N95 e PFF2: por que países da Europa agora exigem máscara profissional
A gente já sabe que usar máscara é uma medida essencial para reduzir a transmissão
do coronavírus
Ainda mais no momento atual, com a vacinação ainda engatinhando e as novas variantes do
coronavírus se espalhando rapidamente pelo mundo
Mas será que a máscara de pano, artesanal, que muita gente se acostumou a usar,
inclusive eu, é hoje a mais adequada?
Esse debate voltou a ganhar força agora que países europeus como França, Áustria e
Alemanha estão exigindo que seus cidadãos usem máscaras mais potentes
Eu sou Laís Alegretti, da BBC News Brasil, e neste vídeo eu vou falar das máscaras
profissionais, aquelas padrão PFF2 ou N95
Vou explicar como elas funcionam e por que um ano depois do começo da pandemia,
elas estão sendo exigidas por alguns países ou, pelo menos, recomendadas
Esse tipo de máscara oferece um grau maior de proteção contra o coronavírus,
principalmente se a gente levar em conta a transmissão por aerossóis,
aquelas partículas bem pequenas
Isso é o que mostram testes e o que os especialistas explicam
Então vamos lá: primeiro, vamos entender o porquê dessa mudança de orientação sobre
os tipos de máscaras neste momento
Lá no início da pandemia, nos primeiros meses de 2020, os cientistas e autoridades
de saúde davam bastante atenção à transmissão do coronavírus por superfícies contaminadas
Isso acontece quando a gente encosta em uma porta de elevador ou corrimão, por exemplo,
e depois levamos a mão ao rosto
Por isso, se recomenda tanto o uso do álcool em gel
As autoridades de saúde também se preocupavam bastante com as gotículas que a pessoa contaminada
emite ao tossir e espirrar, que podem alcançar o nariz ou a boca de quem está próximo
Para esse tipo de transmissão, uma boa máscara de tecido é bem efetiva, segundo os cientistas,
principalmente quando é a pessoa contaminada que está usando
Isso porque ela evita que essas partículas se espalhem pelo ambiente
Só que, nos últimos meses, os cientistas começaram a se atentar a um perigo ainda
mais sutil
Eu tô falando dos aerossóis, aquelas gotículas minúsculas que são emitidas ao falar ou
respirar
Essas gotículas ficam no ar por mais tempo do que as gotas maiores
que saem de uma tosse ou espirro, por exemplo
E o problema é maior principalmente em ambientes mais fechados,
com pessoas aglomeradas e baixa circulação de ar
Foi em outubro de 2020 que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos
incluiu a transmissão por aerossóis em suas diretrizes
É exatamente essa evolução no que a gente sabe sobre as principais formas de transmissão
do vírus que explica a importância das máscaras que protegem mais
Eu conversei com o engenheiro biomédico Vitor Mori e ele disse que, para essas partículas
menores, as máscaras de pano não funcionam tão bem quanto as profissionais
É por isso que ele recomenda o uso de máscaras PFF2 e N95 para a população em geral em
situações de exposição a lugares mal ventilados
naquelas saídas inevitáveis, como transporte público
Por causa desse maior grau de proteção, países da Europa têm exigido que seus cidadãos
usem máscaras cirúrgicas ou de padrão equivalente à PFF2
Na França, por exemplo, foi proibido o uso de máscaras caseiras nos lugares onde proteger
o rosto é obrigatório
O argumento é que essas máscaras artesanais não oferecem a proteção necessária
Eles passaram a exigir o uso das cirúrgicas. Da FFP2, que é semelhante à PFF2 brasileira e à N95
Ou máscaras de tecido feitas de acordo com padrões chamados de categoria 1
Antes da França, Áustria e Alemanha anunciaram também o uso desse tipo de máscara em locais
mais propícios para a transmissão do vírus, como transporte público e comércio
Mas a indicação da OMS para o público geral ainda é de máscaras de tecido
E o Brasil acompanha essa recomendação, de acordo com a Anvisa
Segundo a agência de vigilância sanitária do Brasil, as máscaras cirúrgicas e as N95, PFF2 e
equivalentes devem ser usadas "pelos profissionais que prestam assistência a pacientes suspeitos
ou confirmados de covid-19 nos serviços de saúde"
É bom lembrar que esse movimento que a gente vê nos países europeus não é a primeira
mudança nas orientações para uso de máscara
No começo da pandemia, por exemplo, autoridades não recomendavam o uso de qualquer tipo de
máscara para a população geral, sem sintomas da doença
O medo era que, se todo mundo começasse a usar, poderia faltar máscara para
quem mais precisa, que são os profissionais de saúde e pacientes
Foi só em junho de 2020 que a OMS mudou suas orientações sobre uso de máscaras e disse
que elas devem ser usadas em público para ajudar a impedir a propagação do coronavírus
Àquela altura, diversos países já tinham adotado isso
Agora, vamos ao segundo ponto deste vídeo: o que faz essas máscaras funcionarem melhor
que as artesanais?
Talvez você já esteja acostumado com esses nomes, mas vamos esclarecer aqui que estou
falando da máscara PFF2, que você talvez conheça como N95, porque é assim que ela
é mais buscada no Brasil
São padrões equivalentes, com a diferença que um é o brasileiro, a PFF2, e outro, na
verdade, é dos Estados Unidos, a N95
Apesar das diferenças de nome e formato, essas máscaras têm uma eficácia bem parecida
A PFF2 filtra 94% das partículas que tem 0,3 micrômetros de diâmetro,
que são as mais difíceis de capturar
Já a N95, filtra 95%.
Fato é que ambas têm uma capacidade de vedação muito maior do que as de tecido.
E também protegem mais que as cirúrgicas
Para a pandemia, é importante procurar os modelos sem válvulas
É que essas válvulas permitem a saída de ar sem filtragem, que não é o que a gente
tá procurando aqui
E aqui é importante dizer que essas máscaras seguem padrões estabelecidos por normas técnicas,
diferente de máscaras artesanais
São regras exatamente para garantir um nível alto de proteção
Como a máscara de tecido não segue padrões técnicos, a qualidade pode variar muito, caso a caso
Tá, mas a gente quer entender o que garante essa proteção maior, né?
Bom, são dois fatores
O primeiro diferencial é a estrutura de vedação
Os padrões variam um pouco, mas elas têm uma estrutura semi-rígida, elástico preso
atrás da cabeça e na nuca, e não na orelha, e uma peça metálica que contorna o nariz
Isso tudo deixa a máscara bem presa ao rosto, se for colocada corretamente
E é essa adesão ao rosto que faz com que todo o ar inspirado ou expirado pela pessoa
passe pelo filtro da máscara, que é composto por várias camadas
Diferente das máscaras de tecido ou mesmo as cirúrgicas, a ideia é que não passe
ar pelas laterais
E esse filtro, como é?
São dois tipos de filtragem que acontecem lá dentro
Uma mecânica e uma eletrostática
Para explicar rapidamente, a filtragem mecânica acontece quando as partículas colidirem
e ficam presas nas fibras da máscara
Já a eletrostática faz com que as partículas sejam atraídas por fibras com carga elétrica
É essa combinação de vedação e filtragem que torna a máscara bem mais eficiente
No Brasil, é possível encontrar alguns modelos por até 5 reais
Mas, como a procura está muito alta, algumas pessoas têm tido dificuldades de achar máscaras
desse tipo por esse valor
As de marcas conhecidas chegam a custar 100 reais em certos lugares
Antes de seguir, uma coisa importante
Se você quiser comprar uma máscara dessas, confira se ela tem o selo do Inmetro
Essas máscaras podem ser falsificadas, e aí o produto não vai te dar a proteção
que você precisa
Por isso tudo, as máscaras caseiras não são tão eficientes quanto as profissionais
para evitar transmissão por aerossóis
Mas elas continuam sendo úteis, é claro, nos casos em que não temos
as máscaras mais potentes
As entidades nacionais e internacionais pedem que essas máscaras tenham duas ou três camadas
e cubram bem o rosto, desde a parte superior do nariz até o queixo
Elas devem ser feitas com algodão ou poliéster, com uma trama de tecido mais densa
O especialista Vitor Mori me falou que a gente precisa entender que a máscara de pano foi
um plano B. Esse foi o termo que ele usou
Porque ela ajudou muito em um momento de emergência, na verdade ela ainda é importante
mas está longe de ser a solução da pandemia
Para vedar seu nariz e boca e filtrar as pequenas partículas que podem estar contaminadas,
é mais adequado usar máscaras com um índice de proteção maior
É isso que vai garantir que você está se protegendo, além de proteger os outros
Principalmente se você precisar ir para algum lugar fechado, pouco arejado e com maior presença
de pessoas
E agora você pode já pode estar se perguntando: mas dá para reutilizar essas máscaras?
A orientação do Vitor Mori é que, quando estamos fora do ambiente hospitalar, dá sim
para reutilizar a máscara
O recomendado é deixar a máscara em local arejado, mas evitando exposição ao sol,
por pelo menos três dias antes de usar novamente
E não aplicar álcool, sabão ou qualquer desinfetante
Se a capacidade de vedação ainda estiver boa e o material, em boas condições, dá
para usar cerca de dez vezes, ele disse
E se o elástico ficar frouxo, uma dica é trocá-lo
A verdade é que hoje nem todo mundo tem acesso a essas máscaras
seja pelo preço ou pela disponibilidade delas
É por isso que o Vitor Mori defende um maior empenho dos governos na produção
e distribuição delas
O ideal é que toda a população tenha acesso a esses produtos
E eu não posso deixar de lembrar: a recomendação continua sendo a de sempre
Se puder, fique em casa
Esse é o único jeito de se proteger 100%
Mas se tiver que sair, se proteja o máximo possível - não só com a máscara mais adequada,
mas também procurando manter distanciamento e evitar lugares com pouca ventilação
Eu gravei um vídeo falando sobre a transmissão ao ar livre, que é muito menor do que em
locais fechados, mas que também exige alguns cuidados
E se você achou esse vídeo útil, não deixa de compartilhar com quem mais puder se interessar
E deixa também um comentário aqui que a gente sempre tá de olho nos pedidos de vocês
Até a próxima