Natalis
As ruas de Roma estavam repletas de gente. Música, bebida, comida, sexo e brincadeiras estavam por todas as partes.
Era a Saturnália, um festival em homenagem ao deus Saturno, que, por vários dias no inverno deixava a cidade em festa e tudo de ponta cabeça: nenhuma prisão era feita, escravos trocavam de papéis com seus donos, vestindo suas roupas e sentando na ponta das mesas, camponeses comandavam a cidade e escolas e comércio não funcionavam para que todos pudessem participar.
Foi assim que se originou o carnaval? Não. Essa é uma das origens do Natal. Ho ho ho.
O inverno europeu
Na antigüidade, o inverno, em grande parte da Europa, era rígido. Nos últimos dias de dezembro, onde o inverno atingia seu ápice no solstício, o trabalho no campo cessava. Tudo o que havia para ser colhido já havia sido feito, boa parte dos animais já haviam sido abatidos e não precisavam ser alimentados e as pessoas assim tinham tempo para festejar e se dedicar aos seus deuses.
Na Alemanha, acreditava-se que o deus pagão Oden, nessa época, voava durante a noite observando as pessoas e assim decidia quem iria prosperar e quem iria perecer, fazendo com que muitos preferissem ficar dentro de suas casas.
Mas em Roma
Em Roma o inverno não era tão intenso como nos países mais ao norte, e assim o clima permitia que festividades como a Saturnália acontecessem.
Saturno era o deus da agricultura dos romanos, e a Saturnália, que o celebrava, também acontecia nos últimos dias de dezembro. Para muitos, era considerada a melhor época do ano e, vários registros mostram que a Saturnália, com bêbados cantando, copulando e correndo pelados pelas ruas era a festa mais alegre de todas.
Nessa mesma época, acontecia também a celebração ao deus Mithra, chamada dies natalis solis invicti, que significa Nascimento do Sol Invicto. E para muitos romanos, era o dia mais sagrado do ano. A celebração era menos agitada que a Saturnalia, porém, acabou se misturando com o passar dos séculos e se tornando tão festiva quanto.
A seita cristã
Nos primeiros séculos do calendário gregoriano, uma nova seita passou a ganhar força em Roma, tratava-se dos cristãos, monoteístas, porém seguidores de uma trindade, onde, Jesus Cristo era o deus na Terra.
Após o Imperador Constantino se converter à nova seita, ela passou, gradativamente a se tornar a religião dominante do Império Romano.
Por muito tempo o cristianismo e a religião antiga coexistiram em Roma. E a Saturnália continuava a ser festejada, até mesmo por cristãos, afinal, fazia parte da tradição de Roma.
A páscoa era a principal celebração cristã. O nascimento de Jesus não era celebrado e, aliás, nem mesmo se sabia o dia de seu nascimento. Porém, o Papa Julius I definiu a data do nascimento para o dia 25 de dezembro. Dessa forma, a igreja teria mais facilidade na aceitação do natal pelos pagãos. No entanto, acabar com a Saturnália era impensável, e desistiram também de ditar como o natal deveria ser celebrado. E assim, misturando-se a Saturnália e as celebrações do deus Mithra, o carnavalesco natal cristão é celebrado por vários séculos, cada parte da Europa com suas tradições.
O fim do natal
Justamente por ter raízes pagãs, o natal não era bem visto por puritanos e ortodoxos, que quando tomaram o poder na Inglaterra, no século XVII, cancelaram as festividades natalinas para recuperar a decência britânica.
Quando Carlos II recuperou o trono, ele reestabeleceu a celebração do natal, porém, os peregrinos separatistas britânicos que partiram para a América em 1620, fizeram com que o natal fosse mal visto até o final do século, quando após a Revolução Americana, os costumes britânicos caíram, incluindo o natal, que só veio a ser considerado um feriado nacional em 1870.
Os americanos então reinventaram o natal, o transformando numa festividade familiar e caseira.
Santa Claus
Surgia também no século XIX a figura do Papai Noel. Apesar de tradições antigas já contarem com a presença de entidades nas crenças, o Papai-Noel como o conhecemos hoje também é uma invenção americana baseada em uma lenda Européia.
São Nicolau foi um monge nascido por volta do ano 280. Ficou conhecido por sua bondade e generosidade. Uma das lendas conta que ele doou toda sua riqueza e passou a viajar ajudando os pobres e doentes. Na época do renascimento, São Nicolau era um dos santos mais populares na Europa, e o dia de sua morte, 6 de dezembro, era o dia de celebrá-lo, principalmente na Holanda.
E foi assim que foi noticiado em um jornal de Nova York no século XVIII o fato de famílias holandesas celebrarem São Nicolau em dezembro, ou Sinter Klaas, como era conhecido em holandês, que foi logo adaptado para Santa Claus. O mesmo monge deu origem também ao Pai Natal e outros personagens do natal na Europa.
Porém não havia uma imagem definida de Papai Noel. Com o passar dos anos, desenhos e descrições dele tinham os mais diferentes aspectos, seja na vestimenta ou na aparência física.
Foi só no século XIX, quando o natal foi abraçado pelo comércio e a tradição de fazer compras para presentear os parentes e amigos ganhou força, que um modelo universal de Papai Noel foi se formando. Um velhinho de barba branca e roupas vermelhas passou a ser mais usado, e ganhou grande popularidade ao ser adotado pela Coca-Cola numa de suas propagandas.
O natal de hoje
O natal hoje é praticamente um evento comercial. Compre! Junto com o sucesso do natal veio o dia dos pais, das mães, das crianças, enfim, o ponto fraco das famílias para que se sintam obrigadas a comprar, comprar, comprar.
Do que era uma festividade alegre, carnavalesca e lúdica não restou muita coisa, sendo hoje uma grande mistura de influências de várias religiões, crenças, culturas e costumes milenares.
Porém, muito mais do que religião, o natal é, nos dias de hoje a única forma de reunir a família para celebrar, confraternizar, brigar, comer e presentear.
Que saudade de Roma, Ho Ho Ho…