Cheguei! Cheguei!
Estou na comunidade do Parque das Dores,
onde os moradores não têm saneamento básico.
É uma triste estatística da população brasileira...
De metade da população brasileira, que não tem serviço de esgoto.
-Não é isso, minha gente? -É!
Esgoto a céu aberto, sem escoamento. É um triste descaso à vida.
Mas Marcinha chegou! E, quando eu chego, eu faço!
-Não é isso, minha gente? -É! Dona Marcinha...
Segura aqui o calendário que a gente vai usar esse calendário.
Estou aqui com o seu Oswaldo, morador aqui da comunidade.
Vai falar um pouco pra gente, não é, seu Oswaldo?
É isso aí, sua Marcinha.
-Difícil viver assim, vai? -É complicado mesmo.
A gente vê a nossa criançada aí no bairro largada,
sem um campinho de grama sintética pra jogar futebol.
Mas o esgoto assim não dá, não é?
É, dá pra fazer. É só fazer um pouquinho longe daqui.
Tem um terreno aqui atrás, vazio, que dá pra fazer certinho ali
o campo sintético pra gente jogar um futebol.
Mas o esgoto assim transmite doença grave...
Estou aqui com o dado da OMS.
"Morrem no Brasil 15 mil pessoas por ano em decorrência de doenças
relacionadas às... às condições precárias sanitárias."
Estou tentando dar um esgoto aqui, uma água tratada...
-A gente quer um campinho... -O quê que vocês preferem aqui?
É isso que a gente prefere, sim, Marcinha.
É isso que a gente prefere. Porque é um descaso com a gente aqui,
que fica passando por isso.
E sofre as consequências dessa irresponsabilidade
-desses governantes de Brasília. -É isso aí!
Alison. Vai pra casa, Alison. Ô, sua Marcinha, desculpa.
É que hoje em dia essas crianças aí leem um livro de História,
aí estuda um pouquinho, já quer vir aqui na televisão falar besteira.
No caso, ele tem razão.
Tudo que a senhora mostra no programa, a senhora consegue.
Só o que a rapazeada quer é um campo de futebol de grama sintética...
Então já estamos aqui com o prefeito da cidade, que vem falar do prazo
pra construir o novo sistema de esgoto aqui na comunidade.
E não um campo de futebol. Não é, seu prefeito?
-É isso. Bom dia, dona Márcia. -Bom dia.
Bom dia, telespectadora que está em casa aí.
Bom dia, toda sociedade, aí, Parque das Dores.
É... dona Marcinha, a gente sabe que a questão aí
a gente quer resolver, também. A gente tem vontade de resolver.
A questão aí é que tem um problema orçamentário na prefeitura.
Então eu não posso nem marcar a data ainda no calendariozinho da senhora,
mas eu posso me comprometer que até o fim do meu mandato,
em até 2 anos, a gente vai tentar, né... Tentar...
Glória a Deus aí, vamos conseguir resolver essa questão aí, dona Márcia.
Nós estamos falando aqui de cem milhões de pessoas
que têm o seu esgoto jogado em rios e mares.
Gostaria de deixar claro que...
brincar com esgoto causa doença... doença grave...
São 340 mil internações por infecções gastrointestinais
por falta de saneamento.
O pessoal aqui já está imune à doença, já.
A criança que nasce aqui em Parque das Dores já sai da barriga da mãe
curtindo na pereba, já. Não pega nem uma doença,
nem gripe essa gente pega.
É igual a esses bichos que se cria em gaiola, em casa...
Você abre a gaiola, e o bicho vai pra natureza, o bicho morre.
O senhor é um irresponsável, sabia? Deveria cuidar da sua comunidade.
Mas eu cuido da necessidade da minha comunidade.
A questão é que essas coisas aí não dá voto.
Essas coisas de saneamento, esse negócio aí não dá voto.
Quer ver? Olha só. Vocês querem saneamento?
-Saneamento! -Sim, sim! Queremos, queremos!
Agora eles querem. Agora...
Vocês querem campinho de futebol com churrasqueira?
Como é que estão as coisas aí, Oswaldo?
Ô, tudo bem, sua Marcinha? Ficou show, hein.
Ficou show. Agora estamos aqui, vendendo nosso sacolé
pra tentar juntar um dinheiro
e comprar uma piscina de lona pra rapazeada.
Mas e o saneamento?
Prioridades, né, sua Marcinha...
Então me vê um sacolé aí, mesmo.
-Gostoso. Chocolate? -É limão.
-Pelo amor de Deus, chama o SAMU. -Ô Alison!
-Pelo amor... -Ô Alison, caiu mais um aqui!