A tensão que põe Armênia e Azerbaijão à beira de guerra por Nagorno-Karabakh
Duas ex-repúblicas soviéticas, Armênia e Azerbaijão, se enfrentam há três décadas por causa de um
enclave separatista: a região de Nagorno-Karabakh. Essa disputa voltou a ser notícia ao redor do mundo
porque o conflito tem piorado nos últimos dias. Já são dezenas de mortos na região
A tensão é tanta que alguns arriscam a dizer que os países estão de novo à beira de uma guerra
Eu sou Adriano Brito, da BBC News Brasil, e neste vídeo explico o que está acontecendo e que papel
Rússia e Turquia, vizinhos dos dois países, podem ter nesse enfrentamento. No centro da disputa está o
controle de Nagorno-Karabakh. Você deve ter ouvido esse nome nos últimos dias – e curiosamente ele tem
um significado especial. Karabakh é a tradução russa de uma palavra do Azerbaijão que significa "jardim
negro", enquanto Nagorno é uma palavra russa que significa "montanhoso", uma referência
à própria região, que tem cerca de quatro mil e quatrocentos quilômetros quadrados. A região de
Nagorno-Karabakh é reconhecida internacionalmente como parte do Azerbaijão, um país rico em petróleo
e maioritariamente muçulmano. O problema é que a população ali é de maioria armênia e cristã. No fim,
Nagorno-Karabakh é hoje uma espécie de Estado, mas não reconhecido, que fica dentro de um país
E para entender isso precisamos voltar ao colapso da União Soviética, no fim dos anos 80
Quando os países que formavam o bloco comunista começaram a se separar, o Parlamento Regional de Nagorno-Karabakh, que
era uma região autônoma dentro do Azerbaijão, votou oficialmente para se tornar parte da Armênia
Isso era algo que eles tinham pedido por décadas, apesar da sua área ficar dentro do país vizinho da Armênia, o
Azerbaijão. E enquanto Azerbaijão lutava contra esse movimento separatista, o governo da Armênia
o apoiava. Mas quando os dois países conseguiram a independência de Moscou é que o conflito escalou
para uma sangrenta guerra que durou vários anos. Dezenas de milhares de pessoas morreram e quase
1 milhão ficaram desalojadas. Um acordo de paz nunca foi atingido, só um cessar-fogo mediado
pela Rússia em 1994. Os armênios separatistas conseguiram governar o território, mas continuaram
em permanente tensão com o Azerbaijão, do qual a área seguiu fazendo parte. Em 2019, os governantes de
Armênia e Azerbaijão emitiram um comunicado conjunto prometendo medidas concretas para a paz, algo que
acabou não se concretizando. Mas bem, o que acontece agora? Segundo reportagem de jornalistas da BBC que
atuam lá na região do Cáucaso, os combates com uso de armamento pesado que estão ocorrendo por
lá são a escalada mais grave do conflito nos últimos anos. Mas cada lado envolvido tem a sua versão para o que
está acontecendo. A Armênia disse que assentamentos civis foram atacados em Nagorno-Karabakh, e que
em resposta derrubou dois helicópteros do exército do Azerbaijão. O país também declarou a lei marcial,
que é quando os militares assumem o governo civil, acusando Azerbaijão de agressão planejada.
Em contrapartida, o Azerbaijão assegura que um ataque armênio matou uma família seu território, e que
uma operação contraofensiva vai pôr fim ao que eles chamam de ocupação do seu território pelos
separatistas armênios de Nagorno-Karabakh. Mas segundo análise dos jornalistas da BBC na região,
é difícil comprovar os relatos de cada lado em um conflito de longa data como esse. E claro, como em
todo conflito, a geopolítica tem um papel importante. Para começar, a zona da tensão, que
é o Cáucaso Sul, é uma passagem para gás e outros produtos que fluem do Mar Cáspio em direção aos
mercados mundiais. E o Azerbaijão é uma espécie de artéria essencial de gás e petróleo para
a Turquia e países da Europa. Por isso, uma grande escalada de tensão na região poderia representar
uma ameaça econômica para vários países. E a Rússia tem sido tradicionalmente uma sócia da
Armênia. Ela tem uma base militar no país e eles são aliados militares. Os russos exigiram
um cessar-fogo imediato e o início do diálogo. O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan,
já ofereceu apoio ao Azerbaijão durante essa nova crise, abre aspas, "tanto em terra como na mesa de negociação"
A França, que tem uma grande comunidade armênia, também pediu um cessar-fogo e o início do diálogo
Já o Irã, que faz fronteira com os dois países, se ofereceu para mediar as conversas de paz
E por fim, os Estados Unidos também pediram pelo fim das hostilidades. Mas por enquanto o quadro
continua perigoso nessa região, que há mais de três décadas vive sobre tensão. Eu fico por
aqui. Tem dúvidas? Deixa aqui nos comentários que a gente sempre fica de olho. Até mais!