×

We gebruiken cookies om LingQ beter te maken. Als u de website bezoekt, gaat u akkoord met onze cookiebeleid.


image

Buenas Ideias, BAÚ DO BRIZOLA: O COMEÇO, O FIM E O MEIO - EDUARDO BUENO (1)

BAÚ DO BRIZOLA: O COMEÇO, O FIM E O MEIO - EDUARDO BUENO (1)

"Milton, eu sei que tu és um eterno ausente, mas tu não vais tomar uma atitude com relação

ao pequeno Nero da Praça da Matriz!?"

"Ai, Beatriz, quem é o pequeno Nero da Praça da Matriz?"

"Ora, Milton!

Tu sabes muito bem!

É o louco do Brizola!"

"O que que tem o engenheiro Leonel, Beatriz?"

"Tu sabes muito bem, Milton!

Esse louco quer incendiar a nossa capital, quer botar fogo em Porto Alegre e provavelmente

depois vai dedilhar a sua lira ao som de sua própria ira!"

"Ai Beatriz, ele só quer que seja cumprida a Constituição" "NÃO, MILTON!

ELE É UM COMUNISTA!

ELE É UM LOUCO!"

"Ai, Beatriz, que tédio, ele é no máximo um populista, ele não é um comunista!".

Cena real, aconteceu, na minha casa em Porto Alegre.

À nossa direita, Beatriz!

Minha mãe, que deus a tenha.

Ao centro, Milton!

Um eterno ausente, meu pai, que deus o tenha também.

É assim, cara, o Brizola sempre destruiu a harmonia familiar!

Não é possível, eu nem queria estar fazendo esse segundo episódio sobre o Brizola...

porque já deu polêmica viva, acesa, incendiária, o primeiro!

Eu sei que todo mundo gostou mas dessa vez eu vou conseguir criar alguma polêmica com

o extraordinário (no sentido de incomum) Leonel Brizola, o caudilho que quase tomou

o Brasil.

"Não amola, não amola!

Conta logo a segunda parte da história do Brizola!".

Ehehe cara, pois é, Brizola, gaúcho que nem que eu, que nem que meu pai, que nem que

minha mãe, o diálogo aconteceu porque você sabe né... o tal Jânio Quadros, aquele presidente

beirando o patético renunciou no dia 25 de agosto de 1961, você já viu, ele blefou

como ele mesmo disse porque pensou "jamais os militares golpistas deixaram o louco do

Jango, João Goulart, tomar o poder".

Até porque naquele mesmo dia, naquele mesmo momento, o João Goulart estava na China!

Já falei aqui...

Red China, a China comunista, a China vermelha.

O Jango inicia sua viagem de volta, mas como não é trouxa ele faz a rota Pequim-Paris,

Paris-Nova Iorque, Nova Iorque ã Montevidéu, no Uruguai, Montevidéu-São Borja, terra

dele, aí São Borja-Porto Alegre!

Por que?

Porque além de ser ligado a Porto Alegre, quem era o governador do Rio Grande do Sul?

Quem estava instalado no Palácio Piratini, no fulgurante Palácio Piratini?

Ele!

O engenheiro Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul... que imediatamente

após a renúncia do Jânio tinha iniciado o movimento que entraria para a história

como Rede da Legalidade.

Você já viu eu falando aqui na primeira parte desse episódio.

E eu vou retomar esse momento da Rede da Legalidade porque é um dos maiores momentos da história

do Brasil... um país que tantas vezes desrespeitou a sua Constituição.

E a Constituição dizia "se em caso de renúncia do presidente, é posse o vice-presidente".

Não interessa quem era o vice-presidente!

Foi eleito!

Né!

Então o Brizola inicia esse movimento contra os gorilas golpistas, como ele os batizou,

conta os militares golpistas.

Sim, porque você já viu também aqui no canal Buenas Ideias que o Exército Brasileiro,

glorioso Exército Brasileiro, sempre teve um lado legalista mas, no seu cerne, sempre

houve militares golpistas.

Militares golpistas que tentaram derrubar o Getúlio Vargas em 1954, né.

Havia problemas no governo Vargas?

Talvez houvesse, havia, claro que havia, mas aí teve todo um movimento golpista para derrubá-lo.

E ele se suicidou com aquele suicídio extraordinário, fantástico, saiu da vida para entrar na história.

E o tiro como eu já falei aqui várias vezes com o meu brilhantismo peculiar, o tiro que

atingiu o coração dele, desferido por ele próprio, atingiu a cabeça dos golpistas!

E quase os matou!

Pelo menos deixou-os por degelo por algum tempo...

Não tanto tempo assim, porque em 1955 eles tentaram IMPEDIR, impedir a posse do JK!

Que algum dia vai ter um episódio aqui, não só o governo JK mas também a posse do JK,

né, quando então o marechal Lott deu então o primeiro golpe legalista da história do

Brasil e exigiu que o JK, O JK!, eleito, tomasse o poder.

Porque os milico golpista, MILICO GOLPISTA, diziam que o JK não podia tomar posse.

Aí, com a posse do Jânio, né, quase tão medíocre quanto eles, eles ficaram mais ou

menos calmos... mas quando então o Jango ia tomar a.. a posse como vice em função

da renúncia do Jânio, eles se opuseram à Constituição.

GOLPISTAS, GOLPISTAS!

E aí o Brizola soergueu o Rio Grande do Sul, inicialmente o Rio Grande do Sul, se estabeleceu

no Palácio Piratini, cercou com barricadas e trincheiras o Palácio Piratini e instalou

a Rede da Legalidade..

Tomou militarmente algumas rádios e outras ele já trabalhava, já tavam junto a ele,

não é, e iniciou transmissões de rádio o tempo inteiro insistindo que o Jango deveria

voltar e tomar posse.

Aí o Jango volta, chega em Porto Alegre dia 31 de agosto de 1961 e, em seguida, graças

a essa pressão do Brizola, vai pra Brasília.

Antes disso, porém, um tal marechal Odílio Dênis, Odílio Diniz, sei lá como é que

se diz, sei que deve estar morto e enterrado...

O Odílio Denys exigia que o chefe do 3o Exército, sediado no Rio Grande do Sul...

O tal general Machado Lopes invadisse o palácio, prendesse e quiçá até matasse o Brizola!

Mas o tal Machado Lopes que orgulhosamente representa esse lado digno, decente, luminoso

do exército brasileiro, não aceitou essa ordem, né, e o 3o Exército se alinhou ao

Brizola e à Constituição, né, à normalidade constitucional.

Então o Jango vai pra Brasília, tem todo aquele momento ali de transição, de parlamentarismo...

vai estudar, não enche o meu saco...

E o Jango se estabelece no poder, não é.

Só que é o seguinte, depois que o Jango tomou o poder, né, começaram várias pressões,

pressões da direita mas também pressões, sabe, e muitas pressões da esquerda, querendo

que o governo do Jango fosse cada vez mais pra esquerda.

E um dos articuladores principais dessas pressões (por mais genuínas que eventualmente elas

pudessem ser) foi o próprio Leonel Brizola que, em outubro de 1962 se elegeu verea...

ããa deputado federal com 300 mil votos, sendo o deputado federal mais votado da história

do Brasil até aquele momento.

Né, como deputado, do PTB, né, o Partido Trabalhista Brasileiro, né que era o mesmo

partido do Jango, o mesmo partido do Getúlio Vargas, ele inicia uma série de assédios

e de pressões ao Jango querendo empurrá-lo para centro esquerda, cara, centro esquerda...

Porque tem esse papo furado agora que fez 50 anos do golpe militar de 64, que tem neguinho

que diz assim "não foi golpe, vivemos sob uma democracia forte".

Cara, golpe, golpe!

Só tem um nome pra isso, GOLPE!

E se tu acha que não foi golpe tu pode CAIR FORA DESSE CANAL, porque é ÓBVIO que foi

golpe, porque todas as vezes que uma guarnição militar sai do quartel, e em geral de madrugada,

pra derrubar um regime constitucional, só tem um nome: GOLPE!

Você pode chamá-lo de "proclamação da República", como foi em 15 de novembro de

1889...

Você pode chamá-lo de "Revolução de 30", como foi em 24 de outubro de 1930, né, mas

é GOLPE.

"Havia ameaça comunista, tá aqui documentos da Checoslováquia", cara, o Jango nunca foi

comunista, o Brizola nunca foi comunista, o Brizola não quis nem o apoio, uma época,

do Partido Comunista.

Eles eram uns populistas, reformistas, de centro-esquerda, entendeu, querendo, até

com seus desvãos e com as suas incompetências...

Porque tinha um lado que os dois eram incompetentes também, embora, no caso do Brizola, tivesse

oratória, fosse um cara inflamado...

Eu não gosto de gente inflamada, gosto de gente assim moderaaada, equilibrada que nem

eu, que não levanta o tom de voz.

Mas o Brizola era um cara carismático e tal que sempre foi de centro-esquerda e o que

ele queria era migalhas quase de justiça social, num país que sempre foi exclusivista,

num país que nunca deu chance igual ao seus próprios habitantes, né.

Claro, havia movimentos mais de esquerda, do próprio Julião, das ligas camponesas

e tal, e de fato era esse ambiente polarizado, depois especialmente da vitória do Fidel

Castro em Cuba, Cuba ali do lado né, Estados Unidos lá...

O Brizola tinha, como já falei aqui no primeiro episódio, estatizado a ITT, a Bond and Share,

né, que eram empresas que prestavam um serviço horroroso de telecomunicações e de bondes

no Rio Grande do Sul e por isso ele as estatizou.

Então, na verdade, o que havia era uma ânsia golpista, uma ânsia golpista da direita civil

e desse núcleo, desse núcleo ãã golpista, que sempre houve dentro do exército brasileiro

que é majoritariamente legalista.

E então com todas essas inquietações e com as próprias incompetências e descontroles

do Jango eee na verdade até uma ineficiência política, e com uma pressão do Brizola,

que acabou se revelando excessiva, e com o fato do Brizola ficar o tempo todo chamando

esse tal general deles de gorila golpista... essas pressões do Brizola foram em momentos

inapropriados e próprio governo era frágil, e teve, como se sabe hoje, toda a conspiração

da CIA pra colocar pessoas na rua, barará, isso é outra história, algum dia eu vou

gravar a história do golpe militar de 1964 de um jeito que você NUNCA OUVIU, que vai

ser simplesmente sensacional.

De momento, estamos falando do Brizola.

Então, o golpe se precipita, um golpe longamente premeditado, os tambores golpistas já haviam

soado, como eu falei, em 54, em 55, em 61, então, finalmente, até, repetindo, pelas

próprias fragilidades e algumas incompetências do governo Jango e esse viés meio incendiário

do Brizola... o governo cai.

O Jango poderia ter resistido, como se sabe, especialmente porque no dia 2 de abril de

1964, quando ele chega finalmente a Porto Alegre, o Brizola, que tinha suas articulações

com o lado legalista do exército brasileiro, especialmente no 3o exército, ãa poderia

articular uma resistência lá, a partir do Rio Grande do Sul, o 3o exército enfrentando

o 2o exército, que é o de Minas Gerais, que foi o Exército golpista, e o 1o exército

sediado no Rio de Janeiro ou em Brasília blablablá não interessa.

O fato é que o Jango não quis, o Jango um pacifista não quis impor a resistência.

O Brizola relutou mas aí quando o Jango foge para o Uruguai, né, o Brizola se sente desamparado

e aí ele próprio se refugia durante dois meses em fazendas na fronteira com o Uruguai.

E fica morando no Balneário de Atlântida, no Uruguai, até setembro de 1977.

E ele é eleito pelos golpistas militares como o inimigo público número um, o incendiário,

o pequeno Nero da Praça da Matriz, comunista...

O Brizola comunista!

O Brizola comunista!

Sim!

E papapá, e ele claro, aí articulando tudo que ele podia contra esse regime militar,

esse regime de exceção, esse regime canalha, esse regime golpista.

E aí ele, óbvio, conspirando, mas conspirando pela volta da democracia, pelo menos em tese,

não é.

E então em setembro de 77 ele é expulso do Uruguai porque consideram que ele tinha

rompido as regras de um asilo político porque ele articulava contra os militares.

Então ele sai do Uruguai e vai pra onde, vai pra onde, vai pra onde!?

Vai pra Nova Iorque, cara, vai pra Nova Iorque!

E ele em tese sempre inimigo dos yankees, do imperialismo americano, da grande maçã

podre que é Nova Iorque.

E por que que ele vai pra Nova Iorque?

Porque o Jimmy Carter tinha tomado posse, era o presidente americano e era contrário

às ditaduras militares latino-americanas, que os antecessores dele tinham apoiado e

tinham posto no poder, especialmente no Cone sul.

E aí tem gente que até hoje diz assim "é que escolher entre os republicanos e os democratas

nos Estados Unidos é a mesma coisa que escolher entre Coca Cola e Pepsi Cola".

É, é, é, o Carter, o Bill Clinton e o Obama, aliás, os três fãs do Bob Dylan, os três


BAÚ DO BRIZOLA: O COMEÇO, O FIM E O MEIO - EDUARDO BUENO (1)

"Milton, eu sei que tu és um eterno ausente, mas tu não vais tomar uma atitude com relação

ao pequeno Nero da Praça da Matriz!?"

"Ai, Beatriz, quem é o pequeno Nero da Praça da Matriz?"

"Ora, Milton!

Tu sabes muito bem!

É o louco do Brizola!"

"O que que tem o engenheiro Leonel, Beatriz?"

"Tu sabes muito bem, Milton!

Esse louco quer incendiar a nossa capital, quer botar fogo em Porto Alegre e provavelmente

depois vai dedilhar a sua lira ao som de sua própria ira!"

"Ai Beatriz, ele só quer que seja cumprida a Constituição" "NÃO, MILTON!

ELE É UM COMUNISTA!

ELE É UM LOUCO!"

"Ai, Beatriz, que tédio, ele é no máximo um populista, ele não é um comunista!".

Cena real, aconteceu, na minha casa em Porto Alegre.

À nossa direita, Beatriz!

Minha mãe, que deus a tenha.

Ao centro, Milton!

Um eterno ausente, meu pai, que deus o tenha também.

É assim, cara, o Brizola sempre destruiu a harmonia familiar!

Não é possível, eu nem queria estar fazendo esse segundo episódio sobre o Brizola...

porque já deu polêmica viva, acesa, incendiária, o primeiro!

Eu sei que todo mundo gostou mas dessa vez eu vou conseguir criar alguma polêmica com

o extraordinário (no sentido de incomum) Leonel Brizola, o caudilho que quase tomou

o Brasil.

"Não amola, não amola!

Conta logo a segunda parte da história do Brizola!".

Ehehe cara, pois é, Brizola, gaúcho que nem que eu, que nem que meu pai, que nem que

minha mãe, o diálogo aconteceu porque você sabe né... o tal Jânio Quadros, aquele presidente

beirando o patético renunciou no dia 25 de agosto de 1961, você já viu, ele blefou

como ele mesmo disse porque pensou "jamais os militares golpistas deixaram o louco do

Jango, João Goulart, tomar o poder".

Até porque naquele mesmo dia, naquele mesmo momento, o João Goulart estava na China!

Já falei aqui...

Red China, a China comunista, a China vermelha.

O Jango inicia sua viagem de volta, mas como não é trouxa ele faz a rota Pequim-Paris,

Paris-Nova Iorque, Nova Iorque ã Montevidéu, no Uruguai, Montevidéu-São Borja, terra

dele, aí São Borja-Porto Alegre!

Por que?

Porque além de ser ligado a Porto Alegre, quem era o governador do Rio Grande do Sul?

Quem estava instalado no Palácio Piratini, no fulgurante Palácio Piratini?

Ele!

O engenheiro Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul... que imediatamente

após a renúncia do Jânio tinha iniciado o movimento que entraria para a história

como Rede da Legalidade.

Você já viu eu falando aqui na primeira parte desse episódio.

E eu vou retomar esse momento da Rede da Legalidade porque é um dos maiores momentos da história

do Brasil... um país que tantas vezes desrespeitou a sua Constituição.

E a Constituição dizia "se em caso de renúncia do presidente, é posse o vice-presidente".

Não interessa quem era o vice-presidente!

Foi eleito!

Né!

Então o Brizola inicia esse movimento contra os gorilas golpistas, como ele os batizou,

conta os militares golpistas.

Sim, porque você já viu também aqui no canal Buenas Ideias que o Exército Brasileiro,

glorioso Exército Brasileiro, sempre teve um lado legalista mas, no seu cerne, sempre

houve militares golpistas.

Militares golpistas que tentaram derrubar o Getúlio Vargas em 1954, né.

Havia problemas no governo Vargas?

Talvez houvesse, havia, claro que havia, mas aí teve todo um movimento golpista para derrubá-lo.

E ele se suicidou com aquele suicídio extraordinário, fantástico, saiu da vida para entrar na história.

E o tiro como eu já falei aqui várias vezes com o meu brilhantismo peculiar, o tiro que

atingiu o coração dele, desferido por ele próprio, atingiu a cabeça dos golpistas!

E quase os matou!

Pelo menos deixou-os por degelo por algum tempo...

Não tanto tempo assim, porque em 1955 eles tentaram IMPEDIR, impedir a posse do JK!

Que algum dia vai ter um episódio aqui, não só o governo JK mas também a posse do JK,

né, quando então o marechal Lott deu então o primeiro golpe legalista da história do

Brasil e exigiu que o JK, O JK!, eleito, tomasse o poder.

Porque os milico golpista, MILICO GOLPISTA, diziam que o JK não podia tomar posse.

Aí, com a posse do Jânio, né, quase tão medíocre quanto eles, eles ficaram mais ou

menos calmos... mas quando então o Jango ia tomar a.. a posse como vice em função

da renúncia do Jânio, eles se opuseram à Constituição.

GOLPISTAS, GOLPISTAS!

E aí o Brizola soergueu o Rio Grande do Sul, inicialmente o Rio Grande do Sul, se estabeleceu

no Palácio Piratini, cercou com barricadas e trincheiras o Palácio Piratini e instalou

a Rede da Legalidade..

Tomou militarmente algumas rádios e outras ele já trabalhava, já tavam junto a ele,

não é, e iniciou transmissões de rádio o tempo inteiro insistindo que o Jango deveria

voltar e tomar posse.

Aí o Jango volta, chega em Porto Alegre dia 31 de agosto de 1961 e, em seguida, graças

a essa pressão do Brizola, vai pra Brasília.

Antes disso, porém, um tal marechal Odílio Dênis, Odílio Diniz, sei lá como é que

se diz, sei que deve estar morto e enterrado...

O Odílio Denys exigia que o chefe do 3o Exército, sediado no Rio Grande do Sul...

O tal general Machado Lopes invadisse o palácio, prendesse e quiçá até matasse o Brizola!

Mas o tal Machado Lopes que orgulhosamente representa esse lado digno, decente, luminoso

do exército brasileiro, não aceitou essa ordem, né, e o 3o Exército se alinhou ao

Brizola e à Constituição, né, à normalidade constitucional.

Então o Jango vai pra Brasília, tem todo aquele momento ali de transição, de parlamentarismo...

vai estudar, não enche o meu saco...

E o Jango se estabelece no poder, não é.

Só que é o seguinte, depois que o Jango tomou o poder, né, começaram várias pressões,

pressões da direita mas também pressões, sabe, e muitas pressões da esquerda, querendo

que o governo do Jango fosse cada vez mais pra esquerda.

E um dos articuladores principais dessas pressões (por mais genuínas que eventualmente elas

pudessem ser) foi o próprio Leonel Brizola que, em outubro de 1962 se elegeu verea...

ããa deputado federal com 300 mil votos, sendo o deputado federal mais votado da história

do Brasil até aquele momento.

Né, como deputado, do PTB, né, o Partido Trabalhista Brasileiro, né que era o mesmo

partido do Jango, o mesmo partido do Getúlio Vargas, ele inicia uma série de assédios

e de pressões ao Jango querendo empurrá-lo para centro esquerda, cara, centro esquerda...

Porque tem esse papo furado agora que fez 50 anos do golpe militar de 64, que tem neguinho

que diz assim "não foi golpe, vivemos sob uma democracia forte".

Cara, golpe, golpe!

Só tem um nome pra isso, GOLPE!

E se tu acha que não foi golpe tu pode CAIR FORA DESSE CANAL, porque é ÓBVIO que foi

golpe, porque todas as vezes que uma guarnição militar sai do quartel, e em geral de madrugada,

pra derrubar um regime constitucional, só tem um nome: GOLPE!

Você pode chamá-lo de "proclamação da República", como foi em 15 de novembro de

1889...

Você pode chamá-lo de "Revolução de 30", como foi em 24 de outubro de 1930, né, mas

é GOLPE.

"Havia ameaça comunista, tá aqui documentos da Checoslováquia", cara, o Jango nunca foi

comunista, o Brizola nunca foi comunista, o Brizola não quis nem o apoio, uma época,

do Partido Comunista.

Eles eram uns populistas, reformistas, de centro-esquerda, entendeu, querendo, até

com seus desvãos e com as suas incompetências...

Porque tinha um lado que os dois eram incompetentes também, embora, no caso do Brizola, tivesse

oratória, fosse um cara inflamado...

Eu não gosto de gente inflamada, gosto de gente assim moderaaada, equilibrada que nem

eu, que não levanta o tom de voz.

Mas o Brizola era um cara carismático e tal que sempre foi de centro-esquerda e o que

ele queria era migalhas quase de justiça social, num país que sempre foi exclusivista,

num país que nunca deu chance igual ao seus próprios habitantes, né.

Claro, havia movimentos mais de esquerda, do próprio Julião, das ligas camponesas

e tal, e de fato era esse ambiente polarizado, depois especialmente da vitória do Fidel

Castro em Cuba, Cuba ali do lado né, Estados Unidos lá...

O Brizola tinha, como já falei aqui no primeiro episódio, estatizado a ITT, a Bond and Share,

né, que eram empresas que prestavam um serviço horroroso de telecomunicações e de bondes

no Rio Grande do Sul e por isso ele as estatizou.

Então, na verdade, o que havia era uma ânsia golpista, uma ânsia golpista da direita civil

e desse núcleo, desse núcleo ãã golpista, que sempre houve dentro do exército brasileiro

que é majoritariamente legalista.

E então com todas essas inquietações e com as próprias incompetências e descontroles

do Jango eee na verdade até uma ineficiência política, e com uma pressão do Brizola,

que acabou se revelando excessiva, e com o fato do Brizola ficar o tempo todo chamando

esse tal general deles de gorila golpista... essas pressões do Brizola foram em momentos

inapropriados e próprio governo era frágil, e teve, como se sabe hoje, toda a conspiração

da CIA pra colocar pessoas na rua, barará, isso é outra história, algum dia eu vou

gravar a história do golpe militar de 1964 de um jeito que você NUNCA OUVIU, que vai

ser simplesmente sensacional.

De momento, estamos falando do Brizola.

Então, o golpe se precipita, um golpe longamente premeditado, os tambores golpistas já haviam

soado, como eu falei, em 54, em 55, em 61, então, finalmente, até, repetindo, pelas

próprias fragilidades e algumas incompetências do governo Jango e esse viés meio incendiário

do Brizola... o governo cai.

O Jango poderia ter resistido, como se sabe, especialmente porque no dia 2 de abril de

1964, quando ele chega finalmente a Porto Alegre, o Brizola, que tinha suas articulações

com o lado legalista do exército brasileiro, especialmente no 3o exército, ãa poderia

articular uma resistência lá, a partir do Rio Grande do Sul, o 3o exército enfrentando

o 2o exército, que é o de Minas Gerais, que foi o Exército golpista, e o 1o exército

sediado no Rio de Janeiro ou em Brasília blablablá não interessa.

O fato é que o Jango não quis, o Jango um pacifista não quis impor a resistência.

O Brizola relutou mas aí quando o Jango foge para o Uruguai, né, o Brizola se sente desamparado

e aí ele próprio se refugia durante dois meses em fazendas na fronteira com o Uruguai.

E fica morando no Balneário de Atlântida, no Uruguai, até setembro de 1977.

E ele é eleito pelos golpistas militares como o inimigo público número um, o incendiário,

o pequeno Nero da Praça da Matriz, comunista...

O Brizola comunista!

O Brizola comunista!

Sim!

E papapá, e ele claro, aí articulando tudo que ele podia contra esse regime militar,

esse regime de exceção, esse regime canalha, esse regime golpista.

E aí ele, óbvio, conspirando, mas conspirando pela volta da democracia, pelo menos em tese,

não é.

E então em setembro de 77 ele é expulso do Uruguai porque consideram que ele tinha

rompido as regras de um asilo político porque ele articulava contra os militares.

Então ele sai do Uruguai e vai pra onde, vai pra onde, vai pra onde!?

Vai pra Nova Iorque, cara, vai pra Nova Iorque!

E ele em tese sempre inimigo dos yankees, do imperialismo americano, da grande maçã

podre que é Nova Iorque.

E por que que ele vai pra Nova Iorque?

Porque o Jimmy Carter tinha tomado posse, era o presidente americano e era contrário

às ditaduras militares latino-americanas, que os antecessores dele tinham apoiado e

tinham posto no poder, especialmente no Cone sul.

E aí tem gente que até hoje diz assim "é que escolher entre os republicanos e os democratas

nos Estados Unidos é a mesma coisa que escolher entre Coca Cola e Pepsi Cola".

É, é, é, o Carter, o Bill Clinton e o Obama, aliás, os três fãs do Bob Dylan, os três