Por que a China está desacelerando – e como isso afeta o Brasil?
[Mar 8, 2019].
Nas últimas décadas, a China se tornou a queridinha da economia mundial.
Mas parece que o gigante asiático começou a perder fôlego no último ano.
Meu nome é Camilla Costa, eu sou repórter da BBC News Brasil aqui em Londres,
e hoje vou explicar por que a China começou a crescer em ritmo mais lento, e como é que isso afeta o Brasil.
Pra você ter ideia, em 2017, a China foi sozinha o destino de 22% de todas as exportações do Brasil.
Isso quer dizer que nós vendemos a eles o equivalente a 48 bilhões de dólares, principalmente em soja, minério de ferro, petróleo bruto e açúcar.
Por isso, muitos mercados de produtos brasileiros dependem da China para dar um suspiro de alívio em meio à crise, como o de açúcar, por exemplo.
Os produtores de açúcar comemoraram o fato de que em 2018, os chineses compraram 132% mais do que em 2017.
Parece muito, né?
Mas esse valor na verdade foi 95% menor do que a média anual de açúcar que o Brasil vendeu para a China entre 2011 e 2016.
É justamente essa diminuição no consumo chinês que preocupa o mundo inteiro.
Mas vamos rebobinar a fita.
Atualmente, a economia da China é 42 vezes maior do que era em 1980.
O país aproveitou a gigantesca oferta de mão de obra barata para se tornar o maior fabricante e exportador de mercadorias em todo o planeta.
E hoje responde por um quinto do comércio mundial.
Mas esse crescimento acelerado está começando a diminuir.
Segundo os números do próprio governo chinês, o país cresceu 6,6% em 2018.
Mas analistas independentes dizem que foi bem menos: 5%, se muito.
Seja qual for o crescimento exato, o fato é que 2018 foi o ano mais fraco para a China desde 1990.
Mas por quê?
Bom, em primeiro lugar: com o crescimento da economia chinesa, o salário dos trabalhadores também aumentou.
Ou seja, se lembra daquela gigantesca oferta de mão de obra barata?
Pois é, agora é mais fácil encontrar isso no Vietnã, nas Filipinas e em Bangladesh.
São eles que agora estão crescendo vertiginosamente.
Para equilibrar a dependência de exportações, a China também agora se concentra no mercado interno.
Em outras palavras: essa desaceleração também é proposital.
Outra razão que explica o crescimento menor é o nível de endividamento.
A dívida total de empresas e de indivíduos na China corresponde a quase três vezes o PIB do país.
Ou 40 trilhões de dólares.
Medidas impostas pelo governo para frear os empréstimos afetaram, claro, os gastos e investimentos do país.
E tudo isso acendeu vários alertas vermelhos sobre a saúde da economia chinesa.
Agora, como é que esse crescimento a passos mais lentos se reflete no dia a dia da China?
Vamos começar pela indústria: este setor crucial na economia se contraiu pela primeira vez em dois anos em dezembro de 2018.
E não podemos esquecer, claro, do principal interesse do Brasil: matérias primas.
Por causa do seu tamanho, a China dita o preço internacional de muitas commodities, como, por exemplo, o minério de ferro e a soja, que são dois dos nossos principais produtos de exportação.
O preço desses produtos caiu muito por causa do menor apetite chinês por eles.
Os chineses também sentiram esse aperto e estão gastando menos: as vendas no varejo lá tiveram a menor expansão em 15 anos.
Até vendas de carros caíram pela primeira vez em duas décadas.
É preciso analisar esses números com cautela, claro, mas já tem investidores preocupados.
A bolsa de Xangai perdeu um quarto do seu valor em 2018.
E agora, além de tudo isso, os Estados Unidos começaram no ano passado uma guerra comercial com a China.
Por enquanto, o impacto disso tem sido limitado.
Mas uma escalada de tensão poderia pôr em risco não só o crescimento da China como todo o comércio mundial.
Aliás, esse é um ponto crucial. A desaceleração da economia chinesa gera impacto no mundo todo, inclusive no Brasil.
Novamente, a China é a nossa principal parceira comercial desde 2009.
Mas o que a gente pode esperar no futuro?
Bom, o crescimento chinês provavelmente não vai mais ser como o das últimas décadas.
Em 2030, economistas dizem que o país vai crescer um terço do que cresce hoje.
Apesar disso, a expectativa ainda é de que a China passe os Estados Unidos e se transforme na maior economia do mundo.
Eu espero que esse vídeo tenha sido útil pra vocês.
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A gente se vê logo mais!