BIC
Fiz os legumes no vapor. Ficou bom, né?
Ficou. Depois você me diz como você fez.
Quando as crianças estiverem aqui, de repente eu...
-O que foi? -Tem um homem ali.
Não se mexe. Fica quieta.
-Fica comigo aqui. -Vou chamar a polícia.
Não chama a polícia. Vai assustar ele.
Assustar ele?
Carlos, tem um bandido na nossa casa!
Não é bandido. É um funcionário da Bic.
Oi?
É um funcionário da Bic.
Veio recolher o isqueiro novo que comprei.
-Como assim? -Você nunca reparou
que isqueiro e caneta da Bic some de repente, do nada,
sem ninguém perceber?
Então, são eles que entram na casa das pessoas pra recolher, entendeu?
-Isso não é roubo? -Não é roubo.
É assim que a empresa sobrevive.
Eles recolhem nas casas das pessoas pra revender.
A Bic só fez 100 isqueiros desde 1945.
Só tem 100 isqueiros da Bic no mundo?
E 500 canetas.
-Eu não sabia. -Olha ali ele.
-Disfarça, disfarça. -Estou com medo.
Não precisa ter medo.
É uma criatura inofensiva.
É praticamente um ser mitológico.
É como se a gente estivesse vendo um fauno.
É um privilégio a gente estar vendo isso.
-É fofo, né? -Que fofinho!
-Você está com seu isqueiro aí? -Meu isqueiro está bem aqui.
-Posso dar pra ele? -Pode. Pode dar pra ele.
Mas oferece com cuidado, senão ele se assusta e vai embora.
Quando ele chegar aqui perto, vou dar uma facada no gogó dele.
Eu sempre quis ter um desses. Empalhar. Vou botar na parede.
Como sabe que ele vai vir?
Eu fiz uma trilha de caneta Bic no chão.
Tá.
Vem.
-Ai! Está vindo! -Está chegando...
-Está chegando... -Ai, caramba! Está chegando!
Ai!
-Pô, Márcia! Assustou ele. -Nossa...
-E agora? -Agora eu não sei.
Isso aí é tipo eclipse, Cometa Halley. É difícil passar.
Vamos ver se ele volta amanhã. O isqueiro está aqui ainda.
Olha ali, Márcia. Olha ali.
-É outro? -Do seu lado direito.
Funcionário da Bic?
Não. Aquele filho da puta daquele gordo da Net!
Veio roubar o controle remoto! Arrombado!
Pega ele!
Peguei! Peguei! Peguei, amor!
Amor!
Peguei! Amor!