Bolsonaro deve ou não priorizar o Mercosul? Saiba o essencial sobre o bloco!
[Nov 6, 2018].
Está procurando algum assunto polêmico para conversar com os amigos, com os parentes, para enviar no grupo do WhatsApp?
Eu sou Luis Barrucho, repórter da BBC News Brasil aqui em Londres e, neste vídeo, eu vou colocar o Mercosul na balança: prós e contras.
Se você não mora em Marte, já deve ter ouvido falar desse senhor aqui: Paulo Guedes é o futuro superministro da Economia de Jair Bolsonaro, o novo presidente do Brasil.
Em resposta à uma pergunta de uma jornalista argentina, ele disse que o Mercosul e a Argentina não vão ser prioridades do novo governo.
Dá uma olhada nessa matéria que a nossa repórter em Buenos Aires, Marcia Carmo, fez ouvindo uma porção de gente.
Muitos ficaram surpresos com o tom e com conteúdo do que o Paulo Guedes falou.
Mas aqui a gente não está preocupado só com tom, a gente está preocupado com a substância.
Então, vamos entender o que é o Mercosul.
O Mercosul foi criado em 1991 por quatro países: Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai.
Vocês sabem qual foi o país que foi suspenso por tempo indeterminado do Mercosul? Cronômetro na tela, valendo...
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A Venezuela foi aceita em 2012, mas acabou suspensa por tempo indeterminado em 2016, por não cumprir as normas do bloco, como, por exemplo, a proteção aos direitos humanos.
O protocolo para a adesão da Bolívia já foi assinado, mas está parado no Congresso brasileiro.
O Mercosul, com seus quatro países, é hoje o terceiro maior bloco do mundo, depois do Nafta e da União Europeia.
Com o Brexit, que é a saída do Reino Unido da União Europeia, o bloco vai ficar um pouco mais magro, mas isso é assunto para outro dia.
Uma informação importante: o Mercosul é uma união aduaneira, ou seja, uma zona de livre comércio, onde os países podem comprar e vender sem impostos ou com impostos mais baixos do que os cobrados de quem está fora do clube.
O grupo também adotou a chamada tarifa externa comum, a TEC. Lembra disso!
Basicamente, essa tarifa, que varia de acordo com o tipo de mercadoria, visa taxar tudo o que vem de fora do bloco com o mesmo imposto.
Na prática, isso torna as importações de fora mais caras.
Acaba sendo, portanto, um incentivo para que os países-membros produzam, comprem e vendam entre si.
É o caso, por exemplo, dos automóveis, principal item exportado pelo Brasil ao restante do Mercosul Funciona assim: se a Argentina quiser comprar carros do Brasil, não precisa pagar nenhum imposto de importação ou vice-versa.
Mas, se quiser comprar de fora do bloco, a alíquota será de 35%.
E essa indústria automobilística é super chave para se entender o peso do Mercosul nas economias da região.
No ano passado, os automóveis de passageiros responderam por 22% de tudo o que nós vendemos dentro do bloco.
O resultado desse protecionismo é óbvio: se tivesse que competir sem essa proteção da TEC, a indústria automobilística brasileira possivelmente teria que mudar, seja por redução de custo, seja por aumento de produtividade com mais tecnologia.
Teria que mudar pra competir.
Com a proteção, corre o risco de se acomodar e perder competitividade.
Esse é um resumo de um dos grandes dilemas das políticas de desenvolvimento.
No ano passado, 90% das exportações do Brasil ao Mercosul foram manufaturados, ou seja, produtos industrializados que geram emprego e renda de mais qualidade para o nosso país.
O bloco é também o destino de 25% de todas as nossas exportações. É bastante coisa.
Além disso, no ano passado, exportamos para nossos vizinhos muito mais do que importamos deles.
É o superávit, que é o que todo mundo quer no final das contas.
Isso vem acontecendo com o Brasil desde que o Mercosul foi criado.
Conclusão: nosso saldo foi de 10,7 bilhões de dólares em 2017, o que contribuiu para fecharmos nossa balança comercial no azul.
O Mercosul é também o maior mercado para cerca de 7 mil micro, pequenas e médias empresas exportadoras brasileiras.
Ou seja, está longe de beneficiar só as grandes montadoras.
O problema é que ao mesmo tempo que nos protege ele atravanca o nosso crescimento.
Por quê? Porque pelas regras do bloco, os países-membros não podem firmar acordos com o restante do mundo individualmente.
Ou seja, tudo tem que ser feito em grupo.
Imagina o trabalhão que dá pra todo mundo se encontrar, chegar a um consenso e ficar feliz... Difícil, né?
Conclusão: desde que foi criado, o Mercosul só conseguiu assinar três acordos multilaterais, com Palestina, Egito e Israel.
O acordo com a União Europeia, por exemplo, que vem sendo discutido há muito tempo, ainda não foi selado.
"Ah, então vamos deixar o Mercosul pra lá!"
Não está bem claro o que o Paulo Guedes quis dizer com não dar prioridade.
Especialistas com quem eu conversei alertam que os riscos são claros.
Digamos que nossos hermanos deixam de comprar carros da gente, por exemplo.
No ano passado, 8 em cada 10 carros exportados pelo Brasil foram parar na Argentina.
Lembra daquele imposto de importação de 35% de que eu falei?
Então, imagine que acabou imposto para os que estão fora do clube e a Argentina assinou um acordo com a Coreia do Sul.
Por que que os nossos hermanos vão continuar comprando mais caro da gente se podem comprar mais barato da Coreia do Sul?
Seria difícil não prever o impacto na indústria automotiva brasileira, especialmente em São Paulo, de onde vem a maior parte dos carros.
Os especialistas me disseram o seguinte: a solução não seria acabar de vez com o Mercosul, nem deixar de priorizar a Argentina, que é o nosso terceiro maior parceiro comercial e principal destino de nossas exportações de manufaturas.
Sim, o principal destino dos nossos produtos industrializados é a Argentina.
Eles dizem que os países-membros têm mesmo é que sentar e renegociar os termos do acordo.
Pode ser pela redução da tarifa externa comum, a tal da TEC, ou pela assinatura de mais acordos multilaterais.
Além disso, nem tudo gira em torno da economia.
Você já viajou para a Argentina?
Você sabia que não precisa viajar com o passaporte? Basta o RG válido.
Lembrando que, desde 2009, quem mora no Mercosul pode viver e trabalhar legalmente em todos os países do bloco sem muita burocracia.
Isso sem falar nos convênios educacionais, que permitem a alunos brasileiros, por exemplo, estudar na Argentina usando a nota do Enem.
A BBC News Brasil já fez até matéria sobre isso, falando dos brasileiros que foram atrás da universidade pública de boa qualidade na Argentina.
Que mais que a gente tem que falar? Esqueci, gente...
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