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Embrulha Pra Viagem, SAUDADE DO BOTECO | EMBRULHA PRA VIAGEM

SAUDADE DO BOTECO | EMBRULHA PRA VIAGEM

Alô? É do Boteco do Bisteca? Bisteca?!

Rapaz, onde é que você estava esse tempo todo?

Faz três meses que eu tô te ligando, tava preocupado com você.

Aqui quem tá falando é o Luiz Armando.

Frequentava o Boteco de segunda à sexta!

Todo dia depois do expediente eu tomava uma pra desestressar!

Não, de sábado e domingo eu ia também

mas era por falta de estresse.

Isso! O Barriga d'Água! Esse mesmo!

Tô ótimo, rapaz!

Esse tempo dentro de casa de quarentena

me fez um bem danado, viu?!

Colesterol abaixou, diabetes acabou,

a capa de gordura no fígado sumiu!

A barriga, então, desapareceu!

Só apareceu umas coisinhas, né?

Rinite, síndrome do pânico, psoríase,

arritmia, claustrofobia, coisa leve, né?

Mas eu tô muito preocupado

com seu estabelecimento fechado todos esses dias!

Abriu?! Você tá falando sério, Bisteca?!

Você tá fazendo delivery? Não tem problema, Bisteca?

Anota aí! Eu tô na seca essa quarentena inteira!

Eu vou querer três salsichas em conserva,

cinco ovos coloridos,

mas de preferência aqueles que estão desde ontem na estufa.

Seis torresmos,

mas tem que ser frito na mesma gordura

que fritou coxinha na semana inteira que a gente reclamava.

Dois sacos do amendoim de alho com gosto de mofo,

e duas esfirras que você falava que era de carne

mas que todo mundo sabia que era da calabresa do almoço.

E lota com aquele molho de pimenta delicioso

que você costuma desentupir soprando!

Pra beber, eu vou querer um copo americano,

tem que ser lavado naquela mesma bucha

que lava todos os copos.

E tem que vir com cheiro de ovo se não eu mando devolver!

Trezentos ML daquela essência maravilhosa

que você coloca no banheiro

que é um misto de naftalina, urina e Pinho Sol.

O paninho limpa-tudo, limpa cadeira, mesa, chão, pia.

O violão quatro cordas,

com o Paulinho do pé roxo pra tocar Raul,

e o Nelsinho cirrose pra chorar quando eu falo da nossa amizade.

Não, só isso o mais rápido possível.

Eu tô descendo. Bebida alcoólica eu não quero nenhuma.

Tô lotado aqui em casa. Tem cerveja, vodka, uísque, vinho.

Não consegui beber nada essa quarentena inteira.

É que eu descobri que meu problema não é a bebida.

É o boteco. Eu sou viciado em boteco.

No seu boteco, Bisteca!

Não, tô te esperando! O mais rápido possível.

Não acredito.

Não desce.


SAUDADE DO BOTECO | EMBRULHA PRA VIAGEM

Alô? É do Boteco do Bisteca? Bisteca?!

Rapaz, onde é que você estava esse tempo todo?

Faz três meses que eu tô te ligando, tava preocupado com você.

Aqui quem tá falando é o Luiz Armando.

Frequentava o Boteco de segunda à sexta!

Todo dia depois do expediente eu tomava uma pra desestressar!

Não, de sábado e domingo eu ia também

mas era por falta de estresse.

Isso! O Barriga d'Água! Esse mesmo!

Tô ótimo, rapaz!

Esse tempo dentro de casa de quarentena

me fez um bem danado, viu?!

Colesterol abaixou, diabetes acabou,

a capa de gordura no fígado sumiu!

A barriga, então, desapareceu!

Só apareceu umas coisinhas, né?

Rinite, síndrome do pânico, psoríase,

arritmia, claustrofobia, coisa leve, né?

Mas eu tô muito preocupado

com seu estabelecimento fechado todos esses dias!

Abriu?! Você tá falando sério, Bisteca?!

Você tá fazendo delivery? Não tem problema, Bisteca?

Anota aí! Eu tô na seca essa quarentena inteira!

Eu vou querer três salsichas em conserva,

cinco ovos coloridos,

mas de preferência aqueles que estão desde ontem na estufa.

Seis torresmos,

mas tem que ser frito na mesma gordura

que fritou coxinha na semana inteira que a gente reclamava.

Dois sacos do amendoim de alho com gosto de mofo,

e duas esfirras que você falava que era de carne

mas que todo mundo sabia que era da calabresa do almoço.

E lota com aquele molho de pimenta delicioso

que você costuma desentupir soprando!

Pra beber, eu vou querer um copo americano,

tem que ser lavado naquela mesma bucha

que lava todos os copos.

E tem que vir com cheiro de ovo se não eu mando devolver!

Trezentos ML daquela essência maravilhosa

que você coloca no banheiro

que é um misto de naftalina, urina e Pinho Sol.

O paninho limpa-tudo, limpa cadeira, mesa, chão, pia.

O violão quatro cordas,

com o Paulinho do pé roxo pra tocar Raul,

e o Nelsinho cirrose pra chorar quando eu falo da nossa amizade.

Não, só isso o mais rápido possível.

Eu tô descendo. Bebida alcoólica eu não quero nenhuma.

Tô lotado aqui em casa. Tem cerveja, vodka, uísque, vinho.

Não consegui beber nada essa quarentena inteira.

É que eu descobri que meu problema não é a bebida.

É o boteco. Eu sou viciado em boteco.

No seu boteco, Bisteca!

Não, tô te esperando! O mais rápido possível.

Não acredito.

Não desce.