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Os Escravos, por Antonio Frederico de Castro Alves, 25º Poema: O século, de Os Escravos, de Castro Alves

25º Poema: O século, de Os Escravos, de Castro Alves

O século

Soldados, do, alto daquelas pirâmides

quarenta séculos vos contemplam!

NAPOLEÃO

O século é grande e forte.

V. HUGO

Da mortalha de seus bravos

Fez bandeira a tirania

Oh! armas talvez o povo

Deseus ossos faça um dia

J. BONIFÁCIO

O séc'lo é grande...No espaço Há um drama de treva e luz.

Como o Cristo — a liberdade

Sangra no poste da Cruz.

Um corvo escuro, anegrado,

Obumbra o manto azulado,

Das asas d'águia dos céus... Arquejam peitos e frontes...

Nos lábios dos horizontes

Há um riso de luz... É Deus.

Às vezes quebra o silêncio

Ronco estrídulo, feroz.

Será o rugir das matas,

Ou da plebe a imensa voz?...

Treme a terra hirta e sombria. São as vascas da agonia

Da liberdade no chão?...

Ou do povo o braço ousado

Que, sob montes calcado,

Abala-os como um Titão?! ...

Ante esse escuro problema

Há muito irônico rir.

Pra nós o vento da esp'rança Traz o pólen do porvir.

E enquanto o cepticismo

Mergulha os olhos no abismo,

Que a seus pés raivando tem,

Rasga o moço os nevoeiros,

Pra dos morros altaneiros

Ver o sol que irrompe além.

Toda noite — tem auroras,

Raios — toda a escuridão.

Moços, creiamos, não tarda

A aurora da redenção.

Gemer — é esperar um canto...

Chorar - aguardar que o pranto

Faça-se estrela nos céus.

O mundo é o nauta nas vagas...

Terá do oceano as plagas

Se existem justiça e Deus.

No entanto inda há muita noite

No mapa da criação.

Sangra o abutre — tirano

Muito cadáver — nação.

Desce a Polônia esvaída,

Cataléptica, adormida,

À tumba do Sobieski;

Inda em sonhos busca a espada ...

Os reis passam sem ver nada ...

E o Czar olha e sorri...

Roma inda tem sobre o peito

O pesadelo dos reis!

A Grécia espera chorando

Canaris... Byron talvez!

Napoleão amordaça

A boca da populaça

E olha Jersey com terror;

Como o filho de Sorrento,

Treme ao fitar um momento

O Vesúvio aterrador.

A Hungria é como um cadáver

Ao relento exposto nu;

Nem sequer a abriga a sombra

Do foragido Kossuth.

Aqui — o México ardente,

— Vasto filho independente

Da liberdade e do sol —

Jaz por terra... e lá soluça

Juarez, que se debruça

E diz-lhe: "Espera o arrebol!" O quadro é negro. Que os fracos

Recuem cheios de horror.

A nós, herdeiros dos Gracos,

Traz a desgraça — valor!

Lutai... Há uma lei sublime

Que diz: "À sombra do crime Há de a vingança marchar." Não ouvis do Norte um grito,

Que bate aos pés do infinito,

Que vai Franklin despertar?

É o grito dos Cruzados

Que brada aos moços — "De pé"! É o sol das liberdades

Que espera por Josué! ...

São bocas de mil escravos

Que transformaram-se em bravos

Ao cinzel da abolição.

E — à voz dos libertadores —

Reptis saltam condores,

A topetar n'amplidão!... E vós, arcas do futuro,

Crisálidas do porvir,

Quando vosso braço ousado

Legislações construir,

Levantai um templo novo,

Porém não que esmague o povo,

Mas lhe seja o pedestal.

Que ao menino dê-se a escola,

Ao veterano — uma esmola...

A todos — luz e fanal!

Luz!... sim; que a criança é uma ave,

Cujo porvir tendes vós;

No sol — é uma águia arrojada,

Na sombra — um mocho feroz.

Libertai tribunas, prelos ...

São fracos, mesquinhos elos...

Não calqueis o povo-rei!

Que este mar d'almas e peitos, Com as vagas de seus direitos,

Virá partir-vos a lei.

Quebre-se o cetro do Papa,

Faça-se dele — uma cruz!

A púrpura sirva ao povo

Pra cobrir os ombros nus,

Que aos gritos do Niagara

— Sem escravos, — Guanabara

Se eleve ao fulgor dos sóis!

Banhem-se em luz os prostíbulos,

E das lascas dos patíbulos

Erga-se a estátua aos heróis!

Basta!... Eu sei que a mocidade

É o Moisés no Sinai;

Das mãos do Eterno recebe

As tábuas da lei! — Marchai!

Quem cai na luta com glória,

Tomba nos braços da História,

No coração do Brasil!

Moços, do topo dos Andes,

Pirâmides vastas, grandes,

Vos contemplam séc'los mil!


25º Poema: O século, de Os Escravos, de Castro Alves 25th Poem: The Century, from The Slaves, by Castro Alves

O século

Soldados, do, alto daquelas pirâmides

quarenta séculos vos contemplam!

NAPOLEÃO

O século é grande e forte.

V. HUGO

Da mortalha de seus bravos

Fez bandeira a tirania

Oh! armas talvez o povo

Deseus ossos faça um dia

J. BONIFÁCIO

O séc'lo é grande...No espaço Há um drama de treva e luz.

Como o Cristo — a liberdade

Sangra no poste da Cruz.

Um corvo escuro, anegrado,

Obumbra o manto azulado,

Das asas d'águia dos céus... Arquejam peitos e frontes...

Nos lábios dos horizontes

Há um riso de luz... É Deus.

Às vezes quebra o silêncio

Ronco estrídulo, feroz.

Será o rugir das matas,

Ou da plebe a imensa voz?...

Treme a terra hirta e sombria. São as vascas da agonia

Da liberdade no chão?...

Ou do povo o braço ousado

Que, sob montes calcado,

Abala-os como um Titão?! ...

Ante esse escuro problema

Há muito irônico rir.

Pra nós o vento da esp'rança Traz o pólen do porvir.

E enquanto o cepticismo

Mergulha os olhos no abismo,

Que a seus pés raivando tem,

Rasga o moço os nevoeiros,

Pra dos morros altaneiros

Ver o sol que irrompe além.

Toda noite — tem auroras,

Raios — toda a escuridão.

Moços, creiamos, não tarda

A aurora da redenção.

Gemer — é esperar um canto...

Chorar - aguardar que o pranto

Faça-se estrela nos céus.

O mundo é o nauta nas vagas...

Terá do oceano as plagas

Se existem justiça e Deus.

No entanto inda há muita noite

No mapa da criação.

Sangra o abutre — tirano

Muito cadáver — nação.

Desce a Polônia esvaída,

Cataléptica, adormida,

À tumba do Sobieski;

Inda em sonhos busca a espada ...

Os reis passam sem ver nada ...

E o Czar olha e sorri...

Roma inda tem sobre o peito

O pesadelo dos reis!

A Grécia espera chorando

Canaris... Byron talvez!

Napoleão amordaça

A boca da populaça

E olha Jersey com terror;

Como o filho de Sorrento,

Treme ao fitar um momento

O Vesúvio aterrador.

A Hungria é como um cadáver

Ao relento exposto nu;

Nem sequer a abriga a sombra

Do foragido Kossuth.

Aqui — o México ardente,

— Vasto filho independente

Da liberdade e do sol —

Jaz por terra... e lá soluça

Juarez, que se debruça

E diz-lhe: "Espera o arrebol!" O quadro é negro. Que os fracos

Recuem cheios de horror.

A nós, herdeiros dos Gracos,

Traz a desgraça — valor!

Lutai... Há uma lei sublime

Que diz: "À sombra do crime Há de a vingança marchar." Não ouvis do Norte um grito,

Que bate aos pés do infinito,

Que vai Franklin despertar?

É o grito dos Cruzados

Que brada aos moços — "De pé"! É o sol das liberdades

Que espera por Josué! ...

São bocas de mil escravos

Que transformaram-se em bravos

Ao cinzel da abolição.

E — à voz dos libertadores —

Reptis saltam condores,

A topetar n'amplidão!... E vós, arcas do futuro,

Crisálidas do porvir,

Quando vosso braço ousado

Legislações construir,

Levantai um templo novo,

Porém não que esmague o povo,

Mas lhe seja o pedestal.

Que ao menino dê-se a escola,

Ao veterano — uma esmola...

A todos — luz e fanal!

Luz!... sim; que a criança é uma ave,

Cujo porvir tendes vós;

No sol — é uma águia arrojada,

Na sombra — um mocho feroz.

Libertai tribunas, prelos ...

São fracos, mesquinhos elos...

Não calqueis o povo-rei!

Que este mar d'almas e peitos, Com as vagas de seus direitos,

Virá partir-vos a lei.

Quebre-se o cetro do Papa,

Faça-se dele — uma cruz!

A púrpura sirva ao povo

Pra cobrir os ombros nus,

Que aos gritos do Niagara

— Sem escravos, — Guanabara

Se eleve ao fulgor dos sóis!

Banhem-se em luz os prostíbulos,

E das lascas dos patíbulos

Erga-se a estátua aos heróis!

Basta!... Eu sei que a mocidade

É o Moisés no Sinai;

Das mãos do Eterno recebe

As tábuas da lei! — Marchai!

Quem cai na luta com glória,

Tomba nos braços da História,

No coração do Brasil!

Moços, do topo dos Andes,

Pirâmides vastas, grandes,

Vos contemplam séc'los mil!