As Praças - Edição de 24 de dezembro 2012 - Praça do Toural, Guimarães - 05
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Jornalista:
Digam-me uma coisa, ambas, se a nossa conversa não incidisse sobre este Toural onde estamos, poderíamos ir caminhando pela alameda adiante porque de algum modo a alameda continua este lugar, e isso resulta também da sua intervenção, isso foi intencional?
Arquiteta:
Sim, foi, claro, a intervenção é muito extensa, na verdade são cerca de 4 hectares no centro da cidade, todos ligados e articulados uns com os outros e que acompanham o traçado da muralha, portanto há uma forma que faz um interface entre a cidade entre muros e a cidade fora de muralhas, e morfologicamente são espaços muito diferentes, portanto nem sequer se pode falar numa intervenção tão unitária quanto isso, porque tem uma rua, que é a rua de Santo António, uma rua comercial importantíssima, tem a praça do Toural com a centralidade que lhe reconhecemos, encontrava depois a alameda, um espaço também completamente definido ao longo do século XX, também com um desenho muito específico, muito próprio, do passeio público do século XX, digamos, junto à alameda englobou ainda a frente do convento de S. Francisco e acabou apenas na Sra.
da Guia onde existia uma grande rotunda que entretanto também desapareceu com esta intervenção. E portanto, tendo embora consciência desta diversidade morfológica, dos espaços em cadeia, era no entanto necessário perceber como é que eles funcionavam exatamente na sua sequencialidade e de alguma forma também perceber como é que uma intervenção então contemporânea em cima de espaços que tinham desenhos de meados do século passado, há sessenta anos atrás, portanto numa circunstância temporal muitíssimo diferente daquela que vemos atualmente, e política também, como é evidente, e portanto tentar de alguma forma imprimir a esses espaços que tinham esse cunho, tentar perceber por exemplo, nesta zona da alameda, o que é que pode ser hoje em dia , o que é que seja o que pode ser interessante que a natureza, o papel que a natureza pode cumprir na cidade, daí enquanto que no Toural foi de alguma maneira o reganhar da sua dimensão interior, de poder ser uma praça muito limpa no osso e silenciosa de alguma maneira, o que fala no Toural são as fachadas envolventes, a sua espacialidade, a alameda de alguma maneira reflete também um s…uma forma de viver a cidade, são espaços muito alinhados, com planos muito rígidos, em que se entra apenas em alguns sítios muito especiais, muito específicos, e que de alguma forma, sendo espaços fantásticos, do ponto de vista da arborização e do ambiente, mas tem uma relação de alguma, como se fosse uma sala relativamente encerrada em relação à cidade.
O que nos pareceu é que faria todo o sentido e nessa discussão do programa inicial com a Câmara, nomeadamente, atribuir porosidade a este espaço e se pensarmos como é que se pode atribuir porosidade a um espaço verde, como é que a cidade pode entrar lá sendo que ele é naturalmente muito delimitado, porque está em pleno centro urbano, surgiu-nos em determinado momento a possibilidade de passar a olhar para a alameda não como uma alameda, que são alinhamentos de árvores, basicamente, mas como um bosque, em que se pensarmos o que é um bosque, hmmm, aí teve digamos, o ponto de partida para decidir o desenho, ou seja, um bosque é um sítio onde existem muitas árvores plantadas de uma forma aparentemente aleatória e por onde as pessoas caminham por entre elas, conforme escolhem o trajeto que querem seguir, ou seja, de alguma forma, em termos espaciais, é exatamente oposto de uma alameda, que nos conduz através de caminhos certos e absolutamente orientados… o bosque é…er….é a notação que se quer num bosque e tem um chão que não tem desenho para além… nem obstáculos para além dos das próprias árvores, que temos que as evitar, que andar em volta delas.