E AGORA, JOSÉ?
Todo mundo fica me olhando.
-Por que todo mundo está me olhando? -Calma, José.
-Calma, José! -Está todo mundo me olhando
como se eu fosse um leproso.
-Não tem ninguém olhando. -Ele está olhando pra mim!
Está rindo! Está fazendo risadinha.
Não vale a pena se estressar com isso.
Vamos ficar de boa aqui.
Pessoal, acabou aqui, viu?
É corno!
Quê? Ó, falou, hein! Quem falou?
Está rindo de quê, amigo?
-Está rindo de Deus? -Não estou rindo, não.
Você está rindo de mim, então está rindo de Deus!
Não estou rindo de Deus.
-Está rindo de Deus. -Segura a onda, José!
Sim, você está rindo de Deus, porque meu filho é filho de Deus.
Não. Ou é seu filho ou é filho de Deus. Os dois não é, não.
-Olha o que ele falou. -Espera aí, cara. Espera aí!
-Que que foi? -Ó, saiba...
Deixa que eu cuido dele.
Saiba que todo mundo é filho de Deus, cara!
-Todo mundo. -É.
Dorme com essa!
Pronto, eu cuidei dele.
O Mateus falou que meu filho é filho de Deus.
-No fundo, o pessoal tem inveja. -Eu acho.
Porque todo mundo queria ter um filho que é filho de Deus.
-A Maria falou que... -A Maria falou, está falado.
-Isso. Dá mais um vinho, amigo. -Acabou.
-Não! Dá vinho pra ele, não. -Dá um vinhozinho.
-Um vinho! -Não vai tomar mais vinho, não!
Eu não aguento mais não ver o meu amigo sendo meu amigo.
Um amigão, que me ligava. "Pô, Raul, fiz uma cômoda pra você.
Fiz um móvel legal. Uma sapateira"
Cadê meu amigo? Se perdeu nesse caos?
Podia nascer menina, né?
Hoje não tem nem mais isso.
Hoje nasce e escolhe depois o que ela é.
É, mas se nascer, por exemplo, japonês, assim, negro,
já, minha cara, me dificulta a vida, me atrapalha, né?
José, meu amigo, bota uma coisa na sua cabeça:
Deus pode ser tudo.
Pode ser esse chão que a gente pisa, essa peneira aqui.
Deus é ele, é ela. É a azeitona que está ali.
Deus, por exemplo, pode ser o Marcelo.
-O que pode ser o Marcelo? -Ei, é a metáfora.
-Não é metáfora, não! -É modo de dizer.
Que cara do Marcelo?
Eu não falo com Maria já há muito tempo.
Como é que você não fala com Maria?
Isolda! Isolda, para! Isolda!
-Controla, Isolda! -Como é que é?
Ô princesa, não fica com essa carinha.
Você me quebra assim. Você parou bem agora, pô.
Eu que fiz isso tudo aqui.
Eu fiz as montanhas, eu fiz os mares, fiz o leão.
Fez?
-O leão? -O leão, cara.
-O que tem um jubão, né? -Maior jubão, né?
Eu uso jubão também.
É, eu fiz o leão pensando no teu jubão.
-Foi? Você lembrou? -Foi, lembrei, você abriu.
Ei, já vai embora, gostosa? Que isso, vem cá!
-Tudo igual, né? -Calma! Ô, não faça isso.
-Você vai me dispensar? -Palhaçada!
Não tem a asinha do beija-flor? Foi inspirada aqui.
Jennifer. Vem você, então, vem?