Monarquistas ocupam cargos em Brasília, e reabilitam católico ultraconservador
[Apr 11, 2019].
Faz 130 anos que a monarquia acabou no Brasil, mas o movimento nunca deixou de existir no país.
Inclusive, agora, neste último ano, ele tem crescido, tem ganhado importância, tem ganhado adeptos dentro do governo e do Congresso.
Sou João Fellet, vou conversar com vocês um pouco hoje sobre o avanço do monarquismo em Brasília.
Eu fiz uma reportagem na semana passada que teve muita repercussão, em que eu contava da visita de um líder monarquista, membro da antiga família real portuguesa, o chamado Bertrand de Orleans e Bragança, a Brasília, quando ele se reuniu com o ministro Ernesto Araújo, com o assessor internacional da presidência Filipe Martins e com um grupo de parlamentares que vêm sendo chamados como membros da bancada monarquista.
Eu conversei com dois desses parlamentares, os deputados Paulo Martins, do PSC do Paraná, e Carla Zambelli, do PSD de São Paulo, e os dois se identificam como monarquistas.
Eles receberam o Dom Bertrand, como é chamado esse líder monarquista entre os seguidores, e discutiram várias pautas do movimento defendido por Bertrand.
Bertrand hoje, além de ser um líder monarquista, de pregar a volta da monarquia, restauração da monarquia brasileira.
Ele também dirige uma instituição chamada Instituto Plínio Correia de Oliveira, que é uma instituição que sucedeu a TFP, Tradição, Família e Propriedade.
Eu vou falar um pouco mais desse grupo daqui a pouco.
Também existem alguns membros do governo: um procurador, que foi recentemente indicado para o Inep, que é o órgão responsável pelo Enem, que também é monarquista.
Ele é presidente do círculo monárquico de uma cidade de Santa Catarina.
O próprio Filipe Martins, assessor da presidência, já fez vários comentários elogiosos a Bertrand de Orleans e Bragança, recebeu ele, se referiu a ele como sua Alteza Imperial, Príncipe Bertrand de Orleans e Bragança.
O ministro que saiu agora, Ricardo Vélez, já tinha feito também vários elogios à monarquia no passado.
E os dois foram indicados aos cargos no governo por Olavo de Carvalho, o escritor que também já defendeu a monarquia em várias ocasiões, é descrito como um monarquista inclusive por alguns de seus seguidores.
Eu estive com Bertrand de Orleans e Bragança na sede do Instituto Plínio Correia de Oliveira.
Esse instituto fica num casarão histórico em Higienópolis, é um palacete construído há mais de um século, e que hoje é tombado pelo patrimônio da cidade.
É um casarão decorado de uma maneira muito extravagante, com mobílias da família imperial.
Também com lustres muito imponentes, muitos objetos de madeira, biblioteca.
É uma casa que chama muita atenção e é ali que Bertrand me recebeu para falar um pouco das pautas que ele defende junto a essas figuras públicas por quem ele tem sido recebido.
O instituto, enquanto era TFP, Tradição, Família e Propriedade, até o início dos anos 2000, passou algumas décadas nas sombras.
Essa instituição teve muita projeção na década de 60, antes do golpe militar.
Ela participou das grandes marchas organizadas por grupos conservadores contra o comunismo.
Na época, a TFP era liderada pelo fundador, Plínio Correia de Oliveira, que era um ativista, um jornalista que se tornou uma figura célebre do movimento conservador.
Escrevia artigos na Folha de São Paulo e também escrevia livros.
E várias das ideias dele hoje voltaram a circular em círculos conservadores, inclusive no Instituto Plínio Correia de Oliveira, que leva o nome dele.
Ele morreu em 1995, mas agora a TFP passou a se chamar Instituto Plínio Correia de Oliveira.
Entre as pautas que são defendidas pelo grupo e que o Bertrand mencionou a mim são: proibição do aborto em qualquer circunstância, paralisação de qualquer tipo de reforma agrária, a propriedade privada é um valor supremo para eles, oposição ao casamento gay.
Um ponto que chamou a atenção na minha conversa com o Bertrand: ele tem um livro publicado em que ele contesta a tese que hoje é predominante entre cientistas que estudam o clima de que existe um papel humano nas mudanças climáticas.
Ele contesta isso.
Ele diz que não há nenhuma comprovação dessa influência humana.
É interessante que a Carla Zambelli, a deputada que eu entrevistei, que recebeu o Bertrand no gabinete dela, ela mantém no gabinete um retrato, um busto de Dom Pedro 2º, que foi o trisavô do Bertrand.
Bertrand é bisneto da princesa Isabel.
Ela tem uma bandeira do Brasil imperial.
O Paulo Martins, que é outro monarquista, deputado, que entrevistei, ele diz que...
Tanto ele quanto a Carla Zambelli dizem que, embora eles defendam a restauração da monarquia, que hoje não existe muito clima para tratar isso em Brasília e no Congresso.
E que ainda é uma posição muito minoritária e que precisaria haver uma campanha de conscientização da população, inclusive para rever certas mentiras, segundo eles, mentiras do período republicano a respeito da monarquia.
Eles dizem que houve uma campanha de destruição de ícones, de heróis da monarquia, que passou a ser muito mal vista pelos brasileiros.
De fato, quando houve um plebiscito, na década de 90, sobre qual regime político que os brasileiros queriam para o país, a monarquia, ele teve cerca de 13% dos votos.
O regime republicano, que já era vigente, foi o vencedor e assim se manteve.
Queria só lembrar um aspecto curioso: (há) algumas semana atrás, houve um grande debate no Brasil, a respeito do golpe de 1964, que fez aniversário.
Os monarquistas, na época do golpe, pelo menos Bertrand de Orleans e Bragança, foram favoráveis à 64.
Eles apoiaram a intervenção dos militares contra a ameaça que eles consideravam que havia, em torno do comunismo, mas eles foram vítimas de outro episódio que eles chamam de golpe, que foi a proclamação da República.
Então, dois momentos históricos, em que um o golpe foi bom para eles e outro momento não foi bom.
É interessante analisar aqui, quando se fala do monarquismo, se fala desse vínculo forte que existe entre o movimento monarquista e o catolicismo.
Existem alguns episódios que foram centrais para a definição do movimento.
Episódios a que eles se referem muito quando eles estão defendendo suas causas e que são eixos do pensamento deles.
Um deles é a Revolução Francesa, que no século 18 acabou com a monarquia absolutista na França.
Membros da família real foram guilhotinados.
E, segundo Bertrand de Orleans e Bragança, a Revolução Francesa, ela fez muito mal ao mundo.
Foi um marco muito triste para o Ocidente.
E ele diz que o lema da Revolução: "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" era um lema falso, porque, segundo ele, nunca houve menos liberdade, fraternidade e igualdade do que na Revolução Francesa, porque os opositores eram guilhotinados, não existia o senso de igualdade e justiça entre essas pessoas.
E aí, a partir da Revolução, Bertrand diz que o lema de igualdade acabou incorporado pelos movimentos socialistas, por comunistas que passaram a propagar esse valor como um eixo das filosofias de esquerda.
E Bertrand diz que a beleza de uma sociedade não está na igualdade.
Que uma sociedade funcional, ela é desigual, ela é diferente, mas existe uma harmonia entre essas diferenças.
Então é como uma sinfonia, ele exemplificou para mim: cada instrumento diferente do outro mas o conjunto é perfeito.
Ele diz que existem pessoas que nascem para ser advogadas, outras sapateiras e que essa é a ordem natural das coisas, que não há porque ficar tentando modificar isso por meio do Estado, por meio de políticas públicas.
Ele diz que na monarquia existia algo que era muito bom até a Revolução Francesa, isso na Europa, como um todo acontecia, que era a troca de bons ofícios entre Igreja e Estado.
Eu perguntei para ele se ele achava que devia haver uma reunificação, se ele imaginava que seria positivo uma reunificação entre Igreja e Estado hoje no Brasil.
Ele disse que o que ele acha que deveria haver é uma restauração da cristandade, o resgate dos valores cristãos, mas que não necessariamente uma reunificação.
Uma troca de bons ofícios, um diálogo entre Igreja e Estado seria suficiente.
Um diálogo que os dois se ouvissem mutuamente.
Era isso.
Queria contar um pouco desse movimento, da minha reportagem.
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Eu fico por aqui.
Tchau!