Viajar de Ônibus é Estranho
Pegar um busão é legal, dá pra apreciar a vista, ajuda a natureza, desobstrui o trânsito
e toda aquela lenga lenga que a gente já sabe. Até aí tudo bem, mas que atire a primeira
pedra alguém que nunca teve alguma história pra contar que aconteceu dentro de um ônibus.
E pra todos esses que já passaram, ou ainda passam até hoje com algum tipo de coisa dentro
do busão, eu digo que viajar de ônibus é muito estranho.
A viagem de ônibus como todo mundo conhece começa muito antes do motorista ligar o negocião.
Ela começa exatamente no momento onde a moça do guichê te pergunta:
O senhor vai querer janela ou corredor? Nesse momento baixa o espírito de Nazaré e você
só consegue pensar... Então senhor, já decidiu? Tem mais gente
na fila. Eu posso sentar do lado do motorista?
Eram-se os tempos de crianças que a gente poderia sentar ali perto do motorista, no
lugar do cobrador, mas hoje em dia o que a maioria das pessoas querem é sentar na janela,
só que quem senta na janela sabe que você não pode ingerir nenhum tipo de líquido.
E que você deve fazer todas as suas necessidades antes de sair de casa para que assim você
fique tranquilo pelas próximas horas que virão. A não ser que a sua bexiga seja do
tamanho de um ovo de codorna. Senhor, o senhor poderia dar licença pra
eu ir no banheiro? Senhor é só botar a perna pro lado, senhor
tô apertado. Meu Deus do céu. Opa!
Merda, esqueci o tênis. Senhor...
Ficar só de meias no ônibus, tudo bem, mas agora passear pelo corredor já não dá.
Mesmo assim a gente deve levantar as mãos para o céu e agradecer a Deus por existir
um banheiro dentro dessa caixa de metal, caso contrário seria ainda pior.
Mas a batalha do ônibus é muito longa porque a primeira parte dela é você esperar aquela
criatura que entrou já faz dez minutos e não sai mais de dentro do banheiro e você
não entende o que aconteceu lá, e então finalmente chega a sua vez e você entende
perfeitamente porque todo mundo demora dentro do banheiro.
Ê, antes tarde do que amanhã de tarde, né? Sai, sai, sai.
Ô motorista, coisa ruim de se concentrar aqui nesse lugar. Quer saber de uma coisa,
eu vou sentar e esperar parar no semáforo. Vamos, ei vamos liberar esse banheiro que
eu quero cagar. Que saco cara, tá demorando isso ai. Quero mijar, velho. Gente, calma,
demora fazer isso dali, tá louco. Dá licença. Aí esqueci o celular. Final da final. Mas
é só o celular. Não, não, não, depois, depois...
Viajar de ônibus definitivamente é um misto de emoções e aventuras do início até a
chegada. Primeiro, porque só existe só uma temperatura: clima de montanha, mas ninguém
te fala que essa montanha, no caso, é o Everest, porque está sempre menos 70 graus dentro
do ônibus. Sabia que quando a gente morava a rua, a gente
dividia coberta? Era bem bom, a gente ficava bem quentinho, a gente pedia pro cara da esquina
chocolate quente e a gente se esquentava todo mundo junto. Era bem bom. Obrigada por dividir
comigo. Sempre tem aquele que quer pegar um vento
porque está enjoado, mas não pode porque as janelas são coladas, principalmente quando
senta perto do banheiro. É horrível. Isso é virose, cara. A gente na rua pegava
isso direto, direto... Mas diz que tomar "Coquinha" é bom, que daí,
nós sempre pedia pro vendedor lá da esquina e ele sempre me dava. Uma "Coquinha".
E quando a janela é difícil de abrir ou ela emperra, definitivamente você sofre a
maior humilhação de toda a sua vida. Aaai, que ventinho bom.
E ainda tem aquele sem noção que acha que está em um baú e quer socar tudo quanto
é coisa que ele pode lá. Uh, codiona. Quanta mala pra botar aqui, com
licença, que tem mais uma. Aqui ó, vou tirar essa bolsinha aqui pro lado.
E tem ainda aquela criança chata, dos infernos, que não para de chutar a p*#%a do teu assento.
Mãe, o tio da frente está fedendo. Cala a boca, ô inferno. Enfia uma rolha na
boca dessa gamela, dessa criança dos infernos. Capeta do demônio.
Tem também aquele cara que não tem um GPS interno e quer saber todo o momento em que
lugar ele está e não para de encher o saco do motorista.
Falta muito ainda? Aonde que a gente está agora? Que cidade que é essa, motorista?
Tu sabe dizer que hora que a gente chega? Não quero perder o próximo ônibus. Me passa
teu Whatsapp? E também não podemos esquecer dos escalados
de plantão que só esperam o ônibus encher para procurar uma poltrona vazia e dizer pra
todo mundo que ela é sua. Até porque quando você compra a passagem, escolher a poltrona
certa é uma loteria porque você nunca sabe quem vai sentar do seu lado.
E aí, meu. O ruim desse salgadinho é que suja o dedo da gente, né cara?! Mas é bom
mesmo assim. Não tá a fim de um salgadinho, cara?
Não, obrigado. Cara, duas horas para a gente chegar ainda,
velho. A gente tem muito o que conversar ainda. Tu é de onde, cara? Da onde é que tu é?
Cara, tu sabia que eu sou adotado? Uhum.
É, meus pais são lá de Xanxerê. Tem certeza que não quer um salgadinho? Cara, tu tem
horas, aí? É hora de tu calar essa tua boca e me deixar
dormir, por favor. Calma cara. Salgadinho?
Enfia esse salgadinho no teu c#, e dos teus pais adotivos.
Tu não tem pena de um adotado? Foda-se que a tua família te deixou, te abandonou
na rua. Você merece só por ficar comendo salgadinho na frente dos outros e enchendo
o saco, por isso te abandonaram. No mínimo comida um monte de salgadinho, gordo desse
jeito que tu é, pançudo. E o mais louco de tudo é quando você pega
um ônibus e está muito desesperado para chegar no seu destino e tarde demais acaba
descobrindo que ele é um pinga-pinga. Você só queria visitar a sua mãe que mora na
cidade do lado e acaba descobrindo que esse troço chamado ônibus tem mais escala do
que régua da Xalingo. Próxima parada: Casa do capeta, quem desce?
Eu vou, eu vou. Me deixa aqui, esse ônibus para em muito lugar. Eu vou a pé.
Mas convenhamos, viajar de ônibus é demais. Principalmente, se for de dia e aí você
pode sentar na janela e desbravar aquela vista linda e se for à noite, é ótimo para dormir.
No caso, se você conseguir, porque dormir em um ônibus requer uma pós graduação,
porque nem todo mundo consegue fazer isso. Ainda mais com o ônibus em movimento.
Ai, que merda de dormir nesse lugar. Mas isso acontece até que, eventualmente,
você já pegou tanto ônibus na sua vida, que já não importa mais a forma como você
vai deitar lá dentro, porque você dorme simplesmente de qualquer jeito. Você superou,
você pós graduou. É um pós doutorado em dormir dentro de um ônibus.
Ô motora, apaga a luz. E é isso aí gatedo, se vocês gostaram dá
um joinha, se não gostaram azar o de vocês. Deve ter algum outro vídeo que eu fiz que
vocês gostaram. Escreva aqui embaixo outras coisas que acontecem dentro de ônibus porque
é muito bizarro. Certamente muitos de vocês já viveram isso, tá bom?!
Meu nome é Diogo Elzinga, me sigam nas redes sociais. Um beijo nessa teta de vocês, com
muito respeito e até a próxima.