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BBC Brasil 2019 (Áudio/Vídeo+CC), Tragédia em Brumadinho: Quais os piores desastres com barragem do mundo?

Tragédia em Brumadinho: Quais os piores desastres com barragem do mundo?

[Feb 1, 2019].

Você sabe quais foram os maiores desastres com barragem de minério do mundo?

Aqueles que causaram mais vítimas e afetaram o meio ambiente?

Infelizmente, o Brasil se destaca nesse ranking desolador.

Sou Nathalia Passarinho, repórter da BBC News Brasil aqui em Londres, e hoje vou falar sobre como o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, Minas Gerais, se encaixa no contexto internacional e que lições a gente tira com essa comparação.

Um relatório das Nações Unidas listou os piores acidentes com barragem de minério nos últimos 30 anos.

Quando a gente olha para os últimos 5 anos, 8 grandes acidentes ocorreram pelo mundo e o Brasil é o país com maior número: 3. Quais são eles?

O rompimento de uma barragem de Herculano Mineração em Itabirito, Minas Gerais, em 2014, com três mortes; o vazamento da barragem de Fundão em Mariana, também Minas Gerais, em 2015, com 19 mortes e agora tragédia com a grande perda de vidas humanas em Brumadinho.

Mas na comparação com o mundo, em termos de tamanho do desastre, os casos brasileiros são os piores?

A ONU usa um sistema de classificação de gravidade que leva em conta o volume de rejeitos espalhados, tamanho da área afetada e número de mortos.

Para te dar uma ideia, é considerado um desastre de alta gravidade um rompimento de barragem que provoque vazamento de mais de um milhão de m³, afetando uma área de pelo menos 20 km e causando cerca de 20 mortes.

O Brasil já era sede da maior tragédia ambiental por causa do rompimento da barragem em Mariana, há três anos.

Foram mais de 40 milhões de m³ de lama, que destruíram o ecossistema do Rio Doce.

Isso é 40 vezes mais que o critério da ONU de um milhão de m³ para classificar a alta gravidade, mas, em termos de mortes, nosso país não era, até agora, o local do pior desastre.

Infelizmente, isso deve mudar, mas o evento mais trágico envolvendo barragens de minério das últimas três décadas foi em 1985, no norte da Itália.

Também na hora do almoço, 180 mil m³ de lama de uma barragem da Prealpi Mineraria varreram a cidade de Stava e Tesero.

No caso italiano, não foi o volume de lama que chamou a atenção do mundo, mas o total de vítimas.

267 pessoas morreram, inclusive famílias inteiras.

Uma estátua construída em Stava, em homenagem às vítimas, retrata a cena dramática que as equipes de resgate testemunharam quando chegaram lá.

Dezenas de homens, mulheres e crianças foram encontrados mortos envoltos em lama e com as mãos erguidas na frente do rosto, numa última tentativa de se proteger.

Com um número cada vez maior de mortes confirmadas em Brumadinho, é muito possível que o Brasil supere esse desastre na Itália e se torne palco da maior tragédia humana com rompimento de barragens.

Além de Itália e Brasil, vários outros países já tiveram acidentes sérios com barragens, mas de menor proporção.

Em Israel, país que está ajudando o Brasil no resgate em Brumadinho, teve um vazamento em 2017 com um impacto ecológico significativo.

Materiais altamente tóxicos invadiram cerca de 20 km.

Na Europa, a ONU diz que o principal desastre causado por um rompimento de barragem foi na Romênia, no ano 2000.

Metais pesados de uma mina de ouro invadiram um afluente importante do rio Danúbio.

Os rejeitos passaram por Romênia, Hungria, Servia e Bulgária até chegar ao Mar Negro, matando mais de mil 240 toneladas de peixes.

Segundo a ONU, é o pior desastre ambiental na Europa desde Chernobyl, acidente nuclear que ocorreu na ucrânia em 1986.

Agora, o que chama a atenção nos casos brasileiros, além da quantidade de mortes humanas, é a frequência com que esse tipo de acidente acontece.

Um estudo do professor Bruno Milanez, da Universidade Federal de Juiz de Fora, aponta que Minas Gerais, que é o estado que concentra a maior quantidade de minas, tem um rompimento de barragem a cada dois anos.

Aí você pode dizer: "bom, o Brasil é o segundo maior exportador de minério do mundo.

É natural que tenha mais acidentes".

A Austrália é o maior exportador e tem muito menos acidentes, principalmente graves, que o Brasil.

Então o que faz com que essas tragédias aconteçam?

O relatório das Nações Unidas elenca as principais causas de rompimento de barragens.

O documento afirma que chuvas fortes e prolongadas, furacões e abalos sísmicos podem provocar rupturas ou transbordamento, mas, mesmo nesses casos, a ONU considera que houve erro humano.

Isso porque o planejamento de risco para a manutenção e construção das barragens devem, obviamente, levar em conta as condições climáticas do local.

Conversei com um dos autores do relatório, o geólogo brasileiro Alex Bastos.

Vamos ouvir...

"Independente do problema físico que possa ter ocorrido, os principais problemas ou o que leva ao rompimento das barragens é um erro na análise de risco e a negligência, principalmente no monitoramento da estabilidade das barragens. Esta foi uma conclusão que é bem clara, considerando mais de 200 rompimentos de barragem avaliados nos últimos 50 anos".

O tipo de barragem também tem influência.

Isso fica bem claro nessa comparação global: tanto a barragem de Brumadinho quanto a de Mariana são do tipo "a montante", feitas com os próprios rejeitos.

Nesse caso, os detritos minerais, as rochas e terras escavadas durante a mineração e descartados por não terem tanto valor comercial são depositados em camadas num vale, formando a barragem.

Não tem ali uma estrutura de concreto, por exemplo.

O geólogo com quem conversei chegou a chamar esse tipo de estrutura de lixão de minério.

Ele é o mais comum no Brasil por ser o mais barato, mas também é o mais perigoso.

A barragem vai sendo alteado a montante dela, ou seja, para cima dela.

Essas barragens, elas começam com um aterro compactado para formar aquele paredão, formar barreira de contenção, e sobre esse aterro compactado o próprio rejeito vai sendo compactado.

Ele é drenado, tira-se a água e aquele rejeito vai sendo compactado e vai subindo aquele paredão.

O método de alteamento a montante é muito controverso na engenharia.

Tem países, por exemplo, como o Chile, em que ele é proibido.

No Brasil, ele ainda é permitido, mas não é considerado o mais seguro.

Quando a gente olha o relatório da ONU e busca lições do que dá certo ou errado em outros países, um detalhe chama a atenção: esse tipo de barragem a montante, mais barato e mais perigoso, é responsável por duas vezes mais acidentes que outros tipos de barragens mais seguras.

Bom, a gente vai continuar acompanhando de perto a tragédia que matou dezenas de pessoas e deixou centenas de desaparecidos.

Se você tiver alguma dúvida ou sugestão, escreva aqui nos comentários.

E, se você gostou do vídeo, compartilhe e assine o nosso canal da BBC News Brasil no YouTube.

Tragédia em Brumadinho: Quais os piores desastres com barragem do mundo? Tragedy in Brumadinho: What are the worst dam disasters in the world? Tragedia de Brumadinho: ¿Cuáles son las peores catástrofes causadas por presas en el mundo? ブルマディーニョの悲劇:世界最悪のダム災害とは? 布鲁马迪尼奥的悲剧:世界上最严重的水坝灾难是什么?

[Feb 1, 2019].

Você sabe quais foram os maiores desastres com barragem de minério do mundo? Do you know what the world's biggest ore dam disasters have been?

Aqueles que causaram mais vítimas e afetaram o meio ambiente?

Infelizmente, o Brasil se destaca nesse ranking desolador.

Sou Nathalia Passarinho, repórter da BBC News Brasil aqui em Londres, e hoje vou falar sobre como o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, Minas Gerais, se encaixa no contexto internacional e que lições a gente tira com essa comparação.

Um relatório das Nações Unidas listou os piores acidentes com barragem de minério nos últimos 30 anos.

Quando a gente olha para os últimos 5 anos, 8 grandes acidentes ocorreram pelo mundo e o Brasil é o país com maior número: 3. Quais são eles?

O rompimento de uma barragem de Herculano Mineração em Itabirito, Minas Gerais, em 2014, com três mortes; o vazamento da barragem de Fundão em Mariana, também Minas Gerais, em 2015, com 19 mortes e agora tragédia com a grande perda de vidas humanas em Brumadinho. The collapse of a Herculano Mineração dam in Itabirito, Minas Gerais, in 2014, with three deaths; the leakage of the Fundão dam in Mariana, also in Minas Gerais, in 2015, with 19 deaths and now the tragedy with the great loss of human life in Brumadinho.

Mas na comparação com o mundo, em termos de tamanho do desastre, os casos brasileiros são os piores?

A ONU usa um sistema de classificação de gravidade que leva em conta o volume de rejeitos espalhados, tamanho da área afetada e número de mortos.

Para te dar uma ideia, é considerado um desastre de alta gravidade um rompimento de barragem que provoque vazamento de mais de um milhão de m³, afetando uma área de pelo menos 20 km e causando cerca de 20 mortes.

O Brasil já era sede da maior tragédia ambiental por causa do rompimento da barragem em Mariana, há três anos.

Foram mais de 40 milhões de m³ de lama, que destruíram o ecossistema do Rio Doce.

Isso é 40 vezes mais que o critério da ONU de um milhão de m³ para classificar a alta gravidade, mas, em termos de mortes, nosso país não era, até agora, o local do pior desastre.

Infelizmente, isso deve mudar, mas o evento mais trágico envolvendo barragens de minério das últimas três décadas foi em 1985, no norte da Itália.

Também na hora do almoço, 180 mil m³ de lama de uma barragem da Prealpi Mineraria varreram a cidade de Stava e Tesero.

No caso italiano, não foi o volume de lama que chamou a atenção do mundo, mas o total de vítimas.

267 pessoas morreram, inclusive famílias inteiras.

Uma estátua construída em Stava, em homenagem às vítimas, retrata a cena dramática que as equipes de resgate testemunharam quando chegaram lá.

Dezenas de homens, mulheres e crianças foram encontrados mortos envoltos em lama e com as mãos erguidas na frente do rosto, numa última tentativa de se proteger.

Com um número cada vez maior de mortes confirmadas em Brumadinho, é muito possível que o Brasil supere esse desastre na Itália e se torne palco da maior tragédia humana com rompimento de barragens.

Além de Itália e Brasil, vários outros países já tiveram acidentes sérios com barragens, mas de menor proporção.

Em Israel, país que está ajudando o Brasil no resgate em Brumadinho, teve um vazamento em 2017 com um impacto ecológico significativo.

Materiais altamente tóxicos invadiram cerca de 20 km.

Na Europa, a ONU diz que o principal desastre causado por um rompimento de barragem foi na Romênia, no ano 2000.

Metais pesados de uma mina de ouro invadiram um afluente importante do rio Danúbio.

Os rejeitos passaram por Romênia, Hungria, Servia e Bulgária até chegar ao Mar Negro, matando mais de mil 240 toneladas de peixes.

Segundo a ONU, é o pior desastre ambiental na Europa desde Chernobyl, acidente nuclear que ocorreu na ucrânia em 1986.

Agora, o que chama a atenção nos casos brasileiros, além da quantidade de mortes humanas, é a frequência com que esse tipo de acidente acontece.

Um estudo do professor Bruno Milanez, da Universidade Federal de Juiz de Fora, aponta que Minas Gerais, que é o estado que concentra a maior quantidade de minas, tem um rompimento de barragem a cada dois anos.

Aí você pode dizer: "bom, o Brasil é o segundo maior exportador de minério do mundo.

É natural que tenha mais acidentes".

A Austrália é o maior exportador e tem muito menos acidentes, principalmente graves, que o Brasil.

Então o que faz com que essas tragédias aconteçam?

O relatório das Nações Unidas elenca as principais causas de rompimento de barragens.

O documento afirma que chuvas fortes e prolongadas, furacões e abalos sísmicos podem provocar rupturas ou transbordamento, mas, mesmo nesses casos, a ONU considera que houve erro humano.

Isso porque o planejamento de risco para a manutenção e construção das barragens devem, obviamente, levar em conta as condições climáticas do local.

Conversei com um dos autores do relatório, o geólogo brasileiro Alex Bastos.

Vamos ouvir...

"Independente do problema físico que possa ter ocorrido, os principais problemas ou o que leva ao rompimento das barragens é um erro na análise de risco e a negligência, principalmente no monitoramento da estabilidade das barragens. Esta foi uma conclusão que é bem clara, considerando mais de 200 rompimentos de barragem avaliados nos últimos 50 anos".

O tipo de barragem também tem influência.

Isso fica bem claro nessa comparação global: tanto a barragem de Brumadinho quanto a de Mariana são do tipo "a montante", feitas com os próprios rejeitos. This is clear from this global comparison: both the Brumadinho and Mariana dams are "upstream" dams, made from the tailings themselves.

Nesse caso, os detritos minerais, as rochas e terras escavadas durante a mineração e descartados por não terem tanto valor comercial são depositados em camadas num vale, formando a barragem.

Não tem ali uma estrutura de concreto, por exemplo.

O geólogo com quem conversei chegou a chamar esse tipo de estrutura de lixão de minério.

Ele é o mais comum no Brasil por ser o mais barato, mas também é o mais perigoso.

A barragem vai sendo alteado a montante dela, ou seja, para cima dela.

Essas barragens, elas começam com um aterro compactado para formar aquele paredão, formar barreira de contenção, e sobre esse aterro compactado o próprio rejeito vai sendo compactado.

Ele é drenado, tira-se a água e aquele rejeito vai sendo compactado e vai subindo aquele paredão.

O método de alteamento a montante é muito controverso na engenharia.

Tem países, por exemplo, como o Chile, em que ele é proibido.

No Brasil, ele ainda é permitido, mas não é considerado o mais seguro.

Quando a gente olha o relatório da ONU e busca lições do que dá certo ou errado em outros países, um detalhe chama a atenção: esse tipo de barragem a montante, mais barato e mais perigoso, é responsável por duas vezes mais acidentes que outros tipos de barragens mais seguras.

Bom, a gente vai continuar acompanhando de perto a tragédia que matou dezenas de pessoas e deixou centenas de desaparecidos.

Se você tiver alguma dúvida ou sugestão, escreva aqui nos comentários.

E, se você gostou do vídeo, compartilhe e assine o nosso canal da BBC News Brasil no YouTube.