Tem que olhar pra vida e sorrir, rapaz.
Tem que ser feliz, entendeu?
-Estou tentando fazer. -É!
Ô, Jorge, eu vim pra falar um negócio com você,
mas estou morrendo de vergonha.
Pelo amor de Deus, a gente se conhece há 20 anos, Marquinhos!
Você pode falar o que você quiser pra mim.
Eu quero te pedir um dinheiro emprestado, irmão.
-Está quebrado, é? -Estou. Fodido, mesmo.
Como é que está de trabalho?
Você me mandou embora, Jorge.
A gente trabalhava juntos há quinze anos.
Você me mandou embora da noite pro dia. Do nada.
Tacou um justa causa que até agora não entendi.
-Te pegou de surpresa, né? -Puta que pariu!
Ainda pegou minha parte, falou que era tua.
Levou tudo, me processou.
O apartamento, tu botou lá no teu nome
que até agora não entendi o porquê.
Estava no teu nome.
O advogado: "Ah, está no nome dele." Eu falei: "Que porra é essa?"
-Sempre foi meu. -Tu não tinha uma reserva?
Tinha um sítio em Cabo Frio,
que tu tacou fogo junto com teu primo.
-Ô, judiação! -Vocês encheram de sal lá.
Não entendi nada. Queimou todos os tomates-cereja.
Acabou tudo. Aí estou vivendo do que posso.
Às vezes faço um coach. Dou umas palestras,
pessoal chora quando conto a minha história.
E pego o carro emprestado pra rodar pra ganhar um dinheiro.
Puta merda! Você precisa de quanto?
Jorge, se puder transferir só os vinhos, pelo menos,
que a Sônia roubou lá de casa, pra mim já valeu.
A Sônia sabe que ela estava com você
-ou ela já estava comigo? -Não, já estava com você.
Vou perguntar pra ela agora aqui! Calma que ela vai saber,
isso aí a gente vai resolver agora.
Ô, meu amor, coisa mais linda! Coisa mais gostosa!
Estamos numa fase boa, se comendo todo dia!
Deixa eu te falar, meu amor, Marquinhos está dizendo aqui
que tu pegou uns vinhos dele, uns vinhos valiosos e tal.
Me fala valor disso.
-Beijo, te amo! -Isso ela vai ver, ela vai lembrar.
Mas você está comendo, está se alimentando,
está tomando água?
Água é o que eu tenho, eu tenho essa garrafinha de água
que eu ando pra lá e pra cá, que é o que eu tenho na vida hoje.
-Está malhando? -Eu caminho.
Eu saio pra caminhar...
Aí, essa aí é a única filtrada, pra arrumar é uma merda.
O rapaz deve ter.
Eu estou caminhando, estou andando... Já tá bom, segura!
E aí eu não tenho nada pra comer em casa,
-só caminho, caminho... -Eu vou te ajudar, pô!
-Você me ajuda? Porra! -Vou te transferir no PicPay agora.
-Vambora, quanto você quer? -Pode ser 200.
200. Pra quê, exatamente, 200? É que tu pegou emprestado semana passada,
-já quita hoje pra mim. -Não é pra comprar cachaça, não, né?
-Que cachaça? Eu não bebo. -Tem certeza?
Juro pela felicidade das minhas filhas,
-que estão contigo. -Umas graças elas.
-É? -Lindas!
Ontem mesmo, elas iam: "Papai, papai"...
Que agora me chamam de pai!
É, elas falaram: "Papai, como que está o Marcos?".
-Que te chamam pelo nome próprio. -É? Aí tu falou o quê?
-Morreu. -Não!
Falei: "Marcos morreu."
Elas: "Ah, porque não lembramos mais dele."
Eu rasguei as fotos, né.
"Depois que ele te abandonou e disse que não ama vocês,
ele morreu."
E aí pronto, já esqueceu, apagou da mente.
-Melhor que já corta laço logo. -E o Tulip?
-Qual? -O cachorro.
O cachorro eu dei pra minha mãe.
Aí ela soltou lá na fazenda dela.
E aí agora está lá, com os bois, com os cabritos tudo.
Vou te transferir! 200 que você quer?
-Pode ser! -Abre teu PicPay aí
que eu vou passar pelo PicPay pra você.
-200... 200 tu me salva, Jorge. -Vamos embora!
-Já... Aqui. -Abriu aí?
Abri.
Vamos ver. Vamos ver se foi. Pra mim, foi, aqui.
-Entrou! -Entrou?
-Ô Jorge, você é um anjo. -Ah, claro que sou.
-Eu não vou fazer? -Meu amigo, obrigado.
-Amigo que... -Boa! Obrigado você!
Isso! Doido pra caralho!
-Obrigado, Jorge. -Beijão, viu?
-Até a próxima, valeu garoto. -Isso vai me salvar...
O celular, o celular... Que aí fica comigo.
Vamos embora, valeu, viu? Paga aí que eu não acertei nada.
-Valeu, garoto! -Mas...
Eu vou pagar como se eu... Quanto custa?
Ele só bebeu isso aqui.
Fala, Marquinhos!
-E aí? Tudo bem? -Aí, caramba!
-Credo, me deu um susto! -Como é que está teu rim?
-Está contigo, pô. -É verdade!
-Aí, ó. -Ih, ficou legalzão.
-Ainda dói demais, ainda... -Deixa eu te falar...
Um rim só é tranquilo. Não faz esse drama, não, pô.
Eu estou tendo uma dificuldade
-só na hora de urinar. -É?
E a banheira de gelo também, que uma banda da coxa
-ainda está assim. -Tu acordou sem saber de nada, né?
Tu me deu um susto da porra!
Então vamos parar de falar de bobagem. Porra...
-Estou numa situação aí. -Que foi, Jorge?
Cara, estou quebradaço, gastei todo teu dinheiro.
Porra, já, Jorge?
É, estava precisando que você me desse um real...
-Claro! -É?
-Quanto que tu quer? -Tudo.
-Abre aí, abre aí. -É?
-Vamos nessa! -Ô, que bom!
-Aí, estou com outro aparelho. -É mesmo, é? Legal!
Abre o PicPay aí. Vê se foi, 15 reais.
-Já... 15 só? -Só, é tudo que eu tenho.
Não tem importância. Pronto, recebi, aqui.
-Aí! -Pô, legalzão!
Pode até dar esse também.
-Tá. -Pô, obrigado, viu?
Valeu, Jorge!
-Amigo é pra essas coisas aí. -Valeu, garoto!
Eu quero tudo mesmo.
-Ah, vai levar... -Vou levar a roupa.
Mas é P essa aqui.
É, mas vou usar pro forro do meu cachorro.
Ele vai dormir gostoso aí.
Que legal.
Camisa pode ser.
Legal pra caramba! Chinelo, se puder.
Chinelo nunca é muito, né?
Ficava perdendo legal.
-Cueca. -Valeu...
-Vai levar... -Não, deixa.
Tua mulher não gosta que eu ande de cueca, não.
-Valeu, garoto! Abração! -Tá, tá bom. Valeu!