram de pessoas que tinham sido expulsas

daquela que se chama a primeira cortiço brasileiro porque não chamava favela, ||||||tenement housing||||| of what is called the first Brazilian tenement because it wasn't called a favela,

chamava cortiço e até aquele livro maravilhoso, que você foi obrigado a ler

no vestibular do Aluísio de Azevedo, O Cortiço e como tu foi obrigado achou que o livro é chato, |college entrance exam||||||||||||||||| in the entrance exam of Aluísio de Azevedo, O Cortiço and as you were obliged, he thought the book was boring,

mas não é chato. É maravilhoso! Se eu fosse tu ia lá ler ler de novo O Cortiço de Aluísio de Azevedo. but it's not boring. It is wonderful! If I were you, I would go there and read it again and read O Cortiço de Aluísio de Azevedo.

Ele conta a história de um cortiço chamado Cabeça de Porco, que ficava

justamente ali nessa região perto do atual Campo de Santana, Campo da

Aclamação, a Central do Brasil e esse no lugar que foi o Ministério do

Exército, pois esse cortiço dizem que pertencia ao Conde D, o genro do Army, as this tenement is said to belong to Count D, the son-in-law of

Dom Pedro II, marido da Princesa Isabel.

O fato é que esse curtiço acabou sendo arrasado pelo prefeito Barata The fact is that this short-lived thing ended up being razed by Mayor Barata

Ribeiro, em 1893. Ele mandou desocupar o cortiço porque o

engenheiro Carlos Sampaio ia fazer um túnel

ali naquela região e urbanizar, não sei que, não sei que. Inclusive o Ângelo

Augustinho, que foi um jornalista e, acima de tudo, um ilustrador maravilhoso, que

tinha um jornal satírico, escreveu "quem diria que uma barata seria capaz de had a satirical newspaper, wrote "who would have thought that a cockroach would be able to

devorar um porco" e devorou porque, em janeiro de 1893, devour a pig" and devoured because, in January 1893,

eles atacaram. A polícia atacou esse cortiço e devastou o cortiço, expulsando

dali 4 mil pessoas. E por que que chamava cabeça de porco? Que daí virou um nome

quase um sinônimo de cortiço, cabeça de porco, mas o original era esse porque

os ricos botavam um leão na entrada de sua chácara, daí que vem

a expressão Leão de Chácara! Que programa maravilhoso. Você está sempre

aprendendo. Inclusive tinha que ter uma vinheta aqui "morrendo e aprendendo com Eduardo Bueno".

Leão de Chácara vem daí porque os caras faziam pórticos com leão e aí o Leão de Chácara comes from there because the guys made porticoes with lion and then the

povaréu botou o que? Botou uma cabeça de porco. De início era uma cabeça de porco people put what? He put on a pig's head. At first it was a pig's head

verdadeira, né? Depois fizeram uma escultura de argila lá com uma cabeça de porco, o local

chamava Cabeça de Porco. Foi devastado o lugar foi, derrubado o lugar e aí alguns dos

refugiados subiram o Morro da Providência, ou Morro da Formiga, ou Morro do Livramento

fazendo ali esses casebres. E em 1898, esses casebres aumentaram grandemente em making these shacks there. And in 1898, these hovels increased greatly by

número e os combatentes anunciaram "Olha! Parece o Morro da Favela" e virou number and the fighters announced "Look! It looks like Morro da Favela" and it became

Morro da Favela, meu chapa. E a favela só fez crescer, especialmente porque quando Morro da Favela, buddy. And the favela only grew, especially because when

teve o bota-abaixo, que falaremos aqui nesse programa num episódio posterior. had the boot-down, which we'll talk about here in this show in a later episode.

O bota-abaixo para dar origem à Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco, no Rio

de Janeiro, também o prefeito Pereira Passos mandou derrubar um monte de de Janeiro, Mayor Pereira Passos also ordered the demolition of a lot of

cortiço, que ficavam na zona central do rio de janeiro, em torno da Igreja da

Candelária especialmente, mais de 500 imóveis foram derrubados e essas pessoas, Candelária especially, more than 500 properties were demolished and these people,

sem ter onde morar e expulsas pelo governo federal, pelo governo estadual, without a place to live and expelled by the federal government, the state government,

pelo governo municipal do Rio de Janeiro foram se instalar aonde? No Morro da

Providência, no Morro da Favela, dando origem à favela.

E hoje o Brasil é assim "Nós estamos com problemas com as favelas! Olha And today Brazil is like "We are having problems with the favelas! Look

quantas favelas! O morro vai descer para o asfalto!" Aliás, eu falei que o morro ia descer para

asfalto aqui no episódio da Revolta da Vacina e um monte de gente porque asphalt here in the episode of the Vaccine Revolt and a lot of people because

tem essa gente que fica comentando. Eu não quero comentário no Youtube. Não me there are these people who keep commenting. I don't want comment on Youtube. not me

interessa a tua opinião. Aí, me acalmando, tomando meu remédinho. É isso, cara, é uma your opinion matters. Then, calming me down, taking my medicine. That's it, man, it's a

metáfora. O morro descer para o asfalto é uma metáfora. Não pensa que eu sou a metaphor. The hill going down to the asphalt is a metaphor. Don't you think I'm the

favor do asfalto ou a favor do morro e, inclusive, eu estou contra tudo e contra in favor of the asphalt or in favor of the hill and, even, I'm against everything and against

todos. Menos contra você que vai dar um like nesse episódio. E antes de me interromper all. Less against you who will like this episode. And before interrupting me

bruscamente, eu estava falando sobre o que mesmo? Eu estava falando sobre o

Morro da Favela, a favela original, que começou a virar um problema. Um problema Morro da Favela, the original favela, which started to become a problem. A problem

criado, evidentemente, pelo próprio Brasil, pelo próprio governo brasileiro, mas a created, of course, by Brazil itself, by the Brazilian government itself, but the

favela foi crescendo, a favela foi desenvolvendo e a favela acabou favela grew, the favela developed and the favela ended

virando a arte, meu irmão. Virando arte! Porque, em 1935, o grande cineasta Humberto Mauro, cara, turning to art, my brother. Becoming art! Because, in 1935, the great filmmaker Humberto Mauro, man,

fez um filme chamado Favela dos Meus Amores, filmado ali. Depois teve

Orfeu do Carnaval, que também era uma peça de teatro escrita pelo

Vinícius de Moraes, que depois virou filme do Marcel Cami,

depois teve o filme Cinco Vezes Favela, também espetacular. E na favela, no morro

da providência, o samba teve grandes momentos, grandes sambistas, grandes

malandros cariocas. Muito da cultura popular brasileira surgiu no Morro da

Favela, no Morro da Providência e o morro continua lá, o Rio de Janeiro continua

lindo e continua problemático e o Brasil beautiful and still problematic and Brazil

continua tendo problemas para conviver com as comunidades, que hoje dizem que continues to have problems living with the communities, which today say that

a gente não pode mais chamar de favela, tem que chamar de comunidade.

Então, tudo bem, eu vou chamar de comunidade porque você já sabe que favela é uma árvore, uma So, okay, I'll call it community because you already know that favela is a tree, a

árvores espinhenta, que quando entra na tua circulação. Então o seguinte, cara, povo thorny trees, which when it enters your circulation. So the following, man, people

que não conhece a sua história está condenado a repeti-la. who does not know his story is doomed to repeat it.

Vocês vão ter mais 500 anos iguais que passaram, a não ser que você

seja salvo pelo Canal Buenas Ideias e pelo programa Não Vai Cair no Enem. be saved by Canal Buenas Ideias and the program Não Vai Cair no Enem.

Muito obrigado, até a próxima

O que você acaba de ver que está repleto de What you just saw that is full of

generalizações e simplificações, mas o quadro geral era esse aí mesmo. generalizations and simplifications, but the general picture was right there.

Agora, se você quiser saber como as coisas de fato foram. Ah, aí então você vai Now, if you want to know how things actually went. Oh, then you go

ter que ler. have to read.