#259: O espocar dos votos no TSE - Part 1
em Manaus. Rádio Piauí.
Olá, sejam muito bem-vindos ao
foro de Teresina, o podcast de
política da revista Piauí. No
mérito, julgo parcialmente
procedente o pedido para
condenar o primeiro investigado
Jair Messias Bolsonaro,
declaro sua inelegibilidade por
oito anos. Eu, Fernando de
Moura, tenho o prazer de
conversar com o meu amigo José
Roberto de Toledo, aqui pertinho.
Opa Toledo. Opa Fernando, opa
Thaís. Qual a diferença
presidencial Alagoas pra
Pernambuco? Alagoas sessenta e
sete, Pernambuco treze por
cento do total dos recursos
liberados para kit de robótica.
E com a minha amiga Thaís
Bilenk também em São Paulo.
Salve, salve Thaís. Salve, salve
Fernando, salve, salve Toledo,
nem tão perto, nem tão longe,
como no filme, tão perto, tão
longe? Tão longe, tão perto.
Tão longe, tão perto. Sempre
perto Thaís, sempre perto.
Nós apresentamos um texto
conceitual importante, né? Que
consolida de fato um novo
sistema tributário no Brasil,
que é tão complexo e obscuro
porque as pessoas não sabem
quanto pagam de imposto no
nosso país. Bom, todos
pertinho, vamos sem mais
delongas aos assuntos da
semana. Abrimos o programa com
Jair Bolsonaro. O Tribunal
Superior Eleitoral interrompeu
ontem o julgamento quando o
placar apontava três votos a
um a favor da inelegibilidade.
Quando você estiver nos
escutando, é provável que
Bolsonaro já esteja inelegível
até dois mil e trinta. A única
chance disso não se consumar
nesta sexta-feira é um
eventual pedido de vista do
ministro Nunes Marques, o
penúltimo a votar. Além dele,
Carmen Lúcia e Alexandre de
Moraes devem selar o destino
político de Bolsonaro. Vamos
discutir a votação e os efeitos
políticos deste resultado. No
segundo bloco, o assunto é
Arthur Lira. O presidente da
Câmara está em má situação
desde que vieram a público
documentos apreendidos pela
Polícia Federal há um mês em
Alagoas, nas casas de dois de
seus auxiliares. Esses
documentos fazem parte da
investigação da PF sobre o
desvio de dinheiro do Fundo
Nacional de Desenvolvimento
da Educação. Dinheiro que
deveria ser usado na compra de
material escolar, os chamados
kits de robótica por prefeituras
de Alagoas. Os kits foram
comprados pelas escolas
municipais de uma empresa
alagoana por quatorze mil reais
a unidade, sendo que essa mesma
empresa, de pessoas ligadas a
Arthur Lira, tinha pago apenas
dois vírgula sete mil por cada
kit. A polícia tem evidências de
que a diferença estratosférica
entre a compra e a venda era
destinada a Luciano Cavalcante,
uma espécie de Mauro Cid, ou de
Fabrício Queiroz de Lira. O
parlamentar vinha dizendo que
nada tem a ver com o escândalo,
mas desde o último domingo
ficamos sabendo que Cavalcante
fez vários repasses de dinheiro
ao longo dos últimos meses a
um tal Arthur, conforme ele
anotou em seu caderno de
contabilidade. As revelações
desses documentos foram feitas
pelo repórter Breno Pires, da
Piauí, e pela Folha de São
Paulo. Lira está encrencado e
a gente discute quais podem ser
as consequências políticas deste
escândalo. Por último, falaremos
da reforma tributária. O deputado
Ignaldo Ribeiro, do PP da
Paraíba, apresentou o relatório
da proposta de amenda à
Constituição depois de quatro
meses de discussões. Arthur Lira
prometeu manter a votação para
a semana que vem e os lobbies
estão a todo vapor. Nós vamos
explicar o que está em jogo e
onde a coisa pode emperrar.
É isso? Vem com a gente!
Muito bem, José Roberto de Toledo,
vamos começar com você. Hoje,
quinta-feira, quando gravamos,
3x1. Então, devo dizer que eu
já coloquei o champanhe no gelo,
só falta mais dois votos ou três
para a gente expocar o vinho.
É motivo de comemoração, mesmo
que não seja a punição ideal,
ele está inelegível até a eleição
de 2028. Em 2030 ele já pode
participar, por uma peculiaridade
do calendário, por alguns dias
ele vai poder participar, mas
a gente sabe que não vai parar
por aí. Esse é um de 15, 16
processos que ele tem na justiça
eleitoral e, oxalá, outros tantos
na justiça criminal. Se ele for
condenado na justiça criminal,
aí ele vira ficha suja e não
apenas deixa de ser elegível,
como perde os direitos políticos.
Então, esse é o primeiro motivo
para a gente comemorar, mesmo que
não tenhamos, nesta quinta-feira,
terminado o julgamento.
Segundo, o Bolsonaro perdeu
o controle sobre a própria
narrativa. O levantamento da
Arquimedes mostra que ele ficou
bastante tempo sem aparecer
nas redes sociais. Nesse tempo,
as menções negativas a ele
cresceram e se tornaram majoritárias.
Nas vésperas do julgamento, ele
tentou retomar essa narrativa,
até fez o impensável, deu entrevista
para a Folha de São Paulo, para a
nossa colega e amiga Mônica Bergamo,
e para rádios, etc., para ver justamente
se conseguia reaparecer melhor na
fita. Segundo o levantamento, o
Arquimedes não conseguiu, o efeito
foi pífio e, portanto, o Bolsonaro
continua deficitário, justamente
naquela área que ele sempre, nos
últimos cinco anos, reinou absoluto,
que é o mundo digital. Então, ele está
sem capacidade de articulação alguma.
Basta ver como o PL, partido dele,
racha em votações de interesse
do governo Lula, está cada um chutando
para um lado, atirando para um lado,
defendendo o seu. Esse é o cenário
em que ele vai ter que enfrentar,
é a garoa que ele vai ter que sofrer
pelos próximos oito anos, se é que
não vai piorar com uma condenação
criminal. Queria, antes de passar a bola
para a Thaís, lembrar outra catástrofe
herdada pelo governo Lula, do
Bolsonaro, que foi o censo demográfico
de 2022, divulgado na quarta-feira,
que mostrou uma desaceleração
acentuada do crescimento
populacional brasileiro. Perdemos
10 milhões de habitantes em relação
ao que o próprio IBGE projetava
antes de terminar o censo, em vez de
213 milhões, somos 203 milhões de
brasileiros, com grandes diferenças
regionais de taxa de crescimento,
o Norte crescendo e o Centro-Oeste
principalmente crescendo mais, o Nordeste
crescendo bem mais lentamente, mudando
inclusive as proporções e os pesos
das regiões na economia e até na eleição.
O censo não saiu como se gostaria
que ele tivesse saído, demorou meses
para ser feito, outros tantos meses
para ser processado, por culpa
exclusivamente do senhor Paulo Guedes
e do senhor Jair Bolsonaro. Toda vez
que um liberal aloprado assume a
presidência da República e não inserte
a fazenda da economia, a gente perde o
ano do censo. Todos os países fazem
censo em ano terminado em zero.
O Brasil também era assim, 60, 70, 80,
aí foi fazer em 90, deu o Collor,
adiou o censo, foi para 91. Agora vem
Bolsonaro, em vez de fazer em 2020,
foi feito em 2022. Vamos dizer que
era por causa da pandemia? Meia verdade.
Na verdade, faltou dinheiro, planejamento
e vontade. Eles não queriam mostrar uma
radiografia do Brasil catastrófico que
eles estavam deixando antes da eleição.
Cortaram de uma maneira criminosa o
orçamento do censo, sabotaram o quanto
puderam e o resultado desse que a gente
tem aí. O resultado vai ser questionado
na justiça, vai terminar nos tribunais
porque...
2.399 municípios brasileiros perderam
população de 2010 para 2022. Isso vai
impactar o fundo de participação dos
municípios deles, ou seja, vão receber
menos dinheiro no repasse de tributos e
vão questionar o resultado na justiça.
Comparando, por exemplo, dados do
comparecimento ao primeiro turno da
eleição de 2022 com dados do censo, no
estado de São Paulo tem pelo menos um
município que teve mais eleitor do que
morador, que é Águas de São Pedro.
É um município muito peculiar, muito
pequeno, fica inteiro dentro de
Piracicaba, mas isso vai servir de
desculpa para os bolsonaristas de novo
voltarem a atacar o resultado da eleição.
Mas enfim, é só mais uma memória que a
gente não deve nunca esquecer do
malefício que o Bolsonaro fez e, portanto,
a condenação dele não só é justa como é
necessária para evitar que o mal igual,
que é difícil, volte a nos acometer.
Eu diria necessária e insuficiente ainda.
Thaís Bilencki, vamos passar para você
e vamos especular um pouco, por favor.
Não, sempre especulando, especulando
muito, mas sempre pensando...
Apurando e especulando.
Não, e o que o especulol diz sobre o
momento, assim, mais do que só a mera
especulação, interpretar os interesses
de quem especula. Mas eu queria fazer
antes, nesta etapa do nosso programa,
uma outra etapa sobre uma coincidência
histórica do momento que vive Bolsonaro
agora com o momento que viveu Lula em
abril de 2018. Ele estava às vésperas de
ser preso pela Lava Jato, destino dele
estava já selado como o de Bolsonaro e
aí ele resolveu tirar uns dias para ir
para Maresias, no litoral norte paulista,
com a Janja, com quem ele já estava,
embora não se soubesse publicamente disso,
na casa da Gabriela Araújo, que é uma
advogada do Prerrogativas e casada com
Emílio de Souza, que é um deputado estadual
do PT, amigo dele de longa data. E aí
eu conto essa história no perfil da Janja
que eu publiquei na PAOI um tempo atrás.
E o Bolsonaro, da mesma forma, acabou
de voltar de Maresias, na mesma cidade
litorânea paulista, para onde ele foi
na casa do Fábio Weingarten, que foi
secretário de comunicação dele no governo
e tem sido um porta-voz, estrategista,
assessor de tudo quanto é coisa. E voltou
de lá também, recentemente, esteve agora
em junho, para se reenergizar.
Ele foi para a casa do Weingarten
domingo passado, depois do jogo do Palmeiras,
quando o Palmeiras perdeu do Botafogo.
Isso aí vocês deixem, viu, Evelyn?
É importante falar que o Botafogo
ganhou do Palmeiras. É raro isso.
Mas é o seguinte, o clima do Bolsonaro,
o humor dele, segundo me falaram,
as pessoas que estão convivendo bastante,
não é legal, ele está baqueado,
ele não superou. Embora ele tenha
feito essa rodada toda aí de entrevistas,
coisas que ele tinha parado de fazer,
até voltou a postar, mas a página não
foi virada definitivamente. A expectativa
para quem está junto dele é que
agora seja só o começo de uma,
como eles dizem, lavada judicial,
que vai ladeira abaixo.
Agora, fato é, vamos reconhecer,
que ele conseguiu virar o voto do Raul Araújo.
Ele fez pressão nominalmente,
numa entrevista, pelo menos nesta que eu acompanhei,
para uma rádio no Rio Grande do Sul,
falando, ministro, vamos lá.
E o ministro Raul Araújo foi o único
que até agora votou pela absolvição
do Bolsonaro e votou contra a inclusão
da minuta do golpe.
Só lembrando que esse é o mesmo ministro
que proibiu a Pabllo Vittar
de se manifestar
politicamente durante o
Festival Musical Lollapalooza.
Esse mesmo. Agora,
tudo dava conta. Quando eu
conversava com gente do TSE,
a expectativa era que se alguém
fosse fazer algo, era o Cássio Nunes Marques,
só que ele é o sexto do sete a votar.
E o Bolsonaro falou isso
em mais de uma entrevista, que daí
seria tarde demais. Ele pressionou
diretamente o Raul Araújo e funcionou.
Algum tipo de influência ele conseguiu
exercer. Mas, isso dito,
bora para a segunda parte do que a gente
tem para dizer. O especulal
dessa semana, a ideia
que foi lançada aí é de uma chapa
para 2026, encabeçada pela
Tereza Cristina, atualmente senadora,
que foi ministra da Agricultura do Bolsonaro,
com a Michelle Bolsonaro na vice.
A Tereza Cristina é do PP do Ciro Nogueira
pelo Mato Grosso do Sul. O Fabio
Weingarten está falando em ONG publicamente
sobre essa chapa que ele
considera espetacular, porque
segundo ele, a Tereza Cristina
agrega o apoio do Centrão,
do Agro, das Mulheres, e ela é
boa de papo com os grandes aos pequenos,
produtores, empresários, etc e tal.
E a Michelle tem a simplicidade
da Ceilândia, mas a temência
a Deus fervorosa e não traz
a rejeição do Bolsonaro com seus rompantes
nas palavras dele e em tempestividades.
O fato de estarem falando
publicamente sobre
uma chapa como essa, e segundo
o Fabio Weingarten
sem resistência nem oposição
do Bolsonaro, mostra que
eles estão tentando de alguma forma
manter o sobrenome e a
influência total do Bolsonaro que ele teria
sobre uma chapa como essa. Porque a coisa pode
acabar escapando mais das mãos
dele e pelos dedos, porque
por exemplo, tem um particípio de
freitas, governador de São Paulo,
tem se fortalecido e ganhado
musculatura sem contar
diretamente ou exclusivamente
com o Bolsonaro. Agora, segundo eu
apurei, o Kassab, que é secretário
de governo do Tarcísio e um
dos seus principais conselheiros políticos
e articuladores, mantém a
avaliação de que o ideal pro Tarcísio é se
lançar reeleição em 26
pra ir pra presidência eventualmente
só em 2030. Pro Bolsonaro não convém
ter ninguém forte demais que tire
qualquer influência do nome que ele vier
apoiar, já que o candidato ele não vai
ser ao que tudo indica. Então tem
essa especulação que é isso, pra gente ler o que está acontecendo
no momento é, Bolsonaro
tentando de todo jeito fazer
com que o nome dele e
o apoio dele, a influência dele, não
se esvaia junto com os
direitos políticos que ele deve perder
essa semana no TSE.
Essa chapa aí que eles estão
tentando emplacar. Tem um
pequeno problema. O dono
do PL, que é o partido
ao qual o Bolsonaro e a
Michelle estão filiados, é o
Valdemar da Costa Neto. Por que motivos
o Valdemar abriria a mão da
cabeça da chapa, sendo o maior partido
na Câmara, com o maior número de deputados
e com o maior fundo eleitoral,
pra lançar uma candidata absolutamente
inexpressiva como a Tereza Cristina
de outro partido na cabeça de chapa?
Não fecha a conta. Eu entendo
o movimento deles, que é um movimento
meio desesperado de tentar
se manter em evidência e dizer que
eles têm alguma influência no jogo político, mas
não faz sentido político porque
não interessa ao Valdemar essa chapa, por exemplo.
Não, pode interessar se ela
se tornar viável, como ele é um
pragmático. Não, sim, mas
pra se tornar viável a Tereza Cristina tem que estar liderando
a pesquisa. Certo. Ela não lidera
a pesquisa nem no Mato Grosso. É que eu leio
essas coisas como algo pra
movimentar o cenário agora.
Porque 2026,
assim, ainda tem 2024 antes,
tem disputa da Prefeitura. Sim, tá muito longe.
Assim, eu não acho que isso seja pra valer.
Isso é pra, neste momento de agora,
servir ao interesse do Bolsonaro.
O Zé gosta de contar a história
do marshmallow, que eu vou pedir pra ele contar.
É que a gente deve experimentar o marshmallow
logo, né, Zé? Ele quer dizer que a gente deve
comemorar. Eu acho também que devemos
comemorar essa inelegibilidade.
Mas é muito pouco
diante do que foi feito ao longo
dos últimos quatro anos, dos crimes
que foram cometidos.
E isso é o que as instituições brasileiras foram capazes
de fazer até agora. É muito
insuficiente. Esperamos...
Mas eu acho que é um processo, Fernando.
Primeiro você ganha eleição,
depois você evita o golpe
de Estado, incoluiu
com os militares.
A gente ganhou todas as batalhas até agora.
Se a gente tivesse perdido alguma delas no meio do caminho,
eu estaria preocupado. Mas como a gente ganhou
todas, o prognóstico
é positivo, na minha opinião. Tá certo.
Eu sou um pouco cética sobre o tipo de
punição que o Bolsonaro vai receber do sistema
judicial, assim. Seja na
justiça comum, seja na eleitoral.
Eu acho que vai ser uma negociação
de meio termo e, essencialmente,
política. E muito pouco jurídico.
Eu acompanho você, Thaís.
Todo julgamento em tribunal superior é um
julgamento político. Ele já está
sendo julgado e ele mesmo está dizendo
politicamente e é político. Claro que é político.
Tem base na lei. Claro que tem
base na lei. Mas a política
sempre influencia. Como influenciou
desde sempre. Mas, enfim,
o meu ponto é, não há nenhum
indicativo de recuperação
do Bolsonaro. Tudo vai se acumulando
contra ele. A investigação criminal
sobre o golpe está cada vez
mais forte, pegando gente cada vez
mais perto dele,
patentes mais altas. Pode ser
que não dê em nada? Pode. Claro, sempre pode
não dar em nada. Mas eu não
vejo sinais de que seja essa
tendência predominante.
Bom, você vai falar do Marshmello
antes que ele se converta
em leite condensado ou não?
A história do Marshmello que você me
mandou falar é o seguinte.
Um clássico da psicologia social
é um teste. Era usado como
um preditor do futuro
das crianças. Então, você põe
as crianças numa sala e diz pra
elas o seguinte. Você pode
comer esse Marshmello agora, mas se você
esperar 15 minutos até eu voltar
pra sala, eu te dou mais um Marshmello
e você pode comer dois. E daí você deixa
o Marshmello lá. A criança fica sozinha
olhando pro Marshmello. O outro sai da
sala e os cientistas
ficam lá contando os minutos
pra ver quanto tempo ela vai demorar pra comer
o Marshmello ou se bravamente
ela vai evitar. A maioria
das crianças come o Marshmello. E isso
diziam os cientistas, os
psicólogos sociais, que
era um preditor do que ia acontecer
na vida dela. Porque se você tem a capacidade
a força de espírito de
postergar a sua gratificação
isso te daria
uma vantagem na vida. Isso é uma coisa calvinista, né?
Porém, mas é...
tem uma certa correlação estatística, só que
eles ignoravam
a situação. A pessoa é ela
e sua circunstância, seu
ambiente. Obviamente, crianças
que já tiveram uma experiência negativa
na vida, em que elas deixaram de comer
o Marshmello e depois não comeram
nem aquele nem os outros dois,
elas daí comiam imediatamente. Não esperavam
nem fechar a porta pra sair comendo.
Porque é com base na sua experiência,
entendeu? Então, essa teoria ficou
meio superada. Mas eu sou da teoria
de que
no Brasil, pelo passado
de quem já tomaram
muito Marshmello da minha mão,
eu prefiro tomar o champanhe em toda oportunidade
que me aparece. É isso.
Dadas as circunstâncias brasileiras,
comam o seu Marshmello,
abram as suas champanhes. Com o detalhe
aqui, ouvintes, pra terminar, que o Toledo não
convidou eu e a Thaís pra essa champanhe
porque ele nem bebe.
Eu quero ver.
Tira a foto. Tá bom.
Gente, encerramos assim o primeiro bloco
do programa. Depois do intervalo, a gente vai
falar das encrencas de Arthur Lira.
A gente já volta.
Na última edição da Piauí,
os obstáculos para a reconstrução da nossa
política ambiental estão na
reportagem de Bernardo Esteves.
O que mais me chocou na pesquisa pra essa
matéria foi, por um lado,
enxergar com nitidez
o desleixo e o despreparo
da gestão anterior com as questões
da política ambiental,
mas também e sobretudo,
uma determinação deliberada
de frear o combate ao desmatamento
que era uma missão constitucional
do governo. Então, pra isso, precisa
ter um esforço
nosso aqui enquanto estamos
nesse momento de tranquilidade no aspecto
de cobertura de imprensa, porque só fala de
covid, e passando
a boiada. Foram cerca de
dois meses de apuração
nos principais órgãos ambientais
do país. E eu vi
aproximadamente 30 pessoas,
incluindo a ministra Marina Silva,
praticamente todo o primeiro escalão do
Ministério do Meio Ambiente, além de funcionários
do IBAMA, do ICMBio,
do Serviço Florestal
e representantes da sociedade civil.
Se você está assistindo ao papel, no computador ou no celular,
assinante Piauí lê essas
e outras reportagens exclusivas.
Saiba mais em revistapiaui.com.br.
Muito bem, Thais Bilenk.
Eu tentei fazer um resumo canhestro
deste embrólio em que se meteu
o Arthur Lira, desse caso de corrupção
evidente, e talvez você possa
então começar pelas
implicações políticas ou pelo que
você anda ouvindo aí, de pessoas
ligadas ao nobre deputado.
Obviamente, não precisaria
nem dizer, Fernando, que é um
péssimo momento pro Lira, ele está aquadíssimo
e um sinal disso é que
ele anda muito obediente até
aos assessores dele, coisa que foge
ao padrão absolutamente.
E o pior, né? Espera-se que
venha mais coisa por aí, inclusive no entorno
do Lira, porque as revelações são
importantes, é parte de
uma investigação da Polícia Federal, e
nada indica que sejam achados
finais de uma investigação, ao
contrário, parece que está só começando.
No entorno do Lira, a versão
de que ele, de alguma forma, vê digitais
do governo federal, por quê?
Polícia Federal subordinada ao Ministério
da Justiça, Ministério da Justiça subordinada
ao Palácio do Planalto, ainda que ele
tenha algum tipo de
desconfiança sobre isso,
ele não tem muita carta na manga
pra retalhar o governo, ele
está, basicamente, com a pauta
de curto prazo bastante limitada,
porque o marco fiscal foi aprovado,
ainda falta o terceiro round
na Câmara dos Deputados pra ir à sanção,
a reforma tributária, que
é o que está na mesa no momento,
é uma pauta mais do Congresso Nacional
do que do governo. Por que que eu digo que
é uma pauta mais do Congresso que do governo?
Porque ela é anterior à posse do Lula,
ela vem lá de 5, 6 anos atrás,
e o relator, inclusive, que é o Agnaldo Ribeiro,
também já tinha sido relator
em outras legislaturas. O governo
tem interesses, o Haddad se envolve
nessa articulação, mas ele mantém
uma distância segura, porque tem uma
disputa muito grande entre setores
e lobbies que está rolando e que vai rolar
até a aprovação, se houver,
que convém ao governo não se miscuir
tanto, só voltando à
linha de raciocínio em relação
à articulação com o Congresso Nacional.
O governo também deu um passo atrás,
depois do susto que tomou
na aprovação da medida provisória da Esplanada,
o governo baixou a bola na
pauta legislativa, não pôs mais pressão
para aprovar outros projetos,
deixou recriar a FUNASA,
que é aquela fundação estatal
para tocar obra de saneamento em um pequeno município,
sem fazer grande alarde
sobre isso, para lotear
pelo Centrão, e outras pautas
do interesse do Centrão, o governo
deixou rolar porque
sentiu que era necessário fazer isso
para ter respiro. Agora, o Lira, para ter
poder, para ser insubstituível,
para ser indispensável, como ele se acostumou
a ser durante o governo Bolsonaro, ele precisa
ser um fiador da negociação do Palácio
com a Câmara. Agora, num momento
de fraqueza como o que ele vive agora,
regra número um em Brasília
é que ele é alvo de ataques especulativos
de todas as partes. Primeiro,
da própria Câmara dos Deputados, já
de deputados pensando na sucessão
dele, na formação de outros blocos e
outros grupos para disputar força com o próprio
Lira, e do próprio governo
que tem feito aí sim um esforço
grande de diminuir a
dependência do Palácio do Planalto ao
poder de fogo do Lira na negociação com a
Câmara. Como que o governo faz isso? O que
que o governo tem feito silenciosamente?
Tem construído e fortalecido
pontes, canais diretos
com líderes das bancadas
e, em especial, os
Lira Boys. O governo tem escolhido
deputados que são muito
ligados ao Arthur Lira
para estabelecer canais diretos.
Cito alguns. Antônio Brito, PSD
da Bahia. O governo tem se esforçado
na comunicação com ele. Hugo Mota,
Republicanos Paraíba. O Hugo Mota é
super Lira Boy. Outros grupos, por exemplo,
o PL do Nordeste. O PL
partido do Bolsonaro do Nordeste, que tem uma
tendência a se aproximar do governo
por uma questão de emenda, recurso, cargo, etc.
O governo tem feito também
um esforço de aproximação.
E até com o Elmar Nascimento, né, que a gente já falou,
que é o líder do União Brasil,
braço direito do Lira, que foi ao
Palácio ter reunião com o Lula fora da agenda.
E, assim, o governo, obviamente,
tem toda a cautela do mundo, mas
negocia direto com o Elmar. Então, o Lira,
nessas semanas agora, ele tem
tido pouco instrumento
para agir diante dessa
artilharia que ele está sendo alvo. E aí, ele
tenta manter uma fritura em fogo baixo
do Alexandre Padilha, ministro que cuida
das articulações na Câmara,
para tentar valorizar o próprio passe. Então, de vez em quando
saem matérias sobre isso,
sobre as reclamações do Centrão,
do Alexandre Padilha e tal. Agora,
essa é a situação do Lira agora, que é uma situação
frágil e delicada, mas
o governo também tem muito claro
que tem uma votação só
que pode ser uma
bela dor de cabeça para o Palácio do Planalto,
que é a votação da LDO,
Lei de Diretrizes Orçamentárias,
que o governo manda
para o Congresso e o Congresso precisa aprovar,
em que a previsão do salário mínimo
do ano seguinte, ou seja, de 2024,
a previsão de déficit público,
quais são os valores totais de despesa,
como e quanto o governo
quer gastar com o orçamento público.
É uma aprovação de uma lei muito fundamental
e, nesse projeto que o governo
mandou, ainda em abril,
havia a aprovação do
marco fiscal como condição
para aprovação da própria LDO.
Então, o Lira tem aí um bom
nicho para atuar, aí vai ter
algo com o qual o governo vai ter total
interesse de aprovar
e aprovar da forma que propôs
e aí não é à toa
que o Arthur Lira escolheu o relator
Tenilo Forte, que é um deputado do Ceará,
do União Brasil, uma experientíssima
figura do Centrão
e então o governo está muito atento
à tramitação da LDO, mas que
é um momento de total fragilidade
para o Arthur Lira, politicamente, é.
Bom, o Arthur Lira, de qualquer forma,
eleito com 464
votos, votação recorde
há poucos meses, creio eu,
ainda tem lenha para queimar, embora esteja
fragilizado, porque é um escândalo de corrupção
desses de almanac, que vai para os livros escolares.
É, mas ele já queimou parte
dessa lenha e esses votos são resultado
do que ele entregou no passado no orçamento secreto.
Sim. Ele precisa continuar entregando,
porque ali não tem bobo.
Bom, vou passar para o Zé antes de dar o meu
eventual pitaco sobre este
caso. José Roberto de Toledo,
seu amigo Arthur Lira.
O governo está aprendendo
com o submersível
Titã.
Que mostrou de modo, digamos,
cabal e definitivo
que não é porque é caro
que é bom e confiável, né?
E o Arthur
Lira, ele custa caro
e não é bom nem confiável, é mais
ou menos como o Titã. Se ele vai ter
o mesmo destino do submersível,
ainda não sabemos.
Mas o mergulho não
começou muito bem. Porque
as reportagens do Breno Peters e da Folha
de São Paulo, elas, não sei se
prestaram atenção, mas ela é
escandalosa não é tanto pelos valores,
mas é pela metodologia.
Então, assim, tem lá
um cara que é um Arthur com H
tá sem sobrenome,
são anotações do
Luciano Cavalcante, que é
investigado pela polícia, que é assim,
o cara vai no restaurante
e o Luciano paga.
O cara vai no hotel e o Luciano
paga. O cara vai viajar e o Luciano
paga. Quer dizer, é como se fosse uma
espécie de... Vai consertar uma coisa na fazenda
o cara paga também. É, o padrinho,
né, vai lá e paga.
Então, não é verdade que é outro
CPF, é o mesmo, né?
Para efeito de pagamentos, é um CPF só.
Então, é um escândalo que
a impressão que me dá
pelo fluxo de informações
que não vai parar
onde está, vai piorar.
E o governo, embora
não esteja triste com esse mergulho
às profundezas do Arthur Lira,
também tem que ficar um pouco ressabiado
porque a gente viu
o que aconteceu com um
predecessor do Arthur Lira, que
aceitou o impedido de impeachment contra
a Dilma, mesmo que isso custasse
o seu próprio mandato.
Sobre a violência política. Pois é, foi parar na
cadeia, mas enfim, que foi o Cunha, né?
As circunstâncias são muito
diferentes, as circunstâncias do
Cunha e do Arthur Lira.
A Dilma tinha 7%,
um dígito de ótimo e bom.
O Lula tem 37, segundo
o IPEC, Data Folha,
todos os institutos. Quer dizer, tem
uma diferença muito grande.
E os sinais da economia, por enquanto,
estão ajudando o governo.
A confiança do consumidor cresceu,
em geral, ela é uma proxy, ou seja,
uma aproximação da popularidade.
Então, se cresce a confiança do consumidor,
é esperado que
cresça também a popularidade do governante.
Então, é um cenário muito diferente.
Hoje não haveria condições políticas, por exemplo,
por o Lira aceitar um pedido de cassação
do Lula, né? É muito diferente sobre esse
aspecto, mas ele tem munição
pra gastar contra o governo se vier nesse
ponto. Agora, eu faço aqui um acompanhamento
diário das execuções
de emendas parlamentares, com a
ajuda do Luiz Fernando Toledo, lá pro UOL.
O que eu notei aqui é uma
coisa interessante. Tem três coisas
que a gente precisa acompanhar. Uma
são os restos a pagar do
orçamento secreto que o Bolsonaro
deixou de herança maldita pro Lula.
Ele não pagou no governo dele, que deveria
ter pago, são emendas de outros anos
e que sobraram pro Lula pagar.
Então, dos restos a pagar do orçamento
secreto, até agora,
o Lula já pagou uns 6 bilhões,
mais ou menos, de reais, aí valores
aproximados, sendo que
1 bilhão e 100 milhões...