Uma visão jovem e inspiradora | Joana Leite de Castro | TEDxUCPPorto (1)
Tradutor: Margarida Ferreira Revisora: Mafalda Ferreira
Olá a todos.
Eu quero começar por dizer que é uma grande honra
estar aqui, na Católica, a falar para vocês.
Eu confesso que, quando fui desafiada a vir ao TEDx falar sobre competição,
eu pensei:
"Oh, meu Deus! O que é que eu vou falar sobre cooperação, competição?"
Às vezes, nós vivemos num mundo que funciona tão rápido
que não temos tempo para refletir.
A verdade é que foi um exercício muito bom,
olhar para a minha experiência nestes últimos anos
à luz destas duas palavras.
Vocês já vão perceber porquê.
Eu começo por vos dizer que a minha conversa aqui
é muito pessoal, um bocadinho diferente dos outros oradores.
É a minha perspetiva
e a forma como eu encarei aquilo que me aconteceu
e as decisões que eu fui tomando.
Nós somos todos diferentes,
todos temos perspetivas diferentes e opiniões diferentes.
Eu não acho que seja melhor ou pior, é só a minha
e é isso que eu quero partilhar hoje com vocês.
Eu estudei gestão aqui na Católica.
Aliás, eu queria seguir Turismo e Gestão Hoteleira.
Eu sempre gostei de viajar,
conhecer pessoas de diferentes culturas
e falar muitas línguas.
Então, para mim, fazia sentido começar por gestão
e ter uma base, antes de ir para hotelaria.
Eu estive os três anos aqui e confesso, adorei a Católica.
Há muito aqui que vocês têm que aproveitar.
No terceiro ano, eu fiz Erasmus em Istambul,
que continua a ser, depois de tantas viagens,
a minha cidade preferida.
Fiquei ainda mais curiosa por conhecer mais e por viajar mais.
Eu acabei o curso em 2011,
e queria ir para fora.
Queria começar a trabalhar no mercado internacional,
queria ir para a Europa queria ir para os EUA,
Queria aprender com outras culturas,
com outras formas de trabalhar numa empresa.
Então, comecei a candidatar-me.
Eu digo-vos que não foi fácil.
Eu tive uma experiência, no 1.º ano da faculdade,
com uma consultora
e não gostei muito do ambiente competitivo dos gestores de caso.
Foram cinco dias na Grécia.
Então, eu, por opção muito pessoal, decidi pôr de parte as consultoras.
Eu não gostava da pressão
e sentia-me uma pessoa diferente a trabalhar naqueles ambientes.
Então, percebi.
"Vou candidatar-me a empresas como a Procter and Gamble,
"a Danone, a Nestlé que, normalmente, são empresas
" que têm presença em vários países na Europa".
Recebi muitos nãos, nãos, respostas automáticas, emails.
Já que nunca há pressão de começar a trabalhar,
quando eu dei por mim, já tinham passado seis meses
e eu ainda não tinha arranjado trabalho.
Então, assim com um bocado de sorte
— como diz a minha mãe: "A sorte favorece os audazes" —
consegui uma entrevista em Chicago, nos Estados Unidos,
em janeiro de 2012.
Esta fotografia foi tirada no dia a seguir à entrevista,
Como vocês podem ver, eu estava completamente noutra,
não sabia muito bem o que é que eu estava ali a fazer,
mas a verdade é que, como em tudo o que faço,
dei o meu melhor, fui autêntica, fui eu
e, sem saber ainda muito bem como,
consegui o trabalho.
Comecei a trabalhar na Abbott Laboratory,
que é uma empresa farmacêutica com sede em Chicago,
mas está espalhada pelo mundo,
aliás tem empresa em Lisboa,
muito na área farmacêutica
mas eu ia trabalhar na parte de nutrição com um suplemento alimentar para crianças,
em "marketing" internacional.
Eu confesso que não fazia ideia do que era a nutrição
e não sabia muito bem em que é que ia trabalhar,
sabia sim que era "marketing" internacional
que ia trabalhar com todos os países exceto os Estados Unidos,
e que, em teoria, ia começar em Chicago.
Claro que as coisas nunca acontecem como nós estamos à espera
e, por ser portuguesa, e por ser o meu primeiro trabalho,
foi muito difícil conseguir o visto.
Então, durante o primeiro ano e meio,
eu estava — à vossa direita — a trabalhar em Espanha, em Madrid.
Isto é o meu escritório, onde posso pôr fotografias, sem problema nenhum.
Estive a trabalhar nos escritórios de lá,
mas o meu chefe e a minha equipa estavam todos em Chicago.
Então, durante um ano e meio,
eu ia a Chicago uma vez de dois em dois meses,
e ficava lá duas semanas, três semanas.
Sem me aperceber, e nisso fiquei um bocado assustada,
porque eu queria era ir para os EUA,
acabei por ter o melhor dos dois mundos.
Viajei por milhares de sítios,
estive em imensos sítios no sueste asiático.
Isto são fotografias de congressos de médicos, que nós fazíamos,
de reuniões de equipas de "marketing" de todos os países.
Se virem a fotografia, é mesmo aqui no Porto.
Eu tive a oportunidade de trazer pessoas da Indonésia,
das Filipinas, de Miami, do Brasil, da Argentina,
aqui para o Porto.
Acho que foi a viagem que me marcou mais na Índia,
porque muitas vezes, nestas viagens, passamos muito tempo em hotéis,
nas reuniões e nos congressos,
e na Índia tive a oportunidade de ir entrevistar mães
sobre os hábitos alimentares dos seus filhos.
Estive mesmo em casa das mães.
Foi uma experiência de que eu gostei muito.
Como eu vos dizia, viajar em trabalho é diferente.
Eu tentava, porque tenho muita energia
e nessa altura tinha 22 anos, agora tenho 25,
e tinha que ir a todas,
eu tentava aproveitar o máximo que podia.
Isto são fotografias todas de sítios onde eu estive em trabalho
mas que, com mais horas de sono ou menos horas de sono
conseguia ir fazendo.
Digo-vos que consegui ir a um casamento indiano
que era a coisa que eu mais queria.
No hotel onde eu estava, tive sorte e consegui “crash a wedding” .
Tive uma aula de "graffiti" em Miami.
Experimentei e comia um bocado de tudo
aí, em cima, foi a pior coisa do mundo.
É um embrião de pato, é uma coisa horrorosa.
Eu só dizia: "Digam-me no fim",
nas Filipinas, onde me deram a experimentar.
Foi uma experiência muito intensa.
Eu viajava muito, mas trabalhava ainda mais.
Às vezes, as fotografias não traduzem a parte menos boa.
Entretanto, ao fim de um ano e meio, consegui o visto para Chicago,
e a verdade é que já não queria ir.
Sem me aperceber, tinha o melhor dos dois mundos.
Vivia em Madrid, uma cidade espetacular,
vinha ao Porto quando queria
e viajava por todo o lado.
Ia a Chicago, de xis em xis tempo,
trabalhava imenso, mas conseguia ir equilibrando.
Quando o visto chegou, eu pensei:
"Oh, meu Deus! Eu agora quero ir mesmo para Chicago?"
Mas o que eu queria era ser a CEO da Coca-Cola ou da Google.
ir para os Estados Unidos não é fácil...
"Olha, ó Joana"
Eu stresso um bocado mas, depois de me decidir, está decidido.
Então, eu disse: "Ok, eu vou para Chicago, vou tentar.
"O pior que pode acontecer é correr mal".
E correu... mal.
Mas tive um ano em que estive seis meses com muito frio,
muito frio mesmo e, quando digo muito frio, foi mesmo muito frio
Eu usava roupa que nem sequer sabia que existia.
Trabalhava fora de Chicago,
tinha que me levantar todos os dias às 6 da manhã
para apanhar um comboio.
Se me atrasava ou não secava o cabelo por completo,
ele congelava, literalmente.
Esta fotografia é com uma colega minha de trabalho.
Eu não estava a chorar, mas era quase.
Se vocês fossem meus amigos eram diários os "snapchats"
porque o frio foi mesmo violento.
Mas eu sabia que no verão, principalmente em Chicago,
— porque o inverno é longo e é duro —
as pessoas aproveitam muito.
Há muitos festivais gratuitos, imensos eventos culturais.
Então, pelo menos até ao verão, eu tinha que ficar.
Foi isso que eu fiz.
Eu fiquei no verão, estive lá um ano completo em Chicago.
Foi um balanço positivo.
Eu sou uma otimista por natureza
mas confesso que o ambiente nos Estados Unidos me assustou.
Era mesmo mesmo muito competitivo.
Havia uma pressão muito grande em construir carreira.
Eu percebi qual era o meu lugar na Abbott
e acho que falo, em geral, pelos portugueses.
Quando tu és desenrascado ou desenrascada,
quando chegas aos Estados Unidos, tens imenso valor.
E tanto estás a agrafar folhas para fazer um folheto, a limpar o chão,
como estás a falar com o presidente de um congresso, médicos
e isso é muito valorizado, porque não é muito comum lá.
Eu sabia que poderia crescer na empresa
mas apercebi-me que, para mim, e como outros oradores,
não passava por aqui.
Então, no ano passado, ao fim deste ano completo
e antes de começar outro inverno, em novembro,
despedi-me
A verdade é que sou uma sortuda por ter tido este trabalho
e de ter conseguido alguns dólares americanos
que ajudam, pelo menos, no incentivo...
Desculpem, enganei-me.
Arrumei as minhas malas
— isto é no aeroporto do Porto —
no ano passado e este ano comecei em janeiro
e dediquei-me a fazer voluntariado em África.
Estive lá sete meses,
isto numa fase de exploração
e de perceber o que é que vem para mim a seguir.
Se calhar, será para um lado de cooperação.
Isto são tudo fotografias no Quénia.
Eu estive lá três meses com a Diana Vasconcelos
no projeto Há Ir e Voltar.
Eu espero que muitas pessoas conheçam
porque foi graças à muita ajuda de portugueses, pelo Facebook,
que a Diana e eu — eu só fui ajudar —
conseguimos construir uma escola na favela de Quibera, em Nairobi,
que é a maior favela de África.
A Diana, por acaso, é portuguesa, é de Amarante,
mas eu conheci-a em Chicago.
É giro, porque as experiências acabam todas por se ir ligando,
Foi uma experiência muito intensa,
passar dos Estados Unidos
— eu passava a vida a passar cartão como costumo dizer —
para a favela onde tudo é sujo,
os miúdos andam descalços,
Realmente, é uma realidade completamente diferente.
Mas foi uma experiência muito enriquecedora.
Eu depois de ajudar a Diana a construir esta escola
a escola estava realmente em pé
e ir para a Tanzânia, com outra amiga, a Francisca,
que também estudou aqui na Católica, eu conheci-a cá.
E fomos dar aulas.
Depois de construir a escola, eu quis ir dar aulas
para uma escola que já existia.
Estivemos a dar aulas de matemática e inglês
numa escola primária em Monduli,
que é uma vila na Tanzânia, no meio do nada,
em que nós éramos as únicas brancas, lá no meio.
Foi muito interessante também ensinar estes meninos
que, todos os dias, me agradeciam.
Foi bom ver que há coisas que nós assumimos como garantido,
como a educação,
e ver a importância que eles davam a isso.
Depois, no sétimo mês nós queríamos praia.
Vou confessar, queríamos ir para o bom tempo.
A verdade é que nós achamos que vamos para África
e é sempre bom tempo e não é,
Em Monduli, na Tanzânia, era muito frio,
Lembro-me que levei uma camisola na minha mala.
Usei-a todos os dias.
Como dizia a minha mãe, ao menos tinha aqui
"Today is a good day",
ao menos andava a espalhar boa energia.
Mas usei-a todos os dias.
Então, nós queríamos ir para a praia.
Outra vez, as coisas não correm como nós estamos à espera,
mas conhecemos esta rapariga da Dinamarca, 30 anos,
que estava a montar um hotel de praia,
de "bungalows" lá em Zanzibar,
e precisava de ajuda
Nós, como éramos raparigas despachadas
ela não tinha muito apoio, agarrou-se a nós
e deu-nos estadia por um mês e comida.
Na teoria, íamos ajudá-la no "marketing":
Facebook, Instagram, no "booking", no "site".
Claro que, depois, chegámos lá
e foi desde lavar casas de banho,
lavar lençóis à mão,
fazer carpintaria — como eu estou nesta fotografia —
lixar paredes, pregar pregos,
Vamos dizer que estas fotografias — sim, isto foi nos meus 25 anos.
Eu fiz estes saltos todos, é uma praia incrível,
mas foi o único dia no mês que fomos à praia.