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BBC News 2021 (Brasil), A vida de privações da princesa Alice, sogra da rainha Elizabeth 2ª

A vida de privações da princesa Alice, sogra da rainha Elizabeth 2ª

Era uma história praticamente desconhecida do público até que veio a série The Crown,

da Netflix. Uma personagem um tanto escondida na História da realeza britânica teve dedicado

a ela um dos capítulos da terceira temporada. Desligada da família real por grande parte de

sua vida, Alice de Battenberg era conhecida como Princesa Alice da Grécia e Dinamarca.

Ela é mãe do príncipe Philip, portanto sogra da rainha da Inglaterra, Elizabeth Segunda.

Eu sou Rodrigo Pinto, da BBC News Brasil em Londres, e neste vídeo eu conto a você a

história de Alice de Battenberg. Não a da série de ficção. Mas a da mulher que viveu uma conturbada

história de família, regada a guerras, religião, questões mentais e defesa dos necessitados.

Recentemente, Charles, herdeiro do trono britânico, prestou homenagem

à avó em Jerusalém, onde os restos mortais de Alice estão enterrados.

O príncipe de Gales disse que as ações altruístas da amada avó o inspiram há muito tempo.

Mas quem era essa mulher intrigante?

Apesar de ser bisneta da poderosa rainha Vitória e de ter nascido,

em mil oitocentos e oitenta e cinco, num castelo, o Castelo de Windsor, no Reino Unido,

a vida não foi fácil para Alice de Battenberg. Digo isso porque a gente sempre imagina que

uma princesa já nasce sem ter que se preocupar com o dia de amanhã, com nós, nobres mortais.

Quando criança, os pais da princesa inicialmente acreditavam que ela tinha

uma deficiência mental que a fazia aprender em um ritmo mais lento que seus irmãos.

Diagnosticada com surdez congênita, de nascença, ela foi incentivada pela

mãe a aprender a língua de sinais e a ler lábios em inglês, francês, alemão e grego.

Com apenas dezessete anos, Alice se apaixonou pelo

príncipe André da Grécia e Dinamarca. Eles se conheceram na coroação do rei Eduardo Sétimo,

da Inglaterra, em mil novecentos e dois. Esta que você vê aí, em imagens raras...

Alice e André se casaram um ano depois.

O casal teve cinco filhos: quatro meninas e um menino, Philip, duque

de Edimburgo e marido da rainha Elizabeth 2ª. Até aí, tudo parece estar indo até que bem...

Mas nesta altura, tenho que lembrar, estamos nas duas primeiras décadas do século vinte.

Uma época pra lá de complicada. A Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa e a Guerra

Greco-Turca tiveram grande impacto na vida dos príncipes. Muitos tiveram que se exilar.

Caso de André e Alice, que foram para a Grécia em mil novecentos e vinte e dois

Nos anos seguintes, o núcleo familiar desmoronou.

As quatro filhas dos casal se casaram com nobres

alemães que eram partidários do movimento nacional socialista alemão, o nazismo.

O príncipe André, marido de Alice, se mudou para Monte Carlo.

Mas foi o filho caçula dele, Philip, o caçula dos cinco filhos, foi quem mais

se afastou dos pais, sendo educado em internatos na Escócia e na Inglaterra.

Talvez tudo isso tenha sido demais para ela. A princesa se converteu à fé ortodoxa grega.

Se envolveu cada vez mais até dizer que recebia mensagens divinas e que tinha poderes de cura.

Em mil novecentos e trinta, ela teve um colapso nervoso e foi

diagnosticada com esquizofrenia paranóica. A partir deste momento, a princesa desaparece

das fotos oficiais por um longo tempo. Alice acabou internada, contra sua vontade,

em um hospital na Suíça. E aí, entra em cena o pai da psicanálise, o austríaco Sigmund Freud.

Freud considerou que as visões e alucinações da

princesa eram o resultado de frustração sexual. Ele recomendou que ela recebesse

choque elétrico e raios-X nos ovários para promover a menopausa e desligar a libido.

Embora insistisse que era sã, Alice permaneceu no sanatório por dois anos,

período que teria um peso enorme em sua saúde física e emocional no futuro.

Quando saiu, a princesa Alice se viu sozinha e começou a explorar seu lado

religioso e humanitário. Mas o altruísmo não encontrava eco em sua própria família.

Em mil novecentos e trinta e sete, a princesa Alice perdeu uma das filhas,

Cecília, em um acidente aéreo. No funeral, rodeada por oficiais nazistas,

afinal Cecília era casada com um deles, a princesa Alice finalmente

reencontrou o marido e os outros filhos. Ela ainda era formalmente casada com André.

Alice então pediu ao filho Philip que fosse para Atenas com ela,

mas ele recusou, porque queria continuar a carreira como oficial da Marinha Inglesa.

A Segunda Guerra Mundial estourou e a Grécia foi ocupada pela Alemanha nazista.

Graças ao dinheiro e comida enviados por seus irmãos do Reino Unido, a princesa Alice

pôde ajudar os necessitados. Ela escondeu uma família judia em sua própria casa, em Atenas.

Suas raízes alemãs e o relacionamento das filhas com as forças armadas de Hitler a protegiam

de qualquer problema. Além disso, ela usava a surdez como desculpa para evitar interrogatórios.

Atenas foi liberada em outubro de mil novecentos e quarenta e quatro. Pouco depois,

a princesa Alice ficou viúva. Ela não via o marido desde 1939.

Nesta época, Alice vendeu todas as jóias que possuía para financiar seu trabalho

humanitário. Ficaram apenas os diamantes que Philip usaria para fazer o anel com o

qual ele pediu a então princesa Elizabeth, herdeira do trono britânico, em casamento.

Eram tantos os diamantes, que houve o suficiente para fazer um bracelete extra

para Elizabeth também. Alice foi ao matrimônio

do filho caçula em Londres. E estava na foto oficial.

Ao retornar à Grécia, a princesa fundou sua própria ordem religiosa:

a Irmandade Ortodoxa de Marta e Maria.

Àquela altura ela só era vista usando roupas religiosas.

De fato, ela surpreendeu milhões de espectadores ao vestir o hábito de freira na coroação da nora,

Elizabeth Segunda, em mil novecentos e cinquenta e dois.

Seus netos se acostumaram ao hábito da avó. Aí você vê

Alice com a princesa Anne e o príncipe Charles. A ordem religiosa de Alice funcionou por alguns

anos, mas acabou sem fundos ou voluntários. A saúde da princesa se deteriorou, assim como

a situação política na Grécia, que viraria uma ditadura em mil novecentos e sessenta e sete.

Isso levou a rainha Elizabeth a convidar Alice para morar no Palácio de Buckingham

e ficar mais perto do filho, Philip. Alice tinha 82 anos e estava muito frágil.

Ela foi vista pela última vez em público em outubro de setenta e nove. E morreu em dezembro.

Inicialmente, a Princesa Alice foi enterrada na cripta real do Castelo

de Windsor. Na década de oitenta, os restos mortais foram transferidos para

a igreja de Santa Maria Madalena, no Monte das Oliveiras, em Jerusalém, como ela desejava.

Embora a reputação de Alice fosse de uma pessoa estranha e excêntrica, em mil novecentos e noventa

e três a comunidade judaica concedeu a ela o reconhecimento de "Justa Entre as Nações",

por ter arriscado a vida para proteger judeus do Holocausto, durante a Segunda Guerra Mundial.

Essa visão, de uma mulher generosa e sofrida, somente viria a ser relembrada em 2020,

através da série The Crown. Uma ficção que, curiosamente, destaca o peso que a

coroa exerce sobre a nobreza. Certamente, a princesa Alice é um caso emblemático.

Espero que vocês tenham achado o vídeo interessante, se tiverem críticas ou sugestões

deixa aqui nos comentários.

E siga a BBC Brasil nas redes sociais.

Até a próxima.

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A vida de privações da princesa Alice, sogra da rainha Elizabeth 2ª The deprived life of Princess Alice, mother-in-law of Queen Elizabeth II La vida privada de la princesa Alicia, suegra de la reina Isabel II La vie déshéritée de la princesse Alice, belle-mère de la reine Élisabeth II

Era uma história praticamente desconhecida  do público até que veio a série The Crown,

da Netflix. Uma personagem um tanto escondida  na História da realeza britânica teve dedicado

a ela um dos capítulos da terceira temporada. Desligada da família real por grande parte de

sua vida, Alice de Battenberg era conhecida  como Princesa Alice da Grécia e Dinamarca.

Ela é mãe do príncipe Philip, portanto sogra  da rainha da Inglaterra, Elizabeth Segunda.

Eu sou Rodrigo Pinto, da BBC News Brasil  em Londres, e neste vídeo eu conto a você a

história de Alice de Battenberg. Não a da série de  ficção. Mas a da mulher que viveu uma conturbada

história de família, regada a guerras, religião,  questões mentais e defesa dos necessitados.

Recentemente, Charles, herdeiro do  trono britânico, prestou homenagem

à avó em Jerusalém, onde os restos  mortais de Alice estão enterrados.

O príncipe de Gales disse que as ações altruístas  da amada avó o inspiram há muito tempo.

Mas quem era essa mulher intrigante?

Apesar de ser bisneta da poderosa  rainha Vitória e de ter nascido,

em mil oitocentos e oitenta e cinco, num  castelo, o Castelo de Windsor, no Reino Unido,

a vida não foi fácil para Alice de Battenberg. Digo isso porque a gente sempre imagina que

uma princesa já nasce sem ter que se preocupar  com o dia de amanhã, com nós, nobres mortais.

Quando criança, os pais da princesa  inicialmente acreditavam que ela tinha

uma deficiência mental que a fazia aprender  em um ritmo mais lento que seus irmãos.

Diagnosticada com surdez congênita,  de nascença, ela foi incentivada pela

mãe a aprender a língua de sinais e a ler  lábios em inglês, francês, alemão e grego.

Com apenas dezessete anos, Alice se apaixonou pelo

príncipe André da Grécia e Dinamarca. Eles se  conheceram na coroação do rei Eduardo Sétimo,

da Inglaterra, em mil novecentos e dois. Esta que você vê aí, em imagens raras...

Alice e André se casaram um ano depois.

O casal teve cinco filhos: quatro  meninas e um menino, Philip, duque

de Edimburgo e marido da rainha Elizabeth 2ª. Até aí, tudo parece estar indo até que bem...

Mas nesta altura, tenho que lembrar, estamos  nas duas primeiras décadas do século vinte.

Uma época pra lá de complicada. A Primeira  Guerra Mundial, a Revolução Russa e a Guerra

Greco-Turca tiveram grande impacto na vida  dos príncipes. Muitos tiveram que se exilar.

Caso de André e Alice, que foram para a  Grécia em mil novecentos e vinte e dois

Nos anos seguintes, o núcleo familiar desmoronou.

As quatro filhas dos casal se casaram com nobres

alemães que eram partidários do movimento  nacional socialista alemão, o nazismo.

O príncipe André, marido de  Alice, se mudou para Monte Carlo.

Mas foi o filho caçula dele, Philip, o  caçula dos cinco filhos, foi quem mais

se afastou dos pais, sendo educado em  internatos na Escócia e na Inglaterra. |moved away|||||||||||

Talvez tudo isso tenha sido demais para ela. A princesa se converteu à fé ortodoxa grega.

Se envolveu cada vez mais até dizer que recebia  mensagens divinas e que tinha poderes de cura.

Em mil novecentos e trinta, ela  teve um colapso nervoso e foi

diagnosticada com esquizofrenia paranóica. A partir deste momento, a princesa desaparece

das fotos oficiais por um longo tempo. Alice acabou internada, contra sua vontade,

em um hospital na Suíça. E aí, entra em cena o  pai da psicanálise, o austríaco Sigmund Freud.

Freud considerou que as visões e alucinações da

princesa eram o resultado de frustração  sexual. Ele recomendou que ela recebesse

choque elétrico e raios-X nos ovários para  promover a menopausa e desligar a libido.

Embora insistisse que era sã, Alice  permaneceu no sanatório por dois anos,

período que teria um peso enorme  em sua saúde física e emocional no futuro.

Quando saiu, a princesa Alice se viu  sozinha e começou a explorar seu lado

religioso e humanitário. Mas o altruísmo  não encontrava eco em sua própria família.

Em mil novecentos e trinta e sete, a  princesa Alice perdeu uma das filhas,

Cecília, em um acidente aéreo. No  funeral, rodeada por oficiais nazistas,

afinal Cecília era casada com um  deles, a princesa Alice finalmente

reencontrou o marido e os outros filhos. Ela ainda era formalmente casada com André.

Alice então pediu ao filho Philip  que fosse para Atenas com ela,

mas ele recusou, porque queria continuar a  carreira como oficial da Marinha Inglesa.

A Segunda Guerra Mundial estourou e a  Grécia foi ocupada pela Alemanha nazista.

Graças ao dinheiro e comida enviados por  seus irmãos do Reino Unido, a princesa Alice

pôde ajudar os necessitados. Ela escondeu uma  família judia em sua própria casa, em Atenas.

Suas raízes alemãs e o relacionamento das filhas  com as forças armadas de Hitler a protegiam

de qualquer problema. Além disso, ela usava a  surdez como desculpa para evitar interrogatórios.

Atenas foi liberada em outubro de mil  novecentos e quarenta e quatro. Pouco depois,

a princesa Alice ficou viúva.  Ela não via o marido desde 1939.

Nesta época, Alice vendeu todas as jóias  que possuía para financiar seu trabalho

humanitário. Ficaram apenas os diamantes  que Philip usaria para fazer o anel com o

qual ele pediu a então princesa Elizabeth,  herdeira do trono britânico, em casamento.

Eram tantos os diamantes, que houve  o suficiente para fazer um bracelete  extra

para Elizabeth também. Alice foi ao matrimônio

do filho caçula em Londres. E estava na foto oficial.

Ao retornar à Grécia, a princesa  fundou sua própria ordem religiosa:

a Irmandade Ortodoxa de Marta e Maria.

Àquela altura ela só era vista  usando roupas religiosas.

De fato, ela surpreendeu milhões de espectadores  ao vestir o hábito de freira na coroação da nora,

Elizabeth Segunda, em mil  novecentos e cinquenta e dois.

Seus netos se acostumaram  ao hábito da avó. Aí você vê

Alice com a princesa Anne e o príncipe Charles. A ordem religiosa de Alice funcionou por alguns

anos, mas acabou sem fundos ou voluntários. A saúde da princesa se deteriorou, assim como

a situação política na Grécia, que viraria uma  ditadura em mil novecentos e sessenta e sete.

Isso levou a rainha Elizabeth  a convidar  Alice para morar no Palácio de Buckingham

e ficar mais perto do filho, Philip. Alice tinha 82 anos e estava muito frágil.

Ela foi vista pela última vez em público em  outubro de setenta e nove. E morreu em dezembro.

Inicialmente, a Princesa Alice foi  enterrada na cripta real do Castelo

de Windsor. Na década de oitenta, os  restos mortais foram transferidos para

a igreja de Santa Maria Madalena, no Monte das  Oliveiras, em Jerusalém, como ela desejava.

Embora a reputação de Alice fosse de uma pessoa  estranha e excêntrica, em mil novecentos e noventa

e três a comunidade judaica concedeu a ela  o reconhecimento de "Justa Entre as Nações",

por ter arriscado a vida para proteger judeus  do Holocausto, durante a Segunda Guerra Mundial.

Essa visão, de uma mulher generosa e sofrida,  somente viria a ser relembrada em 2020,

através da série The Crown. Uma ficção  que, curiosamente, destaca o peso que a

coroa exerce sobre a nobreza. Certamente,  a princesa Alice é um caso emblemático.

Espero que vocês tenham achado o vídeo interessante, se tiverem críticas ou sugestões

deixa aqui nos comentários.

E siga a BBC Brasil nas redes sociais.

Até a próxima.